domingo, 21 de fevereiro de 2010

Choque de ordem?

No final do mês de janeiro, Valença foi palco de uma operação da Polícia Federal, que apreendeu dezenas de máquinas caça-níqueis. No mesmo período, uma operação da Prefeitura para impedir o trânsito de motocicletas e motociclistas sem documentação na cidade, dentro do planejado e tão falado “choque de ordem” deram ares de “ordem” na cidade. Em editorial do Jornal Local (de 4 de fevereiro), havia lá um estímulo à essas ações: “Com pulso forte, determinação e ordem, quem sabe o município entra no eixo!”.


De imediato lembrei de um documentário, que pro acaso assisti novamente este mês. Falo do Notícias de uma Guerra Particular, que trata das ações policiais no Rio de Janeiro. Em determinado momento do vídeo o então delegado da Polícia Civil Hélio Luz diz que era fácil acabar com a corrupção na polícia. E citou um exemplo, de quando foi delegado de uma cidade pequena, no interior do Rio. Dizia ele que eram 30 policiais, e que não havia corrupção. A população se animou, os crimes diminuindo, quase chegando a zero. Nada de roubo, nada de mortes. E quando haviam, os responsáveis eram punidos.

Num belo dia, continua Hélio Luz, um segurança bate em um adolescente que roubava cachaça em um supermercado. A polícia autua tanto o jovem, por roubo, quanto o segurança, por agressão. Protestos contra a polícia, que não deveria autuar o segurança, que estava fazendo o serviço dele e que o garoto era um ladrão e merecia mesmo apanhar. Desde então a polícia já não era mais tão bem vista na cidade.

A derrocada final da polícia foi quando um fazendeiro local mata um de seus funcionários e a polícia autua e prende esse fazendeiro. Mais protestos. Como um fazendeiro, integrante da elite da cidade, poderia ser preso? Ele matou apenas um funcionário, nada demais...

Lembrei dessa história especialmente no caso das apreensões de motocicletas em Valença. A ordem aqui foi muito bem aceita, os jovens que não sabem pilotar um veículo desses foram punidos, suas motos apreendidas, os comerciantes que mantinham funcionários sem carteira fazendo entregas de motos ou que não pagaram o IPVA também foram punidos. Até aí, nada de mais. Tudo dentro do previsto na legislação e que, é verdade, em Valença há tempos passa a olhos vistos sem serem incomodados.

A pergunta que comecei a me fazer é até quando esse tipo de operação vai continuar? Neste final de semana, em conversa com um amigo aposentado, ele disse que “um monte de moto foi apreendida” e que “tinha que fazer isso mesmo. A gente que anda certinho, paga tudo, gasta dinheiro com IPVA, regulariza o kit gás, renova carteira, e quem não faz nada disso não é punido?”, indagava ele. Mas sua indignação não parou, disse também que “um amigo” dele escutou uma história de que essa operação deveria ser feita também com os carros, que em quantidade temos muito mais irregulares (tanto veículos como motoristas) do que motos, mas que “uma pessoa influente”, que pretende sair candidata a deputado, disse que a fiscalização dos carros não poderia sair agora, antes das eleições, que dificultaria sua eleição.

Não disse nomes, e nem procurei saber de quem se tratava. Aquilo ali bastava para que eu percebesse, assim como o Hélio Luz vivenciou e explicou no documentário, que enquanto não houver justiça plena, para todos, de forma igual, vamos viver de fragmentos de justiça para calar a população. “Olha só, fiscalizamos as motos, já é muita coisa”. Fiscalizaram e só. Nada mais do que a obrigação. Enquanto acharmos que a obrigação deles for um favor para a população, e enquanto a obrigação deles for apenas de interesse deles, vamos continuar desse jeito. Um choquezinho aqui, outro ali. E que fiquem todos satisfeitos.
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PS: há tempos não entrava no google analitycs, para ver como andava o acesso ao blog. Só pra se ter ideia, na segunda-feira de carnaval, dia 15 de fevereiro, foram 183 visitas. Do dia 1º ao dia 20 de fevereiro foram 2081 visitas. Prum mês de carnaval, uma média de 104 visitas diárias não é nada mau.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olha, acho extremamente errado o fato de só fiscalizarem as motos, mas ao analisar o que diz o texto, verifico que os interesses de polítiqueiros é apenas mais um, porém, gostaria de citar mais um problema na fiscalização de automóveis, o qual entendo ser gravíssimo. Ocoore que no que se refere aos automóveis, existe, com certeza, outro interesse só que das autoridades policiais, eis que os mesmos, e nesse ponto digo que vários, tem automóveis irregulares, com busca e apreensão, chamados de "FINAN", uns ne São Paulo, outros do Rio, sendo que tais fatos é de conhecimento dos munícipes desta cidade. Sendo assim, porque que eles iriam fiscalizar, sendo que aí iam começar a cobrar dos mesmos (denúncias), e eles iam perder a famosa "MORDOMIA", a qual é latente em nossa cidade.


Abraços

Anônimo disse...

se fiscalizassem automóveis em valença, o trânsito melhoraria sensivelmente. tô pra dizer que mais da metade dos carros de valença são irregulares ou ilegais mesmo, como aponta o anônimo acima.