Este texto o companheiro Faber Paganoto escreveu para a edição de número 10 do Valença em Questão, isso em fevereiro de 2006, ou seja, há mais de três anos. Mas não "perde o prazo", porque o tema é relevante, e até hoje remete a discussões (como a que surgiu após a postagem recente sobre os Fundos de Previdência). É um bom texto para a reflexão.
Do sindicalismo ao ativismo social
Vivemos atualmente uma realidade bastante diferente da que vivíamos num passado recente. A velocidade das inovações e das reviravoltas mundiais é cada vez maior e assusta até mesmo os menos conservadores. Nunca se chegou a um consenso a respeito do nome mais apropriado para expressar essa nova realidade: alguns preferem a denominação de 'aldeia global', outros, ‘internacionalização do capital’, mas foi o termo ‘globalização’ que virou figurinha fácil nos jornais e revistas de todo o planeta.
Este processo, embora historicamente não seja recente, sofreu forte impulso a partir da Segunda Guerra Mundial e, em particular, depois de meados da década de 70. Nesse período, verificou-se um aumento da concentração e centralização do capital, com a formação de oligopólios internacionais em importantes setores, o que gerou a internacionalização da produção em cadeias produtivas. As empresas capitalistas formadas neste processo detêm tamanho poder que uma decisão pontual de uma delas pode ultrapassar as fronteiras nacionais e afetar a economia de todos os países.
Nesta conjuntura, desencadeou-se uma revolução técnico-científica, baseada na informação, na automação e na microeletrônica dos processos produtivos, liberando grande massa de trabalhadores, principalmente aqueles cujo trabalho era rotineiro e repetitivo. Nas linhas de montagem o trabalho humano pouco a pouco passou a ser executado pela inteligência artificial dos robôs - a longo prazo muito mais econômicos. Assim, novos processos de trabalho surgem, onde o 'cronômetro' e a produção em série e de massa são substituídos, gradativamente, pela flexibilização da produção, por novos padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado.
Todas essas mudanças têm impacto direto nos direitos do trabalho que passaram a ser desregulamentados, precarizados, flexibilizados, de maneira a dotar o capital do instrumento necessário para adequar-se à nova fase. Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores são substituídos e eliminados do mundo da produção. Vivenciamos hoje uma subproletarização intensificada, presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, terceirizado, que marcam a sociedade dual no capitalismo avançado. O resultado mais brutal dessas transformações é a expansão, sem precedentes do desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global.
Este processo aparece com maior intensidade nos grandes centros urbanos do Brasil, mas nem por isso deixa de ter impacto em cidades de menor porte. Nas últimas semanas Valença viveu intensamente algumas das conseqüências disto que chamamos globalização, quando viu a Confecção Água Fria fechar as portas, colocando na rua mais de 70 trabalhadores, com o agravante de não lhes ter pago aquilo que tinham direito.
Reverter a globalização evitando suas conseqüências está muito além do que qualquer um de nós conseguiria individualmente, embora coletivamente torne-se mais fácil tirar um pouco do gosto amargo que ela nos deixa na boca. E aqui surge um outro problema: o símbolo maior da organização coletiva dos trabalhadores - o sindicato - está cada vez mais enfraquecido. O motivo desse enfraquecimento é inerente ao processo: com cada vez mais pessoas desempregadas, torna-se quase impossível negociar melhores salários ou usar o direito de greve como pressão, já que muita gente toparia ocupar a sua vaga para ganhar o seu salário.
O quadro não é muito alentador, mas devemos tomá-lo como lição. Se enquanto trabalhadores há pouco que possamos fazer, enquanto cidadãos ainda há muito. A mobilização da sociedade é fundamental para a garantia dos direitos fundamentais que vez ou outra tentam nos tirar. Fiscalize as ações dos vereadores, compareça às sessões na Câmara Municipal, sindicalize-se dentro da sua profissão, atue em Organizações Não-Governamentais, conheça movimentos sociais atuantes na sua cidade, divulgue e apóie grêmios estudantis e se sua escola ainda não tem um, articule-se com outros jovens e faça-o existir. Mexa-se: enquanto você está aí parado tem muita gente lá fora querendo fazer alguma coisa pra mudar.
Faber Paganoto Araujo, professor
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