segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alunos espancam diretora

Retirado do site do Dia: Aqui

Autora da reportagem: Maria Luisa Barros

Educadora tentou separar briga entre estudantes de colégio municipal em Vila Isabel e foi atacada. Ameaçada de morte pelo grupo, que também depredou escola, profissional pediu afastamento. Professores temem voltar à unidade.

Rio - A violência voltou a se instalar dentro dos muros de uma unidade escolar. Uma diretora da Escola Municipal General Humberto de Souza Mello, em Vila Isabel, foi agredida a socos e pontapés e ameaçada de morte por alunos do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano). A unidade acabou depredada e as aulas, suspensas. Assustados, professores se recusam a voltar para as salas e os pais temem mandar os filhos ao colégio. Traumatizada, a diretora pediu afastamento. O caso aconteceu há uma semana, mas só agora veio à tona após denúncia do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).

No dia 29 de março, a diretora M. tentou apartar a briga de cerca de dez estudantes no pátio da escola e acabou virando alvo do grupo. “Eles formaram uma roda ao redor dela e passaram a agredi-la. Ela caiu no chão e eles continuaram dando socos e pontapés. Até que ela conseguiu fugir e se trancar no banheiro junto com outros funcionários”, contou a diretora do Sepe Edna Félix.

PAUS, PEDRAS E FERRO

Segundo o sindicato, um dos alunos agressores foi para casa e, em seguida, voltou à escola na companhia da mãe e de outras pessoas da família que começaram a xingar palavrões e a incitar os demais alunos contra os professores. Armados com pedras, pedaços de pau e ferro, estudantes quebraram vidraças e os computadores do colégio. Outros funcionários correram e se refugiaram na cozinha.

Enquanto isso, os baderneiros arremessavam cadeiras e espalhavam documentos pelo chão. As latas de lixo foram usadas para fechar a rua em frente à escola. Segundo o Sepe, a Polícia Militar só apareceu um dia depois, por causa de denúncia da 2ª Coordenadoria Regional de Educação. A escola atende moradores do Morro dos Macacos e da Mangueira — dominados por facções criminosas rivais.

Sindicato, professores e funcionários se reúnem hoje para pedir providências à secretária municipal de Educação Cláudia Costin. O Sepe quer a contratação de agentes-educadores (antigos inspetores) e a redução no número de alunos por sala. O grupo vai apresentar dossiê da violência escolar ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à Câmara de Vereadores e à Assembleia Legislativa (Alerj).

Agressões contra docentes seriam comuns nas escolas

O sindicato coleciona uma série de episódios violentos recentes contra educadores em escolas públicas do Rio. Em abril de 2003, uma professora de Educação Física da Escola Municipal Rodrigo de Mello Franco, no Andaraí, foi agredida por uma mãe voluntária, que ajudava na cozinha da escola. A professora recebeu socos e mordidas da mãe de um aluno da unidade.

Mesmo com marcas da agressão pelo corpo e vários hematomas, o caso não veio a público por medo da professora em se expor. Na época, a vítima chegou a registrar ocorrência na delegacia, mas, como a agressora era moradora de uma comunidade no morro do Andaraí, a professora desistiu de levar adiante o inquérito.

Segundo o sindicato, a Secretaria Municipal de Educação e a Coordenaria Regional (CRE) limitaram-se a abrir sindicância e orientaram a professora a se afastar, mas mantiveram a mãe voluntária na escola.

Um comentário:

Anônimo disse...

Diretora nega agressões, mas confirma ameaças em escola no Rio
Professores da Escola Municipal General Humberto de Souza Mello, no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro, denunciaram que a diretora foi agredida e ameaçada de morte, no dia 29, por alunos e moradores do Morro da Mangueira. Em depoimento nesta segunda-feira, 5, na 20ª Delegacia de Polícia de Vila Isabel, a mulher, que pediu afastamento por licença médica, apenas relatou que foi xingada e ameaçada, mas negou que tenha sido agredida. No entanto, os educadores dizem que presenciaram as agressões e alegam que ela depôs ainda com medo das ameaças.

"Houve uma briga durante o recreio da tarde. A diretora chamou os três envolvidos à direção. Ao saber que a mãe seria trazida para o colégio, um deles reagiu, rasgou documentos, agrediu a diretora e foi embora. Ele foi para a casa e contou para mãe que tinha sido agredido. Por volta das 17 horas, a mãe voltou com o filho e alguns amigos dela. Após receber chutes e socos, a diretora ficou refugiada em uma sala até que os professores acalmaram os ânimos", disse uma professora, que pediu para não ser identificada.

Segundo o relato dela e de outros professores, o aluno em questão seria irmão de um traficante da Mangueira morto pela polícia e de outro rapaz recentemente afastado da escola. Eles acusaram o menino de, no fim do ano passado, torcer o braço de uma funcionária após ser impedido de entrar na escola fora do horário. O site da Regional III do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio (Sepe-RJ) disponibilizou fotos do vandalismo na escola onde constam depredações e frases de ameaças de morte contra a diretora.

"O mais assustador é que os alunos gritavam ''escracha'' no momento em que a professora era espancada. Eram quase cem pessoas. As agressões verbais são diárias. Evitamos as agressões físicas porque adotamos a tática de não contrariar", lamentou outra educadora. Hoje, os professores da escola tentaram sem sucesso uma audiência na Secretaria Municipal de Educação (SME).

Por meio de nota, a SME disse que determinou "a apuração dos fatos e a garantia à segurança da comunidade escolar". De acordo com a SME, a diretora foi vítima de uma agressão verbal pela mãe de um dos alunos. O menino de 12 anos teria quebrado uma das janelas da escola com uma pedra. No entanto, a versão dos professores que estavam no local é diferente.

Dossiê

"Esta violência é resultado de uma escola que funciona sem inspetores, psicólogo ou assistente social. A prefeitura tenta abafar o caso, mas a escola ficou dois dias sem funcionar e está sem direção, porque a diretora adjunta também pediu afastamento", disse a coordenadora do Sepe-RJ, Susana Gutierrez. Ela afirmou que a entidade prepara um dossiê com diversos casos de agressões contra educadores nas escolas do Rio.

No ano passado, o sindicato divulgou que as escolas do Rio eram "um barril de pólvora". Em resposta, a SME informou hoje que autorizou a nomeação de 300 Agentes Educadores, que serão encaminhados às escolas. Um encontro entre representantes da SME e professores está marcado para a tarde de amanhã.