domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma é a nova presidente do Brasil !


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Urnas apuradas (em porcentagem)91,29%

Jose Serra 44,69%

Dilma 55,31%

Nulo 4,40%

Branco 2,35%

Abstenção 21,16%

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Aluno não é mercadoria, escola não é fábrica, educação não é negócio

Sepe inicia campanha unificada em defesa da educação pública de qualidade

Retirado do Boletim do Sepe

Ao tomar posse como novo secretário estadual de educação, Wilson Risolia afirmou: “Até por formação, tenho esse vício de pensar a educação como negócio”. Foi apenas mais uma demonstração do que tem sido a tônica das políticas públicas educacionais no estado do Rio de Janeiro: a mercantilização da educação através da adoção do produtivismo e da meritocracia.
Assim como no governo estadual, em vários municípios a moda é falar em metas de desempenho,
em índices de qualidade e em prêmios e bonificações.
Tudo isso ancorado na falsa idéia de que é possível dar o necessário salto de qualidade na educação a partir da lógica privada do mercado: concorrência entre escolas e professores, padronização das avaliações e dos currículos, ampliação do controle burocrático nas mãos das secretarias e parcerias com ONGs para realização de projetos.
No município do Rio - maior rede pública de ensino da América Latina - a quantidade de projetos é tamanha que nem mesmo as CREs sabem orientar as escolas sobre o que fazer com os recursos e obrigações que chegam.
Projetos que utilizam métodos defasados e conteúdos inadequados objetivando, na prática, mascarar os índices de aprovação para, assim, atingir o grande objetivo educacional: melhorar
os índices.
Certamente o IDEB, criado pelo governo federal e divulgado insistentemente pela grande mídia, pelos governos e por entidades da sociedade civil, contribuiu para essa naturalização da competição, dos rankings e metas quantitativas. As políticas dos mais diversos governos entraram nessa onda sem deixar de culpar e penalizar os profissionais da educação.

A EDUCAÇÃO NÃO SE RESUME A NÚMEROS QUE SÓ SERVEM PARA CLASSIFICAR E ROTULAR

Por isso, é tão urgente recuperar um projeto de educação pública forjado nas lutas sociais dos anos 80 para atualizá-lo sem deixar de reafirmar o que tinha de mais essencial: seu caráter universalizante, socialmente comprometido, laico, público e democrático. Que garanta a autonomia pedagógica e política daqueles que constroem o processo de ensino aprendizagem ao
mesmo tempo em que valoriza o trabalho dos profissionais da educação. É para esse desafio
que o Sepe chama você. De 5 e 6 de novembro faremos um grande seminário para pensar e discutir estas questões no intuito de juntar forças para esta luta necessária para os dias de hoje. Você não pode faltar!


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Editais abertos para criação artística e festival de música

O campo artístico fluminense acaba de ganhar dois novos editais. Foram abertas nesta segunda-feira (18/10) as chamadas públicas para Festival de música e Apoio à pesquisa e criação artística, seleções que acontecem pela primeira vez este ano. Juntas, somam R$ 440 mil, e representam uma iniciativa da Superintendência de Artes da Secretaria de Estado de Cultura.


O edital direcionado às mostras musicais foi criado com o objetivo de preservar a presença desses eventos em todo o estado. “Existem festivais periódicos em diversos municípios fluminenses. A tradição de festivais de música de diferentes naturezas é muito forte em todo o Brasil, e o Rio de Janeiro não foge à regra”, explica Eva Doris Rosental, superintendente de Artes da Secretaria de Cultura.

A chamada vai selecionar cinco projetos, que vão receber R$ 40 mil cada. Os candidatos podem ser pessoas físicas ou jurídicas, mas precisam comprovar que já atuam na realização de festivais de música no estado há pelo menos dois anos. Além disso, serão consideradas apenas as propostas de festivais que apresentem pelo menos 10 artistas ou grupos.

Processo criativo
Já o edital para Apoio à pesquisa e criação artística abrange quatro categorias: Artes Visuais (Projeto Artístico), Dança (Coreografia), Música (Composição para Orquestra de Câmara de Música Contemporânea) e Teatro (Texto Dramatúrgico). Serão contemplados dois projetos em cada uma delas, que vão ganhar R$ 30 mil cada.

Esta chamada tem uma característica peculiar: os proponentes devem indicar um orientador, que vai acompanhar todo o processo de pesquisa e criação. Estas deverão ser realizadas dentro de um prazo de 240 dias, sendo os últimos 30 reservados para a mostra do trabalho criado, em um espaço cultural do estado.

“Esse edital é diferente porque valoriza o processo de criação em si, e não só o produto final”, destaca Eva, que completa: “O processo, claro, desemboca num resultado. Mas fato é que, durante a pesquisa e a criação, o artista terá o acompanhamento de um orientador com quem pode manter um diálogo permanente e, assim, tornar a fase de criação menos solitária e mais produtiva”.

As inscrições para ambos os editais ficam abertas até o dia 10 de dezembro.

Acesse o site da Secretaria de Cultura e veja os editais na íntegra

Vítimas e culpados

Eleitorado sem perspectiva econômica não pode ter consciência de direitos, ou interesses, que desconhece

Por Cláudio Weber Abramo, diretor do Excelências da Transparência Brasil

FAZ MUITO TEMPO que o anúncio dos resultados de eleições no Brasil é acompanhado da constatação de que os eleitos, em particular para o Legislativo, formam um contingente de baixa qualidade.

Não são poucos aqueles que (como este que escreve) julgam que a qualidade esteja decrescendo. A isso costumam seguir-se considerações a respeito da responsabilidade de quem leva políticos desclassificados ao Legislativo, a saber, os eleitores.

Daí a se engatarem lamentações a respeito da consciência (ou falta dela) do eleitor é um passo, acompanhado sempre de um rol de soluções que incluem pelo menos uma providência: a reforma política.

Dois elementos aparecem quase sempre nas reformas políticas que se costumam propor ultimamente: a proibição de financiamentos privados a candidatos e a implantação do voto distrital.

Financiar eleições exclusivamente com dinheiro público traz como consequência material a adoção do voto em listas. O eleitor deixaria de votar em candidatos, passando a fazê-lo em listas definidas pelas legendas partidárias.

Sem entrar nos vários deméritos dessa proposição, permanece inexplicado qual seria o efeito que a providência causaria na consciência do eleitorado.

Quanto ao voto distrital, pelo menos há um argumento relacionado à consciência: o de que os eleitos, tendo sido ungidos pelo voto em distritos delimitados, seriam mais vigiados pelos respectivos eleitores.

A proposta tem atrativos, mas também tem defeitos, alguns gravíssimos, que tampouco serão abordados neste momento.
Acontece que, em grande parte do país, o voto já é distritalizado, na forma de redutos eleitorais. Se os eleitores de bairros ou cidades vota "inconscientemente" nos candidatos que se apresentam ali, qual seria o motivo pelo qual passariam a exercer esse voto com mais consciência se a distritalização passasse a ser formal?

O que acontece com as discussões baseadas na consciência do eleitor é que transformam a vítima em culpado.

O eleitor é vítima por vários lados.

Há o lado da informação. Para votar direito, o sujeito precisa ter informação adequada a respeito da política e dos políticos. Isso não está presente para a vasta maioria do eleitorado, por responsabilidade de uma imprensa que é dominada pelos mesmos interesses que controlam a política (não apenas Collor, Sarney etc. etc., mas políticos locais às centenas).

Outros responsáveis são as ONGs brasileiras, que existem para defender certos pontos de vista ou interesses, mas que não geram informação necessária para fazer suas posições conhecidas, inteligíveis e capazes de mobilizar os pretensos beneficiários.

No fundo de tudo, culpadas são a má distribuição de renda e a falta de desenvolvimento econômico real.

Um eleitorado sem perspectivas econômicas não pode ter consciência de direitos, ou mesmo interesses, que desconhece.

Sermão da Montanha (Versão para Educadores)

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.
Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens. Tomando a palavra, disse-lhes:

- Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...

Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:
- É pra copiar no caderno?

Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?

João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?

Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da Provinha Brasil, da Prova Brasil e demais testes e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto. E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor efetivo...

Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu. Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria... Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:
 
-Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês.
Tomé, sempre resmungão, reclamou:
 
- Mas só no céu, Senhor?
 
- Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação.. Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem. Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o paraíso aqui e
agora, para merecer o que vem depois...
E Jesus concluiu:
 
- Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo...

(15/10/2009, texto do professor Eduardo Machado.)

CONVITE

CONVITE

ENCONTRO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA

A Comissão de Direito Ambiental e Ecológico da OAB - Valença/Rio das Flores - RJ e o Projeto Caravana SALVEASERRA convidam para o encontro mensal sobre Educação Ambiental e Cidadania, a ser realizado na quinta-feira, dia 28/10/2010, às 19 horas. O encontro se encerrará às 21 horas.

Como sempre haverá a apresentação de uma projeção sobre um assunto e em seguida uma discussão e um debate sobre como este problema afeta a nossa comunidade e como podemos fazer para tentar resolvê-lo.

O local do encontro será na sede da OAB/Valença, na Rua Silva Jardim, 215, Centro, Valença/RJ.

Maiores informações pelo telefone:  (24)  2452 - 0616.

Contamos com a sua presença.

 Luciene C. Fuentes Filgueiras -  CDA/OAB - 7ªSS 

Roberto Lamego - SALVEASERRA

terça-feira, 26 de outubro de 2010

II Fórum de Música, Gestão, Educação e Cidadania.

O PIM - Programa Integração pela Música de Vassouras convida a todos para o II Fórum de Música, Gestão, Educação e Cidadania.

Clique na imagem para ampliar.

Brasil ocupa a 69ª posição em ranking de percepção de corrupção da Transparência Internacional

Paula Adamo Idoeta

Da BBC Brasil em São Paulo

O relatório anual da ONG Transparência Internacional, divulgado nesta terça-feira, indica que a percepção de corrupção no setor público do Brasil se manteve inalterada desde o ano passado, embora o país tenha subido em um ranking sobre o tema.

A pontuação dada ao país no relatório permaneceu a mesma de 2009 – 3,7 numa escala de zero a dez, em que dez indica que os servidores são percebidos pela população como pouco corruptos e zero corresponde à percepção de corrupção disseminada.

O Brasil ocupava no ano passado o 75º lugar entre 180 países no Ranking de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Na lista deste ano, em que foram relacionados apenas 178 países, o Brasil ocupa a 69ª posição, juntamente com Cuba, Montenegro e Romênia.

Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura, dividem a primeira colocação, com 9,3 pontos.

O ranking da TI mede a percepção de corrupção nos setores públicos dos países, a partir de avaliações de fontes como fundações, ONGs, centros de estudos e bancos de desenvolvimento.

Piora em outros países

A subida do Brasil no ranking seria apenas um reflexo da deterioração de outros países e não deve ser interpretada como um avanço do país, explicou à BBC Brasil Alejandro Salas, diretor regional para as Américas da Tarnsparência Internacional.

“A pontuação (3,7) mostra que não houve melhora ou piora no Brasil e, assim como em outros países, reflete contradições entre modernizações e práticas antigas”, opinou Salas.

“Em alguns setores, temos sofisticados sistemas de compras públicas eletrônicas, que reduzem as oportunidades de corrupção, e sinais importantes como a lei da Ficha Limpa. Por outro lado, em muitos espaços de poder temos esquemas de compras de voto e nepotismo.”

Ainda que a metodologia da Transparência Internacional não permita observar se houve mudanças radicais na percepção da corrupção no mundo como um todo, é possível notar quais países avançaram e quais deram sinais de retrocesso.

Salas cita o Chile, país sul-americano mais bem colocado no ranking, como exemplo positivo: subiu de 6,7 pontos em 2009 para 7,2.

O motivo é que “no Chile há a percepção de autonomia da Justiça e de uma polícia livre de corrupção”, diz o diretor, citando também uma recente lei chilena que permite o acesso de cidadãos a informações de contas e contratações públicas.

Os Estados Unidos, por outro lado, são exemplo de retrocesso: perderam pontos e posições no ranking, em mais um desdobramento da crise em seu sistema financeiro.

Os Estados Unidos sofreram uma queda importante. É um efeito dos escândalos financeiros, como o de Bernard Madoff, que mostraram ao mundo falta de transparência (no sistema). Por outro lado, medidas positivas, como a abertura de contas públicas promovida por Barack Obama, têm efeito negativo sobre a percepção da corrupção no curto prazo, justamente por colocar a corrupção em evidência.”

Mudanças individuais

Dos 178 países avaliados no ranking de 2010 da TI, a vasta maioria – 75% - não obteve nota superior a 5.

Os resultados mostram que são necessários esforços significativamente maiores para fortalecer a governança no mundo”, disse em comunicado Huguette Labelle, presidente da Transparência Internacional.

Salas opina que melhoras no panorama global dependem de mudanças individuais. “Em muitos países os indivíduos tendem a se ver como vítimas do sistema. Mas o indivíduo pode ser proativo e sair do ciclo da corrupção. Enquanto só esperarmos grandes mudanças por parte de governos, teremos essa pontuação baixa na maioria dos países.”

A percepção de corrupção é maior em países instáveis e com um histórico de conflitos, como Iraque (apenas 1,5 ponto no ranking) Afeganistão (1,4), Mianmar (1,4) e Somália (1,1, última colocada).

O Haiti configura uma exceção: obteve melhora no ranking (de 1,8 ponto em 2009 para 2,2 em 2010) apesar do terremoto que devastou o país em janeiro.

Para Salas, a percepção de corrupção pode ter diminuído no Haiti "porque todas as atenções globais se voltaram para o país e para o dinheiro doado (após o tremor), e essa atenção desestimula ações corruptas".

Ranking de Percepção da Corrupção 2010 - Destaques

1) Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura - nota 9,3

4) Finlândia e Suécia - nota 9,2

17) Barbados - nota 7,8

21) Chile - nota 7,2

22) Estados Unidos - nota 7,1

24) Uruguai - nota 6,9

69) Brasil - nota 3,7

105) Argentina - nota 2,9

146) Haiti - nota 2,2

164) Venezuela - nota 2,0

175) Iraque - nota 1,5

176) Afeganistão e Mianmar - nota 1,4

178) Somália - nota 1,1


Espaço Cultural Francisco de Assis França, em Volta Redonda - 5 Anos de Resistência!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Trabalhar mais para ganhar menos: fúria francesa na jaula da UE

O atual movimento de protesto na França não tem a ver com “elevar a idade de aposentadoria dos 60 aos 62”. Trata-se de muito mais do que isso. Para começar, este movimento expressa a exasperação com o governo de Nicolás Sarkozy, que de forma descarada favorece os super ricos em detrimento da maioria da classe trabalhadora da França. Foi eleito com o lema: “Trabalhar mais para ganhar mais”, e a realidade terminou sendo exatamente o oposto: trabalhar mais para ganhar menos. O artigo é de Diana Johnstone.

Aí estão de novo os franceses: em greve, bloqueando o transporte, fazendo tumulto pelas ruas, e tudo simplesmente porque o governo quer elevar a idade da aposentadoria dos 60 para os 62 anos. Só podem estar loucos...

Suponho que essa é a maneira como se vê o atual movimento de massas – como ao menos se mostra – em boa parte do mundo, e sobretudo no mundo anglo-saxão.

No entanto, a primeira coisa que se deve dizer a respeito das atuais greves massivas na França é que na realidade não têm a ver realmente com “elevar a idade da aposentadoria dos 60 para os 62 anos”. Isto equivale a descrever o livre mercado capitalista como uma espécie de carrinho de limonada. Uma simplificação propagandística de questões muito complexas.

Isso permite aos comentarias se debaterem contra as portas abertas. Ao fim e ao cabo, observam sagazmente, as pessoas de outros países trabalham até os 65 anos, de modo que se vai liberar os franceses por que? A população envelhece, e se não se eleva a idade de aposentadoria, o sistema de previdência vai quebrar, tendo de pagar as aposentadorias de tantos anciãos.

Acontece que o atual movimento de protesto não tem a ver com “elevar a idade de aposentadoria dos 60 aos 62”. Trata-se de muito mais do que isso.

Para começar, este movimento expressa a exasperação com o governo de Nicolas Sarkozy, que de forma descarada favorece os super ricos em detrimento da maioria da classe trabalhadora da França. Foi eleito com o lema: “Trabalhar mais para ganhar mais”, e a realidade terminou sendo que se tratava de trabalhar mais para ganhar menos. O ministro do Trabalho que apresentou o projeto da reforma, Eric Woerth, conseguiu um emprego para sua mulher no escritório da mulher mais rica da França, Liliane Bettencourt, herdeira da L'Oréal, a gigante dos cosméticos, ao mesmo tempo que como ministro a cargo do orçamento fazia vista grossa às suas vultuosas evasões fiscais.

Enquanto as isenções fiscais aos ricos ajudam a esvaziar os cofres públicos, este governo faz o que pode para destruir o conjunto do sistema de seguridade social surgido depois da Segunda Guerra Mundial, com o pretexto de que “não podemos nos permitir” tal coisa.

A questão das aposentadorias se torna bastante mais complexa que a “idade de aposentar-se”. A idade legal da aposentadoria significa a idade em que alguém pode se aposentar. Mas a pensão depende do número de anos trabalhados ou, da quantidade de contribuições do plano conjunto de pensões. Com a desculpa de “salvar o sistema da bancarrota”, o governo tem elevado gradualmente o número de anos de contribuição, de 40 a 43 anos, dando indícios de que se ampliará ainda mais no futuro.

À medida que se prolonga a educação e se começa a trabalhar mais tarde, para ter uma aposentadoria integral a maioria das pessoas terá de trabalhar até os 65 ou 67. Uma “aposentadoria integral” estará em algo como 40% do salário, no momento da aposentadoria.

E ainda assim pode não ser possível que esteja. Cada vez é mais difícil encontrar empregos de tempo integral e os patrões não desejam necessariamente conservar empregados antigos. Ou bem a empresa desaparece e o trabalhador de 58 anos se torna permanentemente desempregado. Cada vez se torna mais difícil trabalhar em expediente completo num emprego assalariado, durante mais de quarenta anos, por mais que se queira. Assim, na prática, a reforma de Sarkozy-Woerth significa simplesmente reduzir as aposentadorias.

Isso é, de fato, o que a União Européia tem recomendado a todos os estados-membro como medida econômica, com a intenção, como no caso da maior parte das atuais reformas, de reduzir custos sociais em nome da “competitividade”, querendo dizer competência para atrair investimentos de capital.

Os trabalhadores menos qualificados, que no lugar de prosseguir seus estudos puderam entrar na faixa da população economicamente ativa jovens, digamos aos 18 anos, terão contribuído durante 42 anos na idade de 60, caso consigam, desde cedo, seguir com emprego durante todo esse período. As estatísticas mostram que sua expectativa de vida é relativamente curta, de modo que eles precisam deixar de trabalhar mais cedo se quiserem desfrutar de algum tipo de aposentadoria.

O sistema francês se baseia na solidariedade entre gerações, no sentido de que as contribuições dos trabalhadores de hoje se destinam a pagar as aposentadorias das pessoas que se aposentam hoje. O governo tentou sutilmente pôr uma geração contra outra, arguindo que é necessário proteger o futuro da juventude de hoje, que paga pelos aposentados da geração baby boom [nascidos no pós-guerra]. Por isso se torna extremamente significativo que na semana que passou os estudantes universitários e do ensino médio tenham se unido ao movimento grevista de protesto. Esta solidariedade inter-geracional é um sério golpe para o governo.

Os jovens são muito mais radicais, inclusive, que os velhos sindicalistas. São muito conscientes da dificuldade crescente de se construir uma carreira. A tendência é que o pessoal qualificado entre no mercado de trabalho cada vez mais tarde, depois de ter passado por anos de estudo. Com a dificuldade de encontrar um posto de trabalho estável, em tempo integral, muitos dependem de seus pais até os 30 anos. É questão de simples aritmética dar-se conta de que neste caso não haverá aposentadoria integral até a idade de 70 anos.

Produtividade e desindustrialização
Como já é prática habitual, os autores das reformas neoliberais as apresentam não como escolha, mas como necessidade. Não há alternativa. Devemos competir no mercado global. Ou seguem nosso caminho ou vamos à bancarrota. E esta reforma foi essencialmente ditada pela União Européia, num informe de 2003, ao concluir que fazer as pessoas trabalharem mais era necessário para cortar os custos das aposentadorias.

Essas exigências impedem qualquer discussão dos fatores básicos que subjazem ao problema das aposentadorias: produtividade e desindustrialização.

Jean-Luc Mélenchon, antigo membro do Partido Socialista que encabeça o Partido da Esquerda [Parti de Gauche] relativamente novo, é quase o único dirigente político a apontar que mesmo quando há menos trabalhadores contribuindo para os fundos de pensão, a diferença pode ser compensada com um aumento da produtividade. Sem dúvida, a produtividade do trabalhador francês está entre as mais altas do mundo (é maior que a da Alemanha, por exemplo). Além disso, embora a França tenha a segunda maior expectativa de vida da Europa, também tem a taxa de natalidade mais elevada. E embora sejam os que menos tenham emprego, devido ao desemprego, a riqueza que produzem deveria ser suficiente para manter os níveis das aposentadorias.

Mas eis o truque: durante décadas, conforme a produtividade sobe, os salários estancam. Os benefícios do aumento da produtividade se desviam para o setor financeiro. O inchaço do setor financeiro e o estancamento do poder aquisitivo conduziram à crise financeira e o governo conservou o desequilíbrio, resgatando os esbanjadores financeiros.

Por isso é lógico que conservar o sistema de pensões exige basicamente elevar os salários para que esses reflitam a maior produtividade: uma mudança de política de envergadura verdadeira.

Mas há outro problema crucial, ligado à questão das aposentadorias: a desindustrialização. Com o objetivo de manter os altos lucros drenados para o setor financeiro e evitar pagar salários mais altos, uma indústria após a outra deslocou a sua produção a países com força de trabalho mais barata. As empresas rentáveis fecham, enquanto o capital segue buscando lucros ainda maiores.

Isso é simplesmente o resultado inevitável do ascenso das novas potências industriais da Ásia? É inevitável um rebaixamento do nível de vida do Ocidente dado ao ascenso do Oriente?

Talvez. No entanto, se deslocar-se a produção industrial termina por diminuir o poder aquisitivo do Ocidente, as exportações chinesas sofrerão. A mesma China está dando os primeiros passos para fortalecer seu mercado interno. O “crescimento orientado para a exportação” não pode ser a estratégia de todos. A prosperidade mundial depende na realidade de fortalecer tanto a produção como o mercado interno. Mas isso exige o padrão de política industrial deliberada que as burocracias da globalização proíbem: a Organização Mundial do Comércio e a União Européia. Elas operam com o dogma da “vantagem comparativa” e da “livre concorrência”. Com base no livre comércio a China enfrenta atualmente sanções por promover sua própria indústria de energia solar, vitalmente necessária para acabar com a contaminação mortal do ar que assola o país. Tratam a economia como um grande jogo em que seguir as “regras do livre mercado” é mais importante que o meio ambiente ou as necessidades básicas dos seres humanos.

Só os financistas podem sair ganhando neste jogo. E se perdem, bem, conseguem dos governos servis mais fichas para outro jogo.

Ponto morto?
Como acabará isso tudo? Deveria acabar em algo assim, como uma revolução democrática: uma completa revisão da política econômica. Mas há razões muito poderosas para que isto não ocorra.

Para começar, não há direção política na França disposta e capacitada para dirigir um movimento verdadeiramente radical. Mélenchon é o que mais próximo disso há, mas seu partido é novo e sua base ainda muito pequena. A esquerda radical se vê presa ao seu sectarismo crônico. E há uma grande confusão entre as pessoas que se rebelam sem programa nem líderes claros.

Os dirigentes sindicais são bem conscientes de que os empregados perdem um dia de salário cada vez que entram em greve, e o certo é que andam sempre inquietos, tratando de encontrar maneiras de terminar uma greve. Os estudantes são os únicos que não sofrem essa limitação. Os sindicalistas e os dirigentes do Partido Socialista não pedem nada mais drástico que a abertura de negociações com o governo, sobre os detalhes da reforma. Se Sarkozy não fosse tão teimoso, é uma concessão que o governo poderia fazer e que poderia devolver a tranquilidade sem mudar muita coisa.

Mas, mesmo que isso acontecesse, há um obstáculo ainda mais formidável para uma mudança básica: a União Européia. A UE, edificada sobre os sonhos populares da uma Europa pacífica e unida, converteu-se num mecanismo de controle social e econômico em nome do capital e especialmente do capital financeiro. Ademais, está ligada a uma poderosa aliança militar, a OTAN.

Abandonada a si mesma, a França poderia experimentar com um sistema econômico socialmente mais justo. Mas a UE está aí precisamente para impedir esses experimentos.

Atitudes anglo-saxônicas
Em 19 de outubro, o canal de televisão internacional francês France 24 programou um debate sobre as greves, entre quatro observadores não franceses. Uma mulher portuguesa e um homem da Índia pareciam tratar de compreender, com moderado êxito, o que está acontecendo. Em contraposição, os dois anglo-norteamericanos (o correspondente em Paris da revista Time e Stephen Clarke, autor de 1000 Years of Annoying the French [algo como "1000 anos aborrecendo os franceses) divertiram-se, demonstrando sua auto-satisfeita incapacidade para entender o país sobre o qual ganham a vida escrevendo.

Sua explicação rápida e feliz: “Os franceses estão sempre em greve por diversão, porque gostam”.

Um pouco mais tarde, o moderador mostrou uma breve entrevista com um estudante de ensino médio que fazia comentários sérios sobre a questão das pensões. Isto é se divertir, para os anglo-saxões?

A resposta foi instantânea: “que triste ver um jovem de 18 anos pensando nas aposentadorias, quando deveria estar pensando em meninas!”.

De modo que, seja para se divertir, seja em lugar de se divertir, os franceses resultam absurdos para os anglo-norteamericanos acostumados a dizer ao mundo o que se deve fazer.

(*) Diana Johnstone, membro do Conselho Editorial de SinPermiso, é autora de Foo'ls Crusade: Yugoslavia, NATO and Western Delusions.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Aula de hoje (22/10/10): jornalismo

O povo não é bobo. Professor de jornalismo desmente a farsa da Rede Globo (#globomente)

O Jornal Nacional de ontem fez lembrar o envolvimento da Rede Globo na disputa presidencial que elegeu Fernando Collor, em 1989. Nada menos que 7 minutos foram dedicados à tentativa de demonstrar que José Serra fora atingido, na véspera, por um rolo de fita adesiva. Convocou-se Ricardo Molina, um “especialista” cujo currículo inclui a tentativa de acusar o MST pelo massacre de Eldorado de Carajás, de “assegurar” que PC Farias se suicidou e de questionar as provas sobre a responsabilidade da família Nardoni na morte da menina Isabela. Procurava-se frear a onda de indignação (e de deboche) que correu o país, quando se soube, horas antes, que a “agressão” sofrida na véspera pelo candidato do PSDB fora provocada por uma bolinha de papel. Não, tentou afirmar o Jornal Nacional: a tomografia a que se submeteu o candidato justificava-se. Ele havia sido atingido também por um rolo de fita adesiva…
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Até mesmo esta versão está sendo contestada agora. José Antonio Meira da Rocha, professor de Jornalismo Gráfico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), analisou as imagens do Jornal Nacional quadro a quadro e chegou às seguintes conclusões, publicadas em seu blog: a) o suposto rolo de fita crepe, ou durex, não aparece em nenhum dos quadros anteriores ou posteriores ao momento em que se “choca” com a cabeça de Serra. Teria surgido do nada; b) um truque elementar na manipulação de vídeos (um artifact de compressão) é suficiente para gerar imagem idêntica à exibida no Jornal Nacional. 
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A análise de Meira Rocha pode ser conferida abaixo. Adicionalmente, um post no blog de Luís Nassif mostra: o suposto “choque” da fita adesiva com a cabeça de Serra deu-se numa parte da cabeça totalmente distinta daquela em que, segundo seu médico, ele foi atingido…
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Leia, a partir daqui, a análise do professor José Antonio Meira da Rocha 
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Toda a produção jornalística pode ser digitalizada. Tudo o que é publicado está à mercê de chatos que salvam, gravam, colecionam, digitalizam com plaquinhas de 120 reais. Como eu, que gosto de gravar TV na minha Pixelview PlayTV Pro.
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Por isso, hoje, é inconcebível que a grande imprensa, sofrendo há muito com as mudanças provocadas pela digitalização, tente enganar seu digitalizado público com armações grotescas como esta aprontada pelo Jornal Nacional de 2010-10-22, com ajuda da Folha.com e do repórter Ítalo Nogueira.
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Será que a velha mídia não se dá conta que qualquer pessoa pode gravar TV e passar quadro-a-quadro? E que, fazendo isto, a pessoa pode ver que não há nenhum rolo de fita crepe sendo atirado contra o candidato José Serra? Que o detalhe salientado em zoom numa extensa matéria de 7 minutos não passava de um artifact de compressão de vídeo sobreposto à cabeça de alguém ao fundo? Que não se vê no vídeo quadro-a-quadro nenhum objeto indo ou vindo à cabeça do candidato?
E a Globo ainda vai procurar a opinião de um “especialista” de reputação duvidosa
Tudo pode ser digitalizado, menos a  credibilidade de um veículo jornalístico. E este único ativo que sobra à velha mídia, ela joga fora…
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Veja a sequência abaixo e tente encontrar o rolo de fita voando em direção à cabeça do candidato.
Fita mágica 00
Fita mágica 02
Fita mágica 04
Fita mágica 06
Fita mágica 08
Fita mágica 10
Fita mágica 12
http://noticias.marxismo-online.com.br/arquivos/2010/10/fitacrepe/fita-magica0014.jpg
Fita mágica 16
Fita mágica 18
Observe aquela cabeça atrás de Serra…
Fita mágica 20
Fita mágica 22
Fita mágica 24
Fita mágica 29
Cadê o rolo chegando na cabeça de Serra, que deveria estar neste quadro?
Fita mágica 32
Fita mágica atinge John Fitzgerald Serra (imagem TV Globo/Folha.com)
Fita mágica 34
Cadê o rolo saindo da cabeça de Serra, que deveria estar neste quadro?
Fita mágica 36
Fita mágica 38
Fita mágica 40
Fita mágica 42
Fita mágica 46
Fita mágica 48
Fita mágica 50
http://noticias.marxismo-online.com.br/arquivos/2010/10/fitacrepe/fita-magica0052.jpg
Fita mágica 54
Fita mágica 56
Fita mágica 60
Fita mágica 61
http://noticias.marxismo-online.com.br/arquivos/2010/10/fitacrepe/fita-magica0062.jpg
Fita mágica 63
Fita mágica 64

Urgente (22/10, 12h16): Desde o final da manha desta sexta (22/10), o site do professor José Antonio Meira da Rocha (http://meiradarocha.jor.br) foi bloqueado pela empresa que o hospeda — no que pode ser um caso grave de censura na internet. Em decorrência, as imagens que sustentavam a hipótese levantada por ele desapareceram, em dezenas de blogs que reproduziam suas informações.
O material foi republicado, em seguida, no blog Marxismo On-Line, de Leonardo Arnt — de onde foi reproduzido por Outras Palavras

Sexta musical em Valença



A noite musical começa cedo em Valença. No Dom Bistrô teremos "Cíbila, Renato e Vandré no horário das 19 horas.

Já a Banda Hipnotize é o destaque do pesqueiro do Vitinho a partir das 23 horas.

Plinio fala sobre 2º turno e mostra porque é o candidato mais jovem e lúcido dos últimos tempos

Contra o capitalismo menos pior, voto nulo!

A lógica que segue o pleito para a presidência da república está marcada por uma pauta reacionária e conservadora, que não dialoga com as minorias e nem com as agruras da classe trabalhadora brasileira. A forma naturalizada com que está sendo encarado o conservadorismo fundamentalista que norteia as campanhas dos presidenciáveis cristaliza a total igualdade entre os contendores.

Um (Serra) privatiza de forma institucional, colocando pra vender em leilão o patrimônio público nacional, arrocha o salário do trabalhador e faz repressão covarde e assassina ao movimento social; a outra (Dilma) reafirma as políticas anteriores, privatiza de forma burocrática, assentando nas estatais os neoliberais aliados eleitoreiros e concedendo as famigeradas concessões de exploração da riqueza nacional a torto e a direito para o capital estrangeiro, além de engessar importantes movimentos como MST, CUT, UNE, cooptando-os para mantê-los sob suas rédeas e evitar a organização popular de massas .

As duas campanhas se igualam desde a arrecadação aos tubos ao alinhamento político-social-econômico com a burguesia nacional e internacional. Ambos mantém paralisadas a reforma agrária, efetivam de forma cada vez mais violenta do modelo econômico neoliberal, mantém a invasão e a violação dos direitos humanos no Haiti e nas favelas e bairros pobres do Brasil, e vão produzir uma reforma previdenciária que aumente a idade da aposentadoria e que ataque ainda mais os direitos – já limitados – dos trabalhadores.

O capital especulativo, a grande mídia burguesa e o saque aos cofres públicos que financiam a campanha de ambos os lados. A pauta deles é a afronta aos trabalhadores e o enriquecimento dos banqueiros e dos empresários. São farinha do mesmo saco!

Os partidos de esquerda – exceto o PSTU, até o momento - de forma equivocada e entreguista pregam o voto anti-Serra, ou seja, em Dilma. Na verdade, o que há é uma falsa polarização entre os candidatos da burguesia e que está sendo legitimada por grande parte da esquerda. As divergências entre os partidos da verdadeira esquerda com os partidos dos patrões (PSDB e PT) são necessariamente irreconciliáveis, não é o cenário eleitoral que limita a discussão sobre quem é o capitalista menos pior. Não que há de se fazer concessões ao capitalismo. Não existe voto crítico, porque o combate será feito nas ruas a qualquer um dos candidatos que saia vencedor. Na verdade ganharão os dois, já que representam o mesmo projeto de poder.

Como votar naqueles que nos exploram? Não vou com meu voto autorizar que a exploração continue, que os direitos dos trabalhadores sejam destroçados e nem concordar com o conservadorismo fundamentalista destas campanhas. Por isso, meu voto nulo ideológico.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Marcelo Freixo (PSOL-RJ) "minha declaração de voto no segundo turno":

A Executiva Nacional do PSOL, reunida em São Paulo no dia 15 de outubro, deliberou por “nenhum voto em Serra”. Título inclusive que abriu a nota que apresenta a decisão desse espaço irigente do nosso partido. Na resolução, o PSOL apresenta duas opções para sua militância: o voto nulo e o voto crítico em Dilma.

Por considerar que o voto nulo, nesse momento de grande acirramento e de rebaixamento dos debates programáticos, tende a contribuir com a vitória de um modelo reacionário parao Brasil, optei pelo apoio e voto para Dilma. Não fiz isso sozinho. Estou junto com Chico Alencar, Milton Temer, Jefferson Moura (presidente estadual do PSOL-RJ), Jean Wyllys e com boa parte do nosso mandato.

Trata-se, sim, de um voto crítico. Um voto de quem se manterá na oposição de esquerda após as eleições. Um voto para que o PSDB/DEM não retorne com seus projetos privatistas, de venda do país, de criminalização dos movimentos sociais, de ampliação da guerra aos pobres, de redução da idade penal, de retrocesso da política externa, principalmente para América do Sul, e de outros mais que fariam, certamente, o Brasil retroceder.

Não quero o retrocesso. A votação que tive - mais de 177 mil votos - me coloca uma responsabilidade de alto grau. Não posso me esconder ou fingir que nada está ocorrendo. Não existe independência nesse momento. Isso não é real. Meu apoio e voto não representam aliança, combinações, acordos ou quaisquer procedimentos desse nível. Por isso não subiremos em palanque e não participaremos das atividades da campanha.

Mas reafirmaremos, divulgaremos e, com a mesma coragem para mudar que marcou o mandato e a campanha, divulgamos que o voto contra o retrocesso, nesse segundo turno, é o voto em Dilma. Eu vou votar assim!


http://altamiroborges.blogspot.com/2010/10/marcelo-freixo-psol-rj-vota-em-dilma.html

Terroristas tentam assassinar José Serra

Versão SBT:


Versão Rede Globo:

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

José Serra é agredido por bolinha de papel no RJ (aos 59 segs.)



José Serra, Fernando Gabeira e o vice na chapa do PSDB, Índio da Costa, faziam caminhada pela calçada, quando encontraram um grupo de militantes do PT. Eles se manifestavam contra o candidato Serra. Começou um empurra-empurra. Parte do comércio fechou as portas. Serra se refugiou em uma loja. A segurança foi reforçada, mas não adiantou. A caminhada recomeçou em meio a um tumulto e brigas entre os militantes dos dois partidos. Na confusão, o candidato teria sido atingido por um rolo de fita adesiva.

Sei não, mas quem aparece distribuindo porrada pra tudo quanto é lado, é um segurança de camisa amarela. Será que era do PT?

Um livro necessário para Valença


O acompanhamento e supervisão permanentes da conduta dos administradores públicos é uma forma essencial de controlar a corrupção. Para isso, é necessário informação. Por isso esta cartilha foi escrita.
Um dos caminhos possíveis para melhorarmos nossa cidade passa pelo controle social da população sobre os atos da administração pública. A prefeitura de Valença funciona como instituição para enriquecimento de grupos políticos sob a roupagem de nomes de famílias distintas. O Legislativo municipal tornou-se, com raras exceções, um departamento do executivo não funcionando como fiscalizador das ações do prefeito. Infelizmente, uma realidade que não é apenas de Valença. Segundo o livro:

Em vez de procurar cumprir suas promessas eleitorais em benefício da população, quando um corrupto é eleito, usa essas mesmas promessas para empregar amigos e parentes, para favorecer aqueles que colaboravam com suas campanhas ou para privilegiar alguns comerciantes “amigos” em detrimento de outros. Grande parte do orçamento do município é orientada em proveito do restrito grupo que assume o poder e passa a se beneficiar do orçamento da cidade.
Para estimular o controle social em outros municípios, os Amigos Associados de Ribeirão Preto (AMARRIBO) lançaram o livro “O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil”. Organização criada com a finalidade de fazer o controle social sobre a administração pública. A AMARRIBO conseguiu promover a cassação do prefeito daquela cidade, bem como a abertura de diversos processos judiciais contra ele e do seu grupo político.

A partir da experiência da organização, o livro foi lançado propondo um passo a passo sobre a corrupção: as principais formas de fraudes, os indícios de casos de corrupção bem como as instâncias que o cidadão pode recorrer para combatê-la. Leitura obrigatória para uma cidade melhor.

AMARRIBO, Amigos Associados de Ribeirão Bonito. O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil. São Paulo: Ateliê. 4º edição, 2006

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Consenso conservador cria falsa divergência entre Serra e Dilma


Chico de Oliveira
Chico de Oliveira
Aqueles que esperavam se deparar com um digno debate político no primeiro turno, que pudesse ajudar na escolha de um candidato, acabaram bastante frustrados. Denuncismo hipócrita, promessas excessivas, citações de feitos passados, desfile de números e siglas invadiram o cotidiano dos eleitores, sem nada lhes dizer dos problemas reais do Brasil e de projeções efetivas para o futuro. Entre os adversários à frente nas pesquisas, e que agora disputarão o segundo turno, nós cidadãos, vimos, de um lado, um candidato que não se arriscaria jamais a uma crítica cerrada ao presidente Lula, com medo de perder mais popularidade; de outro lado, uma candidata que não poderia levantar os temas cruciais da nação, temerosa de perder o apoio da burguesia.

A ausência de radicalização por parte de Serra e de Dilma perfaz um retrato cabal da despolitização a que assistimos, de forma a só cortejar as visões mais consensuais e conservadoras. O estilo comum aos dois candidatos consiste, ademais, em uma demonstração inequívoca da sua conformação ao modelo de sociedade neoliberal.

Para o sociólogo Francisco de Oliveira, nosso entrevistado especial, não é necessário ir longe e nem divagar pela questão religiosa ou ambiental para buscar as causas do crescimento de Marina no primeiro turno. Foi em meio à convergência entre Serra e Dilma que pôde surfar uma candidata, que, para Oliveira, não tem proposta alguma, prega um ambientalismo vago e genérico, não entra em bola dividida e sequer se pronuncia em assuntos cruciais.

O futuro, pelo menos o mais próximo, não se apresenta muito alvissareiro para o sociólogo. Dilma será a provável vitoriosa, os debates entre ela e o adversário devem prosseguir bastante rasteiros no segundo turno e a maioria parlamentar obtida no Congresso pelo bloco liderado pelo PT deverá reforçar o conservadorismo do partido, assim como a regressiva característica de uma agremiação que passou a se constituir em uma mistura entre o PRI (Partido Revolucionário Institucional, no México) e o peronismo.
Confira abaixo.

Correio da Cidadania: Como o senhor avalia os resultados das eleições presidenciais até o momento, que definiu o 2º turno entre Dilma Rousseff e José Serra? Por que Dilma não ganhou no primeiro turno, conforme muitos esperavam?
Francisco de Oliveira: Acho que está tudo dentro das margens de erro das próprias pesquisas. Não houve grande surpresa. A surpresa, de fato, foi a Marina Silva com quase 20%, que as pesquisas não detectavam e ninguém acreditava. Essa é a grande surpresa. Mas os resultados entre Serra e Dilma não são nada surpreendentes.

Correio da Cidadania: Há diversas teorias sobre o crescimento da candidatura Marina na reta final - um dos motivos apontados, inclusive, para a existência do segundo turno. Alguns crêem na força do eleitorado religioso e anti-aborto, tema usado grosseiramente para denegrir Dilma; outros desmistificam tal questão e dizem que Marina entrou no vácuo de uma classe média desorientada politicamente, mas que de alguma maneira se opõe à atual política. Enfim, como o senhor define essa 'onda verde'?
Francisco de Oliveira: Olha, o fenômeno Marina não é tão enigmático assim. Na verdade, ela cresceu porque a campanha dos outros dois principais candidatos não se radicalizou. Eles são, de fato, muito convergentes e, evidentemente, uma brecha no eleitorado foi bem aproveitada por Marina. Não creio que tenha sido voto religioso, ou em função de a candidata se declarar contra o aborto... Acredito que foi produto da não radicalização das outras duas campanhas.

Correio da Cidadania: A existência do 2º turno representa, a seu ver, algo positivo para o país nestas eleições?
Francisco de Oliveira: Acho que é positivo sempre, não só nessa eleição, como em todas. Não é bom para a democracia termos unanimidades burras, como dizia Nelson Rodrigues. É bom haver mais discussão, espaço, mais candidatos. Acho que lucramos. Esse segundo turno poderia servir pra aprofundar o debate. Não é certo que vá acontecer, mas existe a possibilidade.

Correio da Cidadania: Como o senhor enxergou o debate eleitoral realizado para o primeiro turno, no que se refere à priorização de temas e à profundidade com que foram tratados?
Francisco de Oliveira: Sempre muito pobre. O único que tinha algo a dizer era o Plínio, mas não tinha muito tempo. Foi tudo muito raso, de parte a parte. O Serra não tinha muito a prometer, pois, na verdade, tem muito pouca divergência com a Dilma, e vice-versa. Ambos são tidos como desenvolvimentistas, favoráveis a ritmos acelerados de crescimento. Serra conflitou-se com FHC quando era ministro do Planejamento em questões monetárias, cambiais, mas com a Dilma há muita convergência. E é isso que leva à não radicalização de propostas.
A Dilma deve ter também suas divergências com Lula, a não ser que ela seja um fantoche mesmo, o que ainda não está provado. Que ela é uma invenção do Lula, é, mas pode não ser um fantoche. Porém, o fato é que existe muita convergência com o Serra. Em princípio, estamos em um ciclo virtuoso e não há muito a corrigir nos rumos do país, uma vez que a herança de Lula é bem vista. Aumenta um pouquinho o Bolsa-família e por aí vai, de modo que o debate seria morno mesmo.
E foi essa convergência entre Serra e Dilma que, como mencionei, abriu o espaço para a Marina. Mas, se repararmos direito, ela não tem proposta alguma. Prega um ambientalismo vago, genérico, não entra em bola dividida, como se diz em futebol. Em nenhum assunto crucial ela sequer se pronuncia, de modo que foi uma ascensão muito específica, conjuntural, e não avaliza nenhuma promessa futura.

Correio da Cidadania: Como avalia a atuação da esquerda socialista nesta eleição, representada essencialmente pelo PSOL, PCB, PSTU e PCO?
Francisco de Oliveira: A esquerda teria muitos motivos para criticar o sistema e a forma como vem funcionando no país, mas não tinha tempo e nem recursos, e hoje eleição é isso. Foi muito complicado o desempenho. O Plínio ainda conseguiu ser convidado para os debates principais, os demais nem sequer foram convidados. Mas, de toda forma, a grande imprensa ignorou a todos.
Por conta disso, não dá pra dizer que os resultados foram decepcionantes, porque uma coisa que não é exposta, proposta, não chega ao grande público, não pode mesmo se transformar em voto. A Marina teve condições maiores de exposição devido à entrada do dono da Natura, que lhe deu recursos e, ao que parece, tomou gosto pela política, ao menos de acordo com declarações nos jornais. Assim, ela pôde fazer campanha. E a imprensa também se interessou muito por ela, por ser uma espécie de ser exótico, que estava ali no meio com uma história pessoal muito dignificante, uma pessoa pobre que nasceu em seringais, disputando a presidência, muito parecida com o Lula.
Portanto, todos esses fatores criaram muito interesse sobre ela. Até porque o ambientalismo dela é genérico e não contesta o todo, o sistema. Quanto ao seu partido, o Partido Verde, só tem alguma expressão na Alemanha, em nenhum outro país tem expressão política ou eleitoral. De modo que no Brasil não há nada muito promissor. Creio que sua ascensão foi bastante conjuntural devido às características dessa eleição.

Correio da Cidadania: O senhor discorda, portanto, de várias análises que vêm circulando, e que ressaltam a expressiva votação obtida por Marina como um capital para que a candidata se confirme como força política de peso no país, carregando a bandeira da Terceira Via e do Ambientalismo?
Francisco de Oliveira: Não acho que seja um capital que vá render muitos juros... Como disse, só na Alemanha existe Partido Verde com certo peso; em outros países, os verdes nem existem. E não vejo no Brasil tal perspectiva. Seria muito surpreendente que os brasileiros se transformassem em ambientalistas militantes. Isso é mais coisa de religião que de cultura política. Não acredito que Marina tenha se constituído num capital que vá ter desdobramentos adiante e abrir uma via alternativa.

Correio da Cidadania: Qual a sua opinião quanto aos resultados eleitorais no que se refere ao Parlamento, com o avanço do PT e sua base aliada nas duas casas, ao lado da regressão de partidos como PSDB e DEM?
Francisco de Oliveira: É a velha história. PSDB e DEM estão na verdade como defuntos, foram arrastados para o buraco; o PT e o PMDB nadam, por sua vez, de braçada, com muito dinheiro, como se foi sabendo aos poucos; e o PMDB permanece com sua eterna característica de ser um partido muito regionalizado, sem uma liderança nacional (o Temer não será tal liderança), e muito fraturado em todos os lados. Mas essas características também concedem ao PMDB uma capilaridade importante para eleger muitos deputados. Nada excepcional, já que, se não houver nenhuma trombada histórica, o PMDB sempre terá tais resultados.
Enquanto isso, o PT também nada de braçada, com muito dinheiro, todo mundo querendo agradar ao rei, sem nenhuma dificuldade, além de carregar uma campanha muito vitoriosa, com um resultado positivo em votos proporcionais. Não acredito que essa bancada poderosa constituída por PT e PMDB vá resultar em diferença política. Vão se comportar como já estão: de maneira fisiológica e muito conservadora.

Correio da Cidadania: Caso Dilma vença as eleições, governar com esta maioria não levará a um predomínio ainda maior do Executivo na política nacional, na medida em que poderá crescer a sua ingerência sobre o Legislativo?
Francisco de Oliveira: Essa ingerência já ocorre em elevado grau. Mais do que com Lula, não dá nem pra imaginar. Para o povão, não tem nenhuma importância. O povo vai no velho ditado de que todo político é ladrão, não tem apreço por essa discussão. O Legislativo é uma instituição que existe desde o Império e que nunca se firmou para nada. Sempre fazia a vontade do rei no Império.
Não se criou, portanto, uma cultura política nacional que desse destaque e importância ao Legislativo. Situação que permanece, com os parlamentares como espécies de reis civis. E com a tendência crescente de maior importância da economia sobre a política, leva-se o Executivo a dar de braço e cutelo sobre o Legislativo.
O Legislativo não tem autorização e nem poder pra criar despesas, onde já se viu isso? Trata-se de algo que ficou da ditadura e não foi reformado pela nova Constituição. Não há nenhum ato ou lei que saia do Legislativo que implique em despesas que o Executivo seja obrigado a obedecer.
Portanto, mesmo com muita desinformação, caciquismo, de alguma maneira o povo sabe disso: que, para arranjar um empreguinho, um deputado ou senador podem ser eficientes; mas, para algo mais, sabe também que o Legislativo não funciona.

Correio da Cidadania: De todo modo, o governo Lula freou diversas pautas progressistas e reformistas, alegando não haver uma correlação de forças favorável para levar adiante as mudanças, o que acabou tornando célebre o discurso da governabilidade. Acredita que, com maioria no Congresso, haveria alguma chance de serem levadas adiante questões mais polêmicas e combatidas por uma elite ainda muito conservadora, como o aborto, a reforma agrária e a afirmação de direitos de minorias, entre outras?
Francisco de Oliveira: Não, vai ser pior. Essa maioria vai tornar o PT mais conservador do que já é. É um equívoco pensar que assim o PT se liberta de algumas amarras e pode retomar um papel transformador. É o contrário, essa maioria vai dar liberdade para que seja mais explícito em seu fisiologismo e conservadorismo. Não tenho a menor esperança.

Correio da Cidadania: Ainda na hipótese de vitória de Dilma, fala-se muito a respeito da mexicanização de nossa política, em alusão ao longo período em que o PRI - o Partido Revolucionário Institucional - permaneceu no poder no México. O que pensa disso?
Francisco de Oliveira: Acho que o PT já é uma mistura entre o PRI e o peronismo. O lado PRI é o de apropriar-se e usurpar os cargos do Estado, manipular e cevar-se nos fundos públicos. O lado peronista, decadente na Argentina, é o lado propriamente político, uma vez que o peronismo fincou raízes realmente populares e com isso manobrou o tempo todo. O PT tem a mesma raiz popular, mas esse lado sugere uma peronização do PT, ou seja, a inclinação pela cultura do favor, do clientelismo, da corrupção, uma mistura muito estranha, desagradável e politicamente regressiva.

Correio da Cidadania: Findo o primeiro turno, já começaram as especulações sobre as estratégias dos candidatos para o segundo turno, onde a candidata petista já deu claras demonstrações de recuo em alguns temas polêmicos, como, por exemplo, na questão do aborto. Como acha que vão caminhar os debates eleitorais do segundo turno?
Francisco de Oliveira: Vão continuar mornos. Eles vão tentar apenas encontrar motivos de perturbação para o adversário, mas nada de debater os grandes temas nacionais. Nem a Dilma e nem o Serra, a nenhum deles interessa esse debate. O Serra não pode fazer uma crítica cerrada ao Lula, com medo de perder mais popularidade; a Dilma não pode levantar temas importantes, com medo de perder o apoio do que resta da burguesia nacional e da grande burguesia internacional. Não acredito que saia algo interessante, portanto; creio que procurarão os flancos abertos dos adversários para tirar proveito eleitoral.

Correio da Cidadania: Vários setores de esquerda críticos ao governo Lula, e já há bastante tempo descrentes do chamado programa democrático popular, sentem-se em uma sinuca de bico neste segundo turno. Afinal, se o governo Lula não avançou em questões essenciais, como a reforma agrária, com Serra, nem mesmo o diálogo com os movimentos sociais tem sido possível. O que o senhor diria a estes setores neste momento?
Francisco de Oliveira: Eles têm absoluta razão nesse temor. Eu diria para que não esperem nenhuma facilidade de ambos os lados. Do lado tucano, porque estão ideologicamente comprometidos com tudo que é antipopular. Do lado lulista, não haverá abertura para os movimentos sociais a fim de se buscar uma nova estruturação do poder no Brasil.
A vitória do lulismo não é muito promissora, pois, no meu modo de ver, reforçará o estilo de governo que o Lula implantou nos últimos oito anos, a ser confirmado pela eleição de sua candidata, como se fosse a confirmação de que é disso que o povo gosta. Essa é a tese do André Singer, agora o principal intelectual a defender as posições do petismo e do governo Lula. Tudo seguro, sem conflito. Lembra um menino que dançava frevo em Recife e abria os bracinhos dizendo: "dá pra todo mundo, dá pra todo mundo". A mensagem do lulismo é assim, "tem pouquinho, mas dá pra todo mundo. Não precisa brigar, de conflito, porque dá pra todo mundo!".
Esse é o estilo de um governo muito conservador, mais do que se pensa e mais até do que os próprios tucanos supõem. É um governo muito privatista, mais até do que o do FHC. FHC privatizou as empresas; Lula, sobre essa tendência, empurrou o Brasil para o campo do capitalismo monopolista de Estado, no qual não há avanço e nunca se produziram bons resultados em política interna.
O André Singer andou utilizando muito o exemplo do Roosevelt, dizendo que o Lula é sua versão brasileira, esquecendo-se somente que o êxito da administração Roosevelt acabou com o movimento de trabalhadores dos EUA, levando à fusão das centrais sindicais que eram competidoras, e que viraram uma única confederação. E ironicamente, o maior país capitalista do mundo nunca teve condições de formar um partido de trabalhadores. Lá, os trabalhadores sempre foram a reboque do Partido Democrata. É disso que Singer esquece. Roosevelt foi um grande estadista, é verdade, impulsionador do capitalismo americano, mas acabou com o movimento dos trabalhadores norte-americanos. Se é isso que se deseja para o Brasil, então, tome-se lulismo.
A vitória da Dilma traria mais imobilismo. Ela terá muitos problemas, até porque a economia não vai surfar numa onda contínua de progressão como a existente nos oito anos de Lula, sobretudo no segundo mandato. As contradições crescem na medida em que o capitalismo se desenvolve. A tendência é subjugar e fraturar o movimento dos trabalhadores até ele ficar inerte politicamente, sem nenhuma expressão.

Correio da Cidadania: Nesse sentido do imobilismo a que foram conduzidos os movimentos sociais sob o governo Lula, o senhor comungaria, de alguma forma, com a idéia de que a vitória de uma candidatura escancaradamente conservadora como a de Serra seria mais benéfica para as lutas sociais e políticas a longo prazo, no sentido de chacoalhar movimentos paralisados e cooptados pelos anos Lula?
Francisco de Oliveira: Não sei. É uma pergunta interessante, mas difícil de responder, até porque a história pregressa dos tucanos é negativa a esse respeito. Pode haver diferenças pessoais entre Serra e Dilma, mas nada nos autoriza a pensar que uma vitória tucana abriria o campo das contradições e movimentaria mais o campo da luta política. Isto poderia ocorrer se o PT retomasse seu papel de transformação na história brasileira. Mas esse é um cenário tão ilusório quanto pensar que os tucanos possam ter esse impacto no movimento social.

Correio da Cidadania: Qual a importância e quais as chances de reconstituição de uma frente de esquerda de agora em diante?
Francisco de Oliveira: Ainda são poucas, porque, com o crescimento de algumas bancadas no Congresso, vai se deixar pouco espaço para a esquerda atuar. Nossa responsabilidade é tentar descobrir os novos motivos e questões que o povo possa ter e perceber na política.
Não vai haver descanso, folga alguma. A tendência é de se sufocar qualquer manifestação de insubordinação, de críticas. Mas a história caminha e surpresas são sempre bem vindas, além de muitas contradições que vão aparecer e reforçar o destino quase inarredável do Brasil de sua condição de país sub-imperialista.
Essa história de política progressista para a América Latina é uma farsa, pois dominamos o Paraguai, a Bolívia, não temos nenhuma política externa progressista, isso é uma mentira. E do ponto de vista interno, caminhamos para um capitalismo monopolista de Estado, implacável, de olho apenas nos grandes lucros. E vem aí o Pré-Sal, que pode ser um desastre, porque reforçaria estruturas capitalistas mais monopólicas no país... Não vejo nada de promissor.
Acho que a esquerda continuará com as mesmas divisões, uma frente de esquerda ainda não é visível, pelo menos no futuro imediato. Os partidos são todos pequenos e, primeiramente, têm de fazer um esforço extraordinário para sobreviver e ampliar um pouco sua penetração, porque o fogo de barragem sobre qualquer projeto crítico é enorme. E esse fogo de barragem não é só dos demais partidos, mas também da mídia. Que espaço os jornais deram para a discussão dos pequenos partidos? Já eram logo ridicularizados como nanicos, delirantes...
Os partidos pequenos da esquerda têm de fazer um esforço enorme para sobreviver, explorar todas as debilidades do sistema e fazer uma crítica que possa chegar ao povo.

Correio da Cidadania: Arriscaria fazer uma previsão para o segundo turno e, ademais, a projetar qual candidato faria melhor por nosso país?
Francisco de Oliveira: Acho que tudo indica que a Dilma ganha no segundo turno. Não acredito numa transferência maciça de votos da Marina para o Serra. Seus votos vão se dispersar entre ambos; portanto, o mais provável é que a Dilma se eleja presidente.
Mas não sei que governo ela fará, penso apenas na tentativa de continuar os governos do Lula, que na verdade será o personagem atrás do trono, que irá mantê-la com rédea curta. Até porque ela não tem muita experiência na política nacional, nem dentro do PT, e estará cercada de chacais por todos os lados.
Até mesmo pensando em seu futuro, se quiser retornar à presidência, Lula tem de proteger a Dilma, senão ela será estraçalhada na luta política miúda que agora vai se abrir no Estado. Quanto ao seu desempenho no governo, as linhas gerais indicam que ela só dará continuidade ao que o Lula implementou.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

Greve geral contra reforma na aposentadoria paralisa a França, com apoio de 71% da População

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Enquanto isso aqui no Brasil a gente fica discutindo que candidato acredita mais em Deus. Lamentável, né? Em tempo, uma das razões do PSOL ter nascido foi justamente a revolta contra a Reforma da Previdência feita por FHC (e completada por Lula) e que obriga o brasileiro a se aposentar com mais de 65 anos (na França, a idade é 60!). Boa sorte pra quem viver até lá!



Jornal O GLOBO

PARIS e RIO - A França enfrenta nesta terça-feira uma nova greve geral convocada pelos sindicatos em protesto contra a reforma do sistema previdenciário, que, entre outras medidas, eleva a idade mínima da aposentadoria de 60 para 62 anos. A votação do projeto no Senado foi adiada para quinta-feira, para a análise de 500 emendas. Mas o presidente Nicolas Sarkozy já avisou que não vai recuar porque a reforma é essencial. O país enfrentou nesta segunda-feira bloqueios e "operações escargot" de caminhoneiros, greve de ferroviários e manifestações de estudantes do nível médio - que resultaram em 290 prisões por confrontos com a polícia.

- Esperamos ser ouvidos pelo governo. Sabemos que uma reforma é necessária, mas queremos um plano mais equilibrado - afirmou Mohammed Touis, da central sindical CFDT.

O site do jornal "Le Figaro" estima que mais de 2.500 postos estejam sem combustível. De acordo com Alexandre de Benoist, delegado-geral da União dos Importadores Independentes de Petróleo (UIP), que administra cerca de 4.800 postos, entre mil e 1.500 estariam "quase ou totalmente a seco". Na rede Total, eram 650 de um total de 4 mil. Já os distribuidores independentes calculavam mil de 3.500 postos sem combustível.

Aeroportos devem sofrer atrasos e cancelamentosA fim de monitorar os dados sobre problemas no fornecimento de combustíveis, o ministro do Interior, Brice Hortefeux, colocou em operação um Centro de Coordenação Interministerial de Crise (Cogic).


Com as 12 refinarias paradas e vários depósitos de combustível bloqueados, a França começou a recorrer a suas reservas emergenciais, que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), são suficientes para 98 dias.

A empresa Aeroportos de Paris (ADP) informou que alguns voos foram cancelados ou sofreram atrasos nesta segunda-feira em Roissy-Charles de Gaulle, mas não divulgou números. Segundo a Air France, quatro voos de longa distância pararam para abastecer antes de chegar à França, a fim de assegurar que tivessem combustível para voltar.

O maior problema nos aeroportos começa nesta terça-feira. O sindicato Sud Aérien convocou uma greve geral para esta terça e uma operação "aeroportos mortos" para esta quarta-feira em Roissy, Orly e Toulouse. A Direção Geral da Aviação Civil (DGAC, que regula o setor) estima que o movimento em Orly caia à metade. Nos demais aeroportos, a redução prevista é de 30%.

TAM e Air France, as duas empresas com voos diretos entre França e Brasil, informaram nesta segunda-feira que não há previsão de cancelamentos. Mas a Air France ressaltou que pode haver atrasos nesta terça, devido à greve geral.

Pesquisa: 71% da população apoiam os grevistas

Se nesta terça-feira os sindicatos devem tomar as ruas, na segunda foi a vez dos estudantes de nível médio. Segundo o governo, houve paralisações em 261 liceus, ou 6% dos 4.302 existentes no país. Mas o sindicato da categoria afirma que 950 escolas de nível médio estão mobilizadas, 600 das quais não funcionaram nesta segunda-feira.

Em Nanterre, nos arredores de Paris, houve confrontos violentos entre estudantes e policiais, e 290 adolescentes foram presos. Carros foram incendiados. Abrigos de ônibus e cabines telefônicas foram destruídos, e os detritos, usados contra os policiais, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha.

No Centro da capital as manifestações foram pacíficas. Em Bordeaux, 800 estudantes foram às ruas com slogans como "Sarko, sua reforma está podre".

Segundo pesquisa publicada nesta segunda-feira pelo jornal "Le Parisien", 71% dos franceses apoiam os grevistas.

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pacto pelo professor

Retirado do site Todos pela educação

Para entendermos como a valorização do professor é imprescindível, basta observarmos como os países que estão hoje no topo da educação mundial chegaram lá - Mozart Neves Ramos

Mozart Neves Ramos*

Fechar a torneira do analfabetismo é um ponto central para o próximo governo. Toda criança deve estar plenamente alfabetizada até os 8 anos. É uma meta estratégica, pois as crianças estão chegando ao final das séries iniciais do ensino fundamental sem saber ler e escrever adequadamente. Um passo fundamental, nesse sentido, é criar um indicador nacional de alfabetização de crianças até os 8 anos de idade.

É necessário também um pacto nacional pela valorização do professor. Um pacto mesmo, puxado pelo presidente da República, pois a dimensão política da questão não é simples. Se fosse, a lei do piso salarial nacional do magistério, por exemplo, seria facilmente implementável, e até agora a gente não conseguiu implementá-la efetivamente. Além disso, as pesquisas mostram que nossos melhores alunos não querem ser professores, é carreira tida como sem prestígio social.

Para entendermos como a valorização do professor é imprescindível, basta observarmos como os países que estão hoje no topo da educação mundial chegaram lá. Esses países tornaram o magistério um objeto de desejo, atraindo os 20% dos jovens mais bem qualificados do ensino médio para essa carreira, tendo como primeira "isca" um salário atraente. Mas não pode parar por aí: tem que ter uma carreira promissora, pautada no mérito, no desempenho do professor, na sua formação e capacidade de formar alunos. Não pode ser carreira envelhecida, pautada só por tempo de serviço.

Esses dois aspectos - salário e carreira - não devem estar apenas na mesa do próximo ministro. Devem estar na mesa do presidente, pactuando com prefeitos e governadores essa grande revolução que é tornar a carreira do professor objeto de desejo no Brasil. A gente precisa ainda ter padrões mínimos de qualidade para a oferta educacional, isto é, um programa de certificação das unidades escolares. Colocamos as crianças na escola, mas, muitas vezes, sem as condições apropriadas. Há crianças que vão para escolas públicas com laboratório de ciências, informática, quadra poliesportiva, uma boa biblioteca e salas bem equipadas. Mas outras frequentam escolas sem nada disso. O que acaba criando uma espécie de apartheid educacional no país.

*Mozart Neves Ramos - Conselheiro do movimento Todos pela Educação

Fonte: O Globo (RJ)