domingo, 22 de abril de 2012

A bordo do Titanic

Autor: Affonso Romano de Sant'Anna

O que você faria se estivesse a bordo do Titanic? Sim, aquele navio imenso, feito para não naufragar jamais, mas que, de repente, colidiu um iceberg e começou a precipitar-se nos abismos oceânicos? Estão comemorando os 100 anos dessa tragédia. O gigantesco, o poderoso, o inabalável navio afundou em 15 de abril de 1912. Filmes e reportagens não faltam sobre o que foi aquele horror. James Cameron não só fez aquele filme formidável, mas foi num submarino visitar o esqueleto do navio.

 O que faria você se estivesse a bordo do Titanic? Dizem que das 2.240 pessoas que ali viajavam, 1.523 pereceram. Dizem que era uma construção segura e que o “próprio Deus” não poderia afundá-la. Dizem que levou muitas horas para submergir completamente. Dizem que os que se salvaram nos botes viam, horrorizados, o monstruoso navio mergulhando com milhares de corpos desesperados chorando e rezando.

 Não queria alarmar ninguém, mas lamento informar que estamos a bordo do Titanic. Não se enganem. Há muita festa na primeira classe; tem gente espocando champanhe; tem orquestras tocando valsas; garçons servindo delícias; mas o navio já se chocou com o iceberg. Chocou-se com o iceberg e os responsáveis pela condução de nossas vidas continuam fazendo de conta que podem dar um jeito, que aquilo foi apenas um esbarrão no acaso. Afinal, esse navio foi feito para não afundar nunca. E la nave va.

O planeta Terra é eterno. Será verdade? Nem tanto. Há quem garanta que o Sol explodirá em 4 bilhões de anos e acabará com toda a nossa empáfia, galáxia, livros, museus e fantasias. No entanto, nossos comandantes têm alguma razão em não pensar em algo tão distante. Mas essa não é a questão urgente. Outros cataclismas estão aí, despencando sobre nós. Por que não tomam medidas sobre a hecatombe que já começou? O aquecimento global é fato. O nível do mar está subindo. Os corais que mantêm a vida e o oxigênio nas águas estão fenecendo. As geleiras ao norte e ao sul estão desabando. Os ursos e focas estão em pânico. As florestas estão sendo dizimadas. As cidades são fornos asfixiantes. Os pássaros perderam o seu norte. As abelhas que polinizam as plantas morrem com os pesticidas. Mas os comandantes estão discutindo cordialmente, erguem alguns brindes e apenas trocam de lugar no convés do navio. Afinal, esse navio foi feito para não afundar. Mas, como nos desastres típicos, o que ocorre não é resultado de um erro apenas. Como em toda tragédia autêntica, há um conjunto, um conglomerado de equívocos, desatenções e prepotências. Isso não começou agora, mas vem piorando graças ao que Barbara Tuchman chamava de “a marcha da insensatez.”

Quem sabe a história do Titanic, anota que já ao sair do porto começaram os incidentes e acidentes. Mas os comandantes e os passageiros julgam sempre que são detalhes. Mas de detalhe em detalhe não controlado chega-se ao apocalipse. E a alegoria do desastre do Titanic é tão ilustrativa, que podemos afirmar objetivamente que estamos todos no mesmo barco. A globalização deu nisso. Os benefícios para poucos, mas os malefícios para todos. Portanto, você tem duas opções: ou continuar dançando e bebendo enquanto a nave mal comandada segue na escuridão para o abismo, ou sair e tentar fazer alguma coisa para evitar o desastre global.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quer saber???... ACEITO SUGESTÕES!