domingo, 15 de novembro de 2009

Festival de Besteiras que assolam Valença

É incrível como alguns escritores conseguem escrever tudo aquilo que nos imaginamos fazer. Mais incrível ainda quando a gente encontra um deles assim meio que por acaso. O meu encontro com Stanislaw Ponte Preta (Sergio Porto) (1923-1968) foi assim. Na época do colégio li um conto dele para aula de português. Já comecei a gargalhar pelas situações que o autor criava e o raciocínio genial de mostrar a nossa estupidez cotidiana

Quase uma década depois encontro a coleção completa das crônicas organizadas num único livro. Criador do FEBEAPA (Festival de besteiras que assolam o país), Sergio Porto divulgava a estupidez dos atos dos nossos governantes na época da ditadura militar. Entre 1966 a 1968, o autor esteve em pleno vapor para alcançar o seu objetivo: demonstrar a ignorância dos nossos políticos. O criador do primo Altamirando tinha o talento de Charles Chaplin: falar de coisas importantes através do humor. Stanislaw escrevia sobre o absurdo da realidade de uma piada sem graça chamada Brasil.

Citarei aqui a minha tirada favorita quando ele comenta o projeto de um radialista de instituir o dia da Avó: “... o segundo inventado por uma radialista “porque existem tantos dias e ninguém ainda se lembrou da avozinha”. A distinta não reparou que existe o “Dia das Mães” e que – jamais em tempo algum- mulher nenhuma conseguiu ser avó sem ser mãe antes.”

Estamos numa situação pior do que a época do Stanislaw: demonstrar a ignorância dos militares que usurparam o poder é uma coisa. Falar sobre a ignorância dos nossos políticos é falar da nossa própria ignorância, já que nós os colocamos no poder. A estupidez, talvez, seja a coisa bem mais distribuída entre os grupos sociais do nosso país.


A proposta da postagem é pensar na seguinte situação: o que faria Sergio Porto em Valença durante o ano de 2009? Pois bem, a primeira coisa que ele faria seria ler as atas da Câmara Municipal de Valença. Já na segunda sessão (18/02/2009), o autor já teria trabalho a fazer: durante a fala do vereador Naldo temos a “boa” notícia de que a “bolsa escola” seria incorporada ao salário dos professores. Não obstante, o nosso vereador ZAN aproveitou a onda e disse que o “bolsa escola” era uma ótima notícia para os professores seguido do comentário do petista Felipe Farias que também achou a iniciativa importante e puxou a sardinha para o seu presidente falando da importância do bolsa família para as famílias carentes.


Acho que os professores realmente estão chorando muito nossos problemas. Até nossos “distintos” representantes já acham que os professores estão ganhando “bolsa escola”. Nenhum dos três sabia, eles deveriam saber, que não existe “bolsa escola”, o programa chama-se nova escola. Claro é que não podemos esperar que nossos vereadores saibam dos programas de valorização, há controvérsias, do professor.


Mas, não seria apenas falta de amor no coração do escritor num domingo à noite em desenterrar uma besteira de fevereiro de 2009? Bolsa escola não seria a mesma coisa de nova escola?


Um sonoro não! O programa bolsa escola foi criado no governo Fernando Henrique Cardoso. O programa vinculava uma renda para as famílias que mantivessem seus filhos na escola. Em suma, o professor não ganhava nada. Já o programa nova escola foi criado pelo governo estadual onde o professor ganhava uma gratificação de acordo com a nota da sua escola em provas organizadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Bem parecido, não?


Existe uma coisa que eu nunca vi: vereador que não defenda a educação. Pode observar quando estiver conversando com algum. Na verdade, caso não precise de um cargo comissionado, faça a seguinte pegadinha: pergunte para o vereador se ele acha que a educação é importante. Com muita paciência escute todo aquele discurso fácil de que a educação mudará o país e coisa e tal e tal e coisa. Depois pergunte quais as leis já feitas por ele com o tema da educação. Pergunte também se na Câmara dos Vereadores existe alguma comissão especial para a educação. Perguntar e perguntar. É a regra fundamental de Sergio Porto, que faz falta....


Ps: Fica instituída então a homenagem ao Sergio Porto e inaugura-se o FEBEAV (Festival de besteiras que assolam Valença).

Um comentário:

satiaghaba disse...

Caramba, isso vai dar o que falar. Mas vai ser difícil selecionar, pois são tantas absurdas que vai ser preciso um bom critério para escolher a mais absurda. E vai ter que selecionar, pois são tantas que não vai ser possível colocar no papel.