sexta-feira, 11 de julho de 2008

porquê...

Faz uma semana e um dia. Vinha do Rio pra Valença. Era umas cinco da tarde e em frente à rodoviária e uma pedra bate no carro. Fiquei puto, afinal o carro é novo, e jogar pedra no carro não é brincadeira.

Parei o carro, mais no impulso de dar um esporro em quem tacou a pedra, que isso num tinha graça nenhuma. Mas pra minha ingrata surpresa, quem eu imaginei que tinha tacado a pedra tinha levado a pedrada. Eram duas crianças, e quando parei o carro um gritava com o ouro que chorava. Imaginei – o mais velho está brigando com o mais novo porque ele tacou a pedra no carro. Antes fosse.

Ele estava consolando o mais novo que estava com a cabeça rachada com a pedrada, se esvaindo em sangue. De onde a pedra saiu não tenho (nem eles) a menor idéia. Mas que ela existiu, existiu. O Welington que o diga.

Coloco os dois irmãos dentro do carro (Welington e Uanderson – isso mesmo, com U) e vamos pro hospital. Entra no primeiro: - é no outro. Chega no outro: - é ali do lado. Chega ali do lado: quem é o responsável pela criança. - Ah, atende a criança e depois a gente conversa.

O irmão mais velho (de 11 anos, o mais novo tem 10) fez comigo a ficha, com nome, idade, endereço. Aí tinha que avisar alguém da família. Ele ficou com medo, não queria avisar a avó, que ficaria desesperada. Poderia falar com uma tia dele, que seria melhor. Dou o telefone, ele liga, mas fala que não chegou ainda porque o ônibus atrasou, mas estava chegando. Ele ficou com medo! E eu queria que ele falasse com alguém ainda (11 anos, eu com 26, e nem sou parente da criança, estava meio desnorteado).

Aí o moleque tinha que ficar pelo menos umas duas horas em observação. Num dá pra falar que o ônibus atrasou. E pra sair precisava de um responsável. – Vamos lá buscar sua mãe, alguém, pra vir pra cá Uanderson. Fomos.

No caminho resolvi ligar pra casa dele pra pré-avisar, pra pessoa se arrumar pra ir pro hospital. Falei calmo, não falei que o corte era na cabeça. Chequei lá e tinha umas seis pessoas na porta da casa – em João Bonito. Pessoal chorando e agradecendo.

Deixei ela no hospital com ele, tudo ok, tomou lá os pontos, estava mais calmo (no carro, indo pro hospital, ele gritava “não me deixa morrer, não me deixa morrer!”). Ela é tia dele. A mãe, descobri no caminho, morreu há menos de cinco meses (completa cinco meses dia 16 de julho agora), infarto do nada. Do pai não perguntei. A avó dos garotos até hoje não se conformou com a morte da filha.

Mas falei isso tudo porque fiquei encucado. Porque cargas d´água uma pedra vai cair na cabeça de um garoto, de 10 anos, que estuda de manhã numa escola e à tarde em outra porque num tem mais a mãe pra cuidar deles, mora longe das escolas, são super pobres e simples, tem uma família que pareceu no mínimo carinhosa com eles... porque que essa criança tem que passar por esse susto... Não sei.

No mesmo dia, mais à noite, liguei pra casa do Welington e estava tudo bem. Tirou raio-x, ficou sob observação durante uma hora e estava tudo ok. Foi só um susto.

5 comentários:

Bebeto disse...

Se esvaziando ou esvaindo em sangue?

Vitor Castro disse...

corrigido. mas digo que nem estava errado, mas exagerado...

Tyler Durden disse...

Nada a ver mesmo!

Depois ainda reclamam do meu niilismo...hunpf!

Anônimo disse...

olá pessoas, gostaria de obter o email do valença em quetão.

um forte abraço pros amig@s
e grande e belo feito (VQ)!

Anônimo disse...

eita não deixei email
lá vai:

lucianetamba@gmail.com

até...