quarta-feira, 15 de junho de 2011

Carta de um Professor da Rede Estadual

CARTA AOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL
                Era de se esperar. O ensino na rede estadual está decadente há muito tempo. O que está acontecendo é uma aceleração do processo de degradação. São políticas erradas e equivocadas que estão levando à rede a total inoperância.  Juro, gente pelo que observo não colocaria um meu filho (se tivesse) para estudar na rede. Da mesma forma, que os políticos fazem com os seus que estão escolas particulares. Onde estudam os filhos de Sergio Cabral?.  Não por falta de empenho de meus colegas, mas pela política oficial implementada.  Ela com certeza é a principal responsável pelo quadro ruinoso apresentado pelo dito Saerjinho.
                As mazelas começam  pelos baixos salários ( eu digo, senhor secretário: SALÁRIO)  e não gratificações e abonos cuja intenção é não contemplar os aposentados. Que depois tanta luta para formar gerações vêem seus ditos benefícios serem comidos pela inflação e o custo de vida. O salário desmotiva qualquer um! Como motivar estudantes totalmente sem estímulos, por suas origens sócio-econômicas, se o professor também se questiona a todo momento se vale a pena estar ali, enfrentando todo adversidade de uma sala de aula, que só entende quem já lecionou? Se realmente vale se empenhar se não é correspondido pelos alunos que demonstram não querem estudar. Como mudar esse quadro com os baixíssimos salários pagos por este estado rico?  Auxílio cultura, notebook, modem 3G não mudam esse panorama e sim maciços investimentos no profissional e na infra-estrutura. Mas o governo não entende desta forma, e coloca goela abaixo da categoria, sem qualquer discussão, um plano de metas e currículo mínimo acarretando perda da autonomia pedagógica e sério danos ao processo educativo de nossos alunos, pois o governador (que não entende nada de Educação) resolveu que em quatro anos o IDEB precisa melhorar. Ora não educamos só para se fazer prova do IDEB, senhor governador, e sim para vida. Para que o estudante exerça em sua plenitude seu papel na sociedade, que se coloque como sujeito crítico e participativo e sobretudo, que fiscalize como e onde o suado dinheiro de seus impostos estão sendo aplicados.
                Com certeza, isso não interessa à classe política. Os políticos, com sua mente neocolonialista, desejam usar livremente os recursos a seu bel prazer e muitas vezes destinando-os para fins escusos. Dessa forma, um povo culto com uma educação pública de qualidade não interessa a eles. Por isso, massacram a escola e o profissional que ela se dedica.
                O sistema induz o aluno a não dar o seu melhor. Basta ver a Dependência, ela faz com o aluno (que não é burro) a escolher uma matéria para não estudar. Claro, a Matemática é escolhida. Para que fazer provas, copiar exercícios, fazê-los, ter atenção as aulas se na DP é muito mais fácil! O Saerj está refletindo isso. Setenta e um por cento dos alunos  têm desempenho ridículo em Matemática. Culpa do professor, aparentemente sim. Mas quem conhece por dentro o sistema ver claramente que ele foi concebido para isso. Por que não se acaba com essa DP ou se tem um professor para matéria? No final do ano, é um verdadeiro dilema: ou se aprova ou se deixa em DP, quando o aluno somente fica em uma matéria. A aprovação é jogar o trabalho de um ano inteiro no lixo e incentivar a malandragem, a safadeza e a DP um prêmio para quem não quer se aplicar. A secretária de educação não percebe ou não quer ver isso! Quais os interesses em jogo na educação? A reprovação para o estado significa gastar duas vezes com o mesmo aluno. O governo não a quer, seu propósito é otimizar os recursos!!! Essa visão mercantilista está arruinando o futuro de nossos jovens.
                Outro grande problema da educação pública é como receber, estimular e ser significativa para o aluno de baixa renda. O próprio Saerj mostra que as escolas de tempo integral foram melhores que as de tempo parcial. Por que acabaram com o projeto dos CIEPs? Se o projeto  estivesse funcionando com certeza não seria necessário UPPs  para tentar controlar a violência. A educação de qualidade é o remédio mais eficaz contra esse grave problema social, pois ela abre as portas da oportunidade para o jovem e consequentemente  ela não escolherá o caminho fácil das drogas para ganhar a vida e realizar o seus sonhos de consumo.  Outra vez os políticos não querem e por isso deram fim ao projeto da escola de tempo integral representado pelo CIEPs.
                Se a sociedade mudou, a família passou nos últimos anos por uma metamorfose enorme, então a instituição escola deve se transformar e acompanhar os novos desafios colocados. A muito tempo deveria ser obrigatório por lei, as escolas terem: psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e uma gama de outros profissionais para servirem de suporte ao trabalho do docente. Dessa forma, as demandas sociais seriam melhor atendidas e o desempenho dos jovens seria muitíssimo melhor. Entretanto, essa política custa muito dinheiro e não interessa aos nossos politiqueiros, sempre pensando em como roubar mais e mais.
                Porém, o governo estadual optou pelo caminho mais fácil: colocar a culpa de todas as mazelas sociais nas costas dos professores e puni-los por isso. Ora, qual a culpa que um profissional de educação tem se uma aluna sua fica grávida? Mas pelo Plano de Metas o profissional não fará jus a gratificação, ou seja, deixará de ganhar dinheiro para sustentar seu lar honestamente porque uma aluna se descuidou. Isso é uma crueldade, senhor governador!
                O poder dos mestres é limitado! Como disse Amanda Lima da rede municipal de Natal: “Não seria eu, com um Giz e um apagador, a redentora do Brasil”.
                São Paulo, demonstrou ao Rio que Plano de Metas, meritocracia, Gratificação por desempenho não são a solução para educação. Resta aos burros tecnocratas fluminenses repensarem sua postura diante do caótico estado da  educação pública em nosso estado.
                Senhor governador, o senhor está destruindo o futuro de vários jovens, sobretudo os mais desprovidos de recursos e jogando-os no caminho do crime e da ilegalidade. Abra o cofre, governador!!!!
                                                                             
                                                                                              Sergio Murilo é professor da ex-gloriosa Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro, quando todas as letras eram grafadas em maiúsculo.

4 comentários:

André Nogueira disse...

Sérgio Murilo,nem sabia que esse icone ainda existia

Anônimo disse...

como ja é de tradiçao do sepe belas cartas, belos textos, muita arte e na hora da ação uma desordem!

Anônimo disse...

FATO!!!!! muitos inteligentes, pouca organizaçao e respeito da propria classe!

donabiologia disse...

Para falar do SEPE tá cheio de gente aqui. Mas, todos sabemos que o sindicato não existe sem a categoria. Em qualquer situação, devemos lembrar que nossa voz só será ouvida, se estivermos presentes. Não dá pra ficar em casa, não participar das assembleias e depois ficar reclamando das resoluções da categoria. Participe das assembleias, dê sua opinião, VOTE, concordando ou discordando.