terça-feira, 5 de outubro de 2010

Porque eu voto no Serra

Retirado do blog Eu vim da Bahia

Por baiana

Venho de uma família conservadora, nordestina, interiorana e de classe média. Não quero dizer que nordestinos são retrógrados, mas sei que minha família colheu o que de mais atrasado havia na nossa cultura local e ingeriu como poções de verdade para todo sempre. De resto, coube aos repugnantes preceitos que regem a classe média de um país como nosso o que faltava de ingrediente para termos uma base moral conservadora e individualista consolidada. Este é meu berço – e isso não pretende ser uma crítica de valor, apenas uma constatação.

Não sei bem onde, nem quando, nem como, mas em um dado momento dessa longa estrada da vida eu caí do berço. E caí com a cabeça no chão. A pancada foi tão grande que a amnésia seletiva pela qual fui tomada apagou toda essa base moral.

O tempo passou, chegou minha vez de ir pra vida por minha conta e risco. E é nessa que estou no momento. Na vida por minha conta e risco. E viver a vida é complicado, é rapadura bem dura. Eu penso isso quando olho para minha e para de cada ser humano que me rodeia. Penso nisso todo dia que acordo cedo para pegar dois ônibus para ir trabalhar; toda vez que vejo meu porteiro da noite lendo um livro de literatura (“Poxa, ele gosta de Machado”); sempre que a diarista chega; quando o Tinoco – garçom do bar vizinho – fecha o bar à meia-noite e lembra que só chegará em casa às 3h; quando vejo a linha de ônibus Castelo-Bangu com gente saindo pela janela; quando saio na rua com minha namorada e, contidas, não damos as mãos; quando o camelô corre do rapa; quando o menino pede o pão, ou cheira cola, ou rouba uma bolsa… Penso nisso todo dia, toda hora: viver é complicado.

Com o tempo eu consegui entender que viver é complicado mesmo, mas nessa vida que a gente leva. Aprendi que outras vidas são possíveis. Outra vida para o porteiro, para a diarista, para o motorista de ônibus, para o menino vítima de bala perdida, para mim, para a mulher que aborta e o cara que roubou uma bolsa. Então, se cotidianamente eu penso nas complicações da vida, penso também em como outra vida é necessária e, claro, nas formas de chegar até ela.

Eu não acho que votar em uma eleição ou deixar de usar sacolas plásticas serão suficientes para mudar a vida. Não mesmo. Mas eu acho que outro mundo se faz todo dia. Se faz hoje, nas condições que estão dadas, pensando que é preciso criar as condições para que amanhã façamos de outra maneira. Tem até um velho barbudo que disse certa vez que “o homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam”. Sabia das coisas esse velho.

Então, eu acho que a gente tem que operar dentro das condições. Sem se contentar jamais com elas. Querendo sempre mais. Eu não estou falando em concessões. Estou falando em olhar para a realidade e perceber de que forma nossas escolhas vão interferir nela e contribuir, ou não, para que aquilo que desejamos se concretize.

É isso que está em jogo quando optamos por usar sacolas plásticas, votar em dado candidato, se associar a dado partido ou trabalhar em dada empresa. A diferença é que uns acham que parar de usar sacolas plásticas é suficiente. Outros fazem escolhas mais profundas. E outros tantos se enganam achando que podem não “participar” de tudo isso. A escolha por não participar, em si, já é participar.
Trazendo para a esfera pessoal, eu sei bem o que eu quero que se concretize. Eu quero outro país. O país onde meu porteiro possa ler Machado de Assis quando bem entender e que a linha de ônibus Castelo-Bangu não ande lotada. Eu quero que todos possam ter vidas bastante diferentes das que têm hoje. Isso é uma certeza. Não é um sonho.

É esse desejo que me leva às urnas. Eleição, sobretudo num sistema falido como o nosso, não é suficiente. Mas estão em jogo, nítidas como a superioridade técnica do Botafogo, duas possibilidades:
  1. o retrocesso, a volta escancarada de uma política externa de submissão, a falência das políticas sociais, a criminalização assassina dos movimentos sociais e o aparelhamento do estado pela mais sórdida parcela da elite;
  2. uma política externa altiva, uma política cultural que com todos os seus limites se mostrou libertadora, liberdade de expressão para todos e, principalmente, para os movimentos sociais organizados e mais importante, políticas voltadas para a garantia universal das condições objetivas de vida da população brasileira.
Em suma, o que eu vejo em jogo é a disputa entre a possibilidade de, dentro da política de consenso que experimentamos com o governo Lula, vermos o bolo ser repartido de forma a contemplar a todos, mesmo que garantindo fatias notadamente maiores para o capital, ou de voltarmos a ter uma parcela imensa da população sem bolo.

E não me venham falar que é tudo a mesma coisa, porque não é! É só olhar os números. Não cola também as bravatas messiânicas, como muito bem definiu meu amigo Bodão, de que a política pode ser diferente e que se muda um país apenas com vontade política e ética (isso também é Bodão). Falemos de política, não de valores morais. Porque se fossem valores morais que nos movessem, essa ordem já teria sido subvertida há muito tempo. Aliás, o que há de moral nessa eleição é o seguinte: é imoral, socialmente injusto e politicamente inconseqüente votar no senhor José Serra. Os que optam pela omissão, que arquem com as consequências no futuro e durmam com elas.

Eu voto na Dilma, na guerrilheira, na mulher que defende a descriminalização do aborto e o direito à união civil de homossexuais. Eu voto na candidata do Lula, na mulher que tocou o PAC, que foi torturada e não delatou absolutamente nenhum companheiro. Eu voto na Dilma pelo que ela é, pelo que ela representa, pelo que o Serra representa e no que pode ser feito neste país em seus quatro anos de governo. Eu voto na Dilma porque eu tenho certeza que eleição não vai mudar país nenhum, mas que precisamos construir as condições para efetivarmos a luta por uma outra ordem e, hoje, com apenas dois candidatos em disputa, é apenas ela que pode garantir que este processo não será interrompido.

Finalmente, o título deste texto era apenas para, por meio da curiosidade, faze-los ler, mesmo que apenas parte disso tudo.

8 comentários:

Anônimo disse...

velhinho barbudo? humm...

como não acredito em papai noel, só pode ser o bom e velho companheiro lula...rs

Anônimo disse...

Definitivamente, Dilma não é o Lula e o Serra não é FHC.Felizmente eu tenho estudo e nem passa pela minha cabeça votar na Dilma. Tenho discernimento e imparcialidade para entender tudo dos 8 anos tucanos e dos 8 vermelhos. Dito, e como diria Rolando Bondrin, "tenho vergonha de mim".

Anônimo disse...

Ah, meu caro anônimo, tenha muito cuidado com o preconceito! Nosso problema não é ter ou não estudo. Existem muitos doutores de um e de outro lado! O grande problema é entender o funcionamento da máquina capitalista e seus desdobramentos na formação da consciência. É entender como os militantes de esquerda devem intervir na conjuntura local, estadual e nacional, não desprezando a conjuntura internacional. temos que Falar de táticas e estratégia. E, nesse particular, existem muitas pessoas de estudo que nada entendem. O problema é muito maior e bem mais complexo do que podemos imaginar!!!

Anônimo disse...

Que tal fazermos uma reunião para começarmos a esboçar essas dificuldades/problemas?

Anônimo disse...

é baiana, vc só demonstrou com o título que sua candidata não possui credibilidade, ou seja, se o titulo de seu texto fosse A Dilma e não Serra, com certeza ninguém ou quase ninguém iria ler.sinto muito por vc viver em um país onde a classe baixa e miserável passam por sérias dificuldades para sobreviver. não sou partidária, mas gostaria que antes de vc e qualquer um brasileiro analisasse a real situação dessas pessoas em nosso país principalmente na Bahia onde o atual (des)governo se elegeu.Não sei se é comum no brasileiro pensar somente no seu umbigo, mas te garanto que se vc observar a sua volta, existe milhares de pessoas pedindo socorro, milhares de pessoas vivendo com menos de um salário, quando tem, milhares de população em busca de atrendimento medico mas a saúde publica é uma miséria, centenas de pessoas que tem seus filhos em escola publica e qdo chegar o momento de ir para uma faculdade, prestar um concurso, ver seu filho excluído, sem falar na onda de violência em que vivemos, onde cidadãos estão presos e marginais a solta, portanto, é muito bom se falar quando se está por cima, analisa a situação do povo brasileiro, mas daqueles que não tem acesso aos pilares basicos de sobrevivencia (educação, saúde e segurança - no mínimo)ou vc é mais uma das pessoas que pensa que um miserável bolsa família (bolsa cabresto) no valor que é tem condições de mantes uma família???Se vc for dessa que acredita na bolsa família como salvação do pobre brasileiro, acredita que a saúde, a educação e a segurança pública está otima no brasil, sinto muito, vc é mais uma nesse mundo capitalista que só pensa em si.cada povo tem os governantes que merece e que pena que muitos irão pagar um preço caro demais, pela falta de consciência crítica de muitos brasileiros, e pela infelizmente necessidade da bolsa cabresto (família) de milhões de brasileiros necessitados!!!!

Geógrafa

Anônimo disse...

Só sei q eu estudei por mérito meu, eu que corri atrás de tudo e governo nenhum nunca me ajudou! Não tenho pré-conceitos, vim de um meio sem estudo! Sou esclarecido! Não é pq Lula tem uma história bonitinha q vou dar meu voto a ele com a maioria sem dúvidas faz!
Quando o Serra era ministro, todo mundo elogiava a baixa nos medicamentos, o programa contra HIV...e agora? Brasileiro tem memória curta mesmo, fazer o q? A gente tem aquilo que a gemte merece não é mesmo?

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=E9ndIwlX2PI&feature=player_embedded

Anônimo disse...

Agora é 45 neles moçada.
Vamos eleger o melhor.
Serra foi o melhor ministro da saúde do mundo.