domingo, 4 de abril de 2010

Entrevista com Álvaro Cabral (candidato 2008)

Publicada na edição 34 do VQ impresso, segue abaixo a entrevista com o então candidato à prefeitura de Valença Álvaro Cabral.


Vida Política
Antes de ingressar na vida política, formei em Medicina em Valença, no início dos anos 80, trabalhei por muitos anos como médico voluntário ao lado da Irmã Albina, com quem fundei uma “farmacinha” popular. Depois, passei a atender em centros espíritas. Participei, ao lado de Rogério Fort, da criação do Lar Mei Mei, em funcionamento até hoje no bairro da Água Fria. Saí a candidato ao cargo de vereador nas eleições de 1988, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PDT), após recusar muitos convites durante quase 10 anos. Na época, já muito próximo de grupo do Luiz Antônio, por questões de fidelidade partidária, me identifiquei totalmente com o estatuto do PDT, em especial no tocante à educação e ao reparo dos direitos das minorias.
Como prefeito, em 1993, fui o primeiro a nomear negros para cargos de secretariado (nas áreas do “Esporte e Lazer”, “Bem Estar Social” e “Educação”) e criei a primeira escola para crianças e jovens especiais, que logo se tornou referência em educação em todo O Estado. Governei todo o meu mandato com a Câmara dos Vereadores contra mim, o que dificultou a implementação de vários projetos – ainda assim conseguir fazer 27 km de rede de água. Tentei romper com as políticas de troca de favores em Valença, ao passar a primeira parte do meu mandato reestruturando e saneando o setor administrativo da Prefeitura. Para acabar com a política “do varejo”, criei a Secretaria de Bem Estar Social, que, através de cadastro e avaliações, garantia à população carente algum tipo de benefício, como cestas básicas. Outros obstáculos à minha gestão foram a inflação, que muito prejudicava os pequenos municípios e o “boicote” de parte do funcionalismo público, ligado a grupos político fortes, como o do ex-prefeito de Valença, Fernando Graça.

Na sua gestão, houve dois episódios muito polêmicos. Um foi de o funcionalismo receber em praça pública e o outro, quando você saiu e o funcionalismo ficou três meses sem receber e a cidade ficou também três meses sem coleta do lixo
O Fernando Graça me falou, quando me chamou a uma conversa particular, que eu não chegaria a seis meses de Governo. Durante os quatro anos do meu mandato, aprendi muito com a política da “oposição” e de “boicote” que fizeram contra mim. Assim que fui eleito, constatei que o Fernando havia contratado em torno de 500 funcionários. Ele fez isso esperando sair vencedor nas urnas e depois de eleito, demitiria o grupo. Mas como eu ganhei as eleições, eu teria que demitir esse pessoal. E o critério? Pensei, tenho que ter contato com essa “turma”, tem que causar um impacto pra todos entenderem que mudou, que o negócio agora seria diferente. E forçar de certa forma as pessoas a se demitirem. Pra pagar esse pessoal e indenizar, uns e outros, não havia dinheiro. Tinha gente de Barra do Piraí que nunca tinha pisado na Prefeitura e recebia por aqui. Com o funcionalismo em praça pública consegui identificar 150 funcionários lotados apenas na Rodoviária. E como fazer pra identificar quem trabalhava e quem não trabalhava? Não foi pra intimidação, mas sim um ato chocante. Porque mais ou menos 20% se demitiram. Assim que eu ganhei, todo mundo brigava por uma vassoura, pra mostrar que trabalhava e não perder o emprego. Na praça, eu fui separando uma turminha que era o time que nunca trabalhou. Muitos disseram que trabalhariam em qualquer função, então eu disse: “Olha aqui, nossa cidade tá feia, suja, desacreditada. Vão começar na Rua dos Mineiros?” Responderam que sim, então começaram a limpar tudo.

E no final do mandato, o que houve?
Quando chegou no final do Governo, quando eu lancei um candidato a reeleição, eu tinha mais de 60% de aceitação. Aí o que acontece, quando eu indiquei o Manoel Macedo, era um empresário, não era um homem do povão, era fraco. Aí o Fernandão voltou a candidato e pelo PSDB! Marcelo Alencar, PSDB do Governo do Estado; no Governo Federal, Fernando Henrique, do PSDB. O Zé Graciosa na época também estava muito ligado ao PSDB e ao Alencar. Então, qual foi a estratégia deles? O ICMS vem do Estado. Fundo de Participação vem do Governo Federal. Os dois são PSDB, nós temos um candidato aqui. No período de eleição, não repassavam o ICMS. Bloqueavam o Fundo.

Levei 3 anos e 9 meses, dobrei o salário do funcionário, tripliquei o salário do professor, investi 37% em Educação quando na verdade tinha que investir 25%. Nunca houve atraso e justamente no período da eleição, pô?! O Marcelo Alencar com a cara cheia de uísque, disse que eu, quando éramos do PDT, não quis sair com ele pro PSDB e que não teria “colher de chá”, ainda mais que ele disse ter um acordo lá com o “Deputado”, que era o “Zé”, porque o Zé tinha interesse em reeleger o Fernando.

Com o ICMS que não vinha, começou a atrasar o funcionalismo, e o Fernando agindo também com o conhecido boicote dos funcionários que permaneceram nos quadros da Prefeitura, fiéis a ele. Dentro do Planejamento, tive que trazer o Esquadrão de Bomba do Rio de Janeiro pra desmontar uma bomba que colocaram no pátio da Prefeitura.. . era boicote pra tudo quanto era lado.... e aí eles começaram, limpeza pública, 5 meses, 4 meses pra terminar o Governo, os funcionários não obedeciam aos secretários. Eu tive que cobrar mais do pessoal que estava do meu lado, que ficaram porque ganhavam mais do que na época do Fernando. Eu criei a imagem da limpeza na cidade e eles queriam, politicamente, queimar a minha imagem. Mas só nos últimos meses ficava claro que havia algo por trás, porque se eu fosse um mal gestor, teria atrasado um ano inteiro ou mais.

Educação em Valença
Hoje nós temos um problema que é um grande desinteresse do jovem, com atraso, evasão, professor desestimulado e falta de conteúdo programático e pedagógico adequado aos jovens e à realidade do mundo. Nós temos uma distorção entre a série e a idade do aluno. Alguns deles têm que trabalhar, aí já ficam desestimulados, porque teve políticas aqui que fecharam escolas na zona rural. É preciso investir para que o aluno se interesse mais pela Educação e o profissional se sentir mais valorizado, melhorando a questão salarial. Eu tive essa visão tanto que eu dobrei o salário do professor no primeiro ano de Governo, mas não fiz politicagem com isso. Reformamos todas as escolas e ainda fiz mais quatro escolas, uma delas para criança especial que ninguém nunca tinha pensado nesse lado.

Resolvi criar uma escola municipal para crianças especiais para obrigar todo prefeito, depois de mim, ter que dar psicólogo, professor, pedagogo, médico, psiquiatra, enfim, toda aquela infra-estrutura que precisa uma criança especial e merenda escolar! Ter estrutura pra funcionar, tanto que eu informatizei, 13, 14 anos atrás. Era uma escola de referência aqui no Estado. Hoje é o contrário, tá sem merenda, sem apoio, a última pintura quem deu fui eu, quando inaugurei.

No campo da educação tem dois grandes nomes que eu admiro: Darcy Ribeiro e Cristóvam Buarque. O Darcy foi um cara que estava à frente da época dele. Se hoje os CIEPs estivessem funcionando em horário integral, teríamos menos jovens nas ruas. Lógico que tem que ter uma infra-estrutura.

Fiz mestrado em educação e fui estudar as políticas na área da educação aqui no país. Minha visão é de que a educação é a mola-mestra. Nos países que dão certo, tudo é a educação, a educação continuada. O professor hoje tem que entender que ele é mais um orientador do estudo, no ato de selecionar o que é bom e o que não bom. É dar a visão dele sobre aquele assunto, contando aí, a sua experiência, que é o que o jovem não tem.

Eu vou criar um site do Professor para que eles possam fazer intercâmbio. Eu acho que pelo menos um dia da semana o professor não teria que dar aula, seria pra ele se capacitar, ter aula à distância. A cada capacitação, o professor tem que ter uma pontuação pra ganhar mais, sempre incentivando. E também aumentar o número de bibliotecas na cidade.

Penso em criar um pós-Ensino Médio Técnico, para levar o jovem para o mercado de trabalho, orientando como ser empreendedor, a usar as novas tecnologias, da internet. Com uma Agência Municipal de Desenvolvimento, que signifique fomento ao desenvolvimento aos pequenos empreendedores, aos produtores e também ao comércio.

Agricultura e o homem do campo
Eu vou criar um programa voltado ao homem do campo. Porque hoje a idade do homem do campo é de 50, 60 anos de idade, porque os jovens estão na cidade. Assim vai falir, vai acabar. Então você tem que colocar o currículo nas escolas rurais, com as questões voltadas ao agronegócio, à questões que são do pequeno produtor, que é a vivência deles lá e pra manter o cara lá. Hoje temos muitas políticas públicas pra isso, tem o PRONAF [Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar], o Plano Safra [da Agricultura Familiar], O PRONAF estimula a complementação de renda pro homem do campo e mexe com a questão da alimentação. O estoque hoje do Brasil é de 1,6 milhão de tonelada de alimento; o Governo do Lula quer jogar pra 9 milhões de toneladas de alimento. Então eles estão estimulando muito isso aí, muito recurso por causa dessa questão.

Eu trouxe um modelo de Agricultura Orgânica para Valença, que ninguém sabia o que era isso. Hoje o mundo inteiro fala nisso, os produtos orgânicos são mais valorizados. Teve Encontro Regional de Agricultura Orgânica, há 15 anos atrás. Eu sabia que ia incomodar o Waldir Moraes, os pecuaristas, que acham que a agricultura não existe, que o mundo não precisa de alimento! O próprio pessoal da pecuária que me criticava não achava solução pro sangue que saía de toda matança do matadouro do Waldir Moraes que poluía o rio da cachoeira de Pentagna. A solução veio da Agricultura Orgânica. Meu secretário foi ao Rio, importou um programa da Igreja Católica no qual se previa o reaproveitamento do sangue como adubo orgânico para a agricultura. Acabou a poluição do rio. Então foi um tapa de luva no pessoal que criticava isso aí.

Saúde
Temos que trazer novas referências para o Município. No Hospital Escola, nós temos vocação para o ensino, temos que ter pesquisa. A minha intenção é trazer Traumo-Ortopedia-Buco-Maxilo, UTI Neonatal, investir na área de medicina vascular e uma outra é trazer medicina hiperbárica, que é tratar várias doenças com oxigênio a 100% em um ambiente enclausurado.

Habitação
O Governo do Estado tem projetos de habitação. Governo Federal, também. Tem o Plano Nacional de Habitação. Tem o Habitar Brasil 1, Habitar Brasil 2, Pró-Moradia, Agro-Vilas e projeto de reforma em casa de família de baixa renda. Eu vou buscar esses recursos todos. Habitar Brasil 1 no Vadinho Fonseca, eu já fiz esse. Montar projetos e ter um político forte, pra liberar, que eu tenho, que é o Senador Crivella. Então, estamos com a faca e o queijo na mão pra poder trazer projetos de moradia.

Ocupação Gisele Lima
Aquilo ali chama-se imbróglio. Imbróglio que o Luiz Antônio e o Fábio Vieira causaram ali. Porque o projeto quem começou fui eu, eu comecei a terraplanagem pra construção de casa popular, montei o projeto, perdi o Governo. O Paulo César (secretário de Obras e engenheiro) levou pro Fernando, que não tocou aquilo. Levou pro Luiz Antônio e ele tocou pra frente. Algumas casas foram implantadas ali, mas de péssima qualidade. Aí a Rosinha e o Garotinho, quando aqui estiveram, disseram que já haviam mandado dinheiro pra lá, mas que não sabiam o que tinha sido feito. Aí o Fábio “autorizou” o pessoal a invadir, veio gente da Baixada Fluminense, um imbróglio, tá um rolo danado, ali tem que fazer projeto de moradia, reavaliar, uns invadiram outros foram sorteados. O déficit habitacional no Município é enorme, a minha idéia é de 300 a 500 casas por ano para uma política habitacional.

Virou um grande ícone de luta pela habitação, não pode ser simplesmente ignorado. Como o prefeito de Rio das Flores falou que aquilo ali virou uma favela, ofendendo as pessoas que estão ali e ofendendo aos moradores da Varginha.

Nenhum comentário: