Por Eduardo Monteiro de Castro*
O mundo dá voltas e, como ele, parece que sua história segue o mesmo caminho. Principalmente quando o foco da análise é suficientemente amplo para visualizar ao menos uma volta completa.
A história do final do século XX e inícios de XXI parece um verdadeiro plágio de finais de século XIX e início do XX. Já naquela época, banqueiros corriam mundo afora divulgando idéias de livre mercado, – ou mercados globais gerenciáveis? – interceptando eventuais conflitos entre nações, financiando outras e, finalmente, envolvendo os diversos mundos com a sistemática da globalização mundial. J. P. Morgan, Merryll Lynch e outros ainda hoje famosos – por um motivo ou outro – já desenhavam nas primeiras décadas de 1900 os perfeitos caminhos do capitalismo global. Apenas por um sutil, mas importante detalhe tecnológico, o fluxo de capital, empresas e pessoas não era ainda, nem de longe, comparável com os atuais.
No entanto, o fato é que isto certamente não ocorreu e os portões aduaneiros se trancaram pelas próximas quatro ou cinco décadas de guerras e crises do capitalismo, até seu renascimento no período pós-guerra. A esta altura, surgia também uma outra opção, ou segunda opção, ou Segundo Mundo, que contrabalançava com o Primeiro e, com uns poucos cá outros acolá, o Terceiro. Opção, sobretudo, demasiado intensa, pois se manteve blindada por toda a década de 1930, enquanto o resto do mundo literalmente desabava.
Finalmente, mais quatro décadas e Gorbatchev conquista a confiança ocidental – em detrimento, obviamente, da oriental – e propõe a abertura e reestruturação da União Soviética que, em termos pragmáticos, significou seu completo colapso. Gastando sua segunda vida, renasce novamente forte o capitalismo. A ordem da década é, por assim dizer, crescimento econômico baseado em aumento de produção e produtividade, mais precisamente na América Latina – pois na quase totalidade restante do Terceiro Mundo já ocorrera – abertura de mercados, alguns embriões de políticas de privatização que mais tarde se tornaram uma verdadeira liquidação de empresas estatais e, principalmente, busca de alternativas e recursos para pagamento de dívidas externas contraídas ao longo das duas ou três décadas anteriores.
Além do mais, quando Lord Keynes foi deixado de lado na década de 1970, as chaves dos portões aduaneiros foram, enfim, encontradas e o mundo presenciou – e ainda presencia, sobretudo após a década de 1990 – uma movimentação de capitais, produtos, empresas, pessoas e investimentos sem precedentes em termos de volumes. Isto, de um lado, impulsionou o surgimento, por exemplo, dos atuais famosos Tigres Asiáticos e tirou da lama dezenas de milhares de pessoas. Por outro lado, foi capaz de falir dezenas de nações de um dia para outro com um simples toque especulativo no teclado do computador. Além disso, transformou a vida de milhões de pessoas num jogo de ganha-perde bem parecido com um cassino adaptado à modernidade do século XXI. Sem contar, afinal, que ainda não foi capaz de demonstrar que liberdade e igualdade não são exclusivas entre si, ou ao menos que as diferenças são pequenas o suficiente para manter povos minimamente alimentados.
Bom ou ruim, a pergunta que fica é se o mundo é um perfeito plágio de seus avôs ou se, não obstante, o mal que já fora contado outrora é capaz de se tornar uma escola para o bem deveras almejado. O espectador aguarda ingênuo, a resposta...
*Eduardo é engenheiro metalúrgico
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