quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A 'reporcagem' da Veja sobre o MST

Por Altamiro Borges, do Fazendo Média

Os editores da revista Veja são de um cinismo depravado. Na edição desta semana, este panfleto da direita colonizada estampou mais uma capa com ataques ao MST. A manchete provocadora: “Abrimos o cofre do M$T”. A foto montagem: um boné da organização com dólares e reais. A chamada: “Como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra desvia dinheiro público e verbas estrangeiras para cometer seus crimes”. Na “reporcagem” interna, nenhuma entrevista com lideranças dos sem-terra e nenhuma visita às escolas e assentamentos produtivos do MST.

Como arapongas ilegais, ela se jacta de que “teve acesso às movimentações bancárias de quatro entidades ligadas aos sem-terra. Elas revelam como o governo e organizações internacionais acabam financiando as atividades criminosas do movimento”. As quatro entidades – Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab), Centro de Formação e Pesquisas Contestado (Cepatec) e Instituto Técnico de Estudos Agrários e Cooperativismo (Itac) – “receberam 43 milhões de reais em convênios com o governo entre 2003 e 2007”, resmunga a revista da Editora Abril, que sempre saqueou os cofres públicos.

Uma “reporcagem” interesseira
O novo ataque ao MST não é gratuito. Ele ocorre poucos dias após a jornada nacional de luta por mais verbas para a reforma agrária e pela atualização dos índices de produtividade, usados como parâmetros legais para a desapropriação de terras. Diante da sinalização do governo Lula de que atenderia as justas reivindicações, a revista Veja resolveu sair em defesa dos latifundiários e dos barões do agronegócio. Não há nenhuma investigação jornalística sobre as premiadas iniciativas educativas e sociais do MST. Apenas opiniões preconceituosas para criminalizar o movimento. Seu objetivo é asfixiar financeiramente o MST, fragilizando a heróica luta pela reforma agrária.

Daí a “reporcagem” esbravejar, num tom fascistóide, que “o MST é movido por dinheiro, muito dinheiro, captado basicamente dos cofres públicos e junto às entidades internacionais. Ao ocupar ministérios, invadir fazendas, patrocinar um confronto com a polícia, o MST o faz com dinheiro de impostos pagos pelos brasileiros e com o auxílio de estrangeiros que não deveriam se imiscuir em assuntos do país”. A matéria também serve de palanque para o tucano José Serra. “Aliados históricos do PT, os sem-terra encontraram no governo Lula uma fonte inesgotável de recursos para subsidiar suas atividades”. E ainda estimula intrigas. “O governo Lula agora experimenta o gosto da chantagem de uma organização bandida que cresceu sob seus auspícios”.

Resposta corajosa do MST
O MST já respondeu com altivez às provocações. “Não há nenhuma novidade na postura política e ideológica desses veículos, que fazem parte da classe dominante e defendem os interesses do capital financeiro, dos bancos, do agronegócio e do latifúndio, virando de costas para os problemas estruturais da sociedade e para as dificuldades do povo brasileiro. Desesperados, tentam requentar velhas teses de que o movimento vive à custa de dinheiro público. Aliás, esses ataques vêm justamente de empresas que vivem de propaganda e de recursos públicos ou que são suspeitas de benefícios em licitações do governo de São Paulo, como a Editora Abril”.

Quanto aos ataques, a nota é elucidativa. “Em relação às entidades que atuam nos assentamentos de reforma agrária, que são centenas trabalhando em todo o país, defendemos a legitimidade dos convênios com os governos federal e estaduais e acreditamos na lisura do trabalho realizado. Essas entidades estão devidamente habilitadas nos órgãos públicos, são fiscalizadas e, inclusive, sofrem perseguições políticas do TCU (Tribunal de Contas da União), controlado atualmente por filiados do PSDB e DEM. Elas desenvolvem projetos de assistência técnica, alfabetização de adultos, capacitação, educação e saúde em assentamentos rurais, que são um direito dos assentados e um dever do Estado, de acordo com a Constituição”.

Um negócio de 719 milhões de reais
Em mais este ataque colérico, a revista Veja prova que é imoral e cínica. Tudo que publica serve a objetivos políticos precisos, mas embalados na manipulação jornalística. De fato, muita coisa precisa ser investigada no país. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a mídia tornou-se uma urgência. No caso da Editora Abril, que condena o “auxílio de estrangeiros que se imiscuem em assuntos do país”, seria útil averiguar sua própria origem, quando o empresário estadunidense Victor Civita se mudou para São Paulo, em 1949, trazendo na bagagem um sinistro acordo com a Disney. Não é para menos que muitos o acusaram de “agente do império” e de servidor da CIA.

Quanto aos recursos públicos, seria necessário apurar as compras milionárias do governo tucano de José Serra das publicações da Abril. O Ministério Público Federal inclusive já abriu processo para investigar o caso suspeito. No embalo, poderia averiguar as recentes denúncias do jornalista Carlos Lopes, editor do jornal Hora do Povo. No artigo intitulado “O assalto do grupo Abril aos cofres públicos na venda de livros do MEC”, com base em dados do Portal da Transparência, ele mostra que “nos últimos cinco anos, o Ministério da Educação repassou ao grupo Abril a quantia de R$ 719.630.139,55 para compra de livros didáticos. Foi o maior repasse de recursos públicos destinados a livros didáticos dentre todos os grupos editoriais do país”.

A urgência da CPI da mídia
“Nenhum outro recebeu, nesse período, tanto dinheiro do MEC. Desde 2004, o grupo da Veja ficou com mais de um quinto dos recursos (22,45%) do MEC para compra de livros didáticos… O espantoso é que até 2004 o grupo Civita não atuava no setor de livros didáticos. Neste ano, o grupo adquiriu duas editoras – a Ática e a Scipione. Por que essa súbita decisão de passar a explorar os cofres públicos com uma inundação de livros didáticos? Evidentemente, porque existe muito dinheiro nos cofres públicos… O MEC, infelizmente, está adotando uma política de fornecer dinheiro público para que o Civita sustente o seu panfleto – a revista Veja”.

“Exatamente essa malta, cínica e pendurada no dinheiro público, acusa o MST de ter recebido, de 2003 a 2007, R$ 47 milhões em alguns convênios com o governo federal… Já o Civita recebeu só do MEC, entre 2004 e 2008, R$ 719 milhões, isto é, 17 vezes mais do que o MST – e não foi para trabalhar, mas para empurrar livros didáticos duvidosos, e a preço de ouro”, critica Carlos Lopes. Como se observa, uma CPI da mídia é urgente.

10 comentários:

Anônimo disse...

A farra que o MST faz com dinheiro público é impressionante.
Uma séria como a do TCE deve ser aberta pela Câmara Federal para que esses baderneiros corruptos sejam punidos.
Parabéns a veja pela brilhante reportagem.

Parmênides dos tempos modernos disse...

Veja, não veja, pois veja é não-veja.

Anônimo disse...

Gostaria de saber sobre o posicionamento do Valença em Questao com relação à Revista Veja.
Quando estourou o caso Graciosa, vocês publicaram a matéria da referida revista na íntegra. Agora, que ela condena o MST, vocês se referem com jeito pejorativo.
Acho que nós, que acompanhamos as noticias e sabemos da idoneidade do blog, merecemos um esclarecimento.

Com todo respeito,

Selma B. Silveira

Um comentador do eleata disse...

Veja Selma, não sou do blog, mas não está claro que a veja para o blog é o não-veja, que o senhor Parmênides moderno afirmou? Veja e conclua.

Parmênides de Eléia disse...

Veja é não-veja,não-veja é veja.

Um interrogador disse...

Senhor Parmênides de Eléa, para efeito de distinção não seria mais correto afirmar que: Veja é não-veja e não-Veja é veja?

As Musas parmenídicas disse...

Para efeito de distinção nós que guiamos Parmênides para o caminho do veja confirmamos que você faz bem em deixar claro a distinção entre Veja e veja. Afinal, Veja é não-veja e não-Veja é veja.

Os deuses agradecem seu esclarecimento caro interrogador.

Sandra Barbosa/ RJ disse...

rs...muito boa essa Parmênides de Eléia e companhia: Veja é não-veja e não-Veja é veja. O comentário mais interessante desta postagem. Vale a pena até fazer uma camisa com essa frase, seria uma maneira super criativa de combater essa revista que nos impede de ver a realidade.

Por isso, se quiser ver a realidade, pessoal, não-Veja. Afinal, não-Veja é o que nos permite realmente ver, rs.

Até e que as musas da Grécia antiga continuem iluminando vocês.

Obs: Tô super curiosa para saber quem são os autores destes comentários.

Éder Luis - professor do Estado disse...

Putzzzz...que fodaaa!!!

Muito show essa idéia mesmo. Dá até pra explicar Parmênides a partir desta relação entre ser = não-Veja e não-ser = Veja. Parmênides diz: "o ser é, o não-ser não é", querendo mostrar que o ser é aquilo que é, isto é, o verdadeiro; o não-ser aquilo que não é, ou seja, o falso, o que pertence a opinião. Sendo assim, O ser=não-Veja, visto que o contrário da revista Veja é o verdadeiro; o não-ser=Veja, visto que tudo que vem da revista Veja é falso.

hauhuahuahuahauhauahuah...muito bom, vamos ensinar Parmênides fazendo a relação entre o ser parmenídico e o não-Veja.

Estrangeiro - o parricida (matou o mestre Parmênides) disse...

Eu sou mais Platão, que mostrou que o ser é e não é em um certo sentido. Pois algumas vezes a Veja informou coisas verídicas, como o caso do José Graciosa. Neste momento a Veja que é o não-veja se tornou veja, visto que disse a verdade. Mas na mairoria das vezes a Veja é o não-ser (isto é, o falso), como é o caso desta reportagem que ela fez sobre o MST.