domingo, 24 de maio de 2009

INFORMAÇÃO DE GRAÇA: O ÔNUS DA PARTICIPAÇÃO COLETIVA

Por Andreia Nobre (*)

No momento em que se discute a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão jornalística e a revogação da Lei de Imprensa no Brasil, a Europa Ocidental também vive um boom de democracia com a rápida expansão dos jornais gratuitos.

A liberdade de expressão e a democracia foram os temas do principal debate referente à lei revogada no último dia 30 de abril pelo STF, que previa severas sanções para os crimes de calúnia, injúria e difamação. No entanto, ainda é tabu falar na obrigatoriedade do diploma para esses profissionais. E a relação com os jornais gratuitos não poderia estar mais próxima do sonho democrático.

Embora, na sua maioria, os diários gratuitos sejam de âmbito nacional, eles são elaborados por profissionais qualificados e funcionam como qualquer outra publicação tradicional. É o caso do sueco Metro, que possui várias edições pelo mundo, inclusive em Lisboa, Edimburgo e São Paulo. Lisboa é ainda uma das capitais europeias cuja circulação de jornais gratuitos supera a de jornais pagos.

A história não é a mesma para os jornais regionais/locais, pelo menos não na maioria dos países em que o jornalista não precisa de diploma. Muitas das diversas publicações em circulação no interior ou àquelas destinadas aos bairros/regiões das grandes cidades são elaboradas por leigos. Não é que não se privilegie a formação profissional na área. Mas ela não impede a criação de uma publicação que, mais tarde, pode vir a empregar profissionais qualificados.

Os jornais de pequeno porte podem criar uma série de oportunidades para quem está cursando jornalismo e para os recém-formados darem um primeiro passo na carreira. No entanto, é preciso deixar de lado o preconceito em trabalhar voluntariamente num jornal comunitário. A experiência comprovada em redação pode contar valiosos pontos na hora de arranjar um trabalho remunerado.

As próprias mudanças na Lei de Imprensa, conquistadas recentemente, são mais uma prova da modernização do pensamento brasileiro. As novas tecnologias de informação, principalmente a Web 2.0, como são chamadas as mídias nas quais o usuário interage com o conteúdo, como os blogs, abriram o caminho para a interação entre produtores de informação e leitores. E, como mostrou o jornal O Globo em reportagem publicada no mês passado, os diários pessoais virtuais são um ótimo currículo para os jornalistas em início de carreira.

Muitos acreditam que os jornais gratuitos vieram, de certa forma, cobrir essa lacuna no acesso irrestrito à informação no mundo real, já que nem todo mundo tem acesso à internet. As notícias neles vinculadas são para serem digeridas rapidamente, na ida ao trabalho, durante o intervalo, na hora do cafezinho, ou na volta para casa. Mas essa é exatamente uma das maiores críticas ao fenômeno. O jornalismo ali praticado é condenado como um rebaixamento da língua escrita e da função explicativa que o jornal impresso alcançou após o surgimento do rádio.

A valorização do sensacionalismo e a falta de valor agregado ao veículo são outros fatores que costumam desvalorizar publicações distribuídas gratuitamente. Mas ninguém deve se enganar: esses jornais alcançam um público muito maior e cada vez mais pessoas têm acesso à informação, o que por si só já é um passo, mesmo que pequeno, dado em direção à participação coletiva.

(*) Andreia Nobre é jornalista e foi correspondente do Fazendo Media em Lisboa, agora encontra-se em Edimburgo na Escócia.

Fonte - sítio do Fazendo Media - AQUI

3 comentários:

Vitor Castro disse...

e se não me engano é irmã do Paulo Henrique Nobre, repórter do Jornal Local. E escreve com certa frequência para o Local também.

Anônimo disse...

com a revogação da lei de imprensa como vai ficar o processo do vereador contra o vq? ele vai usar o código penal pra levar o processo pra frente?

Anônimo disse...

É minha irmã sim, Capilo. O orgulho do irmãozão aqui, hehehehe!
E, posso afirmar, concordo com ela: os veículos de mídia livre têm seu espaço garantido e seu objetivo, que é o de ser a voz dos movimento sociais e das entidades civis organizadas.
Só acho que é preciso parar de generalizar a imprensa tradicional como grande vilã! Há bons veículos de comunicação, procurando fazer seu trabalho com independência e profissionalismo, inclusive, dando voz aos segmentos representativos da sociedade, quando solicitado. É o caso do Jornal onde trabalho.
Atuamos em linhas diferentes, temos objetivos diferentes, mas não há motivos para que haja rivalidade! Cada um assume o seu papel e todos contribuem para discutir a cidade e procurar o melhor caminho, para o bem de todos!

Um abraço,

Paulo Henrique Nobre - Jornal Local