Nota de esclarecimento
Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões. Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público. A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas. As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte.
Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.
Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.
Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente. Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e sua história em situações como a que vivemos agora.
Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas.
Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.
Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói
Associação de Moradores do Morro do Estado
Associação de Moradores do Morro da Chácara
SINDSPREV/RJ
SEPE – Niterói
SINTUFF
DCE-UFF
Mandato do vereador Renatinho (PSOL)
Mandato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL)
Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)
Movimento Direito pra Quem
Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares
2 comentários:
Sinto muito. As políticas públicas deveriam integrar os serviços de água, esgoto, lixo e drenagem pluvial. Leis existem...
Tá circulando na internet: "Foi no Morro do Bumba que a CEDAE fez sua primeira grande obra de saneamento em Niterói, levando para o local, de helicóptero, uma grande caixa de água para atender aos moradores."
A CEDAE só faz trapalhada. É muito fácil assumir só os serviços de água potável, que Deus nos dá. Ela tem que ser responsabilizada pela calamidade.
Sem dúvida a população favelada sofre com a falta de políticas públicas, mas a situação do Morro do Bumba é um misto de tragédias: a natural, a política e a social. A natural, a chuva excessiva que castigou o Grande Rio; a política quando sucessivos governos permitiram e até estimularam a ocupação de um antigo lixão, cujo bom senso nos diz que não poderia haver residências por lá; finalmente, a social, que envolve populações que por vários motivos se obrigam a morar nessas regiões.
Na verdade existem e ao mesmo tempo não existem culpados. Só temos é uma realidade trágica e precisamos desatar esse nó.
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