É sempre precipitado projetar
resultados de eleições locais para o contexto nacional, contudo, não
deixa de ser tentador analisar os pleitos envolvendo prefeituras e
câmaras dos vereadores como um grande laboratório, a sinalizar
tendências e emitir informações relevantes para elites e eleitores em
geral.
As últimas eleições municipais,
realizadas em 2008, produziram um quadro partidário no qual o PMDB
manteve-se como a principal força no âmbito local, com 1.201 prefeituras
conquistadas. PSDB veio em seguida, mas com número significativamente
mais baixo, 791 eleitos sob sua bandeira. PT apareceu em terceiro,
seguido de perto pelo PP, com, respectivamente, 558 e 551 municípios.
Por fim, DEM, PDT e PSB, com 400 a 300 prefeituras, também emergiram do
pleito como forças relevantes.
Os números acima não levam em
conta, todavia, a evolução da força dos partidos ao longo dos últimos
pleitos, nem as mudanças ocorridas no sistema partidário após as
eleições presidenciais de 2010. Com relação ao primeiro fato, tem-se que
PT, PDT e PSB têm aumentado consistentemente sua presença em
prefeituras, ao passo que PSDB e DEM vêm experimentando trajetória de
queda. Finalmente, PMDB e PP oscilam, mantendo certo equilíbrio em torno
dos números atuais. Com relação ao segundo, a criação do PSD, por
certo, alterou aquela correlação de forças, atingindo de maneira
relevante o DEM, além de diversos outros partidos.
Se a trajetória de desempenho
dos partidos é variável, também deve variar a expectativa de cada
agremiação quanto ao resultado das eleições: para o PT e o PMDB,
trata-se da disputa pela hegemonia do poder local no Brasil; para o PP e
o novo PSD, a condição de se postar como polo ao mesmo tempo relevante e
flexível no campo conservador; para agremiações como PSB e PDT,
trata-se de se consolidar como força alternativa no campo da
centro-esquerda; finalmente, da perspectiva do PSDB, mas, sobretudo,
para o DEM, estancar uma acentuada tendência de declínio.
Pleitos locais são pleitos
locais, entretanto, distintos em diversas dimensões de uma disputa
federal. Diferem as questões que mobilizam as campanhas e que motivam as
decisões de voto dos eleitores. Além disso, em sistemas federativos e,
sobretudo, de proporções continentais, partidos fortes nacionalmente
podem ser nanicos localmente e vice-versa. Por conseguinte, a
organização de candidaturas e acordos celebrados entre lideranças dos
diversos contendores possuem grau considerável de especificidade, não
comportando tradução imediata para o âmbito nacional.
Sobre esse último ponto, é
particularmente interessante observar como a formação de coalizões
eleitorais se distingue em cada caso, especialmente levando-se em
consideração o que ocorre nas grandes capitais. No Rio de Janeiro, cópia
quase fiel do acordo hegemônico nos âmbitos estadual e nacional; em São
Paulo, relativa fragmentação em ambos os lados da grande contenda
federal; em Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife, disputa aberta e
franca no campo da esquerda. Talvez por esse motivo, teremos em 2012,
mais do que em eleições locais passadas, um fascinante exercício de
experimentação política. Como sempre, restará ao eleitor decidir em cada
caso sobre a qualidade do experimento.
* Fabiano Santos é professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Iesp)
FONTE: O GLOBO
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