terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A água, Valença e o futuro

Em tempos de discussão – da maior relevância – sobre a concessão da gestão do sistema de água e esgoto de nossa cidade, abre-se a porta para o debate – tão relevante quanto – sobre o nosso futuro em relação ao abastecimento de água em todo o mundo. Estudos mostram que 1 bilhão de pessoas já não têm acesso à água de boa qualidade e 2,6 bilhões não dispõem de saneamento adequado.

Esses estudos só revigoram a importância desse duelo travado entre poder público e sociedade civil. De um lado, a sociedade exigindo sua participação na discussão da concessão de um bem público durante as próximas três décadas. De outro, a prefeitura passando por cima do Plano Diretor Participativo de Valença, elaborado com apoio popular. As confusões do governo Fábio Vieira nesse processo foram reafirmadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, que deu parecer favorável à suspensão, e pelo Tribunal de Justiça, que julgou ser necessário uma análise mais elaborada.

Mas não apenas as irregularidades do processo são peças importantes. A concessão se dará para os próximos 30 anos. Em se tratando da água, um bem essencial à sobrevivência e limitado, é preciso ainda pensar em medidas para se evitar o desperdício. Em qualquer acordo/concessão de água, cada vez se faz mais necessário prerrogativas de um uso racional. Por exemplo, com a água perdida diariamente nas capitais brasileiras, seria suficiente abastecer 38 milhões de pessoas por dia, ou seja, o consumo de água suficiente para mais de 543 Valenças é desperdiçado diariamente em nosso país.

Felizmente existem exemplos positivos. Tóquio, no Japão, desde 1901 se preocupa com essa questão, quando iniciou o processo de preservação das áreas de mananciais, localizadas nas nascentes dos principais rios japoneses (Tama, Tore e Ara) e abrigadas por uma imensa floresta. A manutenção da floresta garante o fornecimento de água para o maior aglomerado urbano do mundo, com 31 milhões de pessoas, que consomem 6,23 bilhões de litros de água por dia.

Em Nova Iorque também há essa preocupação. Desde a década de 1990 iniciaram um processo de uso racional da água e de proteção das bacias hidrográficas, forma mais econômica do que investir no tratamento de água já utilizada. Como exemplo para o consumo racional, foi realizado um programa de subsídios para a substituição de todas as válvulas de descarga das residências, diminuindo o consumo.

Por outro lado, são ações isoladas que sozinhas não alteram o problema como um todo. O Brasil, que possui 12% de toda a água doce da superfície do planeta, é um dos países que mais desperdiça água no mundo. Segundo estudo divulgado no final de 2007 pelo Instituto Socioambiental (ISA), que realizou levantamento da situação do abastecimento público e do saneamento básico nas 27 capitais brasileiras, 45% da água retirada dos mananciais das capitais são desperdiçados em vazamentos, submedições e fraudes. Essa quantidade é suficiente para atender ao consumo diário de 38 milhões de pessoas.

Além da preocupação com o uso racional, o tratamento é outro ponto a ser debatido. Lixo, enchentes, contaminação dos mananciais e água sem tratamento estão diretamente ligadas a doenças como diarréias, dengue, febre tifóide e malária. Doenças que matam milhares por ano, especialmente crianças, transmitidas por água contaminada por esgotos humanos, dejetos animais e lixo. No Brasil, 70% das internações na rede pública de saúde estão relacionadas a doenças transmitidas pela água.

O que está em jogo são as futuras gerações. E esse jogo não será ganho sem o empenho de toda a população (não apenas a valenciana), empenho que vá desde a mudança dos hábitos individuais – como escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira aberta, lavar calçadas – ao enfrentamento coletivo das grandes causas estruturais – como questionar os poderes públicos e privados, que devem dar destinação mais útil a seus recursos e tratar a água com racionalidade. É fundamental que os governantes adotem políticas públicas que promovam a proteção dos mananciais, a ampliação das áreas permeáveis e a diminuição dos desperdícios. Mas para isso acontecer, e temos um exemplo em nosso quintal, é preciso que sejam pressionados pela sociedade.

9 comentários:

Anônimo disse...

Voces falam que estão pressionando o atual poder publico sobre a questão da agua.

Mas eu ainda nao vi nenhuma entrevista com o prefeito ou alguem do governo para saber o que eles tem a falar sobre essas questões, atraves de boas perguntas e questionamentos.

fica ai a sugestão

Vitor Castro disse...

Na verdade, não necessariamente somos "nós" que estamos
"pressionando". Há uma ação popular movida pela sociedade civil contra o prefeito Fábio Vieira, que é um indicativo dessa pressão popular. Além dessa ação, outras iniciativas foram tomadas, como inserir o TCE e o TJ nesse processo.

O que vemos (e falamos) é que não fosse isso, nada seria discutido, infelizmente.

E pressionar não é (só) fazer entrevista. Longe disso. E se o poder público está interessado em falar sobre o tema, tem total abertura dentro deste blog e da publicação impressa, basta se manifestar (isso não vai acontecer? Então mais um exemplo de que temos que pressionar, se não eles nem comentam...).

O próprio jornal Local, com cobertura factual, com repórter na cidade, tem dificuldade de falar com os responsáveis na prefeitura. Quem dirá nós, sem colaborador na cidade durante a semana.

Outra coisa é abrir espaço para conversa pra boi dormir, coisas que são claramente falsas sendo ditas como verdades (não que isso impeça uma entrevista, mas em se tratando de qualidade, pesa na escolha).

Mas a sugestão é boa e muito bem vinda.

Anônimo disse...

Dois pesos, duas medidas! ! !

Isso parece uma desculpa.

Voces nao foram procurar os responsaveis pela ação popular para fazer uma entrevista com eles...

Entao porque tambem nao procuram ouvir o outro lado.

Antes de procurarem ja estam falando que eles nao vao querer falar.

Vitor Castro disse...

Então já que vc parece fazer parte do outro lado, poderia fazer esse intermédio?

Se alguém tem algo para falar, nada mais natural que procurem. Tá certo que essa não é a lógica em Valença, mas tem que mudar.

Em nossa edição temos telefone, email, tudo de fácil acesso para nos encontrarem a qualquer momento, para manifestarem qualquer tipo de interesse.

Como disse, há um problema de estarmos exclusivamente aos finais de semana em Valença, e nem todos.

Você por exemplo parece saber bem disso, e estando do "outro lado", nada mais estranho que não se manifeste.

Coloco "outro lado" entre aspas porque não estamos de um lado ou de outro, como se fosse algo simples. Estamos dando voz a quem não tem dinheiro pra pagar espaço em jornal ou rádio para falar o que bem entende, estamos escutando pessoas que tem um histórico de lutas na cidade.

Quem é sua sugestão para entrevista, além do prefeito?

abraços,

Vitor Castro disse...

Ah, e qual o problema em assinar seu nome, sempre como anônimo...?

Tyler Durden disse...

Ih...tá dificil deste ai se manifestar... Será ele só quer tumultuar??

Mas fica a dica, a prefeitura poderia se manifestar, se não me engano o jornal fecha lá pelo dia 20, não é vitor?

Eu tô em Valença direto, é so me chamar que eu faço a entrevista. Aliás, a única vez que nos chamaram pra uma eu estava lá.

8121-3872, se a prefeitura tiver sem dinheiro, pode ligar a cobrar.

Anônimo disse...

Isso aí!

Anônimo disse...

Meu amigo parece que você não entendeu o que eu disse acima.
Sugeri que vocês procurassem entrevistar os responsáveis por essas atitudes que vocês estão criticando para ouvir o que eles têm a dizer. E entender os motivos deles.

Acredito que eu, assim como tantos outros moradores da cidade tem interesse em ouvi-los. Mas pena que vocês (capilo e samir resende) não pensam assim. E querem que eles venham até vocês para explicar algo que vocês sequer foram perguntar a eles. Chega ser engraçado ver um jornal com essa postura...rs

Realmente é uma pena vocês pensarem assim e não quererem ir buscar de verdade soluções para Valença.

E assim como você disse, eu também não me considero de “lado algum” não. E talvez por isso não possa ajudar você a intermediar essa entrevista. E se estivesse “do lado deles” como você fala, não ia sugerir que vocês fizessem uma entrevista para pressionar eles não acha?

E se você ou vocês não estão na cidade de Valença sempre, sorte de vocês que não tem de enfrentar essa dureza aqui todo dia...Talvez por isso estejam com esse discurso de quem não vive a realidade daqui.

Saudações fraternas

Anônimo disse...

Caro Anônimo, vamos lá, para alguns esclarecimentos, que considero necessários para ti, na tentativa de enriquecer essa discussão.

Primeiro, Capilo é igual a Vitor Monteiro de Castro. É um pseudônimo apenas. Longe de querer esconder o nome.

Segundo, concordo com você em vários pontos. Algumas coisas já foram faladas nas postagens acima, e não vale a pena tentar reiterar. Bom, entendi sim o que disse, e concordo que deveríamos procurar essas pessoas, tentar entrevistá-las, correr atrás, etc. Só que infelizmente não temos estrutura para isso. Seria o ideal.

Segundo você, procuraríamos eles para entender os motivos e versões deles. Ótimo. Mas de alguma forma eles já expõe essas opiniões em outros veículos, inclusive pagando espaço publicitário. Ou seja, eles querem, eles pagam e colocam. Da mesma forma que procuram uma rádio ou um jornal e pagam por esse espaço, podem também nos procurar. Inclusive se se sentiram lesados em algum momento, por algo veiculado no Valença em Questão e/ou neste blog, eles são bem capazes de tomarem o mínimo de iniciativa. Como já fizeram em outras ocasiões. É coisa comum de se fazer. E eles sabem disso, sabem meu telefone, email, endereço, etc. Como já ligaram para se manifestar outras vezes, nada mais natural que continuem fazendo, até porque todas as vezes apuramos o que nos indicaram.

Mas não discordo que poderíamos correr atrás. Só que aqui parece que o interesse é deles. E como não nos procuram, parecem não ter muito o que dizer/esclarecer. Você e outros moradores da cidade com interesse em ouvi-los, e se tem acesso ao Valença em Questão e ao blog, muito provável que tenham acesso aos meios que eles divulgam suas “explicações”.

Uma coisa que me incomodou neste último comentário seu, foi a sua ironia em dizer “Chega ser engraçado ver um jornal com essa postura...rs”. Bom, diferente da maioria dos veículos de comunicação (não só de Valença), não temos pudor nenhum em dizer que fazemos comunicação para uma classe de pessoas determinada. Diferente da prefeitura, que tem estrutura e condições de nos acessar a hora que quiserem, esse nosso público não tem isso, não tem essa liberdade de falar o que quer, o que pensa. Então, diferente de você, não acho nada engraçado essa postura do jornal, acho extremamente coerente e responsável, ele foi pensado para ser assim. Não buscamos a imparcialidade que muitos dizem ter (e ninguém tem, essa é outra discussão), procuramos dar espaço para discutir questões que afetam a maioria da população, população essa que não tem acesso aos espaços onde se dão essas discussões.

Você pode, de forma anônima novamente, argumentar que se quero esclarecer, nada mais correto que escute “os dois lados”. Mas isso já tentei explicar acima. Essa postura não significa que não queremos buscar “soluções verdadeiras” para Valença. Pelo contrário, é uma postura nova, que causa até estranhamento, como o seu. E é natural esse estranhamento: “como esses caras não falam com a prefeitura? Só falam com os outros?” “a prefeitura não se manifesta, não os procura e eles deixam isso assim?” “como não escutam os dois lados” “etc.”. Estamos acostumados há muitos anos, muitos antes de eu nascer, com essa cultura de que a versão oficial vem de quem está dirigindo a situação. Muito graças ao Valença em Questão, algumas coisas estão mudando. Muito devagar, muito poucas pessoas, mas é possível ver uma nova realidade num horizonte talvez não tão longe.

Mas a principal discordância é em relação à última parte de sua mensagem, quando diz que temos sorte de não estar em Valença, e por isso teríamos esse discurso de quem na vive a realidade da cidade. Nesse trecho só concordo que temos um discurso e uma proposta bem diferente de quem vive a realidade de Valença. E isso é o mais positivo dessa mobilização. Talvez graças a uma nova cultura encontrada no decorrer de nossas vidas, sendo obrigado a sair de Valença para estudar e trabalhar, que conseguimos ver que embora a realidade de Valença seja muito ruim, é possível alterar e melhorar essa realidade “dura de todo dia”.

Abraço,
Vitor (ou Capilo)

PS: julguei (até porque você faz questão de não se identificar) que fizesse parte “do outro lado” porque afirmou, sem antes saber de nós, que não procuramos ninguém do poder público para se manifestar. Para ter tanta certeza (inclusive errada), só mesmo tendo acesso muito próximo a certas pessoas e perguntando diretamente.

PS2: Muito provavelmente por esse debate dentro do blog, temos uma entrevista agendada para o próximo dia 20 de janeiro com uma pessoa que pode tentar esclarecer um pouco a situação, e essa pessoa se encontra “do outro lado”...