sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Avenida Brasil

Passados 12 anos do admirável século novo (21), a Nação Brasileira ainda engatinha na construção de um Estado de Bem Estar Social minimamente adequado às necessidades da maioria de seu povo. A efetivação do sonho de uma modernização aos moldes do “primeiro mundo” se dá mais por questões seletivas - ligadas a projetos de poder - do que realmente por demandas advindas da sociedade e das classes populares.


Felizmente (ou infelizmente) os passos desta transição, embora lentos, acontecem sem um estado de exceção formal ou processo revolucionário instalado. A única ditadura implementada no Brasil que conta com o apoio do povão é a ditadura dos meios de comunicação. Taí a Carminha (“me serve, vadia”) que não me deixa mentir.



Uma saída para combater a manipulação da informação é compartilhar diretamente (sem mediação) as nossas dores nas redes sociais, despidas das vestes partidárias e interesseiras do Deus Mercado. Na morte do jovem Rodrigo Fagundes, assassinado na GetúlioVargas, foi o Facebook que primeiro reverberou a tragédia e a dor lancinante e indignada da violência “pacificada” que nos empulham. Foi a rede social que ajudou a família do Rodrigo mobilizar população e amigos para “cercar” a Delegacia e exigir justiça.



No caso da PM Fabiana de Souza, valenciana assassinada no Complexo do Alemão, a tragédia que nossa sociedade está envolvida se completa. A sorridente Fabiana, soldado recém formada que trazia sonhos e a admiração dos seus vizinhos no Parque Pentagna, foi alvejada com um tiro de fuzil de uso exclusivo (?) que perfurou o colete a prova de balas (??) que a corporação usa. Logo, os grandes jornais (O Globo e O Dia) trataram de realçar que Fabiana foi a primeira PM mulher a ser morta em serviço nas UPP´s. Infelizmente estes jornalões, em tom editorial, deram a noticia não no sentido da indignação que a morte de qualquer trabalhador merece, mas sim como a política de pacificação do Governo do Estado é estatisticamente eficiente. Porcos. 



De Londres, o governador Sérgio Cabral divulgou nota em que “se solidariza com a família da PM”. A nota diz ainda que “a marginalidade vem perdendo força” e que “ações como estas demonstram o desespero de organizações criminosas”. De Washington, o secretário de Segurança, José Beltrame, garantiu que “o processo de pacificação continuará”. No Cemitério do Riachuelo, oficiais estrelados davam declaração ressaltando a óbvia periculosidade do serviço policial. Diferente destes, outra militar se destacava no meio das desculpas e obviedades: Luciana, irmã da vítima que também é PM, e que mesmo obstada pela dor fez declarações lúcidas sobre alguns detalhes sobre a tal “pacificação”, por exemplo, colocar praças recém formados em áreas em declarado conflito. Luciana foi muito corajosa, provavelmente vai ser advertida a até punida na surdina pelo Comando da PMERJ, assim como foram punidos os PM´s de Valença que em legítimo movimento se recusaram a patrulhar a cidade com as viaturas irregulares. Patético.



Outros PM´s que por óbvios motivos preferem não se identificar, reclamam da precariedade do serviço, do armamento e da “emoção” que é ficar trancado dentro de um caixote de isopor e aço patrulhando áreas onde morre mais gente que no Iraque (uma triste coincidência: estes caixotes são vendidos/faturados na fábrica que não fabrica em Valença). O governador trata os bombeiros como vândalos, os médicos como vagabundos e os professores como lixo. Transforma alunos, doentes e mortos em estatística. E aqui na Judiadinha da Serra, quem é o candidato de Sergio Cabral? Resposta: um monte! Pelo menos um declarado (ungido) e outros dois que fazem parte da base de sustentação partidária. Depois não diga que não foi avisado.

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Dica de Filme: Tropa de Elite 2


- Coluna publicada originalmente no Jornal Local 2/8/12

5 comentários:

helenecamille disse...

Kkkkk, adorei a dica do filme, tenho uma única pergunta: qual dos dois? O da ficção que posso alugar na locadora ou o da realidade que basta por os pés para fora que a bala ricocheteia (droga, esqueci, não tenho colete a prova de bala).

Anônimo disse...

Sou brasileiro e gosto do Brasil, não diria que amo, mas gosto. Gostar não significa omitir os defeitos e pra mim, fato é que no todo o Brasil ainda é uma República das Bananas. A melhor banana da América Latina em escala de desenvolvimento humano e social, a mais tecnológica,a mais bonita, mas...bananas. A distribuição de renda é ridícula o que restringe principalmente o acesso cultural. Nem todo cidadão brasileiro é devidamente educado no sentido da educação de berço, aquela da transmissão de valores positivos, de jogar o lixo no cesto, do bom dia, do respeito pelo próximo, da cidadania em sentido largo, e esse pequeno detalhe fica claro em qualquer camada da nossa sociedade. As Instituições (que tem mais tempo de existência do que quem a governa, é lógico) não são e nunca foram confiáveis, muito pelo contrário, inclusive a PM RJ, que de santa não tem nada. Historicamente (no mundo) veremos que Políticos não construíram países. O povo constrói o país. Outra coisa, com muita frequência vou ao Rio de Janeiro e sempre procuro ver o lado bom ( e põe bom nisso !!! ) Ontem por exemplo, um sábado com sol, vi muita gente tranquilamente na praia; aliás lugar democrático é a praia, pois tanto faz que a roupa de banho seja comprada no Calçadão de Madureira ou em Ipanema, ouvi "dá licença", "muito obrigado" e "por favor". Vi muita gente bonita e sorridente, de bem com a vida. Mesmo no trânsito, que estava pesado pelas bandas da Lagoa, Leblon e Ipanema vi e participei de muita troca de gentilezas entre os motoristas. Bala perdida, claro que tem, principalmente quando o "maluco" cheira demais lá no alto do morro. Morro esse que tem clientes de todos os níveis e locais, que fornece ( e muito hein !!!) o pó para o "maluco" do asfalto. Creio que um dia chegaremos lá, mas gerações e gerações ainda serão necessárias e nesse longo caminho algumas vidas serão tragicamente perdidas, como no caso da PM Fabiana, que mesmo diante das dificuldades ao longo de sua vida, sempre trabalhou, tinha sólida formação como cidadã e queria contribuir, fazendo a diferença.

Ana Rachel Coêlho disse...

Caro Samir, não à toa, e algumas pessoas têm me parado na rua para falar do quanto gostam de ler sua coluna no Jornal Local. O texto 'Avenida Brasil" não deixa por menos;com uma crítica lúcida e pertinente tece considerações sobre o que tem sido a Política de Segurança Pública desde que, Cabral "descobriu as UPP's." Entendo que nada possa substituir a vivência e o treino de luta na rua como fator de pressão política. Mas,"em tempos de tão calmaria", as redes sociais têm se constituído em um importante instrumento de mobilização social como sinaliza tão bem o autor no presente. Diferentemente dos países árabes, vejo que estamos longe de vivermos nossa primavera (vou deixar por conta da história-sem lamentos,nem louvações!). No entanto, através das redes sociais, alguma tomada de consciência torna-se possível, ou/e, ao menos, por meio delas, a possibilidade de compartilhar impressões, ideias, sentimentos e o reconhecimento de que não estamos sozinhos. E isso já é muita coisa. EVOÉ!!!

Anônimo disse...

Nenhum colete a prova de balas aguenta um tiro de fuzil a queima roupa, que atravessa ate aqueles carros de transporte de valores como se fosse papelao.
A morte da Fabiana foi mesmo uma fatalidade, nao da para usa-la para criticar a unica politica publica boa do governo Sergio Cabral. Quanto ao fato de os policiais recem formados serem usados nas UPPs, isso ocorre para evitar os vicios dos policiais mais antigos na corporacao.
Tambem nao gosto do governo Sergio Cabral, mas acho que voce abordou os pontos errados na sua critica.

Anônimo disse...

Pois é... as UPP’s devolveram vida às comunidades. Só quem mora nelas sabe. Foi realmente uma fatalidade o que aconteceu com a Fabiana, mas não é justo culpar o governo por isso. Fuzil, gente, como o colega disse acima, atravessa carros, como poderia um colete proteger a vítima de um tiro a queima roupa?