sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Libório novo secretário de Cultura e Turismo

Duas boas notícias hoje (19/10). A edição 25 já está pronta, impressa, e amanhã pela manhã já está nos pontos de distribuição. Outra, melhor ainda, é que Libório Costa, o nosso entrevistado da edição 24 e parceiro da Rede Jovem, é o novo secretário de Cultura e Turismo de nossa cidade. Ele assume na segunda 22.

Abaixo vão trechos da entrevista da edição 24. Pra quem não leu, uma ótima oportunidade. Pra quem leu, bom relembrar o que Libório comentou.


Gestão cultural em Valença
Numa região como Valença onde a questão da memória e do acervo histórico são totalmente vazios, onde nunca existiu uma política de formação de acervo, onde não existe um museu municipal, e onde os que se dizem museus não seriam classificados assim por uma análise técnica, nota-se a falta de uma política da gestão cultural.

O poder público tem que apoiar as demandas que vêm da sociedade, mas tem que elencar as prioridades, se não vira balcão de negócios. Por outro lado, o poder público tem que ter políticas públicas de cultura! Existe, dentro da estrutura da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, um departamento de museologia e acervo (ou coisa assim) e não tem ninguém trabalhando nessa área!

Então, existe um monte de ações a serem implementadas em várias frentes pra formar os acervos da memória valenciana e não existe nenhum trabalho sendo feito, a não ser atitudes isoladas como o pessoal do Diretório Acadêmico de Filosofia da FAA em apoiar o Sr. Sebastião do Museu Ferroviário. Valença está fazendo 200 anos de freguesia, 150 anos de cidade, 165 anos de município e não se vê no horizonte nenhuma preocupação em se trabalhar a memória e identidade! É complicado! Um povo que não preserva sua história, não vive o presente e não constrói o futuro. Se você não tem uma visão crítica do passado pra construir sua identidade no presente, você não irá construir futuro nenhum!

Essa tão falada crise que Valença vive é função de falta de identidade, da falta de reconhecer e valorizar a cultura da população. Na política, predomina a visão coronelista, tratando o povo como gado, não como sujeito de transformação e de objeto da democracia substantiva. E, por outro lado, Valença com um território enorme, uma economia fraca, e uma das piores distribuições do PIB no Estado do Rio, está partida.

Valença está partida entre dois coronéis. Não existe unidade na diversidade. O povo, ao mesmo tempo que é vítima se vitimiza, e acaba criando uma situação de alimentação da sua própria desgraça, pois ele não consegue enxergar que enquanto se contentar em ser objeto da democracia formal, não irá construir sua cidadania, não conseguirá se mobilizar para transformar.

O Paulo Roberto Figueira escreveu sobre a questão da mobilização e que Valença vive uma crise e isso é unânime. Não existe perspectiva no momento: é unânime. A gente chega a conclusão que a velha mobilização é a única saída pra Valença. Mas como mobilizar? Essa é a questão.

Fórum Municipal de Cultura
Estamos vivendo uma revolução silenciosa no Brasil que é provocada pelas políticas públicas do Ministério da Cultura: a rede Cultura Viva, inclusão digital, os Pontos de Cultura. Essas iniciativas - sejam de ONG´s, mídia comunitária, o Hip Hop, a Capoeira – possibilitam as pessoas a construírem suas cidadanias através de ações solidárias. Então, acho que Valença está precisando passar por isso. Vencer essa cultura da cidade partida, da fofoca da Rua dos Mineiros.

Daí entra a questão dos Fóruns - a gestão democrática da cidade – que é um processo em que Valença está atrasada há anos! As pessoas se mobilizam para conquistarem sua cidadania, deixarem de ser objeto para serem sujeito de sua história, aprenderem a falar e serem ouvidas, e formularem políticas para a cidade.

Qualquer governo que assuma o poder tem que entender que eles estão ali para implementarem políticas nas diversas áreas que estejam em ressonância com o que a população quer! Os fóruns são pra isso. Ainda mais numa cidade como a nossa, onde existem alguns Conselhos Municipais, mas a maioria não está instalada, os fóruns servem para esta ligação entre poder público e sociedade. Exemplo seria um Fórum de Educação para aproximar escola e comunidade, ouvir se está se aproximando dos anseios da comunidade, se está atendendo as demandas daquele local.

Numa cidade onde não há equipamentos culturais, as escolas são espaços para trabalhar oficinas artísticas, oficinas de memórias, os jovens entrevistando os mais velhos, recuperar as histórias que estão espalhadas e perdidas pelas periferias, principalmente após o fim da estrada de ferro, quando a população urbana cresceu absurdamente vinda do interior do município, de Santa Rita de Jacutinda, Rio Preto etc. Toda essa cultura rural ainda com traços fortes de afro-descendentes, uma arqueologia humana a ser feita em Valença incrível! O apagamento da história do índio em Valença intencionalmente, encontrar os remanescentes dos Coroados que existem por aí. Tem muito trabalho.

Precisamos criar a cultura da unidade dentro dos seguimentos dos produtores culturais, das bandas de rock, dos mestres de Folia de Reis, do pessoal das escolas de samba, dos grupos de capoeira, artesãos, poetas, seresteiros, pessoal de teatro e por aí vai, e partir para o que une e deixar de lado o que diverge, para montarmos uma rede maior, que é o Fórum Municipal de Cultura e o Conselho Municipal de Cultura.

As pessoas precisam saber o que elas realmente querem e precisam, fazerem seus autodiagnósticos, e daí partirem para a discussão nestes fóruns e cobrarem seus direitos culturais, que estão na Constituição, e formularem políticas públicas de cultura para Valença. Não é apoio nem favor, é direito. Chega de política de evento pra gente bater palma e o artista voltar pra sua cidade.

Onde está o apoio para o surgimento de novos talentos locais. Será que se a Rosinha nascesse hoje ela teria espaços como teve na Rádio Clube de Valença e fazendo programas de auditório? Se ela nascesse hoje ela seria a Rosinha de Valença que foi? Quantos talentos estão espalhados pela cidade e não têm oportunidade de se expressar, de evoluírem nos seus fazeres artísticos.

Valença pode ser um grande centro de indústria criativa, basta querer! O momento de crise é o momento de surgirem as idéias. O Fórum Municipal de Cultura, e os outros fóruns, são os espaços onde as diferentes idéias se unem para a construção de uma plataforma conjunta, que atenda a essa diversidade cultural. Não existe receita de bolo para Valença, o que precisamos é mobilizar para o encontro.

5 comentários:

Fael disse...

Bem, fiquei muito feliz em saber que o Libório será o novo secretário de cultura. Primeiro, porque ele sempre mostrou ter muito conhecimento de causa, o que tornaria um grande desperdício para nossa cidade se ele não estivesse em um cargo que tenha poderes para decidir sobre o assunto que tanto conhecesse. Sengundo, porque ele sempre se mostrou disposto a pensar a cidade longe deste modelo de cultura elitista que a tanto tem prevalecido em nossa cidade. E isso faz dele um companheiro da rede jovem na construção de um novo modelo de gestão em nossa cidade.

Parabéns Libório!

Bebeto disse...

Grande Fael. Escreveu grande parte do que ia publicar.

Só gostaria de acrescentar uma coisa: não querendo fazer do Libório o "cavaleiro da esperança cultural". Mas, sem dúvida, a posse dele representa a oportunidade que há tanto tempo a sociedade civil organizada - principalmente em movimentos sociais - esperava para mostrar como se realiza a gestão de políticas públicas pautadas em ouvir o coletivo.

Ontem, fiquei 30min no celular com ele (nem quero ver a minha conta), e realmente é incendiário esse Libório! Está sem dormir(eu tb fiquei) já planejando o que fazer durante este 1 ano de mandato (espero que o próximo governo o mantenha no cargo).

De uma coisa tenho certeza: a política cultural existente até hoje em Valença, pautada nas instituições de sempre e na política do pão-e-circo, foi pra debaixo do tapete.

Chegou a hora dos Fóruns e Conselho de Cultura, da catalogação de nosso inventário material e imaterial, de mostrar a riqueza guardada em nossa periferia.

Viva Libório! Mas não esqueçamos de fazer nossa parte, que aliás, não pode ser pequena neste tempo.

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Uhuuuuuu

. disse...

Acho que é consenso que o Libório é o nome certo para esse cargo.

Fiquei muito feliz de saber da noticia assim como todos. Mas é como o Bebeto falou ai em cima, não podemos achar o ele vai ser o salvador da pátria e que as coisas vão se transformar de uma hora para outra.

Mais do que nunca precisamos trabalhar em conjunto, motivar a sociedade a participar de debates, estarmos abertos a ajuda-lo, porque agora sabemos que teremos apoio do setor publico na área cultural. E sempre trabalhando juntos, porque juntos somos fortes!

Vitor Castro disse...

É, como todos (pelo menos os que se manifestaram), estou feliz e muito otimista com a situação. Mas esse otimismo não exclui a preocupação: nosso amigo vai ter muito mais problemas e dificuldades pela frente do que talvez imaginemos.

Mas bom saber também (bom pra gente e bom pra ele) que estamos aí para colaborar com Libório no que for preciso nesse difíicil papel que ele agora ocupa. Difícil principalmente porque sabemos que a pasta da cultura em Valença tem (?) recursos parcos, o que inviabiliza maioria das coisas.

Ao mesmo tempo já fizemos um bocado de coisa sem recurso algum, algumas dessas coisas muito legais. Então é unir forças.

Abraços otimistas

Anônimo disse...

Todos nós devemos aproveitar esse imenso espaço que nos foi aberto. Chegou o momento da experimentação, de colocar em prática nossos planos e objetivos. Tolo é aquele que não faz nada por só poder fazer um pouco.
Essa nova etapa da vida cultural deve ser escrita por todos nós que pensamos e fazemos cultura em Valença. Já não há espaço para quem não tem alteridade. Arregacemos nossas mangas a LUTA se INICIA.