quinta-feira, 31 de maio de 2012

Programação Cine Glória 1º a 06/06

HOMENS DE PRETO 3 – 3D                                                                                        
Classificação: 10 anos
Gênero: Ação, Comédia, Ficção
Horários: 17h00*, 19h00* e 21h10* Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira.

AMERICAN PIE: O REENCONTRO
Classificação: 16 anos
Gênero: Comédia, Romance
Horários: 21h30* Legendado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.

ÁREA Q
Classificação: 12 anos
Gênero: Suspense, Ficção
Horários: 19h30* Nacional / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.

Homofobia é crime

Por Laerte

Rodrigo Fagundes é assassinado


Notícia veiculada no site da Band, que acabo de ler, me deixa estarrecido. O amigo Rodrigo Fagundes, de 32 anos, foi assasssinado nessa madrugada. O motivo, ao que tudo indica, não poderia ser mais torpe, sua orientação sexual. Para além disso, foi morto a pedradas.

O crime aconteceu por volta das 4 e meia da madrugada, na rua Getúlio Vargas, no Benfica. Segundo informações da reportagem da Band, os dois suspeitos já foram identificados, mas não foram presos (ambos estão em liberdade condicional, condenados por tráfico de drogas).

Além das pedradas, Rodrigo ainda teria sido abusado sexualmente. Nada foi roubado, o que caracterizaria o crime como motivado por homofobia.

Aos demais amigos e familiares, nosso total apoio.

Do site Diário do Vale:



De acordo com informações de Lenardo, chefe do GIC (Grupo de Investigações e Capturas) da 91ª DP, Rodrigo Fagundes de Souza (...) teria sido atingido por um paralelepípedo, na região da cabeça e do rosto.

Ainda de acordo com o inspetor, os dois suspeitos do crime foram identificados como Alessandro Diniz dos Santos, o ‘Tiquinho', e Wellington da Silva Almeida. Ambos são suspeitos de chefiar o tráfico de drogas na localidade e estavam cumprindo pena em regime condicional. Eles fugiram e estão sendo procurados pela polícia.

PIM e Big Band Jazz Orchestra

Amanhã, dia 1º de junho, o Programa Integração pela Música (PIM) de Vassouras, participa de concerto junto com Big Band Jazz Orchestra, da Universidade Luther College, de Iowa, Estados Unidos. O evdnto será às 20 horas, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Vassouras. A entrada é gratuita.

A Luther College, fundado em 1861, é uma universidade reconhecida com um dos maiores programas de música a nível de bacharelado do mundo, ancorado em duas premissas: o rigor acadêmico. Para saber mais, visite o site da instituição - www.luther.edu (em inglês).

Concerto da Big Band Jazz Orchestra, com participação do PIM
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Vassouras
01 de junho de 2012, às 20h
Entrada gratuita

terça-feira, 29 de maio de 2012

Coincidência...

Na última edição do Jornal Local, saíram as seguinte notas:

Outro absurdo
Estamos buscando subsídios para matéria a respeito da absurda obra de reforma do Colégio Estadual Benjamin Guimarães. Quase dois anos depois da denúncia feita aqui pelo Jornal Local, o prédio antigo continua sem nenhuma intervenção e os alunos obrigados a conviver com condições improvisadas. O que teria a dizer em nome do governo Sérgio Cabral, o deputado André Corrêa a respeito de tamanha indiferença do Estado com Valença? Isto é uma vergonha.

SuspeitaEsta situaçã
o do colégio acima citado permite-nos desconfiar que há alguém interessado no prédio velho, não mais para o colégio. Então, como explicar a obra que se estende já por tantos anos, sem maiores explicações, seja administrativa, seja política?


A resposta do deputado André Corrêa virá em uma "ótima notícia, há muito aguardada, sobre a restauração do Benjamin" na próxima edição do Local, segundo divulgou a Assessoria do deputado na comunidade Valença Passado a Limpo no Facebook.

Pura coincidência a notícia, há muito aguardada, vir já na edição seguinte do Local.

A imprensa que estupra

Por Eliane Brum

A repórter que condenou e humilhou um suspeito não é exceção. O episódio mostra a conivência histórica entre parte da imprensa, da polícia e do sistema penitenciário na violação dos direitos de presos pobres (ou presos e pobres)

– Não estuprou, mas queria estuprar!

A frase foi dita pela repórter Mirella Cunha, no programa “Brasil Urgente”, da Band da Bahia, a um jovem de 18 anos, preso em uma delegacia desde 31 de março. Algemado, ele diz que arrancou o celular e a corrente de ouro de uma mulher, mas repete que não a estuprou. Na reportagem, a jornalista o chama de “estuprador”. Pergunta se a marca que ele tem no rosto é resultado de um tiro. Ele responde que foi espancado.

A repórter não estranha que um homem detido, sob responsabilidade do Estado, tenha marcas de tortura. O suspeito diz que fará todos os exames necessários para que seja provado que ele não estuprou a mulher. Ele não sabe o nome do exame, não sabe o que é “corpo de delito” e pronuncia uma palavra inexistente. Ela debocha e repete a pergunta para expô-lo ao ridículo. Ele então pronuncia uma palavra semelhante à “próstata”. A jornalista o faz repetir várias vezes o nome do exame para que ela e os telespectadores possam rir. Depois, pergunta se ele gosta de fazer exame de próstata. No estúdio, o apresentador Uziel Bueno diz: “Tá chorando? Você não fez o exame de próstata. Senão, meu irmão, você ia chorar. É metido a estuprador, é? É metido a estuprador? É o seguinte. Nas horas vagas eu sou urologista...”.

A chamada da reportagem era: “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”. A certa altura, a jornalista olha para a câmera e diz ao apresentador, rindo:

– Depois, Uziel, você não quer que o vídeo vá pro YouTube...

Ela tinha razão: o vídeo foi postado no YouTube. A versão mais curta dele já foi vista por quase 1 milhão de pessoas. Aqui neste link, se quiser, você pode assistir a uma versão um pouco mais longa, de quase cinco minutos.
O vídeo foi divulgado nas redes sociais, na semana passada, com grande repercussão e forte pressão por providências. Um grupo de jornalistas fez uma carta aberta: “A reportagem de Mirella Cunha, no interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador Uziel Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição Federal: ‘É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral’. E não faz mal reafirmar que a República Federativa do Brasil tem entre seus fundamentos ‘a dignidade da pessoa humana’. Apesar do clima de barbárie num conjunto apodrecido de programas policialescos, na Bahia e no Brasil, os direitos constitucionais são aplicáveis, inclusive aos suspeitos de crimes tipificados pelo Código Penal”.

E, mais adiante: “É importante ressaltar que a responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e nesta última categoria se encontra o governo do Estado que, desta maneira, se torna patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes programas”. Em 23/5, o Ministério Público Federal abriu representação contra a jornalista. Em nota, a Band afirmou que tomaria “todas as medidas disciplinares necessárias” e que “a postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora”.

Em visita ao suspeito, a Defensoria Pública assim o descreveu: “É réu primário, vive nas ruas desde criança, apesar de ter residência em Cajazeiras 11. Tem seis irmãos, é analfabeto e já vendeu doces e balas dentro de ônibus. Ao ser questionado sobre como se sentiu durante a entrevista, ele diz: ‘Eu me senti humilhado, porque ela ficou rindo de mim o tempo todo. Eu chorei porque sabia que eu iria pagar por algo que não fiz, e que minha mãe, meus parentes e amigos iriam me ver na TV como estuprador, e eu sou inocente’”.
A reportagem é um exemplo de mau jornalismo do começo ao fim. E, para completar, ainda presta um desserviço à saúde pública, ao reforçar todos os clichês e preconceitos relacionados ao exame de próstata. Por causa dessa mistura de ignorância e machismo, homens demais morrem de câncer de próstata no país. Os abusos cometidos pela repórter e pelo apresentador foram tantos, porém, que esse prejuízo passou quase despercebido.

Por que vale a pena refletir sobre esse episódio? Primeiro, porque ele está longe de ser uma exceção. Se fosse, estaríamos vivendo em um país muito melhor. O microfone (e a caneta) tem sido usado no Brasil, assim como em outros países, também para cometer violências. Nestas imagens, se observarmos bem, a repórter manipula o microfone como uma arma. (Outras interpretações, vou reservar para os psicanalistas.)
Muitos passam mal ao assistir ao vídeo porque o que se assiste é uma violência sem contato físico, sem marcas visíveis. Uma violação cometida com o microfone e uma câmera, exibida para milhões de pessoas, contra um homem algemado (e, portanto, indefeso), sob a responsabilidade do Estado, que, em vez de garantir os direitos do suspeito, o expõe à violência.

O suspeito é humilhado por algo que deveria ser uma vergonha para o Estado e para todos nós: a péssima qualidade da educação. E, no caso dele, o analfabetismo de um jovem de 18 anos no ano de 2012, na “sexta economia do mundo”. Ao afirmar que o rapaz era um estuprador, a repórter colocou em risco também a vida do suspeito, já que todos sabem – e muitos toleram – o que acontece dentro das cadeias e prisões com quem comete um estupro.

A repórter e o apresentador, porém, são apenas a parte mais visível da rede de violações. Estão longe de serem os únicos responsáveis. Para que esse caso se torne emblemático e para que a Justiça valha é preciso que todas as responsabilidades sejam apuradas, a começar pela do Estado. Tanto em permitir que alguém sob sua custódia fosse exibido dessa maneira, e possivelmente contra a sua vontade, numa rede de TV, quanto nas marcas de tortura no seu rosto. As marcas e o relato de espancamento, aliás, seriam objeto da apuração de qualquer bom jornalista. No caso, não suscitaram nenhuma surpresa.

Leia mais:
A imprensa que estupra - parte 2

A imprensa que estupra - parte 3


Gilmar Mendes: foi por medo de avião…

Por Rodrigo Vianna, do Escrevinhador

Suarento e gaguejante, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes apareceu na tela da Globo na noite de segunda-feira. Confirmou o encontro com Lula e reafirmou que “houve a conversa sobre o Mensalão”.

Ok. Mas em que termos? E o que isso teria a ver com a CPMI do Cachoeira/Veja? Gilmar respondeu no melhor estilo rocambole, o estilo de quem está todo enrolado: “Depreendi dessa conversa que ele [Lula] estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa conversa da CPMI”.

“Depreendi”, “inferindo”. Hum…

De forma rocambolesca, Gilmar  Mendes piscou. Pouco antes, Lula publicara nota em que manifesta “indignação” com o teor da reportagem…

PSDB/DEM/PPS e a velha mídia, numa estranha parceria com o PSOL, tentam transformar o encontro Lula/Mendes em notícia, para impedir que venham à tona fatos gravíssimos já de conhecimento de alguns integrantes da CPI Cachoeira/Veja.

Qualquer ser pensante pode concluir por conta própria: se Gilmar sentiu-se “chantageado” ou “pressionado” por um ex-presidente, por que levou um mês (a reunião entre ele e Lula teria ocorrido em 26 de abril) para revelar esse fato ao Brasil? E por que o fez pela “Veja”, em vez de informar seus pares no STF, como seria sua obrigação? 

A explicação pode estar aqui, nos grampos que o tuiteiro Stanley Burburinho fez circular pela rede. Nesses grampos, depreende-se que um tal “Gilmar” (e o próprio agente da PF conclui que o citado parece ser ”Gilmar Mendes”) teria viajado num jatinho emprestado pelo bicheiro Cachoeira. Na companhia (ou compania?) de Demóstenes, o mosqueteiro da ética.

Parafraseando outro ministro do STF, Celso de Melo: “se” a viagem de Gilmar Mendes no jatinho do bicheiro se confirmar, estaríamos diante de um caso que não teria outra consequência possível, se não a renúncia ou o impeachment. Repito: “se” a viagem se confirmar. É preciso apurar. Os indícios são gravíssimos.

A entrevista para “Veja”, seguida do suarento balbuciar no JN da Globo, parece indicar desespero. Uma espécie de defesa antecipada. Fontes na CPI informam que haveria mais material comprometedor contra certo ministro do STF, nas escutas a envolver Cachoeira. 

A entrevista à “Veja”, portanto, teria como explicação aquela velha canção: “foi por medo de avião… que eu peguei pela primeira vez na sua mão”.

Mais que um aperto de mãos, Gilmar Mendes e Veja podem ter dado um abraço de afogados. A Cachoeira é funda e não se sabe quem conseguirá nadar até a margem…

Além das versões

Autor: Jânio de Freitas   Retirado do jornal Folha de São Paulo

Por que só passado um mês Gilmar Mendes quis dar à "Veja" sua versão do que Lula lhe teria dito?


Será sempre por mera preferência pessoal, ainda que de fundo político, a escolha que se faça entre as versões conflitantes de Gilmar Mendes e de Nelson Jobim para a conversa de Lula com o ministro do Supremo Tribunal Federal, que o acusa de tentar pressioná-lo para não apoiar o julgamento do mensalão antes das eleições. O que Jobim, única testemunha do encontro, nega.

Versão contra versão, de duas pessoas com o mesmo grau de confiabilidade. Mas o impasse não evita uma outra questão importante em vários sentidos.

O encontro, no escritório de Nelson Jobim, foi em 26 de abril. Por que só passado um mês Gilmar Mendes quis dar à "Veja" sua versão do que Lula lhe teria dito?
A hipótese plausível é a de lançar a granada o mais próximo possível das eleições, mas não tanto que tornasse óbvia a intenção.

Pode haver outras hipóteses, não formuláveis, porém, porque só poderiam decorrer de motivos (ainda) misteriosos.

Também não há hipótese plausível para o encontro com Gilmar Mendes, pedido por Lula a Nelson Jobim, senão o de obter a simpatia do ministro do STF para o julgamento mais tarde, contra as fortes pressões para apressá-lo.

Neste caso, a ideia do encontro seria uma falha desastrosa da sensibilidade de Lula.
Vêm lá da relação com Collor e seu governo, até como seu defensor na sessão do Senado para o impeachment, as evidências do convívio áspero de Gilmar Mendes com a existência do PT. E, na origem dessa posição ou por extensão dela, com Lula.

Foram inúmeras as manifestações de Gilmar Mendes hostis ao governo Lula. Por mais de uma vez, chegou a dizer, no seu estilo exaltado, que vivíamos então em "um Estado policial".
Se não no trato jurídico, nas atitudes pessoais Gilmar Mendes deu todas as indicações de que seria a última pessoa a quem Lula poderia levar uma proposta de índole política. E de conveniência sua e do PT nas eleições. Em São Paulo, sobretudo.

Lula foi movido por propósitos políticos, portanto, na versão divulgada por seu interlocutor. E Gilmar Mendes, que propósitos o moveram, se não foram políticos, para lançar sua granada 30 dias depois de a ter recebido, segundo sua versão? E quando o assunto da antecipação do julgamento já estava bastante esvaziado.

Tanto por Lula não haver procurado outros ministros do STF, como alguns disseram, quanto pelo avanço, dentro e fora do Supremo, da disposição de apressar a entrada do mensalão na pauta do tribunal.

Na versão de Gilmar Mendes, Lula teria "insinuado" uma espécie de troca: o apoio ao julgamento pós-eleições e, da sua parte, a proteção na CPI do Cachoeira contra o assunto de uma estada do ministro do Supremo com Demóstenes Torres na Alemanha.
Aí já seria outro capítulo.

Para a CPI declarada sujeita a manipulação, para Lula pela imoralidade da troca proposta, e para Gilmar Mendes posto sob suspeições. Tudo, porém, se perde no impasse da versões conflitantes e inconfirmáveis, ambas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

De costas para o Rio

A carioca Richards, comprada pela Inbrands, vai levar sua fábrica de Valença para São Paulo.



Fonte: Ancelmo Gois

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sarau Solidões Coletivas in Bar, 2º engradado

No último dia 19 de maio, data do lanamento da 40ª edição do VQ, o coletivo de poetas valencianos realizou a segunda edição (ou segundo engradado) do Sarau Solidões Coletivas in Bar. O vídeo abaixo traz a íntegra da atividade. Na apresentação, os poetas Carlos Brunno S. Barbosa, Juliana Guida Maia (autora da poesia da edição atual do VQ), Érick Ramos, Giovanni Nogueira, Jaqueline Maria, Ronaldo Brechane, Ana Rachel Coêlho, Alecsandro Sandro Sandrinho, Lucimauro Leite e o músico Zé Ricardo. Contou ainda com a declamação do poema "Primeira Pessoa", de Camila Rocha Canêdo, que não pode comparecer no evento. O Sarau aconteceu no Espaço Open Bar, no Benfica. 

Programação Cine Glória 25 a 31/05


HOMENS DE PRETO 3 - 3D
Classificação: 10 anos
Gênero: Ação, Comédia, Ficção
Horários: 17h30*, 19h30* e 21h30* Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira.
Nesta terceira parte da série "Homens de Preto", o Agente J deve viajar no tempo e...

AMERICAN PIE: O REENCONTRO
Classificação: 16 anos
Gênero: Comédia, Romance
Horários: 21h00* Legendado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.
Passados 13 anos de formatura (e do primeiro filme), Jim, Michelle, Stifler e mais...

PARAÍSOS ARTIFICIAIS
Classificação: 16 anos
Gênero: Drama
Horários: 19h00* Nacional / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.

Para mais informações, acesse: www.cinegloria.com.br

VQ // nº 40 // Poesia

Considerações sobre o fogo

POR Juliana Guida Maia

Foi numa manhã inevitável
E o efeito devastador do fogo
Tocou-me pela primeira vez.

Muitos choravam bares e jogos
Outros choravam dinheiro
Enquanto eu chorava arte.
Minhas lágrimas, nossas lágrimas
Não apagaram o fogo.

Eu tinha um ar tão menina
E o efeito sufocante do fogo
Envelheceu minha respiração.

Versos nunca mais foram gritados
A música nunca mais tocou alta
E nas pinturas nunca mais cores vibrantes.
Minha juventude, nossa juventude
Não apagaram o fogo.
Era só um dia de trabalho
E o efeito inebriante do fogo
Atrasou-me por tempo demais.

No seio da princesa
Tanta Memória incendiava grandiosa
Num último espetáculo.
A minha história, a nossa História
Não apagaram o fogo.

Tanta arte pulsava em mim
E o efeito destrutivo do fogo
Matou o acervo do meu olhar.

Dizem que algo nasce do fogo...
Naquela esquina nunca mais
ninguém nasceu.
Artistas sem-teto,
Esse poema, nossa poesia
Não reergueram as ruínas que
sobraram do fogo.



terça-feira, 22 de maio de 2012

VQ // nº 40 // Entrevista

‘Faltam pessoas que acreditem no poder da mudança’

Com pouco mais de um ano à frente do Centro de Educação Musical Cata Vento, Rafael Motta é  formado pelo Conservatório Brasileiro de Música. Atualmente com 26 anos, está inserido no cenário musical valenciano desde os 14, quando entrou para a banda Aríete. A Cata Vento, fundada em  fevereiro de 2011, hoje conta com cinco professores – Rafael entre eles – e com cursos de violão,  guitarra, piano, bateria, musicalização e canto, além de cursos personalizados para professores e  profissionais da área. “Eu tinha uma questão para voltar para Valença, porque aqui não tinha um ponto  de referência musical. Então pensei, vamos criar esse cenário”, assim explica o que o motivou a voltar para Valença depois de se formar como músico. Leia os principais trechos da entrevista.


‘Sempre estudei música’
Nasci no Rio de Janeiro, mas vim pra Valença com 6 anos, em 1992. Sou mais valenciano do que  carioca. Fiz os ensinos Fundamental e Médio, e naquela ânsia de fazer uma faculdade, comecei Odontologia, fiz dois anos, mas larguei. Vi que estava indo por um caminho esquisito, que não  combinava comigo. Parei a faculdade e fui pro Rio estudar música.

Desde os 14 anos eu já tocava com o Aríete, isso em 2000. Eu sempre estudei música, meu pai desde cedo me colocou em aulas de música, com cinco, seis anos já fazia aula de órgão, teclado, piano. Com 11 anos decidi ir pro violão e comecei a tocar guitarra.

Aríete
O que me incentivou a caminhar com a música foi a banda Aríete. Na banda eu era o mais novo  quando entrei, tinha 14 anos, e a média do pessoal era 20, 21 anos. Acabei entrando porque meu irmão participava, e precisaram de um guitarrista. No início meu irmão nem queria, porque a gente não se dava tão bem nessa época. Mas quando cheguei, já no primeiro ensaio sabia um monte de músicas e o pessoal gostou.

A primeira formação da Aríete tinha, além de mim, Luiz Gustavo, o Santos, Alexandre, o Bacalhau, Felipe Duboc e Daniel Silvares. A gente ficou um bom tempo juntos e tocamos em vários lugares. Depois disso decidi ir pro Rio, fiz bacharelado em violão no Conservatório Brasileiro de Música.  Estudei violão por quatro anos e depois fiz licenciatura e estou no meio de uma pós-graduação em educação musical, também no Conservatório.

Música e ensino
Quando fiz a licenciatura percebi que essa coisa de ensinar, de dar aulas, me interessava bastante. Consegui nesse momento visualizar que poderia mudar alguma coisa. Quando terminei a faculdade eu tinha que decidir o que fazer. Se permanecia no Rio, fazia um mestrado na área de educação, ou se vinha pra Valença fazer alguma coisa. A minha única questão em voltar para Valença era porque aqui não tinha um ponto de referência musical, não valorizavam a música como arte. Então pensei, vamos criar esse cenário musical. Consegui um espaço legal aqui, e abri uma escola. A ideia da escola não é apenas ensinar, mas criar uma metodologia diferente.

O diferente da nossa metodologia é que a gente consegue integrar todos os cursos. O aluno que entra aqui não fica isolado na sala estudando apenas o seu instrumento. A prática é fundamental nesse processo. A pessoa pratica e a partir daí ela tem o interesse em se aprofundar. A partir do momento que a criança começa a estudar, quer tocar alguma coisa e ela vê que não consegue, automaticamente ela começa a estudar mais para conseguir tocar. A teoria vem depois do despertar. A gente deixa bem  aberto para a criação dos alunos, não é um processo rígido como o ensino de música vem sendo aplicado há algum tempo nas escolas.

Acredito que as pessoas ainda vejam a escola de música como uma coisa conservadora, acha que vai entrar e ter que ler partitura. Mas na verdade a gente faz o caminho inverso. Você tem que pegar situações do cotidiano da pessoa. Não adianta chegar para uma criança de oito anos e querer que ela aprenda a ler partitura e que toque música clássica, que é uma coisa que ela nunca ouviu na vida. Ela quer tocar o que ela ouve, o que ela conhece. A partir daí o papel do professor é apresentar coisas novas, acrescentar outros estilos.  Uma das coisas da Escola é a diversidade.

Uma outra questão é que, como a Escola é paga, acabo atingindo um público específico. Eu gostaria de conseguir fazer as duas coisas, ter a escola particular, e ter um espaço para alunos que não têm condições de pagar. Acho que futuramente a gente vai conseguir, estamos tentando viabilizar parcerias para isso.

Desejo de mudança
Faltam pessoas que acreditem mais no poder da mudança. Às vezes as próprias pessoas não acreditam que seja possível. Eu estou fazendo isso porque eu acredito que é possível criar uma mudança, fazer a música chegar num patamar de maior visibilidade, de maior respeito.

Em qualquer lugar isso é possível, mesmo sendo numa cidade do interior. Mas é preciso perseverança, porque não é algo rápido. Falta um pouco às pessoas pensarem em um projeto que seja  de longo prazo. Hoje está sendo difícil, mas se a gente fizer um trabalho bem feito, daqui a pouco  fica mais fácil. No futuro teremos nossos alunos tocando, vão entrar outros. Não podemos deixar de fazer.

A gente está tentando criar um cenário novo, pensar numa nova forma de encarar a situação, de criar um centro que reúna o ensino de música, de forma que chegue até um nível avançado. Eu vim pra cá já sabendo que esse cenário precisa ser construído. É uma ideia nova, é o estudo da música, o consumo à música.

Sempre tivemos uma visão de que a música é para poucos, para a pessoa que tem o dom. E não é. Todo mundo que se dedique o mínimo por dia em estudar um instrumento, vai tocar. O dom vai fazer o cara ser um grande compositor, vai conseguir visualizar certas coisas que outros não conseguem, mas qualquer um é capaz. Essa visão de que a música é algo sobrenatural, que é para poucos, que a gente quer combater. Qualquer um pode fazer música, você não precisa ser um profissional. Você pode estudar música simplesmente para tocar pra você mesmo. As pessoas têm que entender que você não precisa ser o melhor violinista do mundo. Tudo é treino, prática, e vai depender de quanto você quer se profissionalizar.

Música como arte?
Uma coisa que se perdeu é a pessoa parar para ouvir música. Hoje você quase não vê uma pessoa parada ouvindo música. Está todo mundo com fone, andando, caminhando, no carro, de bicicleta. Mas ninguém para pra ouvir música. A música se tornou uma trilha sonora. As pessoas  desaprenderam a ver a música como arte. Por isso as músicas com refrão fácil, que a pessoa guarda ao ouvir pela primeira vez, são as que fazem sucesso.

Cenário musical de Valença
Há dez anos a acessibilidade às coisas era mais difícil. Quando a banda Aríete começou, há 12 anos, a gente ainda ouvia música em fita k7. Depois você começa a ter mais acesso, a internet já te abre outras possibilidades. No cenário rock, quando começamos tínhamos algumas bandas. Essas bandas de rock – Delta Mood, Aríete, Apologia, Província já no final, Tribo Urbana – tiveram uma duração e com isso estimularam muito o pessoal a tocar. Tem uma foto do Bar do Santana, que ainda era no Casarão que pegou fogo, e nas fotos antigas você vê que o público são as pessoas que estão tocando hoje. É essa coisa de ter uma referência. Porque surgem várias bandas de rock? Porque várias bandas de rock se mantiveram, criaram público.

Mais recentemente, o que também estimulou esse crescimento foi o Pesqueiro do Vitinho se firmar como um ponto de show ao vivo. Porque antes disso a gente não tinha um local, a gente tocava no Marley e a polícia vinha e parava o som. Isso tudo é um círculo. A banda que está procurando um  espaço para tocar, a casa de show que abre o espaço e o garoto novo que está assistindo e gostando, que já almeja montar uma banda para tocar ali. No Vitinho também passaram a pagar bem os músicos, antes disso era bem complicado. E isso serviu também como incentivo pra galera querer tocar. Nos últimos quatro, cinco anos surgiram várias bandas.

Valença como referência musical
Valença pra mim é muito forte em música. Em outras cidades é difícil encontrar três, quatro lugares com música ao vivo e Valença tem isso hoje. A música ao vivo em Valença se tornou uma atração. Se Valença está bem nessa questão, acho que agora é preciso valorizar, incentivar, aproveitar esse potencial como uma atração turística, se tornar uma referência na região como a cidade que tem vários shows legais. Mas pra isso é preciso ter uma organização. Você tem shows acontecendo em vários lugares, mas falta um pouco mais de produção no sentido de ter um palco, um som, uma iluminação de qualidade, algo que envolva mais o público, para que o público também entenda o porquê de valorizar aquilo. Começar a tratar a música não como som ambiente, mas ser a atração da noite. Saber valorizar esse ponto.

Valorizar o que é nosso
Em Valença temos vários poetas, pintores, músicos. Porque não começar a valorizar essas pessoas de Valença? Posso dar um exemplo comum aqui, que é quando vem uma banda que vai tocar na Festa da Glória, o artista de fora tem um palco super profissional. Quando vai fazer com banda de Valença, coloca um tablado, aluga um som mais ou menos. A gente precisa valorizar o que é nosso. Se vamos fazer um show com as bandas de Valença, vamos montar uma estrutura de qualidade. Na maioria dos carnavais, por exemplo, temos dois palcos. O profissional para os artistas de fora, e onde tocam os  grupos de Valença, um tablado com iluminação precária. Porque o grupo de Valença é tratado sempre de forma menor? Essa diferenciação é esquisita.

***

O Centro de Educação Musical Cata Vento fica na Rua dos Mineiros, 143 – Centro.
(24) 2452-4541 - http://www.facebook.com/cataventocem - contato@cataventocem.com


segunda-feira, 21 de maio de 2012

VQ // nº 40 // Educação

O impacto do racismo na educação

Relações discriminatórias no ensino geram uma série de dificuldades na permanência e desempenho dos negros na escola e no ensino superior

POR Letícia Serafim

Nos dias 25 e 26 de abril, o Supremo Tribunal Federal decidiu por unanimidade pela constitucionalidade da adoção das cotas raciais para o ingresso nas universidades brasileiras. A decisão é uma vitória histórica para os movimentos negros e sociais que vêm lutando para garantir a igualdade de direitos da população negra e o fim do racismo no Brasil.

Apesar desta vitória, a discussão em torno da adoção de cotas pelas universidades sempre gerou resistência por parte da população, especialmente de setores da elite conservadora e da mídia hegemônica. O discurso dos que se opõem às cotas raciais baseia-se desde argumentos sobre a meritocracia do ingresso – que afirma que todos têm acesso livre à educação, logo cabe ao indivíduo se dedicar aos estudos para merecer o ingresso no ensino superior – até argumentações sobre o critério de seleção que deveria levar em conta fatores sociais e econômicos e não raciais. Estes  discursos desconsideram um problema chave para a discussão sobre as cotas, que é a existência do  racismo e de relações discriminatórias em todas as instituições sociais, em especial dentro do sistema de ensino, que gera uma série de dificuldades na permanência e desempenho dos negros na escola desde o ensino fundamental até o superior. O resultado é um número bastante reduzido de negros que chegam à universidade, cerca de 10% da população universitária do país.

A resistência às cotas para negros tem a ver com a maneira como o brasileiro encara a questão racial, silenciando o racismo através do mito da democracia racial e da “cordialidade” do povo. Em seu livro “Raça e Gênero no sistema de ensino”, Ricardo Henriques afirma que “essa naturalização da desigualdade deriva de origens históricas e institucionais, entre outras coisas, ligadas à escravidão e  sua abolição tardia, passiva e paternalista”. Esta forma de tratar a questão esconde uma estratégia maniqueísta que tem como objetivo perpetuar relações de desigualdade que garantem privilégios para alguns em detrimento de outros.

Dois Brasis
Podemos justificar a importância da adoção das cotas raciais utilizando os dados analisados pelo  economista Marcelo Paixão, em 2005, onde afirma que se dividíssemos o país em dois, um só formado pela população branca, e outro só com a população negra (pardos e pretos de acordo com denominações do IBGE), e se analisássemos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desses dois “países”, o “Brasil branco” estaria situado na 47ª posição em um ranking mundial. Já o “Brasil negro” ocuparia a 92ª posição.

Esta constatação indica que a questão da desigualdade econômica e social no país está intimamente ligada à questão racial. Para além da questão social e econômica, que se reflete nas condições de  vida, oportunidades de acesso à educação, saúde, trabalho e cultura, a população negra depara-se  com outro fator que os colocam em situação de desvantagem em relação aos brancos: o racismo. De fato, o Brasil não viveu um apartheid como a África do Sul, onde o convívio e o acesso aos mesmos  direitos dos brancos era negado por lei aos negros. O que temos é um apartheid dissimulado, que  limita com cercas invisíveis os espaços em que é conveniente ao negro circular e as relações sociais  que podem estabelecer. As práticas de discriminação racial estão presentes nas mais corriqueiras  situações, desde a indicação do elevador de serviço, as piadas de desvalorização da estética negra,  ditados racistas como “negro de alma branca”, até os mecanismos que dificultam o acesso dos negros às universidades e, consequentemente, às mesmas profissões de prestígio e ao mesmo status social  que os brancos.

Desigualdades na educação
Nas últimas décadas, evidencia-se no país a elevação da escolaridade média da população, a redução na taxa de analfabetismo e o aumento do número de matrículas. Porém, esses avanços não se  traduzem em qualidade do ensino, nem em redução das diferenças na educação entre brancos e  negros.

Ricardo Henriques aponta que em 1999 o número de brancos com curso superior completo (15 anos  ou mais de estudo) superava em 5 vezes o de negros. A escolaridade média de um jovem negro com  25 anos de idade em 1999 girava em torno de 6,1 anos. Já um jovem branco da mesma idade tinha cerca de 8,4 anos de estudo. Essa diferença de 2,3 anos de estudo é bastante significativa se considerarmos que a escolaridade média de um adulto é de 6 anos. E mais assustador é que apesar de a escolaridade média entre brancos e negros ter evoluído ao longo do século XX, a diferença de 2,3 anos de estudo entre jovens brancos e negros de 25 anos de idade é praticamente a mesma observada
entre os pais e avós desses jovens. Ou seja, apesar dos avanços na educação, apresenta-se um quadro de desigualdade constante ao longo do século XX entre brancos e negros.

No domingo 13 de maio, O Globo apresentou em matéria de capa as consequências dos preconceitos múltiplos que colocam negros e pardos ocupando apenas 13% das profissões de maior prestígio, como juízes, médicos e engenheiros, e quando ocupam os mesmos cargos ganham cerca de 14% a  menos do que os colegas brancos. Mesmo nos trabalhos de pouca qualificação, os salários dos  brancos superam os dos negros em 55%. Como a discriminação tem caráter acumulativo, as mulheres negras ocupam as piores colocações no mercado de trabalho, recebendo apenas 39% do que recebem os homens brancos.

A desigualdade na distribuição da educação impacta decisivamente na desigualdade da distribuição de renda do país. É  fundamental que continue havendo pressão social para ampliação de universidades com sistema de  cotas, assim como de projetos para a manutenção de estudantes cotistas. Atuar com mecanismos de reparação do déficit histórico com a população negra no sistema de ensino  significa não só atuar para a superação do racismo, mas também contribuir para a distribuição  de renda e para o desenvolvimento de um país justo e igualitário.

Letícia é negra, jornalista e estudante de pedagogia


domingo, 20 de maio de 2012

VQ // nº 40 // Resenha

Vale a pena?

No final da década de 80 e início da década de 90 os líderes na América Latina pareciam competir entre si em relação à velocidade com que enviavam as empresas geridas pelo Estado às mãos do setor privado


Por Eduardo Monteiro

Serão realmente tão poucos e perenes os protagonistas desta trama obscura e corrupta no Brasil a partir do final da década de 80, aparentemente justificada pela alcunha do neoliberalismo?  Finalmente diante da última página de A privataria Tucana, esta pergunta se apresenta como justificativa pelo fato de sermos impelidos pela ânsia de revisitar rapidamente na memória os escândalos de corrupção brasileiros mais recentes. Não só a renda é concentrada neste país; também são as oportunidades, lícitas ou ilícitas. A ingenuidade nos induz a concluir, inclusive, que se de fato meia dúzia de cidadãos brasileiros carecessem milagrosamente da oportunidade de terem nascido, este país provavelmente estaria em melhores condições. Infelizmente, como bem mostra o livro, tratam-se de oportunistas dentro de um sistema que envolve muito dinheiro e baixo risco. Não fossem eles, seriam certamente outros, pois os corrompidos estão em número um tanto maior.

Classificada pelos próprios personagens do livro como “literatura menor”, “infâmia”, “oportunismo”, “irresponsabilidade”, “redundância”, “crime organizado travestido de jornalismo” e “coleção de calúnias”, a obra, lançada no final de 2011, realmente incomodou. Nos primeiros meses, a mídia televisiva e impressa tentara escondê-la, num claro manifesto da usual tática de mantê-la ignorada
nos meios públicos. Tentativa inútil, pois em pouco menos de um mês a obra já estava na lista dos livros mais vendidos no Brasil, mantendo-se no topo por um bom tempo. Além disso, em menos de dois meses, a editora já estava em sua 5ª reimpressão e hoje o livro já é considerado um best-seller do jornalismo investigativo.

Pois bem, a base de toda a obra é construída no final da década de 80 e início da década de 90, época cuja dissuasão neoliberalista europeia e norte-americana se impusera sobre os governos latino-americanos. O Estado Mínimo representava a terceirização de tudo e os líderes na América Latina pareciam competir entre si em relação à velocidade com que enviavam as empresas geridas pelo Estado às mãos do setor privado. Sabemos muito mais sobre o resultado disto tudo hoje. No entanto, o autor se preocupa menos com a dicotomia muito discutida entre privatização e estatização. Ele na verdade se concentra e coordena toda sua investigação nos processos de venda das empresas brasileiras ao setor privado e nos benefícios adquiridos por alguns poucos através de simples assinaturas irresponsáveis. Neste emaranhado podre, surgirão empresas conhecidas do nosso passado ou do nosso cotidiano como a Vale, a Telemar, o Banco do Brasil, o Citibank, a Telebras, o Banestado e a Petrobras; aparecerão partidos políticos famosos como o PSDB, o PMDB e o PT; e, enfim, surgirão os personagens que dão vida às instituições e que manipulam através do poder, da influência e da chantagem. A primeira vertente desta genealogia obscura inicia-se com José Serra, na época ministro do Planejamento do governo de Fernando Henrique Cardoso, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, candidato à presidência deste país por duas vezes e, atualmente, candidato a um segundo mandato à prefeitura de São Paulo; sua filha Verônica Allende Serra; seu genro Alexandre Burgeois; seu primo Gregório Preciado; e seu ex-tesoureiro e “eminência parda das privatizações” Ricardo Sérgio de Oliveira. Do outro lado, encontra-se Carlos Jereissati, megaempresário, dono do grupo La Fonte que, por sua vez, é irmão de Tasso Jereissati, ex-governador e ex-senador pelo PSDB do Ceará, atualmente presidente do Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do PSDB.

Caminhando juntos neste imbróglio nepotista vêm Daniel Dantas, o primeiro dono do banco Opportunity, e sua irmã Verônica. Ambos protagonistas da operação Satiagraha, desencadeada pela Polícia Federal em 2004, contra desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro. Fazem também parte do grupo Paulo Maluf e Ricardo Teixeira, dispensados aqui de suas respectivas e desnecessárias nomeações. Enfim, poucos nomes, grandes estragos.

Bom, se gera espanto o tamanho do rombo criado por tão poucos, logo nas primeiras páginas da obra,
somos obrigados a questionar nosso próprio grau de passividade em relação ao sistema que nos rege e procurar a razão que ainda mantém determinados cidadãos impunes, invioláveis, elegíveis e gozando de toda sorte absorvida através de processos oriundos da promiscuidade e do peculato. Lançar luz a este tema me parece ser o principal motivo da existência deste livro, pois eis que se assim for, “tudo o que houve terá valido a pena”, finaliza Amaury.

Eduardo é engenheiro e pai de João e Maria

Quadrinhos dos anos 10: André Dahmer / www.malvados.com.br

  

sábado, 19 de maio de 2012

VQ // nº 40 // Política

Mais vagas, menos transparência


Para onde vai o dinheiro do Estacionamento Rotativo ainda é uma incógnita que a prefeitura prefere não responder

Em funcionamento desde o dia 19 de abril, o Estacionamento Rotativo em Valença, operado pela empresa Central Park 33, gerou dúvidas, reclamações e elogios. Aos que consideram a iniciativa positiva, está principalmente a melhora no trânsito e a facilidade que se encontra agora uma vaga nas ruas do Centro da cidade. Pelo Facebook, onde o tema ganhou repercussão, especialmente na comunidade Valença Passado a Limpo, as dúvidas eram muitas. Desde o tempo de permanência até o valor cobrado foram discutidos.

Se sobram vagas onde o estacionamento é cobrado, agora faltam vagas nas ruas próximas ao Centro que não estão na lista do Rotativo (veja no mapa as ruas com Estacionamento Rotativo). Essa é uma alternativa para motoristas que tentam economizar. De fato, o valor cobrado por hora ou fração de hora (R$ 1,20) pode ficar pesado para boa parte das pessoas. Deixar o carro estacionado durante todo o dia custa para o motorista R$ 12. O estacionamento é cobrado das 8h às 18h de segunda a sexta e de 8h às 13h no sábado. Fora desse horário, domingos e feriados o estacionamento é gratuito.

A justificativa da prefeitura para a cobrança no estacionamento é a “adoção de uma ação pública moderna (...) trazendo a melhoria do trânsito e maior rotatividade de vagas”. De fato diminuiu bastante o número de carros estacionados no Centro. A dúvida que permanece é se essa é a política “moderna” ideal. Simplesmente cobrar pelo estacionamento não significa melhoria no trânsito. A cobrança pode até inibir os motoristas a irem para o Centro de carro, mas privilegia aquele que têm melhor condição financeira e pode pagar por uma vaga.

A prefeitura, no entanto, alega ter realizado um estudo para se chegar ao valor cobrado e também para a escolha das ruas onde deveria ser instalado o Rotativo. Mas apenas informa que o estudo foi feito, sem apresentar nenhum dado. O valor cobrado em Valença é superior ao cobrado na cidade do Rio de Janeiro, onde é cobrado R$ 2 por duas horas ou fração de hora nos pontos mais caros. Em alguns pontos o valor cobrado é de R$ 2 por quatro horas e em outros R$ 2 por um período de 12 horas. Sobre a arrecadação, a prefeitura informa ainda que um percentual do valor fica com o município, e outro com a empresa. Mas também não informou qual o valor desses percentuais. Em Barra do Piraí, cidade vizinha a Valença, 2% do valor arrecadado é repassado para instituições filantrópicas.

Em Valença nada parecido parece ter sido pensado. Como base de comparação, a arrecadação em Barra do Piraí, descontados os impostos, gira em torno de R$ 35 mil por mês. Para onde vai esse dinheiro destinado ao município ainda é uma incógnita que a prefeitura preferiu não responder. Em contato realizado pelo VQ no dia 25 de abril, a assessoria de comunicação da Prefeitura respondeu algumas questões apenas no dia 4 de maio. Como as respostas foram incompletas, novos questionamentos foram enviados, e até o fechamento da edição (17 de maio, 22 dias depois do primeiro contato) não houve retorno.

Além da Central Park Rio 33 Estacionamento Automotivo Ltda., participaram da licitação as empresas Rotativo Barra Ltda., Sinart Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turistico Ltda. e Locanty Com. Serviços Ltda. A prefeitura não informou os valores oferecidos por nenhuma delas, nem mesmo pela Central Park 33, vencedora da licitação.

***

***
Perguntas enviadas no dia 25 de abril, e respondidas no dia 4 de maio.

- Qual a justificativa e necessidade para a instalação do estacionamento rotativo em Valença? Para onde serão revertidos os recursos arrecadados com a cobrança?
A adoção de uma ação pública moderna que possibilite ao usuário de veículos a utilização de vagas dentro de um período justo. Trazendo a melhoria do trânsito e maior rotatividade de vagas. 
 
- Quais empresas participaram da licitação para implementação e execução do estacionamento rotativo em Valença?
Rotativo Barra Ltda; Central Park Rio 33 Estacionamento Automotivo Ltda, Sinart Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turistico Ltda; e Locanty Com. Serviços Ltda.

- Qual a empresa vencedora e como se dá o pagamento da empresa? Ela recebe um percentual do valor arrecadado, é um valor fixo mensal, etc.?
Central Park Rio 33. A empresa recebe um percentual do valor e o município outro percentual.

- Foi realizado algum estudo pela empresa ou pela Prefeitura para se chegar ao valor a ser cobrado? O valor é maior do que na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, que tem três faixas de valores – R$ 2 pelo dia inteiro, R$ 2 por quatro horas e R$ 2 reais por duas horas, dependendo do local. Levando em conta que o custo de vida em Valença é menor, qual o critério utilizado para chegar ao valor cobrado?
Foi realizado estudo pela Prefeitura.

- Qual o período de carência dos veículos na vaga? Há uma confusão de que o veículo pode ficar apenas por duas horas no local, e depois disso o motorista deveria retirá-lo do local. O motorista pode ou não ficar mais de duas horas (ou durante todo o dia) na mesma vaga pagando por isso?
15 minutos de carência. O veículo pode ficar mais de duas horas na vaga sim. Dependendo da necessidade do condutor. Ex: se uma pessoa tiver no dentista, ela não tem como sair para tirar o carro da vaga. É uma questão de razoabilidade.

- Os moradores das ruas onde têm o estacionamento rotativo terão algum benefício, como poder estacionar sem pagar? Ou mesmo morando na rua ele vai ter a obrigatoriedade do pagamento? Para essa pergunta me baseio na estrutura do Rio de Janeiro, onde o morador da rua pode se cadastrar na prefeitura (com comprovante de residência naquele logradouro e também que tem um carro em seu nome) e recebe um cartão de estacionamento que o libera a parar naquela rua.
Na Lei não existe nada falando sobre isenção para esse caso. Mas ainda está em discussão.

Perguntas reenviadas no dia 4 de maio e não respondidas até o momento (assim que tivermos respostas, publicamos)

- Para onde serão revertidos os recursos arrecadados?

- Qual o percentual revertido para a empresa e qual o percentual revertido para o município?

- Vocês podem disponibilizar o estudo realizado? Simplesmente saber que ele foi feito não siginifica nada. Que conclusões e como ele chegou a elas? Como ele chegou ao valor cobrado? Como estipularam os locais de instalação do Rotativo?

- O período de permanência depende da "necessidade do condutor". Quem avalia essa necessidade? Quem avalia se é razoável ou não o tempo que o motorista fica na vaga? A questão é se o condutor pode ficar o tempo que quiser na vaga ou não?

- Sobre a licitação, quais os valores oferecidos pelas empresas?


 

VQ // nº 40 // Carta dos leitores


Impunidade

Sou moradora do bairro São Francisco e como todos de lá, não me conformo com a morte da minha amiga Grasielle e sua sobrinha Maria Eduarda. Estou falando do acidente que teve perto do Center Plantas causado pelo Eduardo Bastos. Esse cara nem deu depoimento.

Fizemos passeata e não valeu de nada. A família delas sofre muito, e ele está escondido fora de Valença.
Outro dia eu estava na rodoviária e vi a mulher dele chegando de ônibus cheia de bolsa. Com eles nada  aconteceu. Ele é político, e vocês sabem bem como é isso. Não vai dar em nada. Ninguém nem comenta mais. Como que pode, um cara cheio de cerveja na mente matar duas inocentes e não acontecer nada???

Já pedi no Jornal Local, mas nem responderam, nem botaram no jornal. Falaram que vocês falam de tudo, sem medo dos poderosos. A única coisa que eu queria era fazer uma reportagem no blog de vocês com meu desabafo, e que falassem dessa impunidade que está acontecendo. Por favor, nos ajudem!!!

Layane Aparecida Miranda da Silva, 27 anos, moradora de São Francisco e amiga de Sielle e Duda, por email.



VQ // nº 40




sexta-feira, 18 de maio de 2012

Fórum de Acesso disponibiliza modelo de requerimento de informações

O Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas disponibiliza um modelo de requerimento de informações públicas em conformidade com o que a Lei de Acesso a Informações Públicas determina. A regra entrou em vigor no dia 16 de maio de 2012.

O documento pode ser baixado neste link. Basta substituir os campos em azul pelos dados indicados e encaminhar ao Serviço de Informações ao Cidadão do órgão público ou ao setor do órgão que detém a informação.

De acordo com a Lei de Acesso, o cidadão não precisa dar os motivos pelos quais quer acessar a informação solicitada, nem informar o que pretende fazer com ela. O órgão público não pode, ainda, condicionar a entrega da informação ao fornecimento de dados que constranjam o cidadão.

O prazo para que a entidade pública responda ao pedido é de 20 dias corridos. Ele pode ser prorrogado por mais dez dias, mas esse adiamento tem de ser justificado.

Caso a informação seja negada, pode-se recorrer ao agente público superior àquele que não permitiu o acesso. O prazo para entrar com o recurso é de dez dias, a partir da data em que a negativa foi recebida. 

***
O Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas (www.informacaopublica.org.br) é uma coalizão de 25 entidades da sociedade civil que defende a aprovação de uma lei ampla para garantir esse direito. O Fórum foi criado em 2003 por iniciativa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), pioneira no Brasil na defesa de uma lei de direito de acesso a informações públicas.

Informações retiradas do site da Abraji

VQ // nº 40 / Editorial


Por um VQ colaborativo


O Valença em Questão chega a sua 40ª edição na busca por mais um desafio: ampliar a sua rede de colaboradores. Para isso, estamos realizando encontros, sempre no dia do lançamento da edição. Além de bate papo, debate sobre o conteúdo e propostas de pautas para as próximas edições, temos apresentações culturais. Uma das parcerias é com o coletivo de poetas que realiza o Sarau Solidões Coletivas. Os microfones também estão abertos a músicos e quem mais quiser passar o seu recado. Este próximo encontro será no Espaço Open Bar, no Benfica, em frente à Delegacia Legal, a partir das 17 horas, e estão todos convidados.

Mais do que discutir o conteúdo do VQ, temos a expectativa de que desses encontros possam surgir novas ideias e parcerias para a construção da cidade que queremos. Um exemplo promissor de que encontros dessa natureza podem gerar bons frutos é a própria entrevista desta edição. Para além do diálogo que está sintetizado em nossas páginas, não foram poucas as ideias de atividades possíveis em parceria com o Centro de Educação Musical Cata Vento. Tudo ainda no campo das ideias, mas com força para sair do papel.

Além da entrevista com Rafael Motta, idealizador do Cata Vento, esta edição dispensa uma página à reflexão sobre a importância das cotas raciais em universidades brasileiras. Recentemente consideradas constitucionais pelo STF, a jornalista Letícia Serafim discorre sobre a necessidade de reparação do déficit histórico com a população negra no sistema de ensino brasileiro.

Outro ponto que dedicamos espaço é a questão do estacionamento rotativo em Valença, mais especificamente sobre a transparência de sua instalação, que gerou uma pequena polêmica no Facebook. Tentamos por mais de 20 dias respostas da Prefeitura de Valença, mas ainda não foi dessa vez que tivemos nossas dúvidas dirimidas (as respostas enviadas pela PMV em nada esclareceram os questionamentos). Continuamos a esperar respostas consistentes, pois é preciso uma maior transparência e agilidade da prefeitura em atender os cidadãos e na divulgação de informações de interesse público.

Valença parece seguir na contramão da história. Enquanto na última semana entrou em vigor a lei que regulamenta o direito de todo cidadão ter acesso a informações públicas no Brasil, Valença ainda não se mostra preparada para esse tipo de atitude. Com essa nova lei, um cidadão comum poderá solicitar informações sobre despesas com obras, compras, salários e contratos, dentre outras coisas.

Como desde a última quarta-feira (16/05) é lei, Valença será obrigada a se enquadrar. Pelo menos assim esperamos. Um exemplo do que a falta de transparência é capaz está na resenha desta edição, de “A Privataria Tucana”. Segundo Eduardo Monteiro, autor da resenha, a obra nos obriga a questionar a passividade do cidadão em relação ao sistema político. Essa nova lei e uma participação mais consistente da sociedade podem ser capazes de grandes transformações? Nosso papel é continuar tentando.

Fechando a edição, nossa última página traz na seção Navegando a indicação de um blog que disponibiliza filmes, a poesia de Juliana Guida Maia e uma tirinha dos “Quadrinhos dos anos
10”, de André Dahmer. E a capa da edição é ilustrada pelo companheiro de lutas Carlos Latuff.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Lançamento da 40ª edição do VQ

A próxima edição do VQ será lançada neste sábado, dia 19 de maio. Estaremos na parte da manhã na Rua dos Mineiros, distribuindo a edição, e também no Espaço Open Bar, a partir das 17 horas, com direito ao Sarau Solidões Coletivas, que reúne diversos poetas valencianos. Vale lembrar que o microfone está aberto para quem quiser declamar poesias, cantar ou mandar o seu recado. Também pretendemos discutir as pautas das próximas edições. Quem tiver interesse em participar e colaborar, apareça!

Lançamento da 40ª edição do VQ
Espaço Open Bar, Benfica (em frente à Delegacia Legal) - Valença - RJ
A partir das 17 horas, com apresentação do Sarau Solidões Coletivas



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sábado tem Sarau e a nova edição do VQ


Programação Cine Glória 18 a 24/05

OS VINGADORES 3D
Classificação: 12 anos
Gênero: Aventura
Horários: 19h00* e 21h40* Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira.

PIRATAS PIRADOS! 3D
Classificação: Livre
Gênero: Animação
Horários: 17h15* Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira.

BATTLESHIP – A BATALHA DOS MARES
Classificação: 10 anos
Gênero: Ação
Horários: 17h00* e 19h10* – Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.

PARAÍSOS ARTIFICIAIS
Classificação: 16 anos
Gênero: Drama
Horários: 21h30* Nacional / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira.

Mais informações em www.cinegloria.com.br

Nanda e Freixo

Autor: Caetano Veloso

Reproduzido do jornal "O Globo"

(Marcelo) Freixo se impôs por sua capacidade de mudar o tom do ambiente político do Rio


Fernanda Torres, um fenômeno de talento cênico, impressiona também pela lucidez com que pensa, fala e escreve. Eu, que aqui exponho tão repetidas vezes os males de uma tradição retórica fincada no barroco do Padre Antônio Vieira, invejo a clareza dela. Num artigo seu que acabo de ler na “Folha de S.Paulo”, Nanda fecha a lúcida apreciação que fez do encontro em torno de Marcelo Freixo, pré-candidato à Prefeitura do Rio, a que ela foi convidada, com a constatação de que “o problema é que a política não tem centro”. Ela estava se referindo à dificuldade de se decidir por um candidato que parece recusar-se a se abrir ao interesse privado, quando os que não temem parecer presa destes se mostram dinâmicos e positivos. Em suma, ela (que descrê da força da opinião de artistas sobre os eleitores) compara a reunião com Freixo a outra a que também compareceu e que se dava em torno de Sérgio Cabral. Ficou-lhe a impressão de que Freixo representaria a militância imaculada e o isolamento, ao passo que Cabral (“apesar de e por causa de Paris”) seria mais realista.

Talvez — e para ser fiel a minha retórica barroca — eu deva começar a comentar pela conclusão. Será verdade que não há centro em política? Suponho que os ideólogos fingem que não existe centro para a realidade, complexa, não atrapalhar seus argumentos. Mas a vida política real tende a arrastar tudo para o centro. Felizmente. Claro que há momentos revolucionários e cristalizações de mitos conservadores ou regressivos. Sabemos que houve Sierra Maestra e que houve Auschwitz. Mas são momentos de exceção. Zizek e Badiou gastam páginas e páginas para nos contaminar com a nostalgia das revoluções comunistas (Zizek tenta nos convencer de que não se pode equiparar as marchas da Corei do Norte às paradas nazistas). Mas a política pedestre de todos os dias, de todas as eleições, as decisões tomadas em nome do que aprendemos a chamar de democracia, são medianas. Não é só nos EUA que um Santorum tem de cair fora para deixar o moderado Romney tentar derrubar Obama. Os governos socialistas europeus (de Mitterrand a Zapatero) chegaram ao poder para pôr em prática políticas que, se fossem defendidas pelo centro ou pela direita, seriam recusadas. A Carta aos Brasileiros de Lula não foi diferente. Lula só saiu dos 30% que mantinha em todas as eleições que perdeu porque se comprometeu em manter a responsabilidade econômica iniciada com o Real. E se manteve no poder porque fez acertos e acordos com amplo leque de grupos políticos.

Nanda parece equacionar esquerda com pureza e direita com corrupção. Mas ela chama cada uma delas, sabiamente, de “velha”: velha esquerda e velha direita, das quais ela confessa não gostar. O que parece tornar as coisas difíceis para ela é que nem Sérgio Cabral representa a velha direita nem Freixo a velha esquerda. São figuras tipicamente contemporâneas. Ela escreve como se o componente de corrupção fosse incontornável e a ambição de pureza inatingível. O que me soa bastante sensato. Mas a política também se faz de altas apostas, de ambições que podem parecer grandes demais. De minha parte, vejo que atravessamos um período em que nos debatemos para sair do baixíssimo nível moral em que se dá o trato da coisa pública entre nós. Percebo que Nanda está sofrendo mais por não poder decidir-se a votar num Freixo e, assim, deixar de reeleger quem já está perto dos responsáveis pelas UPPs, pela vinda de Beltrame para o Rio e pela “euforia” que tomou o Rio de Janeiro nos últimos dois anos. Mas o artigo dela também sugere que todas essas conquistas têm o preço incontornável do caixa dois, da propina, da sujeira.

Ora, o PSOL é o partido da “pureza”. Foi por não aceitar as concessões do PT quando chegou ao poder central que esse partido surgiu. A mim, agrada-me que eles tenham posto a palavra “liberdade” em seu nome. Mas pureza revolucionária não é meu lance. Freixo se impôs por sua capacidade de mudar o tom do ambiente político do Rio. Em pouco tempo, ele chegou à façanha de criar a CPI das Milícias. É um homem que entrou na Alerj com pedido de CPI sobre as relações da Delta com os governos do Rio de 2000 até nossos dias. Sua atuação na discussão sobre segurança pública e direitos humanos no ambiente legislativo marcou a vida política da cidade. Ou seja, da afirmação de gente como ele depende a política brasileira. Mas Nanda sabe que eu sou esquisitíssimo. Por exemplo: tomei ojeriza a Garotinho, mas nunca voltei a ter por Cesar Maia o horror que lhe tinha quando ele primeiro se candidatou. Seu terceiro mandato foi o que terceiros mandatos se arriscam a ser: cansado. Mas, como Freixo, acho que a Cidade da Músic deve ser concluída e ativada. E leio sempre o Ex-Blog, com proveito.

Ouvi Freixo na casa de Wagner Moura, antes dessa reunião a que Nanda se refere (e para a qual fui eu que a convidei). Ele explicava que não se esquiva de aproximação com empresários. Apenas é claro que, num momento de précampanha, o PSOL só pode aceitar contribuições de pessoas físicas. Mas ele conversa com empresários, sobretudo aqueles que estão cansados dos esquemas viciados ainda em vigor. Quando chegar a hora, muitos deles poderão doar para a campanha. Sou 100% Freixo. E quero convencer Nanda de que ele tem diálogo com empresários e, mais importante, não é querido só de artistas: sua atuação deixou marcas na população pobre, que o conheceu antes de nós.

domingo, 13 de maio de 2012

Projeto Cinema para todos em Valença

O Projeto Cinema Para Todos acontece pelo segundo ano em Valença. Na edição anterior foram contemplados com ingressos 9.700 expectadores na cidade. O projeto é uma iniciativa das secretarias de Cultura e de Educação do Estado do Rio de Janeiro e realizado pelo Instituto Cultura em Movimento em parceria com cinemas em 27 municípios do estado.

Em Valença, o projeto começou na última semana com 220 alunos do Instituto de Educação Deputado Luiz Pinto indo ao Cine Glória. Ao longo do mês de maio, os colégios Daura Silva Barbosa, Padre Sebastião e José Fonseca terão sessões exclusivas para seus alunos.

A proposta do programa é estimular o acesso dos alunos da rede estadual de ensino ao cinema. A coordenadora de equipe do projeto, Tatiana Maciel, explica que “o programa atende todas as escolas do município, todas elas recebem uma visita do promotor local e recebem vales-ingressos. Cabe aos alunos utilizarem seus vales espontaneamente e também o interesse dos educadores em agendarem sessões exclusivas para suas turmas”. As escolas que ainda não têm sessões agendadas podem entrar em contato pelo telefone (21) 2220-3638 e 2262-4309 ou do através do email agendamento@cinemaparatodos.rj.gov.br.

Cada aluno recebe dois vales-ingressos e pode levar o acompanhante de sua preferência (não precisa ser aluno da rede estadual de ensino).

O Cinema Para Todos também promove as oficinas “Videointeratividade”. Em Valença as oficinas serão em outubro e novembro. Para mais informações, acesse o site do projeto - www.cinemaparatodos.rj.gov.br
*   *   *
O Blog do Franklin esteve na estreia do Cinema para Todos no Cine Glória e produziu o vídeo abaixo.

Manutenção do site da Câmara

Há algum tempo o site da Câmara Municipal de Valença está fora do ar. De acordo com informações do site, a manutenção e reformulação duraria uma semana. Não me recordo da data que acessei e que já estava fora do ar - mas faz bem mais de uma semana. Vamos ver até quanto o site vai ficar fora do ar.



sábado, 12 de maio de 2012

Site cria promoção #sergiocabralizando para ironizar fotos de Cabral


Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
Um blogueiro carioca criou uma promoção na internet para ironizar as fotos do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), com parte de seu secretariado oficial em clima de diversão com dono da Delta, Fernando Cavendish, em um restaurante de Paris, na França.
O site www.rafucko.com, do radialista e videomaker Rafael Puetter, está oferecendo uma garrafa de champagne para quem tirar a foto mais criativa e irreverente com guardanapos de pano amarrados na cabeça, à la Cabral.


A promoção está sendo divulgada nas redes sociais, pelo Facebook e pelo microblog Twitter com a hashtag #sérgiocabralizando. Três fotos serão selecionadas e submetidas ao crivo da votação popular. O prêmio, a garrada de champagne, foi oferecida pelo dono do blog em “nome do povo fluminense”, como ele descreve no site.
Os critérios de seleção das fotos são criatividade, semelhança com as fotos originais e o “sentimento de diversão” provocado pelas imagens reveladas no blog do deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) – um opositor de Cabral.
“Não é justo que eles se divirtam sozinhos enquanto o Rio de Janeiro padece com a infra-estrutura péssima de hospitais (alô Sérgio Cortes), escolas, os salários baixos dos bombeiros, policiais, professores… Isso sem falar no preço dos ônibus, do metrô, das Barcas (por onde anda Julio Lopes? Um beijo Julio Lopes). Justo seria se todo mundo se divertisse junto, pô!”, brinca Puetter no blog.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A gangue do guardanapo

Autor: Contardo Calligaris       Reproduzido do Jornal "Folha de São Paulo"

O guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós) 

A FOTOGRAFIA da semana, para mim, é a de Fernando Cavendish (dono da Delta) e Sérgio Cabral (governador do Rio), com outros políticos e empresários, alegres além da conta, todos arvorando um guardanapo branco amarrado na cabeça -isso, num restaurante de Paris (o do hotel Ritz, ao que parece), em 2009.

A cena me lembra um caso recente. Um casal de brasileiros frequenta habitualmente um restaurante de Manhattan, porque o lugar é simpático e porque o maître também é brasileiro. Uma noite, no dito restaurante, uma mesa acomoda um grupo especialmente barulhento de mais oito brasileiros: os homens competem clamando seus pedidos de vinhos caros, e as mulheres competem gritando as compras do dia.

O maître recebe o casal de "habitués" pedindo em voz baixa: "Por favor, não vamos falar português, prefiro que eles não saibam que somos brasileiros".

É difícil assumir a brasilidade quando, na boca dos emergentes, o "brado retumbante" é o barulho de quem ambiciona se apresentar ao mundo pelo chacoalho do trocado que tem no bolso.

A mobilidade social brasileira é rapidíssima: em uma geração, criam-se fortunas (com ou sem a cumplicidade do poder público corrupto). Nesse ritmo acelerado de ascensão social, os novos ricos, em regra, adotam o luxo como puro símbolo de status, sem o tempo de elaborar uma cultura que lhes permita apreciá-lo. Com isso, escreveu justamente Elio Gaspari (Folha de 2/5), tentando ser chiques, eles são bregas: sua ostentação revela a falta de um gosto próprio e a vontade de ocultar sua origem recente.

Os novos ricos se envergonham de seu passado mais humilde e tentam ocultá-lo num agito fanfarrão que, justamente, revela aquela procedência que eles gostariam de espantar. Enquanto isso, os outros, como o maître de Manhattan, envergonham-se dos privilegiados de seu país.

Mas tudo isso não nos diz ao que vêm, na festa de Cavendish e companhia, os lenços na cabeça.
Para quem não viu a foto: são guardanapos dobrados em triângulos, cuja base é amarrada ao redor da testa, de modo que o pano recaia sobre os cabelos e a ponta seja eventualmente segurada na nuca. Ou seja, são bandanas.

Pioneiros, vaqueiros e bandeirantes a caminho do Oeste usavam uma bandana, que, ao redor do pescoço, servia para proteger a boca da poeira e dos insetos ou, amarrada de baixo do chapéu, estancava o suor. Antes disso, o mesmo lenço segurava o cabelo dos piratas. Depois disso, nos anos 1960 e 1970, ele segurava o dos motoqueiros rebeldes da contracultura.

A bandana é, tradicionalmente, um apetrecho de quem se engaja (real ou metaforicamente) no vento e na poeira dos caminhos menos percorridos. O ideal do cowboy, do "easy-rider", do aventureiro, do pirata, do surfista errante ou do roqueiro pode se encarnar em usuários mais sedentários, mas não menos ousados -à condição, claro, que eles precisem segurar o cabelo (é o caso, por exemplo, dos chefes de cozinha de hoje). Mas como esse mesmo ideal se encarnaria nos clientes brasileiros do Ritz de Paris?

Talvez a bandana da foto de Cavendish, Cabral etc. seja apenas uma versão da gravata na testa daqueles primos bêbados, que, no fim de uma festa de casamento, escolhem mostrar a todos os outros ("inibidos", "caretas" e "obviamente" invejosos) que eles, sim, sabem se divertir e são os verdadeiros heróis do hedonismo -os que não recuam diante do prazer. Isso, claro, até eles vomitarem num canto (conselho: nunca fique num casamento depois da saída dos noivos).

Ou talvez Cavendish, Cabral etc. achem que eles são mesmo os novos "easy-riders", cowboys ou bandeirantes. Mas qual é, então, sua aventura? Em que jornada eles precisam segurar o cabelo para correr livres no vento?

O guardanapo branco do Ritz é uma curiosa bandana: ele diz que a aventura desses pretensos aventureiros é apenas a de esbanjar seu privilégio (mais ou menos legal), sonhando em ser o objeto da inveja de todos. Em síntese: o guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós).

Elio Gaspari prometeu uma viagem a Dubai para quem explicasse as bandanas do grupo de Cavendish etc. Se ajudei, renuncio desde já à viagem oferecida. Receio encontrar, em Dubai, o mesmo pessoal do Ritz ou seus amigos. Prefiro que Gaspari me convide para um jantar qualquer. Aliás, nem precisa me convidar. Mas o jantar é sem bandanas, ok?

ccalligari@uol.com.br