segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Crise no Instituto de Educação

Carta enviada ao SEPE/RJ pelo professor de história Alexandre Fonseca:





Caros companheiros (as):

Venho, por meio deste, informá-los sobre a crise administrativa por que passa o Instituto de Educação Deputado Luiz Pinto, um dos maiores e mais tradicionais educandários da rede pública estadual de Valença, onde atuo como docente, crise esta que se aproxima de um desfecho indesejado e preocupante para todos que acreditam numa educação pública politica e socialmente libertadora.

O IEDLP, em seus mais de quarenta anos de existência, tem uma longa folha de serviços prestados à educação valenciana e fluminense, porém nos últimos anos passa por sérias dificuldades. Parte delas está relacionada a uma crise de paradigmas educacionais: nossa escola notabilizou-se no passado recente por oferecer um ensino de qualidade reconhecido por todos na comunidade, porém combinado a modelos de gestão autoritária e rigidamente disciplinadora e a um certo elitismo social, o que, de certa forma, era concernente ao contexto político da época. Entretanto, as mudanças por que passaram a sociedade nos últimos anos, puseram em cheque este paradigma: de um lado, o aprofundamento das práticas democráticas na sociedade repercutiram no interior da escola, de outro lado o acesso das crianças oriundas das classes populares e da periferia trouxe novas realidades com os quais tivemos dificuldade de lidar. O IEDLP, em parte nostálgico dos velhos tempos, em parte desejoso de se adaptar aos novos, ficou perdido entre o passado e o futuro.

A esta questão, de ordem genérica, deve-se somar outras de natureza diversa: gestões problemáticas, deficiências estruturais e, sobretudo, interferências políticas indevidas no cotidiano escolar. Em 2007, a crise aproximou-se do caos, quando a escola sofreu o processo de municipalização das suas séries iniciais (educação infantil e primeira série do ensino fundamental) e esteve ameaçada de perder o seu histórico prédio anexo.

Graças a uma inédita mobilização de toda a comunidade escolar, da qual participaram este sindicato, professores, alunos e pais, conseguimos obter um acordo com a SEE-RJ e com o governo municipal de Valença, que nos garantiu a manutenção do prédio e a lotação das professoras que, até então, atuavam nas turmas municipalizadas. A partir de então, segundo orientação que nos foi dada pela SEE-RJ, na pessoa da Professora Ana Lopes, um grupo de professores passou a elaborar um projeto de reestruturação pedagógica do IEDLP com a intenção de transformá-lo numa escola pública de referência no Estado do Rio de Janeiro.

Enquanto a crise administrativa se agravava e gerava descontentamento de todos na comunidade escolar, mas também dava margens a manipulações políticas da parte de pessoas interessadas apenas em se apoderar da direção a todo custo, víamos, no projeto que elaborávamos, uma saída verdadeiramente renovadora para o IEDLP, saída esta que, no nosso entender, passava necessariamente por um processo de democratização da escolha e do exercício da gestão em nossa escola. Em outras palavras, o sucesso do projeto do NOVO IEDLP está diretamente e necessariamente vinculado a uma praxis de gestão democrática da escola.

Por este motivo, foi grande a nossa decepção, quando, exatamente no dia em que fizemos a entrega do projeto a SEE-RJ, fomos surpreendidos com a notícia de que a atual direção da escola fora destituída e uma outra equipe já havia sido indicada para o posto. É certo que direção ora destituída fora antes empossada por indicação política em seu primeiro mandato, embora tenha recebido o respaldo da comunidade escolar, quando dois anos depois o governo do estado promoveu uma eleição para diretores através da constituição de uma lista tríplice mediante consulta à comunidade. Também é certo, que em parte, já era do entendimento de grande parte da comunidade escolar do IEDLP que, após cinco anos, é chegada a hora de mudanças.
Porém, nossa expectativa era de que todo o processo de mudança fosse conduzido de baixo para cima, pela própria comunidade escolar. Porque desejávamos que, no decorrer deste processo, pudéssemos não apenas escolher os novos diretores, mas também e sobretudo discutir os problemas da escola e suas possíveis soluções. Enfim pudéssemos refletir sobre QUAL ESCOLA QUEREMOS.

Infelizmente, esta nossa expectativa se vê mais uma vez frustrada pela forma impositiva e antidemocrática como se está procedendo a troca de direções. Pouco interessa quais são os nomes indicados para a direção da escola. Não convém, por razões éticas, julgar de antemão sua capacidade administrativa, embora, por se sujeitarem a este tipo de conchavos políticos, seja de se esperar que não estejam devidamente comprometidos com uma educação democrática e socialmente libertadora. Mas isto não vem ao caso.

Desejo apenas alertar que, neste caso, os fins dificilmente justificarão os meios, isto é, a simples destituição da atual direção e a nomeação de outra, por acordos feitos nos bastidores da (má) política, sem que a comunidade escolar seja consultada, não contribuirá em nada para solucionar a crise do Instituto e, ao contrário, poderá agravá-la, posto que a insatisfação, o desânimo e até a revolta de professores, alunos, pais e responsáveis tendem a aumentar.

Não escrevo aqui, como porta-voz outorgado pela comunidade do IEDLP. Não tenho esta pretensão. Mas, após quase dez anos exercendo docência naquela escola, desenvolvi uma relação multilateral de respeito e afetividade com colegas, pais e principalmente alunos. Com isso, creio que, modestamente, aprendi a sentir as aspirações e desejos coletivos daquele microuniverso que é o IEDLP. E por isso, posso garantir, boa margem de probabilidade, que uma direção indicada de cima para baixo não é que queremos.
Acredito que a democracia ainda é o melhor remédio para as crises. Por isso, peço a atenção do SEPE, que em outros momentos, como o citado acima, já atuou em parceria com a comunidade escolar do IEDLP para pressionar a SEE-RJ para que nos seja dada, de imediato, desde já, a oportunidade de escolhermos democraticamente os nossos próximos gestores e, no bojo da escolha, a possibilidade de debatermos um projeto de escola de qualidade.

Grato por vossa atenção e certo de vossa compreensão,

Agradeço antecipadamente,

Prof. Alexandre Fonseca
matrícula 829237-7

Nenhum comentário: