domingo, 6 de junho de 2010

O alumínio se vai

Por Lúcio Flávio Pinto
Retirado do sítio do Yahoo! Brasil

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Há um quarto de século a Albrás, a oitava maior fábrica de alumínio do mundo, manda metal primário para o Japão, a um preço inferior ao custo que o produto teria se fosse produzido em território japonês. Graças a essa engenharia bem sucedida, o Japão pôde acabar com seu parque industrial sem ficar com problema de suprimento – e ainda teve lucro. Não só por receber um metal mais barato como porque toda a agregação de valor ocorreu no próprio país.

Não é à toa que o local onde ocorre o beneficiamento se desenvolve muito mais do que de onde apenas saem matérias primas e insumos básicos. Tem sido a regra das relações internacionais. Desde que o primeiro lingote foi fundido em Barcarena, a 50 quilômetros de Belém, o Pará sonha em ir além da matéria prima e do produto semi-elaborado. Durante 25 anos teve que se contentar com sua função colonial porque os dois sócios na Albrás, os japoneses e a antiga Companhia Vale do Rio Doce, alegavam que ir além do lingote não era possível. No futuro, talvez. Agora, esse futuro acabou.

No mês passado, a Vale decidiu sair do setor de alumínio, vendendo sua parte – por um valor global de quase US$ 5 bilhões, sendo US$ 1,1 bilhão em dinheiro vivo e o restante em composições – para uma empresa muito menor do que ela, a norueguesa Norsk Hydro. A Hydro, que se estabeleceu na Amazônia nos anos 1990, em posições minoritárias em bauxita e alumina, atuava apenas na ponta da linha da transformação do metal na Noruega. Agora é uma indústria integrada, desde o minério.

A ex-estatal transferiu a propriedade não só da Albrás, mas também da Alunorte, a maior fábrica de alumina do mundo, e uma das maiores minas de bauxita, em Paragominas, tudo no Pará (que é o terceiro maior produtor mundial do minério).

Ao invés de ir para frente, chegando a laminados ou perfilados, a Vale andou para trás. Desnacionalizou um dos maiores polos integrados de um dos metais de maior importância na economia internacional, agora nipo-norueguês. O que sobra das multinacionais, que agora dominam o setor, é um cartel nacional, do grupo paulista Votorantim, da família Ermírio de Moraes.

O mais surpreendente é que um fato desse porte mereceu apenas rápidos registros na grande imprensa nacional e quase nenhuma repercussão junto à opinião pública. Não é só a dimensão do negócio que deveria chamar a atenção de todos. As duas fábricas vendidas tiveram no ano passado faturamento bruto de 4,2 bilhões de reais (o equivalente a quase metade de toda a receita do Pará) e um lucro de R$ 385 milhões. Seus ativos somam R$ 9,4 bilhões, o patrimônio líquido é de R$ 6,5 bilhões e o capital social alcança R$ 4,1 bilhões. Números que não incluem a jazida de bauxita de Paragominas. Com produção de quase 10 milhões de toneladas (que pode durar um século), proporciona receita superior a R$ 400 milhões a cada ano.

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