terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Cirurgia salva vida de jovem baleado

Rio - Aos 50 anos, a professora aposentada Ofélia Kopke vai fazer neste Natal “a melhor rabanada” da sua vida. Mãe do estudante da PUC Rodrigo Kopke da Silva Almeida, baleado na cabeça há 18 dias, ela não esconde a alegria com a recuperação do filho, que chegou ao Hospital Miguel Couto, na Gávea, com 90% de risco de morte.

O valenciado Rodrigo Kopke se recupera bem depois de passar por uma complicada cirurgia

Texto: Pâmela Oliveira (O Dia) - Veja a íntegra AQUI
Foto: Paulo Alvadia/Agência O Dia




O jovem, ferido ao reagir a assalto quando saía da faculdade, recebeu alta do Centro de Tratamento Intensivo quinta-feira, e a expectativa é que possa passar o Natal fora do hospital. A experiência dos médicos no atendimento a baleados e a opção por uma cirurgia que fora do País é indicada como último recurso mudou a história da família. O cineasta Fábio Barreto, 52, que sofreu acidente de carro sábado, também foi operado no Miguel Couto com a mesma técnica, na madrugada de  domingo. Ele permanece internado em estado grave
no Hospital Copa D’Or.

“A recuperação do Rodrigo foi surpreendente. A indicação clássica seria a limpeza do orifício de entrada do projétil e a sua retirada. Mas a equipe optou por fazer também a descompressão do hemisfério direito do cérebro, que foi atravessado pela bala. Nos antecipamos ao problema porque sabíamos que o cérebro teria um grande edema e que a pressão intracraniana aumentaria muito”, conta o chefe do serviço de Neurocirurgia do Miguel Couto, Ruy Monteiro. “Segundo a literatura mundial, casos como o do Rodrigo têm mortalidade de 90%”, ressalta.

O neurocirurgião explica que com a cirurgia, em que a parte direita do crânio foi retirada, o inchaço do cérebro decorrente do tiro teria para onde se expandir sem comprimir a região do tronco cerebral, responsável por funções vitais, como os batimentos cardíacos e a respiração. “A recuperação dele foi fantástica. É muito gratificante esse resultado, ver a felicidade da família”, comemora o neurocirurgião Diogo Freitas, um dos três médicos que participaram da cirurgia do jovem.

PRIMEIRO CONSELHO: REZAR
A mãe de Rodrigo lembra que quando chegou ao Miguel Couto, na noite do dia 4, ouviu dos médicos que deveria rezar pelo filho. “Disseram que o caso dele era muito grave e que eu devia rezar. Rezei muito. Acho que Deus segurou na mão dos médicos e meu filho foi salvo. O presente que ganhei não se vende em loja alguma e não tem dinheiro que pague. Ganhei meu filho único de volta”, conta a mãe.

Quinta-feira, o sofrimento de Ofélia foi interrompido por Rodrigo. “Ele saiu do CTI, tirou o respirador artificial e a primeira coisa que falou foi: ‘mãe’. Depois de tudo isso eu não poderia ter presente maior. Não tive cabeça para comprar nada, mas vou fazer rabanadas para ele no Natal. Ele adora rabanada. Vai ser um Natal muito feliz.”

O estudante, que não lembra nada do que ocorreu no dia em que foi baleado, na Gávea, já fez outros pedidos: além das rabanadas, quer brigadeiro. E espera ansioso a hora de voltar para casa. “A casa da gente é a casa da gente. Minha mãe não gosta de cozinhar, mas quero comer a comida dela. Não tenho dúvidas de que ela vai fazer a melhor rabanada do mundo”, afirma Rodrigo, que soube após sair do CTI que seu time, o Botafogo, escapou do rebaixamento.

Luiz Carlos Carvalho, padrinho do estudante de Relações Internacionais, conta que após a cirurgia um dos médicos disse tinha uma opção. “Ele disse que podia ‘arriscar ou arriscar’. E deu certo. O médico contou que Rodrigo estava milagrosamente bem”. Luiz revelou que Rodrigo recebeu visita de uma pessoa especial: a senhora que o viu caído e chamou os bombeiros. “Temos que agradecer a muita gente”, conclui Luiz.

Mãe e filho se falavam na hora do assalto
Rodrigo falava no celular com a mãe quando foi abordado pelo assaltante. “Ele saiu da faculdade e disse que tentaria pegar o ônibus das 20h30 para Valença (cidade do Interior do Rio de onde é a família). De repente, notei que ele ficou nervoso e desligou o celular”, conta Ofélia. Horas depois, ela soube que ele tinha sido baleado e estava no hospital. “Não tive coragem de perguntar onde tinha sido o tiro. Só soube quando cheguei ao Rio. O atendimento que ele vem recebendo mudou tudo o que eu pensava sobre o serviço público”, elogia.

O estudante será operado para a colocação da parte direita do crânio em até 30 dias. “Gostaria que ele fosse atendido pela mesma equipe”, pede Ofélia.

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