quarta-feira, 9 de maio de 2012

Uma briga entre a física e a filosofia

Autor: Marcelo Gleiser

Reproduzido do jornal "Folha de São Paulo"

A questão sobre a origem das coisas faz parte de todas as culturas. Será que a ciência pode resolvê-la?


Uma controvérsia vem se espalhando pela mídia americana. Qual a relação entre a ciência (mais propriamente a física) e a filosofia (mais propriamente da ciência)? Parece coisa meio arcana, mas não é.

Essa é uma briga antiga, reacendida quando o físico Lawrence Krauss publicou "O Universo do Nada: por que existe algo em vez de nada". Nele, Krauss explica como a física tem se aproximado de uma explicação para a pergunta sobre a origem de todas as coisas.
Sabemos que essa é uma questão antiga, parte de todas as culturas. Mas Krauss não dá bola para a antropologia cultural ou para a teologia e a filosofia. Para ele, exemplar típico da posição do "cientismo", só a ciência pode chegar a respostas úteis sobre esse tipo de questão.

O livro de Krauss foi demolido no "New York Times" pelo filósofo e físico David Albert, que questionou se Krauss entende o que significa o "nada". Resumindo, Albert argumenta que a física pressupõe a existência de campos fundamentais para definir sua versão do "nada". Portanto, esse não é o nada absoluto, mas é algo. A ciência só faz sentido quando definida sobre uma estrutura conceitual, começando pelas noções de espaço, tempo e energia.

Krauss respondeu em uma entrevista para o blog da revista "The Atlantic", chamando filósofos de idiotas. Arrependido, se desculpou na "Scientific American", algo extremamente embaraçoso.

Como descrevo no livro "A Dança do Universo", há apenas duas soluções para a questão da origem do Cosmo: ou ele surgiu em um momento do passado ou é eterno. Não é uma coincidência que universos eternos ou oscilantes ou com um começo apareçam tanto em mitos de criação quanto em modelos matemáticos do Cosmo. A diferença crucial é que, em ciência, podemos usar dados para diferenciar os modelos e decidir quais podem ser úteis.

O problema da origem de tudo nos remete à questão da Primeira Causa. Se descrevemos a realidade como uma sequência de eventos, ao irmos ao passado chegamos ao primeiro evento, o que por definição não tem uma causa.

Mitos de criação pressupõem entidades transcendentes, deuses além do espaço, do tempo e das leis da natureza. Se você se satisfizer com uma explicação sobrenatural do mundo, o problema acaba.
A ciência se opõe ao sobrenatural. Seu dogma central é que a natureza é inteligível: com a aplicação da razão, podemos construir explicações que podem ser testadas.

Será que a ciência pode então resolver a questão da origem de tudo? Os modelos que tentam fazê-lo usam conceitos da física quântica, onde o nada absoluto não existe.

Existe, sim, uma energia residual, que chamamos de energia de ponto zero. O vácuo é permeado por essa energia. O problema é que não sabemos como tratar dela. Quando aplicamos a física quântica ao Universo, a energia de ponto zero causa a implosão cósmica. Se isso fosse correto, não estaríamos aqui. Temos ainda muito o que aprender.

Ao mostrar a ciência de forma triunfal, Krauss confunde mais do que esclarece. Mesmo que tenha dito que questões continuam em aberto, o título do livro indica algo falso. Apesar dos avanços da ciência, modelos sobre a criação do Cosmo permanecem especulativos.
 
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita".

6 comentários:

Anônimo disse...

Giordano Bruno - desenvolveu uma teoria da infinitude do Universo.
Para melhor entender o pensamento de Bruno, é preciso entender sua concepção de Universo: “O Universo é uno, infinito, imóvel. Una, afirmo eu, é a possibilidade absoluta, uno o ato, una a forma ou alma, una a matéria ou corpo, una a coisa, uno o ser, uno o máximo e supremo que não podem ser compreendidos; por isso que ele é indefinível e indeterminável e, portanto, não tem limite nem termo e, conseqüentemente, é imóvel... Não se corrompe, porque nenhuma outra coisa há em que ele possa transformar-se”.Assim, temos o princípio intelectual do mundo, a sua alma, isto é, o princípio ativo. A matéria é o princípio passivo.
Admitindo a teoria copernicana, Giordano reafirmou que a terra não é o centro do universo, mas um minúsculo planeta entre uma infinidade de planetas e estrelas que povoam o espaço. Dizia que sendo Deus infinito e onipotente, não se contentaria em criar um mundo limitado. Segundo ele, o mundo é apenas um entre um número infinito de mundos particulares, semelhantes a ele, e todos os planetas e as outras estrelas são uma infinidade de mundos contidos num universo infinito, de modo que há uma dupla infinidade: a da grandeza do universo e a da multidão dos mundos, os quais são finitos.

Importante destacar, enfim, uma frase que marcou sua resistência:

“só os espíritos fracos é que pensam com a multidão por ser ela multidão. A verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria”.

Anônimo disse...

Leiam, é interesante. Marilda.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0405200806.htm

Anônimo disse...

FREI BETO:
"O diálogo entre fé e ciência iniciou-se quando, na modernidade, a razão se emancipou da religião. Copérnico, Galileu e Giordano Bruno que o digam. Houve atritos e condenações recíprocas, até que a extensa obra do jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) – geólogo, paleontólogo e téologo – fez a Igreja Católica reconhecer que a fé pode não estar de acordo com o uso que se faz de descobertas científicas, como a fissão do átomo para a construção de ogivas nucleares, mas jamais negar a autonomia da ciência e o modo como ela desvenda os mistérios da natureza."

Anônimo disse...

PABLO DRESSEL
"Bruno causa inquietação na Igreja Católica que, por ordem papal, decide e aprova o suplício de Bruno em 1600, executado "sem que o sangue fosse derramado", isto é, Bruno foi queimado vivo na fogueira em praça pública, visto por todos inclusive pelo governador da cidade. O que causou enorme desconfiança da ciência para com a Igreja. Até hoje a Igreja Católica só deplorou a execução, mas não os motivos da sua condenação. E o Pontificam Consilium Cultura que reabilitou Galileu Galilei, somente em 1992, ainda não tomou uma decisão favorável a Giordano Bruno. A obra de Bruno por sua vez só foi retirada do Index dos livros proibidos aos católicos em 1948, mostrando mais uma vez como foi mal visto pela Igreja por apresentar uma idéia de mundo que depois foi tão fácil aceita por tantos outros pensadores como: Newton, Koyré e Einstein."

Anônimo disse...

"Nesse intuito de atualizar o diálogo entre a ciência e a fé é que a editora Agir reuniu, durante três dias, em hotel do Rio, o físico teórico Marcelo Gleiser e eu [leia-se frei betto], mediados por Waldemar Falcão, espiritualista e pesquisador de fenômenos esotéricos. De nosso encontro resultou o livro “Conversa sobre a fé e a ciência”, que chegou esta semana às livrarias.

Marcelo Gleiser é originário de família judia, formado em física pela PUC-Rio e, hoje, professor e pesquisador na Universidade de Dartmouth, nos EUA. Autor de excelentes obras, como a recente “Criação Imperfeita” (Record), Gleiser considera-se agnóstico. Surpreendeu-me seus conhecimentos de história das religiões e de como elas se relacionam com a ciência.

Não tenho formação científica, mas muito cedo me interessei pelas obras de Teilhard de Chardin. Em 1963 publiquei apostilas sobre seu pensamento, hoje reunidas no livro “Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin”, cuja nova edição a editora Vozes fará chegar às livrarias ainda este ano.

Mais tarde, vi-me obrigado a me improvisar em professor de química, física e biologia num curso supletivo. O dever virou prazer e me levou a escrever “A obra do Artista – uma visão holística do Universo”, cuja nova edição a José Olympio prepara para o segundo semestre.

Gleiser leu meus livros e eu os dele, o que favoreceu o nosso diálogo, no qual houve mais convergência que divergência, sobretudo no que concerne à correta postura da ciência diante da fé e da fé diante da ciência.

São esferas independentes, autônomas e que, no entanto, encontram suas sínteses em nossas vidas. Ninguém prescinde da ciência e de sua filha dileta, a tecnologia, assim como todos têm uma dimensão de fé, ainda que restrita ao amor que une marido e mulher.

Marcelo Gleiser e eu coincidimos que a finalidade da ciência não é obter lucros (vide as indústrias farmacêuticas e bélicas), e nem a da fé impor verdades (vide o fundamentalismo) ou arrecadar fundos (Jesus é o caminho, mas o padre ou pastor cobram o pedágio...).

Ciência e fé servem para nos propiciar qualidade de vida, conhecimento da natureza e sentido transcendente à existência. Se pela fé descobrimos a origem e a finalidade do Universo e da vida e, pela ciência, como funcionam um e outro, tudo isso pouco importa se não nos conduz ao essencial: a uma civilização na qual o amor seja também uma exigência política.
Autor: Frei Betto

Jonas disse...

O texto até pode ser bom, mas tu viaja muito mermão. Se liga!! Tá ficando chato isso aqui. O VQ está se descaracterizando. Sanger Nogueira, acordar pra cuspir.