Bárbara Borges
Com o objetivo de testar o cardápio de seu delivery, ver se as pessoas o estavam lendo, que o cozinheiro e proprietário Fernando Monção iniciou, em um pequeno canto, uma campanha para doação de livros. Pelo grande sucesso do estabelecimento a ideia teve boa aceitação e a arrecadação começou a acontecer. Entusiasmado, Monção resolveu que faria uma biblioteca itinerante com o nome de "Livro Sem Fronteiras" e levou o projeto à frente. Passou a pesquisar sobre outros projetos paralelos na Internet e logo se deparou com o chamado "Livro Errante", sob o comando de Regina Porto, de Recife (PE). Tem a proposta de se "esquecer" um livro em um local público, para que outras pessoas possam lê-lo e posteriormente "esquecer" em outro local.
- Ela incentivou muito o "Livro Sem Fronteiras", não me deixou desanimar - conta. Auxiliado por um site de relacionamentos, a ideia foi sendo mais bem divulgada, e para lugares mais distantes dentro do país. A partir desse impulso, conseguiram montar um acervo inicial de quase 1,2 mil livros - hoje esse número passa de cinco mil.
O projeto começou a tomar grandes proporções a partir de uma conversa informal com o recém formado em arquitetura e urbanismo Germano Brito, que a partir de uma ideia despretensiosa se propôs a escolher e criar um local, destinado a se tornar abrigo para os livros.
- A intenção já era de ser na Praça 15 de Novembro no "Jardim de Baixo", e tinha pensado em alguma tenda com um baú. Quando cheguei tive logo a ideia de uma casa na árvore, algo misturada à natureza - explica Brito, acrescentando que precisava de algum projeto que não incomodasse a natureza, já que o Jardim é tombado pelo Patrimônio Histórico e de responsabilidade do Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), que vem avaliando cada ponto para liberar de vez a obra.
- Escolhi algo móvel, efêmero. Como se a biblioteca e os livros abraçassem a árvore, mas sem afetar na estrutura da planta - comenta.
A biblioteca tem previsão de ficar pronta por volta do mês de outubro, terá um acervo de cerca de 800 livros, sem qualquer organização, que serão encapados com a logo do projeto, "para legitimar o livro, lembrar que é do projeto", e que ficarão sob os cuidados da própria população. Conta no acervo também, cerca de 20 obras em braile cedidas pelo Instituto Benjamin Constant (IBC).
- Não vai ter ninguém lá tomando conta, cada um pega o livro que quiser e pode ficar com ele por tempo indeterminado, mas para isso precisamos contar com a educação de todos e de cada um - observam os idealizadores do projeto.
Centro de cultura
O projeto da biblioteca é todo em madeira tratada e de reflorestamento, "a poluição, inclusive a visual, é mínima", além de totalmente harmônico à natureza. Permite o acesso de cadeirantes, crianças e idosos. O usuário-leitor desfrutará de uma exuberante vista convidativa à contemplação quando ali se encontrar, poderá usufruir tanto dos 37m² do piso térreo quanto dos 25m² da cobertura, que será conectada verticalmente por meio de uma bela escada tipo Santos Dumont. A mesma cobertura também poderá ser usada para apresentações ou como mirante com sua majestosa vista para o jardim.
- Temos o desejo de que a biblioteca fique aberta 24 horas, mas como o Jardim fecha o horário de visitação será durante o funcionamento do local - explicam.
Há também outras propostas de transformar o Jardim em um centro de cultura, com oficinas em volta da biblioteca. E de criar outros pontos com outras bibliotecas.
É desejo reunir o "Livro Sem Fronteiras" a outros projetos e tornar de fato Valença como a Cidade da Leitura, e divulgar mais isso.
- Valença já é a Cidade da Leitura, só é preciso que todos fiquem sabendo. Por exemplo, a cidade é a única do mundo que tem um monumento à inteligência - lembra Fernando Monção.
O "Livro Sem Fronteiras" foi possibilitado pelas cerca de 80 empresas de diferentes ramos engajadas com o projeto, além da prefeitura, com a Secretaria de Educação, por meio da vice-prefeita Dilma Dantas, a madrinha do projeto, mais a Câmara Municipal e a instituição FAA.
Além dos conhecidos, a iniciativa despertou também a sensibilidade de entusiastas da cultura e de todos que ouviram sobre o projeto. "Todos se envolvem incondicionalmente e sem esperar nada em troca", ressaltam.
Cerca de 70% dos livros já arrecadados vieram de outras cidades e até estados. Para uma maior arrecadação na própria cidade de Valença foram abertos cinco pontos de coleta situados no maior mercado da cidade, na Catedral Diocesana, na Igreja Metodista, no Grupo Espírita Chico Xavier e no cinema.
Fonte: sítio do jornal Diário do Vale
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