sábado, 5 de junho de 2010

A intransigência burocrática e o desalento do professor

Contribuição do professor Sergio Murilo ao blog do Valença em Questão

A ordem insensata de duplo trabalho no registro de notas na rede estadual revela claramente o pleno desconhecimento da vida dos mestres pelas instâncias burocráticas. Para quem não tomou conhecimento, a Secretaria de Educação quer que o professor lance sua nota na Internet e simultaneamente as registre nos tradicionais diários de papel.

Porém, quem concebeu tal decisão esqueceu-se da praticidade de tal medida, muitos colegas meus têm dezenas de diários e muitas turmas possuem mais de quarenta alunos. Com certeza, os domingos, feriados serão usados para cumprir essa ordem insensata e insensível, já que durante o período de trabalho é impossível. Agora, pergunto: e a principal função do professor que é bem ensinar, preparar boas aulas (como o Estado quer), preparar e corrigir avaliações que contemplem as diferenças em sua turma para que todo o aluno consiga atingir o nível de aprendizagem exigido? Como fica? A Secretaria de Educação quer que façamos trabalho burocrático que tradicionalmente é da secretaria do colégio. Isso contribui para nosso desalento com quem administra os destinos da rede.

O interessante é o seguinte: o Estado deseja informatizar o registro das notas, que diga-se de passagem já era tempo, e então, cria o diário eletrônico e depois, diz para os professores que ele é instável e portanto, deve-se continuar lançando as notas de forma tradicional para se ter um registro em caso de pane do sistema. Ora, pergunto então: para que informatizar se devemos ter o mesmo trabalho de sempre e, pior, tendo mais uma obrigação? Um banco quando implanta um sistema desse tipo cria um mecanismo de segurança ( o backup), já que os dados registrados são de vital importância! Na educação, tudo é implementado de forma caótica e me parece, sem planejamento e previsão de impactos e, prejudicando os interesses dos mestres. Tomam-se as decisões e pensa-se o seguinte: o funcionário é pago para cumprir ordens e pronto.

Outro ponto questionável foi a forma como as medidas foram anunciadas,pois algumas dúvidas persistem , como por exemplo, quem não lançar as notas no meio eletrônico será punido? É obrigatório continuar preenchendo o diário de papel ? Quando o sistema entrará em plena atividade? Somente quando o sistema estivesse em execução plena, então deveria se criar a obrigatoriedade do registro eletrônico e extinguiriam-se de uma vez por todos os velhos diários e cadernetas. Da forma como está sendo implantado, nós professores, estamos fazendo um serviço que não é nosso e sim, da secretaria da unidade escolar e sem qualquer remuneração pelo trabalho extra. Já que o tempo disponível, o TD, já está sendo cumprido.

Caso houvesse urgência na implantação, então uma das medidas abaixo poderiam ser tomadas (caso em algum momento, o profissional fosse realmente considerado):

. todos os professores assinariam um declaração disponibilizando sua senha para que a secretaria lançasse as notas;

. ou, cada mestre se comprometeria em imprimir a página da Internet com as notas e entregar ou colar nos diários, com a observação de que se está cumprindo as determinações emanadas da portaria que criou tal obrigatoriedade.

Mas, sinto que não há disposição para se chegar a um acordo bom para ambas as partes. Reina a intransigência. Minha preocupação é com o próximo bimestre, tudo irá se repetir e ficaremos inseguros e revoltados com o Estado.E os alunos, também como ficarão?

São determinações como essa tomadas de forma atabalhoada com finalidades obscuras (o ano é eleitoral) que estão levando o magistério público para um acelerado processo de extinção.Que pena!!!!

2 comentários:

Aparecida disse...

Sabemos que é uma tarefa muito dificil de professor, mas colocaremos no lugar do funcionário da secretaria. O coitado trabalha quase sozinho,tem que atender a todos, não tem TD, trabalha 8 horas por dia e ganha igual ao que trabalha 6 horas por dia, não tem direito ao enquadramento por formação, porque não é concursado para professor e sim administrativo, não ganha gratificação para que possa aumentar os seus conhecimentos em estudos. Olhando por outro ângulo vemos que o professor digita de 1 até 10 diários e a secretaria teria que digitar no mínimo 350 diários. Não sou contra o professor, mas também sou a favor do funcionário da secretaria.

Sanger/Regnas disse...

Olá Aparecida. Você tem razão em demonstrar que o trabalho do secretário também está precarizado. Alías, existem escolas no estado que nem pessoal administrativo possui. No entanto, o ato lançar notas na plataforma do governo é um ato administrativo. A solução do nosso problema é o aumento do número dos funcionários na secretaria.
Abraços