terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mutações – Elogio à Preguiça




Franklin Leopoldo e Silva

Tema: Rousseau e os devaneios do caminhante solitário

A conferência começa pelas visões antigas e modernas do trabalho, antes de se apresentar a reflexão sobre as Revêries – Os devaneios de um caminhante solitário, de Rousseau. Nessa obra, as categorias cartesianas são subvertidas: em vez da unidade, a pluralidade; em vez do ponto de partida, os pontos de passagem; em vez da ordem metódica, a divagação; em vez da objetividade, a mais absoluta imanência do sujeito a si mesmo.


Jorge Coli

Tema: Sexo, preguiça, bonheur

A conferência tratará de algumas relações entre preguiça e sexo, algo sobre o paraíso que há no ventre feminino (recordando os quadros que exaltam o sexo e o ventre femininos, como a conhecida tela A origem do mundo, de Courbet, que reproduz uma vagina). Em sequência, também será analisada a novela de Maurice Pons, Rosa ou Le bonheur des hommes.



Maria Rita Kehl

Tema: Boêmia e malandragem: a preguiça na cadência do samba

No texto “Dialética da malandragem”, Antonio Candido sugere que a preguiça (no sentido da ‘malandragem’) é uma forma de resistência à exploração do trabalho. Contudo, o tema da preguiça não será tratado na palestra a partir da literatura, mas sim do samba, ritmo que se tornou expressão da vida dos negros, dos favelados, dos vagabundos e desempregados da cidade do Rio de Janeiro.



Luiz Alberto Oliveira

Tema: Sobre inércia e estabilidade

A partir da década de 1960, na esteira das proposições experimentais da contracultura e da revisão dos pressupostos modernos, coletivos híbridos de arquitetos, artistas e pensadores da cultura formularam propostas transgressivas que, de modo radical, se colocavam em forte oposição ao pragmatismo produtivo e alienado da sociedade. Nesse contexto serão analisados trabalhos de artistas como Hélio Oiticica e Gordon Matta-Clark, e mais recentemente, Hector Zamora.



Marcelo Jasmin

Tema: A moderna experiência do progresso

Quais são as transformações ocorridas no mundo ocidental a partir da constituição da disciplina capitalista do trabalho, com a consequente mudança do conceito de “progresso”? Essas transformações envolveram um sem número de aspectos da vida cotidiana das pessoas, tanto dos camponeses quanto dos habitantes do espaço urbano que viram as suas cidades crescer, em ritmo acelerado, com a implantação de manufaturas e indústrias.



Arthur Nestrovski e José Miguel Wisnik

Tema: Utopia de Itapuã

Nem exatamente show, nem propriamente aula, mas uma mistura original das duas coisas: reunindo os talentos musicais, literários e acadêmicos do compositor, cantor e pianista (e professor da USP) Zé Miguel Wisnik – reconhecido como um dos nomes de ponta da música brasileira – e do compositor, violonista, crítico e escritor (e diretor artístico da Osesp) Arthur Nestrovski, o espetáculo traz uma seleção de canções, de Wisnik e outros autores (incluindo o próprio Nestrovski), entremeadas de conversas sobre vários assuntos. Da formação do cancioneiro brasileiro ao artesanato de letra e música; das potências transformadoras da bossa-nova e do tropicalismo ao debate sobre a “morte da canção”, Wisnik e Nestrovski cantam e contam a nossa música, situada por eles no contexto da cultura brasileira hoje.




João Carlos Salles

Tema: Sobre a virtude da lentidão

Ao operar extensa crítica ao desmedido otimismo de nosso tempo em relação ao progresso e à ciência, Wittgenstein irá falar do trabalho filosófico em termos de negatividade, conservadorismo, pessimismo. Na palestra será, assim, investigado em que medida o pensamento de Wittgenstein, ao confrontar-se com a civilização ocidental, opera um essencial e necessário exercício de crítica filosófica, para a qual não é absurdo pensar a ideia de progresso como uma grande armadilha.




Francis Wolff


A apologia grega da preguiça

A apologia à preguiça no pensamento antigo permite pôr fim a um falso conceito, o do trabalho. A questão será examinada a partir da afirmação de que o trabalho não é um valor, o que afasta a ideia da preguiça como um vício. Dessa maneira, a condenação moral que hoje paira sobre a preguiça não subsiste no pensamento grego, que a vê como repouso, ócio, disponibilidade, independência, liberdade.

Depois da conferência do prof. Francis Wolff serão lançados os livros Mutações – a invenção das crenças (Edições Sesc-SP) e Uma cerveja no dilúvio, de Afonso Henriques Neto, (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2011).



Francisco de Oliveira


Que preguiça

De um ponto de vista marxista pode-se dizer que a venda da força de trabalho ao capital é o que de fato escraviza o homem. Assim, há que se elogiar o preguiçoso, na medida em que ele nada quer com quem pode e deseja comprar sua força de trabalho. O preguiçoso não será aquele que não trabalha, mas quem não trabalha para o capital. Desse modo, o mais autêntico preguiçoso será o criador, o artista, o cientista, aqueles que operam nas margens do capital, contribuindo para desgastá-lo.



Marilena Chaui

Sobre o direito à preguiça

Ao ócio feliz do Paraíso segue-se o sofrimento do trabalho como pena imposta pela justiça divina a toda a humanidade. O laço que ata preguiça e pecado é um nó invisível que prende imagens sociais de escárnio, condenação e medo. Na conferência serão repassados os caminhos históricos que de um lado transformaram a preguiça em dos sete pecados capitais, e de outro desenvolveram a necessidade de uma extrema valorização do trabalho.




José Raimundo Maia Neto


Sócrates, Montaigne e Machado


A ociosidade, no sentido do distanciamento do pragmatismo da vida cotidiana (vida ativa), é frequentemente vista como condição para o exercício pleno do pensamento (vida contemplativa). Em tempos e registros discursivos diferentes, Sócrates, Montaigne e Machado de Assis iluminam aspectos centrais desta temática.


Sergio Paulo Rouanet


Preguiça e ócio na ética iluminista

As categorias de vida ativa e ociosidade têm longa trajetória na modernidade. A primeira abrange as esferas da política e a do trabalho, cujas figuras típicas são o cidadão e o operário. Já a ociosidade abrange as esferas dos que não participam da vida pública, dos que não têm ou perderam sua ocupação e a dos ociosos propriamente ditos. Essas categorias serão vistas dentro do contexto histórico da Ilustração.



Jean-pierre Dupuy


O tempo que nos resta


A questão proposta por Alexis de Tocqueville em relação ao espírito cada vez mais inquieto do cidadão norte-americano em meio ao mais amplo bem-estar material é o ponto de partida da conferência. Assim, devemos pensar o paradoxo do tempo que “se acelera” angustiosamente na modernidade e a previsão do crescimento da produtividade do trabalho que prometia uma sociedade de tempo livre, com livre espaço para o lazer ou mesmo para a preguiça.



Olgária Matos

Tema: Educação para a preguiça

É preciso entender o campo conceitual em que se inscreve a preguiça na contemporaneidade. A preguiça atualiza a questão clássica dos “cuidados de si” e da necessidade de uma “educação para a preguiça”. Da preguiça como prostração, que sofre o vazio do tempo, à preguiça como tranquilidade da alma, buscar-se-á a ideia do preguiçoso como o artesão do vazio.



Francisco Bosco

Tema: O leitor preguiçoso

A conferência terá como pano de fundo a utilização da nomenclatura de Roland Barthes em torno das diferenças entre “textos literários de prazer” e “textos literários de gozo”. Os primeiros – também ditos “clássicos”, ou “legíveis” – proporcionam uma leitura fluente, veloz, desimpedida. Por sua vez, os “textos de gozo” – chamados de “modernos” ou de “vanguarda” -, exigem leitura “aplicada”, em que a lentidão se torna obrigatória.





Vladimir Safatle

Tema: O esgotamento da ética do trabalho

Na conferência serão examinados sinais de esgotamento de certos processos no campo do que se convencionou chamar de “ética do trabalho” nas últimas décadas do séc. XX, com seus desdobramentos psíquicos. Serão revistos os clássicos trabalhos de Max Weber e os impactos sofridos pelo capitalismo após as revoltas de maio de 1968, sendo assim analisadas certas mutações ocorridas, como o novo entendimento da noção de “trabalho alienado”.





Antonio Cicero

Tema: Poesia e preguiça

A partir da palavra de poetas do porte de T. S. Eliot e Baudelaire, e do teórico musical Auguste Barbereau, a conferência discorrerá sobre a constituição de um pensamento poético como oposição ao juízo prático ou cognitivo, uma vez que não é possível fazer um poema – nem é possível fruí-lo – apenas com o intelecto. A esse pensamento poético corresponderá certo estado de preguiça fecunda, uma vez que a poesia irá sempre se comprazer em esbanjar o tempo do poeta e do leitor do poema.





José Miguel Wisnik

Tema: Ócio, labor e obra

Alguns aspectos do romance Macunaíma, de Mário de Andrade, serão analisados para chegar aos textos filosóficos finais de Oswald de Andrade, em que encontramos o horizonte afirmativo de uma conciliação da técnica com o ócio. O contraponto entre os dois autores modernistas brasileiros terá como pano de fundo as reflexões de Hannah Arendt sobre o labor e o trabalho.



Um comentário:

Anônimo disse...

E o ócio produtivo de Domenico de Massi?