segunda-feira, 30 de abril de 2012

Um caminho tortuoso

Autor: Marcelo Gleiser

Apresentar a ciência como um triunfalismo infalível da civilização esconde o drama da descoberta 



Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas, não é à toa que a maioria das pessoas acha que o conhecimento científico cresce linearmente, sempre se acumulando.
No entanto, uma rápida olhada na história da ciência permite ver que não é bem assim: o caminho que leva ao conhecimento é tortuoso e, às vezes, vai até para trás, quando uma ideia errada persiste por mais tempo do que deveria.

Isso pode ocorrer por razões como censura política (veja o caso de Trofim Lysenko durante o regime stalinista na União Soviética) ou por ideologias na classe científica, promulgadas por membros influentes.

Apresentar a ciência nas escolas e universidades ou nos meios informais de comunicação como um triunfalismo infalível da civilização esconde um de seus lados mais interessantes: o drama da descoberta, as incertezas da criatividade.

Cientistas tendem a reagir negativamente às ideias que ameaçam o status quo. Por um lado, esse ceticismo é essencial, dado que a maioria das ideias novas está errada. Por outro, ele pode revelar um conservadorismo que atravanca o avanço do conhecimento.

Um bom exemplo disso é o experimento de Albert Michelson e Edward Morley, realizado em 1887 para detectar o movimento da Terra através do éter, o meio material cuja função era servir de suporte para a propagação das ondas de luz.

Tal qual as ondas de som se propagam no ar, supunha-se que as ondas luminosas também necessitassem de um meio para se propagar, o éter. O experimento mediria as diferenças na velocidade da luz quando um raio luminoso ia contra o éter ou a favor, como quando andamos de bicicleta e sentimos um "vento" contra nosso corpo. (Uma bola jogada contra ou a favor do "vento" terá velocidades diferentes.)
Para total e completa surpresa da comunidade científica, o experimento não detectou diferenças na velocidade da luz em qualquer direção.

Em meio à perplexidade generalizada, várias tentativas de explicar o achado foram propostas, inclusive uma por George Fitzgerald e Hendrik Lorentz que sugeria que as hastes do aparato podiam encolher na direção do movimento. Esse encolhimento de fato existe, mas não como proposto pelos dois.
Apenas em 1905 Einstein explicou o que estava acontecendo, com sua teoria da relatividade especial: o éter não existe -a velocidade da luz é sempre a mesma, uma constante da natureza.

Observações recentes andam questionando a existência de um outro meio material ainda não detectado, a matéria escura. Essa matéria, supostamente feita de partículas diferentes das que compõem o que conhecemos no Universo (ou seja, coisas feitas de elétrons, prótons e nêutrons), deve ser seis vezes mais abundante que a matéria comum e se aglomerar em torno de galáxias, inclusive a nossa.

As observações não detectaram a quantidade esperada de matéria escura. E agora? A coisa é complicada porque existem outros métodos de detecção da matéria escura que parecem bastante claros. Qualquer que seja a resolução do impasse atual, estou certo de que algo de novo e surpreendente está para acontecer. Será interessante ver a reação da comunidade ao se deparar com o inesperado.
 
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita".
Folha de S.Paulo
29/04/2012 

domingo, 29 de abril de 2012

A rapina da tecnologia na educação

Autor: Elio Gaspari

O que parece progresso é só sofisticação de fornecedores de equipamentos inúteis para as escolas públicas 

Com vocês, Delúbio Soares 2.0. A Polícia Federal achou-o no restaurante 14 Bis, no Rio, discutindo o fornecimento de lousas digitais para escolas públicas capixabas e goianas. Segundo o empresário interessado, o companheiros disse-lhe que "um pedido do meu deputado é praticamente uma ordem". Referia-se ao deputado estadual Misael Oliveira (PDT-GO).

Desde que o homo sapiens grafitou a caverna de Altamira, há 15 mil anos, repete-se o costume de usar uma pedra (giz) para desenhar ou, mais tarde, escrever, numa superfície rígida. Desde o século 11 isso é feito em escolas. Os quadros-negros custam pouco, não enguiçam, não consomem energia nem precisam de manutenção.

As lousas digitais, cinematográficas, interativas e coloridas, tornaram-se parte de uma praga estimulada por fornecedores de equipamentos eletrônicos para a rede pública de ensino. Cada uma custa pelo menos o salário-base de um professor (R$ 1.451). Um dos municípios que contrataram lousas da empresa que tratou com Delúbio foi o de Presidente Kennedy (ES). Gastou R$ 2,7 milhões em três escolas, e o endereço da fornecedora era um terreno baldio. O prefeito e seis secretários, inclusive a de Educação, foram presos. Com os royalties da Petrobras, Presidente Kennedy tem uma das maiores rendas per capita do Estado e um dos piores índices de desenvolvimento humano.

O pequeno município não está sozinho nessa febre. O MEC quer comprar 600 mil tablets para que professores preparem suas aulas (como, não diz). Isso e mais 10 mil lousas digitais. O governo de São Paulo estuda um investimento de R$ 5,5 bilhões para colocar lousas e tabuletas em todas as escolas públicas. Gustavo Ioschpe foi atrás da ideia e descobriu que a Secretaria de Educação não tinha um projeto pedagógico que amparasse a iniciativa. Toda a documentação disponível resumia-se a uma carta do presidente da Dell (fornecedor do equipamento), com um resumo de um estudo da Unesco. Pediu o texto, mas não o obteve.

Lousas digitais, tabuletas e laptops são instrumentos do progresso quando fazem parte de uma ação integrada, na qual tudo começa pela capacitação do professor. Hoje, no Brasil, contam-se nos dedos as experiências bem sucedidas na rede pública. Prevalecem desperdícios que poderiam ser evitados pela aplicação da Lei de Simonsen: "Pague-se a comissão, desde que o intermediário esqueça o assunto".
Quem acredita que Delúbio Soares estava interessado no aprendizado da garotada de Presidente Kennedy vá em frente.

NA MOSCA

Há dois meses um ministro do STF arriscou um palpite: o Supremo poderá declarar constitucionais as cotas nas universidades públicas por unanimidade. Parecia otimismo.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e está fascinado com a CPI do Cachoeira. Ele acredita que se trata de uma encarnação do Curupira do romance Macunaíma, que caminhava com os pés ao contrário. Em geral, essas comissões desembocam num relatório que desencadeia investigações policiais. Desta vez, ela começa com uma investigação concluída, para chegar aonde, não se sabe. Inspirado no Curupira, o idiota acha que não se deve procurar quem a CPI quer ouvir ou o que quer descobrir. É o contrário, deve-se atentar para quem ela não quer ouvir e o que não quer investigar. Cada silêncio significará uma conclusão.

FIM DA FEBRABAN
Aos poucos a banca se dá conta de que a Federação Brasileira de Bancos é uma mistura de alhos com bugalhos, responsável pela deterioração da imagem pública das instituições financeiras. Ao retirar o presidente da Febraban da negociação da queda dos juros, deixando o caso para ser tratado por cada banco, descobriram que dois e dois são quatro. Há uns dez anos os grandes laboratórios farmacêuticos lançaram-se no combate aos medicamentos genéricos e esconderam-se atrás da Abifarma. Resultado: os genéricos estão aí, e a Abifarma simplesmente foi extinta, substituída pela Interfarma, instituição presidida pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Britto. Ela trabalha com o entendimento que há três agendas: a do país, a do governo e a da indústria farmacêutica. Quem as mistura, produz encrencas.

ICEBERGS

O estaleiro Atlântico Sul, joia da coroa do programa de revitalização do setor naval, fechou o ano com um prejuízo de R$ 1,5 bilhão, um perdão do velho e bom BNDES e um espeto no Banco do Brasil. Seu petroleiro João Cândido foi ao mar, mas não navega, já a Samsung, sócio que entrou com a tecnologia, foi-se embora.

Assim como ocorreu no governo JK e na ditadura, o programa naval está num mar cheio de icebergs. O capitão Edward Smith, comandante do barco que naufragou há cem anos, tinha uma barba parecida com a do doutor Luciano Coutinho. Afundou com o barco. Teria feito melhor se, ao saber dos riscos, tivesse se preparado para uma emergência.

CHINA ETERNA

O campeão da luta contra a corrupção na China, o companheiro Bo Xilai, gostava do alheio, e sua mulher, Madame Gu, exportava dinheiro com a ajuda de um inglês que acabou assassinado. (Ela teria estado na cena do seu envenenamento.) Sua família amealhou US$ 160 milhões. Nada de novo no Império do Meio. A China já teve uma imperatriz acusada de ter envenenado o sobrinho, que construiu um iate de mármore. Depois dela, madame Chiang Kai-shek, mulher do inimigo (anticomunista) de Mao Zedong, terminou seus dias em 2003, aos 105 anos, num dos edifícios mais chiques de Nova York. Tinha um apartamento de dois andares e 18 quartos, com 24 empregados em três turnos.

Ela pendurava patos depenados na janelas, e deu barata no edifício. Um dos operários que trabalharam na dedetização viu: "Um closet guardava só barras de ouro. Coisa de Fort Knox, não eram barras de chocolate Hershey's".
 
A MÃO DE DEUS NA SUPREMA CORTE DOS EUA

Em seus votos a favor das cotas em universidades públicas, o ministro Joaquim Barbosa lembrou que se deve ao presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos, Earl Warren, a articulação da unanimidade que derrubou a segregação racial nas escolas americanas. Em 1953, o processo (Brown x Board of Education) estava com o juiz Fred Vinson, que presidia a Corte. Temia-se que ele construísse uma maioria favorecendo a persistência da segregação. O juiz Felix Frankfurter, um magistrado briguento e sarcástico, estava em casa quando um colaborador aproximou-se e anunciou: Fred Vinson foi fulminado por um ataque cardíaco.

Frankfurter, que detestava o colega, respondeu: "Esta é a primeira prova concreta que tive, em toda minha vida, da existência de Deus".

O presidente Eisenhower nomeou Warren, ex-governador da Califórnia, e poucos meses depois a segregação racial nas escolas foi declarada inconstitucional. A Suprema Corte sabia que sua decisão mudaria a história do país e fechou a conta por unanimidade.

O Globo
Folha de S.Paulo
29/04/2012

sábado, 28 de abril de 2012

VQ // nº 39 / Poesia

A volta de Tiradentes

POR Carlos Brunno


Está tudo diferente

Desde que fui embora...

Acho que voltei tarde demais...

A vida mudou:

Não sei mais quem eu sou

Muito menos o que é CPF

E esse tal de rock’n roll.

A “demo-cracia” atrasa a minha independência,

A “burro-cracia” arrasa as minhas inconfidências!

Minha inspiração virou imposto provisório,

Meu nome virou marketing,

Meu cavalo bebe gasolina,

Minha tropa assiste à tevê

E larga a revolução pelo último

capítulo da novela das seis!

Hoje me enforcam com novas cordas

E os assassinos são meus

próprios ideais.

É tão estranho...

Acabei de ressuscitar

E já me sinto morto.

    

VQ // nº 39 / Navegando

Um que tenha

www.umquetenha.org

Que a internet tem muito a oferecer não há dúvida. Mas é um mar tão extenso e com tantos caminhos que dá até para se perder. Por isso, o VQ agora contará com uma sessão fixa onde indicaremos sites e blogs com bons serviços que possam ajudar ao distinto leitor a informar-se, aprender ou mesmo divertir-se. Lá vai a primeira indicação:

Diz o topo da página: pode escolher, desde que seja um que tenha. E lá tem muita coisa. É um blog que disponibiliza discos de música brasileira na íntegra para baixar - há também alguns estrangeiros, mas não muitos. São centenas de discos de algumas centenas de artistas.

Cantores como João Bosco, Noel Rosa ou Dorival Caymmi são figuras fáceis e com diversas obras disponíveis. Mas além da MPB já clássica, é possível encontrar discos de Ademilde Fonseca, Ederaldo Gentil, Inezita Barroso e outros tantos, além de jovens como Farofa Carioca ou Gabriel Cavalcante. Tudo gratuito, fácil de baixar e de encontrar.

Se você visitou o Um que Tenha, escreva contando se gostou e o que baixou por lá. E se tiver um bom blog para recomendar, escreva também. Esta é uma sessão aberta a sugestões (valencaemquestao@yahoo.com.br).

   

sexta-feira, 27 de abril de 2012

VQ // nº 39 / Educação

Como melhorar a educação pública?

Nossa omissão prejudica gerações de crianças vítimas da precarização do ensino público

POR Sanger Nogueira

Começo o texto pedindo ao leitor que tente se lembrar de ter ouvido alguma vez as seguintes frases saídas da boca de um político: “Garanto a vocês que faltarão professores se eu for eleito”. Seria ridículo um político declamando: “A verba federal para a merenda escolar não será aplicada integralmente” ou ainda: “Não investirei na infraestrutura das escolas”.

Num rápido exame de consciência percebemos que não temos nenhuma lembrança de algum político que seja contra a educação. Não adianta começarmos nenhum debate sem antes examinar que educação e saúde são unanimidades no Brasil. Não é possível ser eleito defendendo reduções no orçamento ou se posicionando contra a melhoria da educação e saúde (em um país com uma formação histórica diferente, vide os Estados Unidos, não é problema algum um partido se organizar sendo contra o aumento dos gastos na educação e saúde). Caso fôssemos ingênuos, poderíamos imaginar que a nossa classe política introjetou que a educação e a saúde são as bases para a construção de uma vida saudável.

Deixaremos a questão da saúde de lado e vamos diagnosticar a situação da educação. Primeiro no
âmbito nacional: a questão da melhoria da qualidade do ensino está na ordem do dia nas discussões
atuais. Para Mozart Neves, coordenador nacional do programa “Todos pela educação”, se pegarmos
todo o currículo do ensino médio, o aluno que termina o terceiro ano sabe apenas 11% do que deveria
aprender. A universidade, continua Neves, parceira fundamental para o desenvolvimento da qualidade, tirou a questão da educação de sua agenda.

Ela é responsável pela formação do professor sem conhecer a realidade do cotidiano escolar. A situação do Estado do Rio de Janeiro consegue ser pior do que o cenário nacional. O Rio ocupa a penúltima posição no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado pelo governo  federal para medir o avanço da educação básica em todo o Brasil. A nomeação do economista Wilson Risolia para secretário de educação marca bem a posição: os conteúdos pedagógicos perderam o espaço para os conhecimentos técnicos de gestão de empresas. No estado do Rio, a “educação como prática da liberdade” de Paulo Freire perdeu espaço para Frederick Taylor e seus “Princípios da Administração Científica”. O Rio de Janeiro não percebeu, ainda, que uma escola não é uma  empresa.

Não estamos preparados para as consequências desta mudança de perspectiva na educação. Na esfera municipal temos o drama da infraestrutura precária e o excesso de contratos na secretaria municipal de educação. Em Valença, a função do contrato – ser usado em casos de excepcionalidade – foi corrompida pela dinâmica política da cidade. Eles são utilizados para manter a base de sustentação
do poder executivo e a sua relação com o poder legislativo, não respeitando a realização de concursos
públicos, como exige a nossa Constituição. Frente ao cenário de desafios, qual deveria ser a posição
da sociedade em relação à educação?

A resposta que estamos dando, infelizmente, não é nada satisfatória. Estamos nos ausentando do controle social da educação. Incapazes de nos organizarmos para demonstrar a importância da educação, delegamos ao Estado a função de fiscalizar sua própria ação. Não é difícil perceber a  tendência do Estado em mascarar a real situação da educação: ar condicionado alugado, computador sem uso, excesso de contratos, falta de cursos de atualização. A nossa omissão está prejudicando gerações de crianças vítimas da precarização do ensino público. Há responsabilidades para todos: pais de alunos, professores, membros de igrejas, partidos políticos. Poderíamos nos organizar em torno de um eixo básico de reivindicações:

Plano nacional
• O estabelecimento do repasse de 10% do produto interno bruto para a educação.
• O aumento da carga horária escolar.
• A criação do programa de laboratórios (humanidades, ciências exatas e ciências da natureza) nas escolas.
• A implementação do programa de iniciação científica júnior.
• O estabelecimento de um concurso nacional de entrada no magistério.
• Reforma curricular das disciplinas
• O fortalecimento do piso salarial dos professores.
• Portal da transparência com os recursos enviados para os Estados e municípios.

Plano estadual
• Eleição para diretor das escolas.
• O estabelecimento do número máximo de alunos por turma.
• A criação de uma política de reforma das escolas e construção de novas.
• O estabelecimento de funcionários com conhecimentos pedagógicos na administração da Secretaria de Educação.
• Portal da transparência com os recursos enviados para os municípios.

Plano municipal

• O fim da politicagem na secretaria municipal de educação. Diminuição dos cargos de confiança e o aumento dos cargos originados de concurso público.
• O fim da política de contratos e a realização (e convocação) dos concursados.
• O estabelecimento de conselhos reunindo a comunidade escolar.
• Eleição para diretor das escolas.
• O estabelecimento do número máximo de alunos por turma.
• A criação de uma política de reforma das escolas e construção de novas.
• O estabelecimento de funcionários com conhecimentos pedagógicos na administração da secretaria de educação.
• Portal da transparência com os recursos enviados para as escolas.

Sanger é professor de História

   

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Como imaginar uma orgia -

 Autor: LUIZ FERNANDO VERISSIMO

 

 A minicâmera e o grampo telefônico ainda podem fazer mais pela moral na política do que toda a fiscalização e todos os mandamentos cristãos juntos. Supõe-se que depois dos escândalos recentemente grampeados as pessoas fiquem mais cautelosas, ou mais reticentes. Corruptos e corruptores continuarão a existir mas não agirão nem falarão mais tão livremente, pelo menos não antes de procurar a câmera e o microfone escondidos. O que deve no mínimo dificultar os negócios.

Os avanços da técnica revolucionaram o registro histórico. Imagine se quando o Kennedy foi assassinado já existissem as gravadoras e os celulares que hoje substituem as câmeras fotográficas até no aniversário do cachorro. Em vez daquele precário filme em 8mm do atentado, estudado e reestudado quadro a quadro na busca de vestígios de uma conspiração, haveriam

teipes e fotos de todos os ângulos e com todas as respostas, como a cara, o nome e o CIC dos possíveis conspiradores.

Mas a técnica, ao mesmo tempo que desestimula a falcatrua, comprova a denúncia, desmancha o mistério e enriquece a notícia, pode empobrecer nossa percepção dos fatos. As grandes batalhas e os grandes eventos da era pré-fotográfica foram registrados em quadros épicos em que o artista ordenava a cena em função do efeito, não do fato, ou não exatamente do fato. A Primeira Guerra Mundial não foi mais terrível do que muitas guerras anteriores, só foi a primeira guerra filmada, a primeira com a imagem tremida e sem cor, e por isso parece tão mais feia do que as guerras heroicamente pintadas. A Guerra do Vietnã foi a primeira transmitida pela tevê, a primeira em que o sangue respingou no tapete da sala. Por isso deu nojo. Os americanos aprenderam a lição e transformaram sua invasão do Iraque num videogame.

Até surgir a possibilidade de ser tecnicamente denunciado, o político corrupto podia contar com a condescendência do público. Mesmo quando não havia dúvidas quanto à sua corrupção, havia sempre a suspeita de que não era bem assim. Sua culpa – até se ouvir sua voz gravada combinando a divisão dos milhões, ou ver sua imagem forrando os sapatos com dinheiro – era sempre uma conjetura. Imaginávamos o que acontecia nos bastidores do poder corrupto mas era um pouco como imaginar uma orgia romana, ou visualizar uma orgia romana através da imaginação de um artista. Agora não. Com a banalização do grampo telefônico e da minicâmera escondida, temos o que faltava no quadro. Temos todos os sórdidos detalhes e a orgia às claras. Temos o que enoja.

VQ // nº 39 / Resenha

Parece ficção 
mas é reportagem


É assustador que o caso destes cinco homens e do terrorismo que ajudaram a combater provoque tão profundo silêncio por aqui

POR Marianna Araujo

Poderia ser um livro de ficção ou mesmo um filme de ação e espionagem hollywoodiano, mas a instigante trama que envolve espiões cubanos infiltrados nos Estados Unidos é o tema do mais  recente livro do jornalista e escritor Fernando Morais. Os últimos soldados da Guerra Fria - A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos EUA é um livro reportagem que narra as ações da Rede Vespa no país da América do Norte. A Rede era formada por doze homens e duas mulheres infiltrados com o objetivo de espionar alguns dos 47 grupos anticastristas sediados na Flórida. 

Morais tornou-se conhecido por seus livros de reportagens e biografias. Essa não é a primeira vez  que escreve sobre Cuba. A Ilha, livro de 1976, é uma reportagem sobre o país de Fidel que se  converteu em símbolo da esquerda brasileira na década de 1970. Traduzido e comercializado em  diversos países, o livro foi responsável por apresentar ao Brasil a Cuba pós-revolução e romper com  o isolamento que vigorava após o golpe de 64 que instaurou uma ditadura militar brasileira.
 

Não seria exagero dizer que 35 anos depois Morais cumpre uma tarefa parecida. No Brasil, pouco ou  nada se sabe sobre a história da Rede Vespa e as ações terroristas que levaram a ela. As notícias da  mídia grande - em capital e audiência - dão conta apenas de “espiões cubanos nos Estados Unidos”, omitindo o fato de que este era um último recurso do governo castrista para resistir aos constantes  ataques provenientes de grupos de oposição na Flórida. Nesse sentido, “Os últimos soldados da  Guerra Fria” é um livro fundamental, pois oferece ao leitor um compêndio de informação sobre a ilha ao qual é raro se ter acesso no Brasil.

No livro, descobrimos por exemplo o papel central que os dissidentes cubanos exercem na política americana, seja como financiadores ou como eleitores. Fica claro como suas redes de atuação vão  além das organizações de extrema direita e entranham-se pelas instituições norte-americanas. Descobrimos ainda que essas organizações praticavam terrorismo abertamente e amplamente  divulgado contra a ilha que localiza-se a pouco mais de 130 quilômetros da Flórida, sem que o governo americano nada fizesse - em 5 anos foram mais de 120 ataques.

Importante ressaltar que essas ações terroristas tinham como objetivo fragilizar a já débil economia cubana que tentava reerguer-se às custas do turismo após o colapso da União Soviética. Os dissidentes cubanos não tinham qualquer pudor em ameaçar a vida de seus compatriotas em nome da derrocada do regime castrista. É mérito de Morais ainda informar ao leitor sobre as diversas iniciativas do governo dos Estados Unidos para prejudicar Cuba, seja economicamente (via  embargo), militarmente (penso em Guantânamo) ou com uma política única para os imigrantes - enquanto viajantes de todo o mundo são caçados como criminosos, os cubanos que conseguem chegar à costa americana não têm qualquer dificuldade para viver no país e conseguem facilmente ajuda financeira e visto permanente.

Todo esse emaranhado de fatores que envolve as disputas entre Estados Unidos e Cuba é apresentado  ao leitor a partir da história da Rede Vespa. Descoberta pelo governo americano após cinco anos de atuação, ela chegou ao fim em 1998, quando 10 espiões foram presos. Desses, 5  confessaram serem agentes cubanos, colaboraram com as investigações e depois de libertados,
não se sabe mais deles. Os outros 5 continuam presos, apesar da extensa batalha judicial e do apelo de diversas personalidades e advogados que envolveram-se com o caso. 


Em Cuba, os espiões presos são tratados como verdadeiros heróis, o que de fato são, se tomarmos em
conta os ataques que impediram e as vidas que salvaram. Estive na ilha há quase um ano. Nas ruas, não é difícil encontrar homenagens a eles nos muros ou em outdoors. No Museu da Revolução, há uma área inteira dedicada aos agentes. Nas duas semanas que passei em Havana muito pouco descobri sobre a história. Apenas me disseram que eram presos cubanos nos Estados Unidos. No Brasil, descobri menos ainda. É assustador que o caso destes cinco homens e do terrorismo que ajudaram a combater provoque tão profundo silêncio por aqui.
 

O livro de Morais supriu uma lacuna que levava comigo já há alguns meses. Deu-me muitas  respostas. Aprofundou diversas impressões que já tinha sobre as relações entre Cuba e Estados Unidos. Como dá para ver, é uma obra rica, mas não só isso, também detentora de uma prosa fluida e
uma história instigante. O leitor não deveria deixá-la passar.


Marianna Araujo é baiana e botafoguense

  

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Programação Cine Glória 27/04 a 03/05

OS VINGADORES 3D
Classificação: 12 anos
Gênero: Aventura
Horários:
27/04 - 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
28/04 - 13h30, 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
29/04 - 13h30, 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
30/04 - 13h30, 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
01/05 - 13h30, 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
02/05 - 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
03/05 - 16h20 e 19h00 Dublado / 21h40 Legendado
Sala 2

ANDERSON SILVA: COMO ÁGUA

Classificação: 12 anos
Gênero: Documentário
Horários: 18h00* e 19h30* - Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda e terça-feira.

JOGOS VORAZES

Classificação: 12 anos
Gênero: Ação
Horários: 21h00* - Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda e terça-feira.

Educação será revolucionada pela tecnologia

Autor: Ronaldo Lemos   Veja o link do texto

Se São Tomás de Aquino reaparecesse hoje vindo da Idade Média, ficaria surpreso ao ver um hospital ou um prédio em construção. Mas se sentiria em casa ao ver uma escola. As salas de aula até hoje são organizadas como no fim da Idade Média: o professor na frente e os alunos (grande parte entendiados) ouvindo o que ele tem a dizer.

A educação cedo ou tarde será revolucionada pela tecnologia. Pense no material didático. Se bem transposto para o digital, tudo muda. Pode tornar-se ferramenta em constante transformação. Alunos e professores participando de seu aperfeiçoamento constante. Cada tópico gerando uma discussão multimídia, com alunos de diferentes escolas disputando soluções originais.

Um desafio é que a educação ainda é excessivamente baseada no texto. Só que a vida dos alunos é cada vez mais rica em mídias: vídeos, sites, redes sociais, música e remixes. "Quando chegam na escola, volta o reinado do bom e velho texto", afirma Ronaldo Lemos.

A esse respeito, ganha força o movimento internacional dos Recursos Educacionais Abertos. A ideia é fazer com que todos materiais didáticos sejam colocados online de forma livre para serem manipulados, adaptados e remixados (o modelo tem apoio da UNESCO).

"Faz muito sentido", diz o colunista da Folha. Nada mais pobre do que colocar material didático em PDF, formato que só reproduz limitações do mundo físico no digital. "O desafio hoje, é construir novas relações entre a informação e envolver alunos e professores neste processo".

VQ // nº 39 / Cultura

Dilemas da cultura popular em Valença

Nosso maior muro é o monopólio que meia dúzia de instituições tenta estabelecer sobre a cultura em Valença

Recolhido que estou em meu atual transe medidativo desbundado-niilista, no alto de um “Everest mental”, prometi a mim mesmo que tão cedo não me ocuparia com a produção de textos de intervenções políticas, posto que estas, quando em assuntos alheios à seara particular de cada um, segundo conceituou o mestre jedi Sanger Nogueira, são tarefas para intelectuais. E sou apenas um bebedor de whisky. Mas eis que a garotada do VQ – agora já não tão garotos assim –, voltando à escrita impressa, reclamou-me um artigo sobre cultura popular valenciana. Esforço-me para vencer a preguiça, um dos meus seis pecados capitais (só a gula me escapa), e, entre baforadas de cachimbo, tento buscar inspiração para a empreitada sob os auspícios dos velhos Shiva e Omulu.
 
Os motes que tomo como ponto de partida são dois: a polêmica gerada pela distribuição da verba oficial para as escolas de samba de Valença, no carnaval deste ano, e um recente pronunciamento do porta-voz da comunidade quilombola de São José da Serra, Toninho Canecão, na Câmara Municipal, cobrando do poder público maior apoio à cultura popular em nossa cidade.
 
Ambos os episódios levantam, dentre outras, três questões cruciais para compreender os caminhos que perpassam o tema deste artigo: 1) onde está a cultura popular em Valença?; 2) qual o grau de organização dos atores culturais junto à sociedade civil para intervirem no Estado/sociedade política (leia-se prefeitura e Câmara); 3) a quais interesses serve a cultura aqui produzida para justificar a demanda por verba pública, em um município sabidamente carente de investimentos em serviços sociais básicos (educação, saúde, habitação, etc.)?
 
A primeira questão é, para um estudioso da cultura popular, a mais complexa. Para começo de conversa, teríamos que definir o que estamos chamando de "cultura popular" em Valença. Isto exigiria percorrer todo o emaranhado teórico que antropólogos, sociólogos, comunicólogos e outros "ólogos" têm produzido sobre o assunto. Há os tradicionalistas que insistem em estabelecer barreiras intransponíveis entre cultura erudita, popular e de massa. Há os dialogistas que lançam mão de ideias como circularidade e hibridismo cultural. Há os relativistas que afirmam que não há fronteiras entre popular, erudito e massificado. Só há apropriações feitas aleatoriamente por cada ator cultural. Podemos optar por uma ou outra abordagem, mas estejamos certos que nenhuma delas fornecerá uma resposta cabal sobre o que é "cultura popular" nestes rincões coroados.
Ícones da memória
 
Vamos a alguns casos. O forró e o pagode, que lotam os clubes populares sextas e sábados, seriam manifestações da cultura popular em Valença? Sim, diriam alguns, arrancando engulhos daqueles que vêem aqueles gêneros exemplos de pastiche (imitação vulgar) de outros “tradicionais” como baião e partido alto. E o que dizer do funk, que movimenta centenas de jovens sobretudo dos bairros periféricos do município, ou do rock'n'roll, que anima dezenas de adolescentes a tornarem-se guitarristas precoces, para orgulho dos "teachers" Marcus Prado, Pinheiro, Rafael, Fred e outros. Isto dá direito a “funkeiros” e rockers "classificarem" sua música como patrimônio da cultura popular valenciana? E onde foi parar aquele velho (e mofado), mas ainda usado, argumento de que rock, funk e outros “enlatados” são subprodutos da indústria cultural norte-americana que visam uniformizar os padrões estético-musicais dos povos pós-coloniais submetidos ao imperialismo?
 
"Nada disso!!!", hão de bradar os escudeiros da tradição. "A verdadeira cultura popular valenciana reside na memória que se tem de ícones como Rosinha de Valença e Clementina de Jesus". Sim, são ícones, como os são os Beatles para Liverpool, Mozart para Salzburgo ou Roberto Carlos para Cachoeiro do Itapemirim. O problema dos ícones é que eles perigam se tornar tão grandes que acabam por esconder todo o resto. Alguém aí se lembra de outra banda de rock de Liverpool?!. Da mesma forma, podemos conjecturar que, neste exato momento em que o leitor perde seu tempo comigo, há poetas, músicos, artistas plásticos inventando arte em diferentes cantos de Valença quase sempre anonimamente. Quem são? Onde estão? Têm pouca visibilidade social, organicidade e capital simbólico-político e, por isto, nenhum poder para fazer aquilo que Toninho Canecão fez na Tribuna da Câmara.
 
E mais. Ícones não são apenas pessoas, artistas de carne e osso, como Rosinha ou Clementina, mas também representações da cultura material ou imaterial. É o que se pode dizer, à guisa de exemplo, das fazendas do período cafeeiro, da Catedral de Nossa Senhora da Glória, da seresta de Conservatória, do já citado jongo do Quilombo São José, do outrora “melhor carnaval do sul do estado” ou, mais recentemente, do encontro anual de Folias de Reis. Graças à capacidade de negociação política que seus intelectuais orgânicos demonstraram ter, tornaram-se atrações culturais icônicas, convenientes a uma determinada exploração comercial, turística e eleitoreira a que se presta a cultura popular nos dias de hoje.
 
Monopólio da cultura
Mas - cuidado! - nem tudo convém. Alguém, além do Libório Costa de Souza, tem conhecimento de que Valença é, proporcionalmente, o município com maior concentração de terreiros de umbanda em todo o sudeste do Brasil? Por que ninguém, afora meus companheiros Gilson Gabriel e Ana Cláudia Rocha, propõe-se a estudar a cultura operária gestada nos anos áureos da indústria têxtil valenciana? Por que será? Vale a pena passar os olhos em "A conveniência da cultura", de George Yúdice, para perceber como a cultura popular nada tem de inocente, mas serve, muitas vezes, aos propósitos de agentes sociais, institucionalizados ou não, que inventam tradições e impõem "identidades legitimadoras", "no intuito de expandir e racionalizar sua dominação" em relação a outros agentes sociais (Castells). Ou seja, quero dizer que, assim como na política e na economia, há na cultura uma evidente desigualdade na distribuição de espaço e poder. Alguns “podem” mais que a grande maioria.
 
Arrisco a dizer - e isto é só um palpite - que, neste campo, nosso maior muro é o monopólio que meia dúzia de instituições a muito tenta estabelecer sobre a cultura em Valença. Fechadas em si mesmas, manipuladas por uma aristocracia de "notáveis" valencianos, parte com verniz progressista, parte abertamente conservadora, mas inteiramente partícipe de um mesmo habitus social, que segrega a "plebe" dos espaços de maior visibilidade para a cultura popular e impede, ou dificulta, que outros espaços apareçam. Até porque, em geral, os próprios órgãos públicos municipais responsáveis pela gestão cultural também estão nas mãos destes "notáveis".
 
Max Weber diria que, em Valença, ainda não passamos pelo processo de autonomização das esferas culturais, ou seja, estamos longe da secularização das visões de mundo, da afirmação positiva do conhecimento científico, do surgimento de uma moral racional e universalista, desvinculada de preceitos religiosos, e da autossuficiência econômica da arte.
 
Este me parece um problema de longa duração remetido ao processo de modernização seletiva (Jessé Souza), altamente excludente, que permeou a história de Valença em pelo menos dois momentos: o primeiro, no século XIX, quando, dada à proximidade com a corte, aqui se constituiu uma poderosa classe de proprietários rurais escravistas de mentalidade oligárquica. O outro, na segunda metade do século XX, quando em meio ao crescimento industrial e urbano, forjou-se uma nova identidade para o município mediante a hibridização (Canclini) das velhas - e falidas - oligarquias com a nova classe de industriais e comerciantes, muitos de origem imigrante (italiana ou árabe), que deu origem à atual aristocracia de "notáveis". Os dois momentos foram marcados por alta seletividade e produziram uma massa de subcidadãos, também no que tange ao exercício dos seus "direitos culturais".
 
Derrubar este muro é tarefa precípua, mas que sinto ainda distante, dado à desmobilização em que os atores culturais não vinculados àquelas tais instituições monopolizadoras se encontram. Não há um projeto cultural contra-hegemônico - ou uma contracultura, se assim preferirem - em Valença. Há, isto sim, uma multiplicidade de culturas, ou, no âmbito da juventude, de "culturas eXtremas" (Canevacci) - com “xis” maiúsculo mesmo - incapazes ou não desejosas de se articularem. Desafio lançado, volto a subir o Everest...

Alexandre é professor de história


 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Nova placa de trânsito de Valença


A intolerância religiosa


Autor: Drauzio Varella
O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso



SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.

Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.

Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.

Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam

VQ // nº 39 / Política

E a política, vai bem?

De novo estamos em ano eleitoral. Tudo indica que a política "balaio de gato” retornará com força no cenário político local

POR Chico Lima


Passados sete anos do lançamento da primeira edição do Valença em Questão, cabe-nos perguntar quais foram as principais transformações políticas e econômicas ocorridas em nossa cidade.

Quando o VQ nasceu, Valença era administrada pelo governo Fernando Graça, já no seu quarto mandato como Prefeito. Seus governos ficaram conhecidos principalmente por sua política assistencialista (Porta da Esperança) praticada com a farra do dinheiro público, sem qualquer controle social.

Com o falecimento de Fernando Graça, assume a prefeitura seu vice, Fábio Vieira, governando por dois anos, tempo suficiente para cair no esquecimento dos valencianos. Impedido de concorrer à reeleição por ter sido flagrado comprando votos, foi condenando pela justiça eleitoral. Tendo começado um governo com grande expectativa popular, já que todos o viam como “uma alma boa”, foi uma decepção do ponto de vista político e administrativo.

Terminado o governo Fábio, Vicente Guedes foi eleito com mais de vinte mil votos. Vindo de Rio das Flores, depois de dois mandatos, aventurou-se em Valença para garantir seu terceiro mandato consecutivo, através da articulação de empresários locais e do Movimento Por Amor à Valença, ligado à Igreja Católica.

O desgaste dos políticos tradicionais e a falsa propaganda de Vicente Guedes feita pela mídia local, criando uma imagem de grande administrador e amigo pessoal do governador Sérgio Cabral e de seu vice Luis Fernando Pezão, foram o ponto de partida para sua vitória.

Governo Vicente Guedes
O primeiro desgaste de Vicente começou com a divulgação de seu nome na imprensa como sendo um laranja do empresário valenciano Julio Vito no Pará, envolvendo terras griladas e a expulsão de ribeirinhos de suas terras.

Ao assumir a prefeitura, a imagem que foi construída na campanha virou pó. Vicente foi uma figura que as pessoas não conseguiram ver na cidade. Não foi e nunca quis ser um cidadão valenciano. Não foram poucas as pessoas que se mostraram profundamente arrependidas por terem nele acreditado e votado.

Verdade é que a eleição de Vicente, com a permissão da justiça eleitoral – que consentiu o registro de sua candidatura, ainda que para um terceiro mandato consecutivo – significou um dos maiores retrocessos para o desenvolvimento político e econômico de Valença. Retrocesso agravado por sua cassação e retorno ao governo, intercalado pela presença de Fernandinho Graça e Paulinho da Farmácia na chefia do Poder Executivo. Durante esse processo, Valença ficou visivelmente abandonada. O discurso de “união por Valença”, característico desse período, buscou simplesmente atender a interesses pessoais e eleitoreiros dos nossos “espertos” políticos tradicionais, sedentos de poder e dele dependentes.

As obras prometidas no inicio de seu mandato não saíram. Certamente algumas poucas vão surgir no calor do processo eleitoral, a um custo de deixar indignada uma boa parcela de nossa sociedade, principalmente aquela que não se beneficiou da construção de toda essa política.

Interesses
Como resultado de anos de má gestão, nossa cidade continua sendo administrada para atender aos interesses dos grandes empresários, em detrimento de uma política que seja voltada para atender a pequenos e médios produtores e empresários e trabalhadores do campo e da cidade. As denúncias que deixaram a nu as hipócritas relações público-privadas, que trouxeram à tona as espúrias relações da empresa Locanty nos supostos processos de licitação da UFRJ, não foram suficientes para que a Câmara de Vereadores e outros  órgãos de fiscalização fizessem uma  revisão no contrato dessa empresa com o Município.

Como a Locanty chegou em Valença? Como ganhou a licitação? Os mesmos questionamentos devem ser direcionados para a CEDAE, cujo contrato de concessão não passou pela aprovação dos vereadores, que, com raras exceções, foram omissos e cúmplices da armação de Sérgio Cabral, Pezão e Vicente Guedes. Essa armação contou com a valorosa cumplicidade dos “homens de ouro de Vicente Guedes” na Câmara, inclusive com a participação do PT. Os interesses dos partidos da base do governo Vicente e seus vereadores se sobrepuseram aos interesses do povo.

A imoralidade do contrato com a CEDAE não se resume a um valor elevado na cobrança da água. Não podemos aceitar que o contrato não seja aprovado na Câmara. Isso envolve transparência, moralidade e discussão com a sociedade. Os defensores da CEDAE optaram por um desfecho judicial para o caso (judicialização da política). O que é tarefa dos vereadores é repassado para o judiciário, muitas vezes para poupá-los dos desgastes por aprovarem medidas antipopulares.

Eleitos pelo povo, o que não ocorre com os juízes, infelizmente, os vereadores optam por não correr o risco de perder uma eleição. O juiz ao contrário, não corre riscos, pode dar a decisão que bem entender. Não sofrerá punição por isso, a não ser que sua decisão esteja vinculada a algum esquema, o que não mais nos assusta.

Previsões

Certo é que não devemos aceitar a terceirização ou privatização dos serviços públicos. Certo é que esses contratos geralmente vêm precedidos de grandes esquemas de interesses de políticos com suas questionáveis relações com empresas privadas, da qual a Locanty é um grande exemplo.

De novo estamos em ano eleitoral. Tudo indica que a política “balaio de gato” retornará com força no cenário político local. Dentro de um cenário ainda nebuloso, Álvaro Cabral espera apoio do PMDB e do PT, sendo certo que já conta com apoio do PDT. PMDB e PT também nutrem simpatia por Fernandinho Graça. No fundo, as alianças dependerão muito das relações de composição para o futuro governo do Estado, tendo Lindbergh Farias um papel importante nas futuras alianças. Rômulo Milagres parece estar isolado no PSDB. Felipe Camêlo até agora é uma incógnita. Ninguém sabe que rumo irá tomar.

No campo da esquerda, agora com a ausência do companheiro Afonso Maria Diniz, que via com simpatia uma aliança dessas forças em Valença, espera-se ser possível aglutinar PSOL, PCB e PSTU, numa aliança que seja capaz de defender bandeiras históricas dos trabalhadores.

É hora de construir uma nova política, com novos valores e princípios.

Chico Lima é advogado

segunda-feira, 23 de abril de 2012

VQ // O retorno / Sarau

Sarau Solidões Coletivas in Bar realizado no dia 21 de abril, no Open Bar, no Benfica, em Valença/RJ, comemorando o retorno e os 7 anos do Valença em Questão, quase 12 anos do lançamento do primeiro livro do poeta Carlos Brunno ("Fim do fim do mundo", 1997) e um ano do blog Diários de solidões coletivas.

O evento contou com a participação dos poetas Carlos Brunno S. Barbosa, Juliana Guida Maia, Jaqueline Cristina, Érick Ramos, Gilson Gabriel e Giovanni Nogueira e do cantor, compositor e músico Zé Ricardo. Participação especialíssima do novato declamador e, ao mesmo tempo, já experiente comediante de boteco Ronaldo Brechane.

VQ // nº 39 / Editorial

Valença em Questão completa sete anos e volta às ruas

Proposta do jornal é ampliar o debate e a crítica, reunindo análises sobre a situação da cidade

Esta é uma edição comemorativa, embora tenhamos pouco a festejar em nosso município. O motivo da “comemoração” é que estamos de volta às ruas de Valença depois de 30 meses ausentes. A data de retorno também não é por acaso. Hoje, dia 21 de abril, completam-se exatos sete anos da circulação da primeira edição do VQ. À época, um grupo de menos de 10 amigos iniciava a distribuição do que se tornou um movimento, muito mais do que uma publicação. Ao todo foram distribuídas gratuitamente em Valença 38 edições impressas.

Mas este não foi um período de total ausência do VQ. Ainda em 2007 lançamos o Blog do VQ que tem hoje mais de 300 acessos diários. O blog se mostrou pra gente uma ferramenta importante de comunicação, mas desde sempre avaliamosque era preciso voltar com a publicação impressa para chegarmos a boa parte da população sem acesso à internet. Esse é um dos motivos de iniciarmos novamente essa caminhada.

Estamos de volta porque consideramos que o desenvolvimento do município não passa por poucas pessoas que pensam a cidade, mas sim através de uma luta coletiva que aglutine setores representativos de nossa sociedade. Por isso achamos importante a volta do VQ, para que seja um veículo que agregue novos integrantes a este movimento de construir a Valença que queremos. O que esperamos é que novos atores possam se integrar ao nosso coletivo. Não por acaso vamos realizar um encontro público nos dias de lançamento do jornal, sempre no terceiro sábado do mês corrente, para discutir a publicação, receber críticas e sugestões para pensarmos, cada vez mais coletivamente, as futuras edições do jornal.

Neste sábado, 21 de abril, teremos o primeiro encontro aberto para discutir o jornal, pensar as novas edições e falar sobre Valença, além da presença de jovens poetas valencianos. O objetivo desses encontros é que essa interação propicie novas ideias e parcerias. Agendem--se, sempre no terceiro sábado do mês, às 17h no Espaço Open Bar, no Benfica. E estaremos sempre lembrando em nosso blog e facebook esta data.

Nesta nova edição temos contribuições do professor Sanger Nogueira, que faz uma análise da situação educacional brasileira, levantando uma série de propostas para a melhoria da educação nos âmbitos federal, estadual e municipal. Outra participação é da jornalista Marianna Araujo, com a resenha do livro ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’, de Fernando Morais, que conta a história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos Estados Unidos. Já o advogado Chico Lima fala da turbulenta situação política no nosso município nos últimos tempos, lançando perspectivas para o futuro próximo. Para completar, o professor Alexandre Fonseca faz um apanhado histórico e problematiza a questão da cultura em nossa cidade, o poeta valenciano Carlos Brunno nos brinda com sua poesia sobre Tiradentes e publicamos uma tirinha dos Malvados, do desenhista André Dahmer.

Vamos lutar para que esse nosso retorno seja duradouro. Sabemos que é um processo de construção contínua e, para isso, a interação com vocês leitores é fundamental.



domingo, 22 de abril de 2012

Virando anedota

Autor: Luis Fernando Veríssimo

A oposição entre corpo e alma não existia em tempos bíblicos, ou pelo menos na linguagem bíblica. Mas a versão em latim antigo das Escrituras que Santo Agostinho lia usava “anima” para traduzir “nefesh”, que em hebraico não quer dizer alma mas algo como sopro vital, ser, uma forma exaltada do “eu”. E foi nesse engano que tudo começou. A alma e o corpo se separaram e nunca mais se encontraram. E nunca mais se pode ler o Velho Testamento a não ser como Agostinho o lia, não como um relato da aventura do corpo humano no mundo como Deus o fez, cheio de som, fúria, sangue e sacanagem, mas como uma alegoria espiritual, em que até os cantares eróticos de Salomão queriam dizer outra coisa: a luta da alma para transcender o corpo, que para Agostinho significava a sexualidade. Tudo culpa de um mau tradutor.

 Freud tentou, de certa maneira, retransformar “anima” em “nefesh”, mas como muito do que ele escreveu em alemão também foi mal traduzido em outras línguas, a confusão só aumentou. No fim a grande danação sob a qual vive a humanidade não é a da História nem da carne, é a insanável danação de Babel. Deus disse “que haja muitas línguas, e que cada língua tenha muitos dialetos”. E depois, para ter certeza que os homens nunca mais se entenderiam, completou: “E que haja tradutores”.

Um estudo, mesmo superficial como o meu, da etimologia e das transformações que as palavras sofrem através do tempo e das más traduções revela coisas fascinantes. “Escândalo” – uma palavra que nos diz muito respeito – está indiretamente ligado, na sua origem, aos pés. Sua raiz indo-europeia é “skand”, pular ou subir, de onde também vem escalada. Quem pula ou sobe precisa cuidar onde põe os pés e o grego “skandalon” significa um obstáculo ou uma armadilha. “Scandalum” em latim tanto pode significar tentação como armadilha. No francês antigo “scandal” era um comportamento anti-religioso que agredia a Igreja toda-poderosa e, da mesma origem, existia a palavra “sclaudre”, de onde vem o inglês “slander”, ou difamação. Alguns escândalos não investigados, como acontece muito no Brasil, acabam virando anedotas. “Anedota” vem, através do francês “anecdote”, do grego “anekdotos”, história não publicada, presumivelmente tanto no sentido de inédita quanto no sentido de versão não oficial, secreta, clandestina, enfim, tipo “em Brasília não se fala em outra coisa”. Em francês queria dizer pequeno relato ilustrativo à margem de um relato maior. No seu sentido brasileiro continua sendo uma história marginal, só que engraçada, ou se esforçando para ser. Sobrevive, na anedota, a tradição homérica da literatura oral, passada de geração a geração sem necessidade de escrita. Se for escrita, deixa de ser anedota. Muitos contadores anotam o fim da anedota para não esquecê-la mas se sentiriam heréticos se a escrevessem toda. E assim correm o risco de esquecerem o resto e ficarem com uma coleção de últimas frases sem sentido

A bordo do Titanic

Autor: Affonso Romano de Sant'Anna

O que você faria se estivesse a bordo do Titanic? Sim, aquele navio imenso, feito para não naufragar jamais, mas que, de repente, colidiu um iceberg e começou a precipitar-se nos abismos oceânicos? Estão comemorando os 100 anos dessa tragédia. O gigantesco, o poderoso, o inabalável navio afundou em 15 de abril de 1912. Filmes e reportagens não faltam sobre o que foi aquele horror. James Cameron não só fez aquele filme formidável, mas foi num submarino visitar o esqueleto do navio.

 O que faria você se estivesse a bordo do Titanic? Dizem que das 2.240 pessoas que ali viajavam, 1.523 pereceram. Dizem que era uma construção segura e que o “próprio Deus” não poderia afundá-la. Dizem que levou muitas horas para submergir completamente. Dizem que os que se salvaram nos botes viam, horrorizados, o monstruoso navio mergulhando com milhares de corpos desesperados chorando e rezando.

 Não queria alarmar ninguém, mas lamento informar que estamos a bordo do Titanic. Não se enganem. Há muita festa na primeira classe; tem gente espocando champanhe; tem orquestras tocando valsas; garçons servindo delícias; mas o navio já se chocou com o iceberg. Chocou-se com o iceberg e os responsáveis pela condução de nossas vidas continuam fazendo de conta que podem dar um jeito, que aquilo foi apenas um esbarrão no acaso. Afinal, esse navio foi feito para não afundar nunca. E la nave va.

O planeta Terra é eterno. Será verdade? Nem tanto. Há quem garanta que o Sol explodirá em 4 bilhões de anos e acabará com toda a nossa empáfia, galáxia, livros, museus e fantasias. No entanto, nossos comandantes têm alguma razão em não pensar em algo tão distante. Mas essa não é a questão urgente. Outros cataclismas estão aí, despencando sobre nós. Por que não tomam medidas sobre a hecatombe que já começou? O aquecimento global é fato. O nível do mar está subindo. Os corais que mantêm a vida e o oxigênio nas águas estão fenecendo. As geleiras ao norte e ao sul estão desabando. Os ursos e focas estão em pânico. As florestas estão sendo dizimadas. As cidades são fornos asfixiantes. Os pássaros perderam o seu norte. As abelhas que polinizam as plantas morrem com os pesticidas. Mas os comandantes estão discutindo cordialmente, erguem alguns brindes e apenas trocam de lugar no convés do navio. Afinal, esse navio foi feito para não afundar. Mas, como nos desastres típicos, o que ocorre não é resultado de um erro apenas. Como em toda tragédia autêntica, há um conjunto, um conglomerado de equívocos, desatenções e prepotências. Isso não começou agora, mas vem piorando graças ao que Barbara Tuchman chamava de “a marcha da insensatez.”

Quem sabe a história do Titanic, anota que já ao sair do porto começaram os incidentes e acidentes. Mas os comandantes e os passageiros julgam sempre que são detalhes. Mas de detalhe em detalhe não controlado chega-se ao apocalipse. E a alegoria do desastre do Titanic é tão ilustrativa, que podemos afirmar objetivamente que estamos todos no mesmo barco. A globalização deu nisso. Os benefícios para poucos, mas os malefícios para todos. Portanto, você tem duas opções: ou continuar dançando e bebendo enquanto a nave mal comandada segue na escuridão para o abismo, ou sair e tentar fazer alguma coisa para evitar o desastre global.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O retorno do VQ

Programação Cine Glória (20 a 26/04)

FÚRIA DE TITÃS 2 (3D)
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Horários:16h30* e 18h30* - Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira

TITANIC (3D)
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Drama, Romance
Horários: 20h30* - Dublado / Sala 2
*Não haverá sessão na sala 2 terça-feira

ESPELHO, ESPELHO MEU
Classificação: Livre
Gênero: Comédia, Fantasia
Horários: 17h00* – Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira

GUERRA É GUERRA
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Comédia
Horários: 19h00* - Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira

JOGOS VORAZES
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação
Horários: 21h00* - Dublado / Sala 1
*Não haverá sessão na sala 1 segunda-feira

terça-feira, 17 de abril de 2012

Cruz Vermelha e os 'documentos desaparecidos'

Em matéria veiculada no Blog do Jeff Castro e republicada aqui no Blog do VQ, em novembro do ano passado, noticiava-se que o prefeito Vicente Guedes informava à justiça que os documentos do convênio da prefeitura de Valença com a Cruz Vermelha de Barra do Piraí simplesmente desapareceram.

Na ocasião uma ação popular movida em Barra do Piraí questionava o convênio por conta de possível extravio da verba dentro da Secretaria de Saúde de Valença. A justificativa de Vicente era de que os documentos foram extraviados em razão de instabilidade política com as sucessivas trocas de prefeitos interinos e seus secretários após sua cassação.

Os recursos do SUS foram direcionados ao convênio com a Prefeitura de Valença, que além da Cruz Vermelha - Filial Barra do Piraí incluiu a cooperativa Multiprof na contratação dos funcionários terceirizados. Pelo convênio a Prefeitura de Valença recebeu R$ 1,66 milhão.

Agora em maio deste ano o Tribunal de Contas do Estado do Rio instaurou um processo contra a Prefeitura de Barra do Piraí (veja a íntegra aqui) sobre o convênio firmado entre a Cruz Vermelha e a Prefeitura. O secretário de Saúde de Barra do Piraí à época, João Antônio Camerano Neto será obrigado a pagar uma multa no valor de R$ 5.388,00, porque não apresentou a documentação sobre o convênio com a Cruz Vermelha (o valor de cada termo, nota de empenho, planilhas de valores repassados à Cruz Vermelha, etc.), porque, assim como em Valença, desapareceram.

Já o atual secretário de Saúde deve encaminhar toda a documentação solicitada no prazo de 30 dias, ou pode pegar a mesma pena (multa).

Fico imaginando que no caso de Valença, onde estão envolvidos R$ 1,66 milhão, que chega a ser cômodo o pagamento de uma multa de pouco mais de R$ 5 mil. Vamos ver se por aqui o procedimento será o mesmo.

Os 4 Poderes

Por Rafael Balbueno, da Revista O Viés

Cachoeira, Demóstenes e Veja: a rede da máfia brasileira

Por Alexandre Haubrich, do Jornalismo B

Entre as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, são mais de duzentas as conversas de Cachoeira com o editor-chefe da revista Veja

Mais do que mostrar relações promíscuas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM), as gravações divulgadas recentemente a partir da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, desenham Cachoeira como uma grande liderança da direita brasileira. Sim, é isso. Um contraventor influencia em todas as esferas da direita do país através de seus contatos nos partidos políticos e na mídia. Segundo Luis Nassif, entre as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, são mais de duzentas as conversas de Cachoeira com o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.

As conversas mais difundidas até o momento são as que incriminam Demóstenes Torres, mas a revista Carta Capital já publicou reportagem na qual demonstra também relações estreitas e a configuração de tráfico de influência envolvendo o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

A divulgação da íntegra dessas conversas, por sua profundidade e abrangência, pode ter o poder de um “pequeno Wikileaks” brasileiro. É a revelação contundente e inegável das negociatas envolvendo algumas das principais lideranças dos partidos da direita brasileira, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o veículo de mídia mais reacionário que temos no país.

A defesa dos acusados de favorecer os interesses de Cachoeira, em uma ampla rede que ligava a contravenção a algumas lideranças políticas e à mídia, tem se baseado no silêncio e na pretensa ilegalidade das escutas. Infelizmente para eles, não há forma melhor de defender-se do que tentando deslegitimar legalmente gravações que já destruíram moralmente os envolvidos.

Tem se falado muito nas “duas caras” de Demóstenes, defensor discursivo da transparência e da moralidade ao mesmo tempo em que trabalhava junto a Carlos Cachoeira recebendo apoio eleitoral em troca de ouvidos moucos para os negócios de jogo ilegal mantidos pelo bicheiro. Mas também vem à tona mais uma vez a face da revista Veja que a publicação do Grupo Abril insiste em ocultar. Bastião da moralidade na política, especialista em acusações de corrupção e ambiente de um jornalismo investigativo capaz de tentar esconder escutas em quartos de hotel, a Veja tem o nome de seu editor-chefe citado em uma gravação como um parceiro constante de Carlos Cachoeira, com quem “trocaria favores”, segundo explica o próprio contraventor. Além disso, as possíveis conversas entre Cachoeira e Policarpo Jr. ainda estão para serem divulgadas.

Não foi por acaso, então, que a Veja afastou de suas capas o caso mais falado na política brasileira nas últimas semanas. Se Cachoeira era manchete quando foi revelado seu envolvimento com Waldomiro Diniz e o PT, não o é quando as denúncias são mais profundas, tão profundas que chegam ao poderio midiático do Grupo Abril e às relações de troca de favores entre o editor-chefe da revista com maior tiragem do país e um homem exposto como líder das mais complexas maracutaias políticas.

Da mesma forma o assunto também não esteve nas capas da Isto É, que preferiu destacar nas últimas duas semanas “A nova fórmula do profissional de sucesso” e “Médico de bolso”. Na revista Época, uma capa, “O senador e o bicheiro”, e, na última edição, o tema foi substituído por “Os bairros mais cobiçados do Brasil”.

A Carta Capital comprou a briga, e nas últimas duas semanas destacou as relações entre Carlos Cachoeira e o governador de Goiás, Marconi Perillo. Teve consequências. Em Goiânia, parte da edição anterior despareceu. Como disse matéria da Rede Brasil Atual, “na capital governada pelo tucano houve um operativo para comprar todos os exemplares na manhã de domingo (1º), evitando que a denúncia circulasse. Segundo reportagem de Gabriel Bonis, Joel Luiz Datena, filho do apresentador José Luiz Datena e dono de uma rádio, foi um dos que tentaram adquirir mil exemplares de uma vez”.

É uma configuração de sistema mafioso que perpassa as instituições brasileiras, a começar pela mesma mídia que se pretende guardiã da moral, dos bons costumes e das demais instituições. Caiu mais uma máscara.

PIM Cine Clube em Vassouras

O Projeto Itegração pela Música (PIM) exibe amanhã, dia 18 de abril, o filme A margem do Lixo, às 19 horas, em sua sede (Praça Eufrásia Teixeira Leite, 33 - Centro Vassouras).

O vídeo será lançado em rede nacional e a entrada é gratuita. A Margem do Lixo é dirigido por Evaldo Mocarzel e focaliza os catadores de materiais recicláveis na cidade de São Paulo.

PIM Cine Clube exibe 'A Margem do Lixo'

Data: Quarta, dia 18 de abril, às 19h
Local: PIM - Praça Eufrásia Teixeira Leite, 33 - Centro Vassouras

segunda-feira, 16 de abril de 2012

VQ de novo na rua

O VQ será relançado no sábado, dia 21 de abril. Nesta mesma data o VQ comemora sete anos de existência.

Para comemorar, estaremos no Bar do Juquinha a partir das 17 horas, com a participação de poetas valencianos e o microfone aberto para quem quiser participar.

Visitem a página do evento no Facebook

Estão todos convidados.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Novos semáforos em Valença

A prefeitura informa, via assessoria e comunicação, que foi iniciada a instalação de mais cinco semáforos na cidade, localizados nos seguintes pontos:

- Rua Benjamin Guimarães x Av. Nilo Peçanha

- Rua Silva Jardim x Av. Nilo Peçanha

- Praça XV de Novembro x Rua Vito Pentagna

- Trevo da Rua do Barroso x Av. do Contorno

- Av. Geraldo de Lima Bastas x Silvina Borges Graciosa

Minha dúvida é se foi feito algum tipo de estudo sobre a necessidade e viabilidade de tráfego para a instalação desses dispositivos. O trânsito em Valença já se apresenta caótico na região do Centro, e a instalação de semáforos por si só não representam melhoria. Fico na dúvida se a instalação de diversos sinais não implicaria numa piora do trânsito, embora a intenção possa ser a melhor.

Há a necessidade também de uma campanha para adaptação das pessoas para o uso dos semáforos. Não é raro ver carro parando em sinal verde porque pedestres estão atravessando a rua. E também não é raro ver carros parados no sinal vermelho “atrapalhando” o trânsito, sem qualquer pedestre e carros no outro sentido (o que invalidaria a necessidade do sinal, pelo menos em determinados horários). Mais do que instalar os semáforos, é preciso pensar o trânsito – tanto de automóveis como de pessoas.

A justificativa do prefeito, ainda segundo a nota da assessoria, é de que “é muito importante para a organização do trânsito de Valença, trazendo mais segurança aos pedestres e motoristas”.