Acompanho desde ontem o caos que se instaurou aqui no Rio de Janeiro e na região metropolitana do Estado. O cenário é de catástrofe, o número de mortos já passa da primeira centena, milhares de desabrigados, outro tanto de desaparecidos e grande parte dos trabalhadores presos no trânsito - já infernal normalmente. Como hoje, por conta da “recomendação” do prefeito e do governador de que as pessoas não saíssem de casa, ganhei uma folga no trabalho e pude analisar os discursos da mídia burguesa e das autoridades públicas pra justificar a tragédia “trazida pelas chuvas”.
O primeiro é direcionar a culpa a São Pedro, a frente fria que veio muito rápida do sul, ou seja, a culpa pelo caos é volume de água que caiu do céu. Ignoram o fato que a chuva é um fenômeno natural, que acontece sistematicamente por explicações meteorológicas. Não existe essa que o Rio foi “surpreendido” pela chuva. Todos os anos é a mesma coisa, em maior ou menor proporção, e não existe nenhuma reforma na infra-estrutura urbana para que episódios desse tipo não aconteçam tão reiteradamente.
O segundo discurso é culpar a população pobre, oprimida e explorada de ocupar a encosta dos morros, sabendo que existe o risco iminente de deslizamentos e desmoronamentos. E ainda, embutido nesse discurso, culpam também por essas tragédias a falta de fiscalização dos órgãos competentes que deixam as famílias se instalarem nesses locais. O que me indigna é que em momento algum é colocado que se as pessoas moram onde moram e correm todos os riscos inerentes às moradias precarizadas, é porquê elas não tem mais onde morar, porquê é reflexo de um processo histórico de expropriação territorial das massas pelo elitismo das “revitalizações urbanas” e porquê não existe nem um esboço de projeto de habitação popular direcionado prioritária e emergencialmente para moradores de áreas de risco.
O Rio de Janeiro historicamente abandonado por sucessivos governos desastrosos, e agora por um governador fanfarrão e por um prefeito playboy vai sediar Copa do Mundo e Olimpíadas. O investimento bilionário que vai ser feito para “inglês ver” bem que poderia ser feito para dar conta das questões estruturais e das agruras da população pobre da cidade. Porque a cidade Olímpica é ao mesmo tempo a cidade da miséria, da violência estrutural e institucional, da corrupção e impunidade, da desigualdade social, de Cabrais, Graciosas, Piccianis...
A chuva continua, a tragédia também e eu continuo ilhado no meu ap.
2 comentários:
Embora o prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral digam que este temporal foi o maior do Rio nos últimos 40 anos, pelo menos, outros dados conflitam com esta versão.
Aulas continuam suspensas nesta quarta-feira
Segundo matéria do site UOL, em 1998, o Inmet, Instituto Nacional de Meteorologia, na sua estação do Alto da Boa Vista, registrou uma precipitação bem maior do que a de agora. Exatamente no dia 12 de março daquele ano, foram registrados 327,2 milímetros de chuva, enquanto de segunda para terça-feira o volume chegou a 204 milimetros. As chuvas, talvez mais brandas, devem continuar por mais 48 horas.
Cidinha Campos no twitter:
Cabral pediu, e 40 bombeiros da FNS vem de BR p/ ajudar o Rio. Era só pedir de volta os 50 a disposição TCE. Não fazem porcaria nenhuma.
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