terça-feira, 26 de abril de 2011

UPP: sai o bandido de chinelo e entra o bandido de farda (?)

Eduardinho, Ten. Wolney e Serginho
Se a comunidade do Batan fosse um reino, bastaria uma rápida passada de olhos pela formação da corte para saber quem é a majestade. A única funcionária da associação de moradores, responsável por separar a correspondência local e cuidar de pequenas tarefas administrativas, é a nora do tenente do Bope Wolney de Paula. Um quarteirão acima, no Centro de Educação Tecnológica e Profissionalizante (Cetep) da favela, é a mulher de Wolney, Débora Candida Vieira Santos de Paula, quem assina o ponto. Mas a contratação de parentes está longe de ser a principal crítica que os moradores do Batan fazem da gestão de Wolney à frente da associação de moradores.

Contratada em outubro do ano passado pela Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, sem passar por nenhum processo formal de seleção, Débora de Paula ganha um salário de R$ 1.200. Valor menor do que Wolney afirma pagar à sua nora:

— Ela não tem um salário fixo. A gente paga as despesas e o que sobra, cerca de um salário mínimo, é para ela — explica.
 
As despesas da associação — uma conta de luz e uma de telefone — são pagas por meio de cobranças feitas ao comércio, que variam entre R$ 10 e R$ 150, e de moradores, de R$ 5. A contribuição é voluntária e, segundo Wolney, é paga por cerca de cem moradores e comerciantes.

Moradores criticam a falta de transparência no uso desse dinheiro que é arrecadado. Ex-presidente da associação, a moradora Dejanira Augusta de Souza decidiu recorrer à Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) para cobrar uma prestação de contas. A surpresa foi descobrir que a presidência de Wolney não é reconhecida pela entidade. Não houve uma eleição para que o tenente chegasse à presidência.

— Estudamos uma ação para interromper o atual mandato de Wolney, mas decidimos aguardar o fim do atual, que está próximo — explica o presidente da Faferj, Rossino de Castro Diniz.

De olho nas eleições

Mas a eleição para presidente da associação de moradores não é a principal preocupação política do tenente. No ano passado, foi candidato a deputado estadual pelo PSB, mas obteve apenas 2.450 votos. Estuda a hipótese de voltar a concorrer, dessa vez para vereador, em 2012.

— Estou à disposição do secretário Alexandre Cardoso (da Ciência e Tecnologia e presidente do PSB, o partido de Wolney) e das autoridades. Se eles acharem que eu devo concorrer, estou pronto para me lançar. Sou um bom soldado, cumpro ordens.

Moradores ameaçados afirmam ter ido à UPP

No Velho Oeste do Batan, a lei ainda vale pouco. Moradores afirmam ter procurado a UPP para relatar atos arbitrários de Wolney, mas a PM nega. Por determinação da Secretaria de Segurança, dois ex-comandantes da UPP foram proibidos de dar entrevistas. Por meio do assessor Analder Lopes, a pasta limitou-se a responder que os dois não sabiam das queixas.

Não é o que diz a moradora Simone Pinheiro, que afirma ter procurado a UPP em agosto passado, após uma suposta ameaça de Wolney contra seu filho e outro adolescente. Os dois teriam sido abordados enquanto instalavam placas da candidatura de Simone à deputada estadual — mais tarde, ela teria o registro negado por não ter votado em 2008.

— Ele disse que era a autoridade máxima do Batan. Não queria que eles fizessem campanha para mim — acusa Simone.

Wolney afirma que, no dia da suposta ameaça, acompanhava um aliado em campanha pela favela. Ao ver Wolney, o filho de Simone e um amigo teriam começado a xingar o candidato.

— Eu cheguei perto dos garotos e disse ‘Eu estou aqui’, para que eles parassem. Não houve ameaça — afirma o tenente.

A dona de casa Marlei Barbosa também afirma ter procurado a UPP, de onde veio a orientação para ir à 33 DP. Mãe da jovem Vanessa Barbosa de Souza Alves, ela acusa Wolney de ter tentado expulsar a filha da favela.

Era um fim de semana do Dia das Mães. Vanessa e o marido, Frank da Silva Leandro, não moravam no Batan na época. Foram à favela para visitar Marlei. Logo na entrada, foram abordados.

— Ele disse que era para os dois irem embora. Tudo isso porque o Frank, meu genro, namorou a filha do Wolney e ele não gosta do Frank — conta Marlei.

Wolney admite que abordou o casal, mas não confirma que Frank tenha namorado uma de suas filhas. O interesse seria porque, no passado, a menina teria sido expulsa por milicianos.

— Perguntei onde ela estava indo. Ela havia sido expulsa, então o que estava fazendo aqui? Eu podia questioná-la. Sou presidente da associação — alega.

Marlei e Simone desistiram do processo contra Wolney, por não acreditarem na Justiça.

Fonte: Jornal Extra

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