sábado, 22 de março de 2008

Um ano de ocupação Gisele Lima

Hoje foi dia de feijoada na ocupação Gisele Lima, no seio do bairro Varginha. Mas o quê há para se comemorar?

Quem tem (teve ou queira ter) a oportunidade de caminhar por aquele espaço , hoje contrastado entre solo rachado pelo sol com um lamaçal causado pelas últimas chuvas, pode e deve ficar com algumas perguntas na cabeça. Eu sempre fico, porém, hoje, foi bem diferente.

Foi minha 5ª ou 6ª visita à ocupação. E o sentimento, desta vez, não foi o de revolta. Fiquei feliz e em paz de espírito por ver e estar na ocupação Gisele Lima!

Opa, peraí! Alegria de ver aquelas casas inacabadas, abandonadas pelo descaso das "políticas públicas de habitação de nossa cidade e estado"? Como ficar em paz de espírito ao ver - aliás, não ver - saneamento básico, lazer, educação, infra-estrutura?

Estava feliz por saber que aquelas pessoas estão felizes. "Vamos pessoal, hoje comemoramos um ano de ocupação Gisele Lima!". "Olha a feijoada! Vamos nos unir mais uma vez!". "Estas são nossas casas, ninguém vai tirar! É muito melhor aqui do que onde eu estava antes de conhecer os sem-teto!".

Que força tem aquelas pessoas! Que poder de luta e organização! Quanta humildade, determinação e esperança! Num determinado local mostrei a um amigo um barraco construído com as capas plásticas que embrulham os colchões nos quais dormimos. Do lado, uma casa inteira de pau-a-pique relembrando o nordeste. Ele relembrou o acampamento Manoel Congo, na Fazenda do Vargas, onde já tinha visto aquelas cenas. Continuamos a caminhar, em silêncio, até que um pouco à frente vimos uma família inteira preparando as bandeirinhas (feitas de jornais e revistas) para enfeitar a quadra da Varginha para a festa que começaria mais tarde. Aquela cena marcou.

Naquele momento compreendi o motivo da festa. Hoje, 22 de março de 2008, os homens, as mulheres e as crianças da ocupação Gisele Lima comemoram a oportunidade que muitos nunca tiveram: ter uma casa e a chance de recomeçarem suas vidas.

Como foi bom comer aquele feijão com um arroz feito na hora (aliás, três pratos muito bem servidos! Tinha que ter voltado correndo pra continuar na dieta. Que dieta?).

Como foi bom ver aquela bandeira do MST, vermelha, imponente, representando a luta daquelas pessoas com os rostos sofridos, as mãos calejadas, mas o sorriso nos rostos. E aquela bandeira representa também a nossa luta, que se soma aos sem-terra e sem-teto, para tentarmos mostrar a sociedade um novo jeito de se viver, produzir, consumir, preservar, pensar e agir.

Parabéns à ocupação Gisele Lima! Parabéns a todos os homens e mulheres que constroem a cada dia o sonho de uma nova sociedade, justa, ecológica, fraterna, enfim, socialista, como mesmo dizem. Parabéns às crianças que ali moram e já sabem da luta que irão travar (e que já travam).

Que dia, que tarde! E, apesar do aniversário ser deles, quem ganhou o presente fomos nós: uma bela feijoada, uma tarde de bom papo e 4 quilos de quiabo orgânico, da melhor qualidade, produzido no acampamento Manoel Congo.

Comemoremos todos a oportunidade de termos em Valença um movimento que lute e organize nossa sociedade por causas verdadeiramente populares. Um viva à ocupação Gisele Lima e a todo MST!
"Um passo à frente e já não estamos no mesmo lugar." - Chico Science

Um comentário:

Anônimo disse...

To the owner of this blog, how far youve come?