Publicada na edição 34 do VQ impresso, segue abaixo a entrevista com o então candidato à prefeitura de Valença Vicente Guedes.
Início na vida política
Fui prefeito em Rio das Flôres por três mandatos. Quando fui reeleito e deixei a prefeitura em abril de 2008 para concorrer às eleições em Valença. Principalmente nessa segunda gestão, procuramos adotar um modelo de administração de gestão participativa e transparente e tendo como um dos principais pilares o planejamento, a transparência e a participação da população. Foi baseado nesses três eixos que governamos Rio das Flôres nesses últimos sete anos. Tudo que foi realizado lá nesse período foi feito atendendo aos anseios e desejos da população.
Qual o caminho para descobrirmos uma nova vocação econômica em Valença?
Nosso problema é a falta de atualização do parque tecnológico. Esse parque não foi atualizado na área de manufaturados têxtil. Isso acarreta um custo de produção elevadíssimo. Acho que é um segmento que pode ser reativado. Temos que difundir a idéia da questão das confecções, como tem em Petrópolis um grande turismo de negocio em função da malharia; como em Friburgo tem um pólo de moda íntima. Nós podemos fazer da Nilo Peçanha um grande centro comercial. Falta talvez uma cadeia de ações, que integre poder público, incluir aí a melhoria na questão da logística, melhorar os acessos, melhorar a questão da tecnologia da informação, uma série de fatores.
Eu acho que Valença tem potencial para se tornar um centro de referencia em saúde. Temos aí uma faculdade de medicina. Valença já tem uma grande população na terceira idade, e é uma cidade atrativa. Se tivermos um serviço de excelência em geriatria, geriontologia, isso é muito importante.
Na área de serviço, a gente pensa em discutir a questão de um pólo tecnológico. Na área rural, eu vou estar reunido na Embrapa com o setor produtivo para discutirmos a tecnologia de produção na área da pecuária, a questão de transferência de embrião. Temos terra para a produção dos biocombustíveis. Tem que ter uma política industrial, porque nós não temos. Não temos uma política de formação de mão de obra, de ensino profissionalizante. E nós temos que fortalecer as micros e pequenas empresas do município. Não adianta atrair uma confecção, por exemplo, que vá gerar 400 empregos, porque nós não temos mão de obra qualificada. Então acaba por desempregar as pequenas. Nós estamos aqui no eixo Rio x São Paulo x Belo Horizonte, que produz quase 60% de tudo que se produz no Brasil, nós temos que ter a competência necessária para atrair investimentos para o município. Hoje o que qualquer empresário quer é a mão de obra qualificada, preparada.
Como trabalhar a questão da política agrária se as terras continuam concentradas nas mãos de poucos?
Essa é uma questão extremamente complexa. Não dá pra dizer que há uma solução em curto prazo. Porque os grandes latifundiários, que não possuem o recurso para investir, ou eles buscam parceiros que possam ser investidores nessa área ou então eles vão ter que buscar os pequenos parceiros, arrendando a propriedade e recebendo como pagamento a produção. O que existe também, ainda que seja um grupo menor, são as pequenas propriedades da agricultura familiar, nós precisamos é criar um programa de regularização dessas propriedades. Muitas vezes eles ficam impossibilitados de obter financiamento por problemas com titularidade da área. Eu não tenho uma solução a curto prazo pra solucionar esse problema. Eu acho que futuramente, o próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário vai acabar vendo a questão dessas terras ociosas e está lá na Constituição muito claro, a questão da função social da terra.
Qual a resolução para você da Ocupação Gisele Lima, na Varginha?
A primeira coisa que tem que se fazer é dar uma definição, a questão da regularização e urbanização. Eu construí 450 casas em Rio das Flores e nunca indiquei um morador. Lá nós tínhamos uma comissão para decidir de acordo com os critérios estabelecidos. E agora nós temos o Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social. Minha função é construir as casas e o conselho seleciona as famílias. Nisso é que é importante a participação da população.
Inclusive eu fui mal interpretado e me preocupou muito, porque no meu entendimento estão querendo favelizar aquela região. As construções naquela região mais acima, em áreas que não se conseguiria licenciamento ambiental, não sou contra, mas acho que tinha que dar uma solução para aquelas famílias.
Amanhã pode correr risco de desabamento e vitimar uma família, se não forem tomada as medidas necessárias. Até porque qualquer empreendimento que a prefeitura desejar fazer com financiamento federal hoje, de habitação popular, a primeira coisa que tem que ver é se aquela área vai atender as exigências da legislação ambiental. Se não, não conseguimos financiamento. Mas tem que ser urbanizada.
A Varginha não seria um ponto inicial para discutirmos habitação em Valença?
Temos que concluir aquilo que não está concluído. E dar solução para aquilo que foi pactuado e não está sendo cumprindo. Se foi pactuado que tem que se construir mais 40 casas, vamos construir as 40 casas. Eu estou tentando dialogar, mas não estou conseguindo, por conta da politicagem. Eu não consigo estabelecer um diálogo com eles, já tentei ir lá umas três vezes e não consegui. E é gozado, porque, sem querer desmerecer ninguém, eu sou o único candidato que tem uma política habitacional. Nesses sete anos, entreguei 270 casas, reformei 420. Dessas 270, boa parte com energia solar. Já que não conseguiram entregar essas, eu quero ir lá mostrar a experiência. Ajudar. Mas não consigo diálogo.
Como é o seu diálogo com os movimentos sociais?
A gente vem de uma linha progressista, de esquerda. Meu irmão (Padre Medoro) que é uma pessoa que me ajuda muito, tem esse cunho socialista. Então eu posso dizer que nos contatos que eu tive com grupos, que foram em reuniões isoladas, nosso entendimento foi muito bom. Com a questão do trabalho da terra, com esse pessoal consegui dialogar. Estive no mutirão, no Vale do Sol. Estou com uma reunião marcada no Vargas, atendendo aquelas demandas que já colocaram, a questão da mecanização, do apoio para insumo, numa política de gestão de comercialização. Isso tudo nós já discutimos e foi muito produtivo. Eles notaram que nós temos uma experiência. Em Rio das Flores tinha um programa que se chamava ‘nossa terra – quem produz mais, vive melhor’, que é um programa que nós queremos trazer pra cá, que nós ganhamos inclusive um premio em Cuba, que foi um programa de educação para a saúde, porque a gente ajudava esses trabalhadores a produzir e eles produziam em quantidade, e mandávamos um pouco para as escolas e as crianças bem alimentadas tinham um desenvolvimento melhor.
Educação
Se eu for eleito, vou ser eleito por quatro anos. Então é possível criar um programa de escola integral com a duração de três anos, por exemplo. Como é um programa, não se pode contratar um professor pra um programa. Você não sabe se esse programa vai continuar. Então, nós teríamos mecanismos de contratar as pessoas por prazo determinado. Se isso se consolida, nós temos outro caminho que é trabalhar parcerias para estabelecer esse projeto.
A primeira coisa, no entanto, é revisar essa concepção de escola integral. A questão da rede física vai ter que ser reavaliada, até porque é um sonho meu e da dona Dilma, construir nesses quatro anos pelo menos duas escolas rurais. Não é escola na zona rural não, é escola rural, com toda uma filosofia para a área rural, inclusive na área cultural. Aí entraria também essa questão de horário integral. Mas não é uma escola de 1ª a 4ª série, é uma escola que a principio a gente levaria até a 8ª série e na possibilidade de um convênio com o governo do estado, de estender um segundo grau profissionalizante. Talvez até uma parceria com a FAA. Porque a FAA também tem que se voltar para o povo, eu acho ela um pouco de costas para nossa realidade. Assim como o governo, a FAA está aí para atender a população.
Em relação à FAA, há interesse em se discutir o seu estatuto ou torná-la pública?
Meu sonho, não sei se consigo, é torná-la uma instituição pública. Não foi criada a UENF por articulação política? Nós temos um vice-governador que é da nossa região. Não estou falando que vou fazer, mas vou me articular para isso. Ela teria que passar por uma reestruturação. Independente desta discussão, conversei com o Pezão em Conservatória e discutimos sobre levar um pólo do SEDERJ para Conservatória e talvez para Valença também. Oferecer cursos que não tem na FAA. Há essa oportunidade de trazer a UAB (Universidade Aberta do Brasil) também. Há a idéia de trazer uns dois ou três CVT (Centro Vocacional Tecnológico) para Valença.
Quanto à questão da privatização da água, qual vai ser sua postura?
Vou rever tudo. Cumprir o que está no plano diretor. Acredito que pra resolver essa questão vai ser necessário um investimento na ordem de 40 milhões de reais. O ultimo planejamento em abastecimento de água foi na gestão do Benjamim Ielpo e Luis Jannuzzi. Não temos um plano diretor de abastecimento.
Como pensar geração de emprego e renda e qualificação profissional para a juventude ?
Temos que ter programa de qualificação profissional. Tornar nossas escolas atrativas para os alunos e professores. Dona Dilma está desenvolvendo um projeto na área de cultura que vai interessar à juventude. Há também a questão do esporte, do lazer. A idéia é trabalhar com o Ministério do Esporte, fazer aqui uma boa pista de atletismo. Eu acho que Valença tem um potencial de se tornar referência de cultura. E temos que criar critérios para a doação de bolsas para a FAA pela prefeitura.
Para encerrar, as grandes contraposições da sua candidatura são o fato de você não ser Valenciano, e a outra foi o escândalo do cargo na Alerj, e agora das terras do Julio Vito.
Os contracheques dos três jornais, são três contracheques diferentes. Só posso dizer que aquilo é falso, não tem um jornalismo responsável. Sou funcionário da Alerj, mas não sou fantasma e nem marajá. Entrei na Assembléia com prova interna, anterior à Constituição de 88 quando se podia ingressar em serviço público sem concurso. Entrei na época em que o Fernando Miguel foi deputado, não na época do Graciosa, como foi dito. Quanto à questão do Julio Vito o que aconteceu foi que ele tinha um teto de terra que ele poderia ser proprietário e ele quis ser proprietário demais. Nós trabalhávamos na Santa Rosa e ele pediu a um grupo de funcionários que requeressem, não comprassem, posse do INCRA. Passado um período, houve um incêndio no cartório e a justiça federal se manifestou para que se houvesse interesse em dar continuidade à posse daquelas terras que se manifestasse. Ninguém se manifestou, entendeu-se que ninguém seria proprietário. Quando for chamado a depor, vou dizer que nunca fui ao Pará, nunca declarei um palmo de terra lá. Quero dizer que houve uma fraude, como foi fraudado não serei leviano de antecipar. Mas é fraude.
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