segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Eloá e o sentimento de Vingança

É com muita tristeza que nós estamos acompanhando o fim trágico da menina de Santo Andre: especialistas, psicólogos, jornalistas, toda uma série de profissionais são convidados para dar suas opiniões sobre quais os erros cometidos na operação policial.

Existem várias criticas sobre a atuação da polícia: demorou muito tempo, acreditou num rapaz desequilibrado. No entanto, a critica que mais me chamou a atenção é aquela que coloca a morte da menina como falta de uma postura “mais firme” da polícia, leia-se, mandar um sniper, atirador de longa distância, dar um fim no infeliz seqüestrador.

Nas rodas de conversa da segunda feira as pessoas são taxativas: “eu mandaria matar o seqüestrador na hora, sem nenhum tipo de diálogo”. Tal posição sobre os acontecimentos “esquece” as falhas cometidas pela polícia paulista em detrimento da seguinte opinião: Elóa morreu porque resolveram dialogar com o “bandido”.

É trágico observar como esse garoto, totalmente confuso, já tinha se transformado no “bandido” que apavora a todos. Nem parecia um jovem de vinte e poucos anos que estava cometendo uma série de erros. Ele era, na opinião de muitos, uma pessoa irrecuperável, sendo a única solução a eliminação do sujeito.

Fazendo uma ponte: durante a década de 80, a indústria do cinema americano tinha descoberto a fórmula “atire primeiro, pergunte depois” e do “exército de um homem só”. Lembro do filme do ator Sylvester Stallone intitulado “Stallone Cobra” onde temos uma cena antológica: um criminoso invade uma mercearia e faz alguns reféns. Aparecem a mídia e o negociador com o discurso do diálogo, de ouvir as exigências do seqüestrador. Num certo momento chega o Cobra, com óculos Ray Ban e um palitinho na boca e “resolve” acabar com o seqüestro através da eliminação do seqüestrador. Ele justifica seu ato com uma frase que virou bordão dos policiais linha dura: “Com maluco eu não discuto, com maluco eu mato”.

Voltando ao caso Eloá, observei um sentimento de vingança por parte da população no sentindo de não aceitar que o seqüestrador continuasse vivo depois de atirar nos seus reféns. Desejos de que a polícia dê-se um “sacode” no garoto ou que o seqüestrador, misteriosamente, fosse baleado. Em nenhum momento dentro da roda de conversa havia a colocação que ele iria ser julgado por uma instituição competente de nossa sociedade.

Vingança, termo feio numa sociedade cristã. Contudo ela continua existindo através da confusão entre Vingança e Justiça. A confusão dos conceitos está claramente exposta no caso Eloá: o seqüestrador merece ganhar um “sacode”, pois ele não poupou suas vítimas, é “justo” que uma pessoa que não respeita a vida alheia, também não tenha sua vida, ou a sua integridade física, respeitada pelas outras pessoas. As pessoas acreditam que isso se identifica como Justiça, mas, na verdade, é um sentimento de vingança interiorizado.

Justiça pressupõe o direito de fala ao acusado. Se, na medida, em que não respeitamos o direito desse jovem de expor sua versão sobre os acontecimentos, por mais que isso nos cause uma aversão tremenda, não estamos sendo justos. Parece até que estávamos desejando o aparecimento de um “Cobra” brasileiro na situação para resolver nossas pendências. E olha que o Brasil é um país essencialmente cristão, onde o principal guia é uma pessoa que foi crucificada por aclamação! Já pensou se fôssemos militaristas....

18 comentários:

Anônimo disse...

Ola,

meu amigo, pelo que eu tenho acompanhdo no noticiario eu não vi ninguem dizer que ja deviam usar um sniper(atirador) antes de tentar uma negociação com o sequestrador. E tambem não vi ninguem dizendo que o sequestrador era um "bandido", muito pelo contrario, eu vi a maioria das pessoas dizendo que ele era um jovem que passava por uma decepção amorosa.

Vi um brasileiro que trabalha na SWAT(uma especie de GATE brasileira) dizendo que o atirador seria uma das alternativas caso a tentativa de negociação com o sequestrador falhasse, e segundo ele um dos erros do GATE foi a demora da negociação que se prolongou por varios dias. Ele tambem comentou que a SWAT tem uma regra de que as negociações de sequestro nao devem durar mais de 24hs quando se trata de um crime do tipo passional(como foi classificado o caso Eloa).

A solução para ele seria a invasão do local onde se encontravam o sequestrador e as menores apos as 24h de sequestro.

E esse comentario dele mostra que o Brasil tem uma politica muito diferente da que voce esta dizendo as pessoas estao falando. Porque é uma regra da policia brasileira tentar resolver a situação sem que haja vitimas, diferentemente da politica da SWAT americana que busca salvar os sequestrados, mesmo que para isso tenha que matar o sequestrador.
Portanto esse seu texto não espressa o pensamento da maioria dos brasileiros, que como eu presam a defesa da vida sempre!

saudações fraternas

Anônimo disse...

muito cuidado com as generalizaçoes rapaiz!

Anônimo disse...

Nunca pensei que fosse ler algo desse tipo aqui. Pois, assim como tudo que ganha grande espaço na mídia deve ser por nós repensado e repensado sempre. Não devemos contribuir para esse debate. Simplesmente porque somos alternativa a ele. É a mesma coisa se postassemos algo sobre:

- a "Gabriela sou da paz" - A menina que morreu no metrô São Francisco Xavier na Tijuca;

- o "Sandro" do ônibus 174 - sobrevivente da 'Chacina da Candelária' que sequestrou o ônibus no Centro do Rio. Na saída do ônibus um policial com uma arma grande atira, com o coice o projétil pega na refém, cerca de dois centímetros de distância. Nesse caso, o negociador era o governador Garotinho, sem profissão, político assistencialista por natureza deu uma de policial especialista;

- o João Hélio - em um assalto o menino foi arrastado pelas ruas na zona norte do Rio;

- a menina Isabela Nardoni - menina "cai/jogada" da janela do quarto, pai e madrasta são suspeitos;

- noite no Rio de Janeiro, um carro com um casal e uma criança é confundido com um carro de bandidos em fuga. O casal sai do carro e não consegue tirar a tempo o filho. Conclusão a criança foi fuzilada;

e tantos outros casos onde o apelo pelo drama toma o espaço do privado e se torna público. Nosso questionamento jamais deve ser pela punição do autor do crime. Nosso gasto de energia deve ser de uma sociedade que se esforça para certos crimes não serem mais cometidos. As leis já existem, elas já nos formatam. A solução não é a punição, não é reforçar o crime. A solução é tentar fazer com que crimes não mais aconteçam. É se permitir pensar e agir para construirmos uma sociedade mais fraterna. O que fazemos para um crime não ser cometido? Punir não é eficaz. A resposta não é o que fazer com o delito. E sim o que fazer com a nossa sociedade do espetáculo. Porque todo dia morre um João, todo dia morre uma Isabela, uma Gabriela, etc. Todo dia o BOPE e o Caveirão sobem ou/e sobrevoam a favela. Todo dia um policial invade a casa de um morador, mete o pé na porta e comete abuso. O que não tiver nota fiscal é roubo, basta ser preto, pobre e/ou favelado.

Temos tantas coisas para escrever. Podemos falar tanto da sociedade do espetáculo que vivemos. Vamos deixar essas meninas e esse rapaz em paz.

Anônimo disse...

Gostaria de responder sobre o texto, embora não seja eu o seu autor. Mas é porque creio ter havido uma certa confusão.

Vamos lá, ao primeiro anônimo:

. O texto não me pareceu tratar do que a maioria das pessoas pensam e nem do que foi dito na mídia, o Sanger Regnas me pareceu querer mostrar apenas o que muitos na sua roda de conversas expressou.

Ele também não se referiu a política da polícia brasileira, mas ao modo como as pessoas (de sua roda de conversas) queriam que a polícia agisse. Esse modo como as pessoas queriam que a polícia agisse representou para o nosso autor uma idéia de vingança e não de justiça.

Ao segundo anônimo:

. Você tem razão ao dizer que ele generalizou, ao concluir, a partir do ponto de vista das pessoas com as quais conversou, que a sociedade brasileira (cristão) é vingativa. Mas, confesso, que, embora essa generalização seja contestada argumentativamente, ela me dá a impressão de ser correta (mas isso é minha opinião).

A minha querida jacutinga, se é que me permiti falar assim:

. Me pareceu que o Sanger Regnas quis menos dar a notícia do caso Eloá e mais discutir uma idéia que estava subjacente a este caso, que é o que nossa sociedade (do espetáculo) toma como sendo justiça.

Nosso autor não me pareceu em nenhum momento do texto noticiar no blog este caso , até porque já estávamos "careca" de saber disso; mas de refletir, a partir deste acontecimento, o que nossa sociedade entendo por justiça e o que significa para esta sociedade vingança.

Bem, era só isso que queria dizer.

Anônimo disse...

não aguento mais esse assunto..rs

Anônimo disse...

=)

Compreendo Fael, mas não entendo.

Viva o samba!!

Anônimo disse...

mais do que vingança, a discussão e a incessante veiculação desse caso - entre tantos outros - significam a banalização dos sentimentos em nossa sociedade: inclusive a banalização do sentimento de vingança, que, numa sociedade cristã, foi sufocado a ponto de só ser permitido em momentos de fúria, rancor e desequilíbrio mental. ontem, no noticiário depois do almoço, da rede globo, veicularam que o pai da pobre ao sair do hospital está foragido. o furo: assim como o algoz de sua filha, o pai arrebentado de dor tb é bandido pq metido com, não me lembro bem, milícia no nordeste. e, hoje, nos jornais, saiu que mãe da pobre está, como reza o santo evangelho, perdoando o seqüestrador e polícia. termino com a mesma pergunta que faz o dramaturgo albee em uma de suas peças, “a cabra”: "-será que ninguém ainda se deu conta do que está acontecendo aqui?"
ass.: melinda pratz

Luciane Barbosa disse...

Então lá vai a principal discussão dessa violência e que a nossa sociedade e nós, machistas socialmente construídos, não fazemos.

- POR MIM, POR NÓS E PELAS OUTRAS:

NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!


Passada uma semana do início de uma história que tinha tudo para ter um fim trágico e só a polícia não enxergava isso. Todas (os) nós, acompanhamos a angústia e sofrimento passados pela jovem Eloá de 15 anos que foi mantida refém por 5 dias por seu ex-namorado dentro de sua própria casa.

Durante todo esse tempo o caso era considerado como um crime cometido por um jovem rapaz, trabalhador, inofensivo e que só estava atordoado porque havia sido abandonado por sua namorada, esse foi o tratamento dado ao caso durante todo o tempo seja pela polícia, seja pelos canais de televisão. Só agora depois do trágico desfecho, que acabou com a morte desta jovem de 15 anos e com o grave ferimento de sua amiga Nayara, atingida com um tiro no rosto, começam a vir à tona o que pelo que parece os que conduziam a ação faziam questão de ignorar, relatos de uma relação marcada pelos ciúmes e pela possessividade, de agressões físicas sofridas por esta jovem antes e durante todo o seqüestro, que inclusive já estavam relatadas em depoimento a polícia, pois por mais que fizessem questão de ignorar, estávamos diante de mais um caso de violência contra a mulher.


O sentimento que levou este rapaz a cometer este terrível ato não foi apenas o da "desilusão amorosa" e sim, os enraizados valores disseminados cotidianamente em nossa sociedade, na qual a mulher é vista como um objeto que deve estar à disposição dos homens, sobre as quais eles devem manter o poder sobre o corpo, seus sentimentos, seus atos e quando não mais for possível dominá-las, estes que determinam sobre sua vida e morte.


Valores estes que só neste final de semana, permitiram por assim dizer que em Santo André/SP o ex-namorado de Eloá tirasse a sua vida; que na Grande Belo Horizonte o ex-marido da jovem Patrícia, de 21 anos, a matasse e fugisse com a filha do casal de 2 anos, e ainda que um vizinho entrasse atirando na casa de uma jovem de 17 anos, só porque ela não queria ter nada com ele.


Assim, ficamos a assistir ao vivo, o jovem Lindemberg determinar a seu bel prazer sobre a vida e a morte das duas jovens que se encontravam sobre seu domínio, diante da passividade de uma polícia e das autoridades que mais pareciam se preocupar com as repercussões de uma possível ação violenta, do que com a vida e a integridade destas 2 jovens. A gravidade do crime passou a ser menosprezada, ou até mesmo, diminuída porque estava sendo cometido "por amor" e não por um "criminoso", ignorando as complexas relações sociais e a dominação masculina, que colocavam a vida destas jovens numa situação de vulnerabilidade ainda maior.


Assim, devemos neste momento nos questionar até quando a nossa sociedade aceitará violências, agressões, tortura e morte das mulheres mascaradas pela desculpa do amor. Até quando permitiremos que o amor em nossa sociedade seja usado como desculpa para manter posse, poder e domínio sobre as mulheres.... Devemos lembrar a velha frase usada pelo movimento feminista, mais infelizmente, ainda longe de sair de contexto: QUEM AMA NÃO MATA! Devemos ficar atentas, pois, na nossa sociedade, está mais do que provado que O MACHISMO MATA !!!



Para subscrever o manifesto: camtra@camtra.org.br

Assinam: Articulação de Mulheres Brasileiras/ Rio de Janeiro; Casa da Mulher Trabalhadora – CAMTRA; Coletivo de Mulheres Negras/RJ; DENEGRIR – UERJ; GT Mulheres de Axé - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras; Mandato do Deputado Estadual Marcelo Freixo; Marcha Mundial das Mulheres; Marcha Mundial das Mulheres/RJ; Ibase - Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas ; Observatório Jovem do RJ/ UFF; Rede Iyá Àgbá - Rede de Mulheres Negras Frente à Violência; SARÇA de Mulheres Trabalhadoras de Nova Sepetiba ; SECRETARIA ESTADUAL DE MULHERES DO PT/RJ ; Setorial de Mulheres do PSOL; União Estadual dos Estudantes UEE-RJ; Antonia Aldenisa Ferreira Santos – PE; Raissa Dornelas Freitas de Brito; Reimont Santa Bárbara – Vereador do RJ eleito; Sirlei Dias – Empregada doméstica agredida na Barra.


ATO DE DENÚNCIA DA(S) VIOLÊNCIA(S) CONTRA MULHERES

Mulheres se reunião nessa 6a feira, dia 24/10 no Rio de Janeiro, para denunciar o desrespeito aos direitos das mulheres tanto no Caso de Eloá como nos diversos casos de assassinato de mulheres por seus companheiros e ex-companheiros que estão sendo anunciados diariamente.

PELA VIDA, NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES!

6ª feira, dia 24/10 às 12h em frente ao Fórum


--
PLENÁRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS - RJ

Por isso devemos nos unir e espalhar por todos os cantos deste país Chega de machismo, chega de violência, chega de mortes!

POR MIM, POR NÓS E PELAS OUTRAS: NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!

Anônimo disse...

que bom ler isso aqui!! realmente ninguém discute ou discutiu durante esse caso e outros da mesma linha a imposição às mulheres de condutas naturalizantes do machismo.
é normal claro que um namorado desesperado seqüestre a mocinha, que dê na cara dela... afinal, ele é apenas um atormentado, mais uma vítima da sociedade!! infelizmente um fórum como esse não tem grande visibilidade, mas já é algo encontrar pela net um debate mais aprofundado do tema. valeu, luciana. abraços melinda pratz

Luciane Barbosa disse...

Continuando esse debate:

Eloá: o que a mídia não discute

Um breve monitoramento de mídia permite perceber a brutalidade e reificação de crimes como estes: eles não são apenas crimes passionais, eles podem situados numa teia complexa de construção de valores sociais que forjam um feminino fraco, vulnerável, incapaz e sem condições de decidir a própria vida, em contraposição a um modelo de masculinidade rígido e legitimado socialmente a partir da força, da dominação e do controle. São de certa maneira estes alguns dos elementos que mantém os mecanismos psíquicos do poder na constituição do sujeito e a na construção da sujeição. Leia na íntegra o texto da jornalista Sandra Raquew Azevedo publicado no blog etnografiasdoinvisivel.blogspot.com/2008/10/elo-o-que-as-mdias-e-os-especialistas.html

in: boletim eletrônico do mandato estadual do deputado Marcelo Freixo - www.marcelofreixo.com.br/site

Anônimo disse...

No texto que você indicou, de Sandra Raquew, tem essa passagem:

“Perceber os gêneros como processo de mediação do social é urgente para nos darmos conta da violência contra a mulher como um fenômeno social cujo aparecimento cotidiano nas mídias também precisa ser interpretado, refletido com e a partir dos veículos de comunicação e tendo como foco o papel social dos profissionais de imprensa.”

http://etnografiasdoinvisivel.blogspot.com/2008/10/elo-o-que-as-mdias-e-os-especialistas.html

Pra apimentar a discussão, mesmo que fique entre nós duas, transcrevo um dos comentários a esse mesmo texto postado no blogue etnografias do invisível, da jornalista raquel:

Penso que esse discurso é centralizador em relação a criminalização do "gênero" masculino sobre o feminino. Trata-se da centralização de culpa, como se o algoz também não pudesse ser vítima. Não falo específicamente desse caso explorado e desrespeitado pela mídia que impõe àqueles que insistem em confiar nessas informações, histórias desencontradas com o único propósito de ser mais veloz que o meio concorrente. Não discordo que a recorrência de atos violentos contra mulheres mereciam uma refelexão mais profunda por parte dos cidadãos que acreditam nas soluções por via do Direito. Porém, um outro ato social que está inbricado à violência contra a mulher corre velado e bem escamoteado pela astúcia de suas executoras: a natureza opressora feminina. Homens são culturalmente agressivos e executam seus atos como expressão desesperada da violência incontida. Mulheres minam silenciosamente a harmonia masculina na tentativa de recuperar o que historicamente lhe foi roubado por uma série de interesses econômicos e sociais. Não vejo nessa patologia social um sintoma que dói de um lado só. Por um lado não justifica abandonar a investigação das causas da violência masculina que não se contém, por outro, vale a pena levantar essa questão da divisão da culpa com o feminino que, sendo assim, reverte para ela o ônus da fatalidade causada por um comportamento que também tem que ser investigado na sociedade para entendermos porque provoca tanto a ira masculina, embora atos extremos, como o de Lindenberg sobre Eloá, não possam ser justificados. No caso Nardoni, o provável executor de sua própria filha revela mais uma vez uma violência dupla do sexo masculino sobre o feminino: a criança assassinada e a mãe biológica existencialmente destruída. Mas as investigações levam a uma algoz silenciosa e que não maculou suas mãos em ato tão desumano: a segunda mulher de Alexandre Nardoni, madrasta da menina assassinada que pode ter sido a condutora maliciosa de toda trama e tensão necessárias para culminar na quebra de toda a harmonia até o ato criminoso.

O autor do comentário posta / assina como Saladino / Saulo, respectivamente.

Vamos ver se prossegue o debate,
abraços, Melinda P..

Anônimo disse...

Olá, essa é a primeira vez que entro nesse fórum...
Ainda estou a ponderar... mas o comentário anterior traz um ponto de vista interessante.
Faz-me recuar, eu que sou de origem alemã, tive uma educação
muito rígida, embora no país de origem dos meus pais,
o feminismo hoje caminhe na direção da radicalização de condutas.
Ainda sem debate e ainda refém das generalizações.
Não quero incorrer no mesmo erro, generalizando...
mas acredito em certa conduta repressora, reprimida ainda
latente entre as mulheres da nossa sociedade. E que essa conduta
vem sendo repetidamente veiculada pelos media...
vamos discutir mais?

Fayga Maria Gottschalk
Teresópolis - RJ
(com saudades de Valença...)

Luciane Barbosa disse...

Certa vez, eu li que não existe nível de opressão. Ou seja, não existe escala de opressão. É opressão e deve ser entendido como tal (me comprometo a resgatar esse e-mail). Isso significa que o homem que não se "enquadra" nesse estereótipo que está reservado para ele antes mesmo dele nascer (assim como para nós mulheres)é homossexual ou assexuado, ou qualquer outra coisa que "pré conceituamos". O que me faz as vezes questionar os movimentos sociais, principalmente na área de direitos humanos, é o fato dos homens não participarem desse debate. É um sacrifício debater para além das mulheres. Muitos grupos femininos acabam esvaziando porque nos cansamos de falar para nós mesmas. E esse ponto acontece aqui também. Apenas duas mulheres postaram após o comentário que traz esse debate. Espero que mais mulheres participem e sobretudo os homens.

Saudações feministas!

Anônimo disse...

Ôpa, dessa não posso me ausentar, depois dessa chamada de consciência. Meu nome é Paulo, vivi um tempo em Valença e acho interessante isso que vem acontecendo aqui ou lá, enfim, legal é existir um espaço como esse e de alguma maneira relacionado às ações que estão sendo vividas lá.
Em relação ao debate que aqui se iniciou, a partir da postagem do caso Eloá, eu tenho que dizer que me incomodo com generalizações embora acredite na manipulação e naturalização - os termos se equivalem pelo que pude compreender dos comentários - das ações e discursos patriarcais através da TV (principalmente), jornais, cinema etc. O ponto inicial do debate foi o texto assinado por um dos meninos da equipe VQ... pois bem, ele fala lá em cima de vingança e eu acredito numa vingança como aspecto positivo da sociedade - talvez fique muito refinado... mas grosso modo, a vingança como contrário do ressentimento, que, a meu ver, pode ter motivado psiquicamente e moralmente as ações brutais do sequestro e assassinato. eu acredito também na forma como a mídia interpreta, eivada de machismo, as relações humanas, mas no meu grupo de amigos, assistimos estarrecidos o circo montado pelas TV's e posso garantir, que o tema da opressão feminina não passou em brancas nuvens... somos casados, amamos nossas mulheres e nossas filhas, e queremos pra elas e pra nós também um mundo menos (ou nada) opressor sexual e afetivamente falando e escrevendo.
Saudações às moças!
Paulo Patrício - Cabo Frio – RJ - Brasil
(dale Mengão)

Anônimo disse...

é interessante a interpretação do caso pela via sexista. Contudo, acho que se limitar a explicar o problema (o caso) somente por esta via é perder de vista outras circunstâncias de grande importância na análise.

Na análise de um fato é preciso ter cuidado com o feminismo puro e simples.

Mas levantou uma questão importante que ninguém (pelo menos que eu conhecesse) tinha levado em consideração.

Anônimo disse...

A via sexista não deve ser levada em conta como única possibilidade de análise, mas se tirarmos o Orkut como amostragem da perversão sexual que atinge, violenta e mata jovens como Eloá pelo mundo, veremos que a humanidade / comunidades estão bem doentes quando o assunto é "relacionamentos". Segue um trecho de um texto que analisa / comenta as comunidades de Leke / Lindemberg e as que foram criadas a partir do caso, entre as quais, “Eloá virou presunto":


"...Demorei uns cinco minutos pra entender o que o gigante emocional quis dizer com “Nem trabalho era, mas sim um bacanal”. Concluí que ele só pode estar se referindo ao trabalho de geografia que Eloá, Nayara e dois meninos estavam fazendo no apartamento quando Lindemberg, Leke pros íntimos, entrou armado. Sim, eu acredito plenamente que quatro jovens de 15 anos estavam participando de um bacanal no começo da tarde, bem no apê dos pais... Além disso, alguém tem dúvidas que, se fosse mesmo uma suruba, Lindemberg já chegaria atirando nos quatro? No entanto, na remotíssima hipótese que os quatro estivessem mesmo no meio de um bacanal, isso seria motivo pro criminoso atirar em alguém? Algumas pessoas não entendem que nada justifica atirar em alguém. Nada. Nem a não-virgindade da menina ou o passado do pai de Eloá (os fãs de Lindemberg colocam os dois episódios - uma menina não ser virgem e o pai dela ter matado alguém antes mesmo dela nascer - na mesma balança) mudam o fato que Lindemberg matou Eloá e tentou matar Nayara. A comunidade “Eloá virou presunto” não é a única a homenagear o criminoso. Há uma outra, “Força Lindemberg estamos com vc!”, que diz que não concorda com o que ele fez e que ele até deveria ficar “uns meses preso”. Mas que foi a polícia que foi incompetente, “sem falar q as 2 eram vadias”. Um comentário diz que é uma pena Nayara não ter morrido, mas pelo menos ela levou um tiro na boca, e vai ter que ficar sem (traduzindo pra uma linguagem menos chula) fazer sexo oral em mulheres por um tempo. Porque uma amizade entre duas meninas só pode existir se houver alguma “perversão” por trás (pros membros dessas comunidades, mulher se envolver em qualquer atividade sexual é perverso).(...)"

http://escrevalolaescreva.blogspot.com/

Luciane Barbosa disse...

Resgatei o email sobre o qual me referi anteriormente: não há hierarquia de opressões.


Leia no www.redeafrolgbt.blogspot.com
o texto de Audre Lord intitulado "Não há hierarquia de opressão". Abaixo segue um pequeno fragmento do texto.

http://redeafrolgbt.blogspot.com/2008/08/no-h-hierarquia-de-opresso-audre-lorde.html


Eu nasci Negra, e mulher. Eu estou tentando me tornar a pessoa mais forte. Eu posso voltar a viver a vida que me foi dada e ajudar em mudança efetiva em torno de um futuro vivível para essa terra e para minhas crianças. Como uma Negra, lésbica, feminista, socialista, poeta, mãe de duas crianças incluindo um garoto e membra de um casal interacial, eu usualmente acho a mim mesma parte de algum grupo no qual a marjoritariedade define-me como desviante, difícil, inferior ou apenas sendo ´errada´. Pela minha pertença em todos esses grupos eu aprendi que opressão e intolerância da diferença vem de todas formas e tamanhos e cores e sexualidades: e dentre aquelas de nós que dividem os objetivos da libertação e um futuro trabalhável para nossas crianças, onde possa não existir hierarquias de opressão. Eu aprendi que sexismo (a crença em superioridade inerente de um sexo sobre todos outros e então seu direito a dominância) e heterosexismo (a crença na superioridade inerente de um modelo de amor sobre todos outros e então seu direito a dominância) ambos nascidos da mesma fonte como racismo - a crença em superioridade inerente de uma raça sobre todas outras e então seu direito a dominância.
“Oh - diz uma voz da comunidade Negra: - mas ser negro é NORMAL!” Bem, eu e muitas pessoas Negras da minha idade podem lembrar amargamente os dias quando não costumava ser!
Eu simplesmente não acredito que um aspecto de mim pode possivelmente lucrar da opressão de qualquer outra parte de minha identidade. Eu sei que meu povo não pode possivelmente lucrar da opressão de qualquer outro grupo que deseje o direito a existência pacífica. Ao invés disso, nós diminuimos nós mesmas por negarmos a outros o que nós vertemos sangue para obter para nossas crianças. E aquelas crianças precisam aprender que elas não tem que se tornar iguais umas as outras de forma a trabalhar juntos por um futuro que elas irão compartilhar.
Os ataques crescentes sobre lésbicas e homens gays são apenas uma introdução aos crescentes ataques sobre pessoas Negras, para onde quer que seja manifestos de opressão em si mesmos nesse país, Pessoas negras são vítimas potenciais. E esse é o estandarte do cinismo da direita encorajar membros de grupos oprimidos a agir uns contra os outros, e por tanto tempo a gente é dividido por causa de nossas identidades particulares nós não podemos juntar-nos todos juntos numa ação política efetiva.
Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay porque eu e centenas de outras mulheres Negras somos partes da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão Negra, porque centenas de lésbicas e homens gays são Negros. Não há hierarquias de opressão.
Não é acidental que o Ato de Proteção à Família, que é virulentamente anti-mulher e anti-Negro, é também anti-Gay. Como pessoa Negra, eu sei quem meus inimigos são, e quando o Ku Klux Klan vai à corte em Detroit e tenta e força o Conselho de Educação de remover livros o Klan acredita “induzir a homosexualidade,” quando eu sei que eu não posso me dar o luxo de lutar apenas uma forma de opressão somente. Eu não tenho como acreditar que liberdade de intolerância é direito de apenas um grupo particular. E eu não posso escolher entre as frentes em que eu devo batalhar essas forças da discriminação, onde quer que elas apareçam pra me destruir. E quando elas aparecem para me destruir, não durará muito para que depois eles aparecerem pra destruir você.

Anônimo disse...

Lindenberg e o movimento feminista.

Acredito que o movimento feminista,como tudo o mais, está a reboque da tecnologia. Quando surgiu a construção vertical, o telefone e o automóvel, para dizer só isso, o sistema já não conseguia mais controlar o comportamento sexual e o namoro mais caliente das pessoas. E as mulheres começaram a se liberar, principalmente a partir do sexo. O bom pai zeloso não tinha mais como controlar a "coisinha" da filhinha. Ela ia para a casa ao lado, nos jardins escuros, na própria casa mas mamãe confiava no namoradinho, ou o automóvel passava depois de uma conversa ao telefone e em quinze minutos o "mal" estava feito. Depois a televisão. Depois a pílula. Só depois veio o "movimento", a ideologia, que, como todas, serve apenas pra dar uma arrumada no avanço incontrolável. Segundo algumas universidades americanas, que estudam casos como o de Lindemberg mais a fundo e refletindo sobre as opiniões bastei correr os olhos aos adeptos de hoje para obter a certeza de que Casanova, Jack, o Estripador, Landru e o Estrangulador de Boston seriam fervorosos feministas. E que diferença a entre Lindenberg e os cidadãos acima citados! Nenhuma pois todos tiraram vidas, cada um ao seu estilo. Tudo bem que antes do movimento a mulher havia se cansado de ser "o descanso do guerreiro." Mas não precisava ser a aporrinhação do passifista.
JRN