
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, os moradores foram notificados há um mês e agora vão passar por uma triagem em Paciência, na zona oeste do Rio, onde serão avaliados os encaminhamentos.
Muitos moradores criticam os abrigos da prefeitura, e se queixam de que nunca foram assistidos pelo poder público. Alguns deles passaram a morar na ocupação pela proximidade com o centro da cidade, devido a falta de dinheiro para a passagem de volta à Baixada Fluminense, a fim de arrumarem seu sustento nas redondezas. Os moradores reclamam da falta de alternativas nas negociações, e reivindicam o aluguel social para procurarem uma moradia mais digna.
O subprefeito do centro da cidade, Thiago Barcellos, afirmou que a ação trará mais tranquilidade aos moradores da região e o imóvel será isolado com patrulhamento constante da guarda municipal e polícia militar.
“Estamos ordenando um espaço que trazia muitos problemas, ninguém sabia o que as pessoas faziam aí dentro. As pessoas vão ser encaminhadas para o abrigo, onde serão tomadas as medidas que atendam a cada família com sua situação particular”, informou Barcellos.
Ainda de acordo com o subprefeito, que não soube dizer por que o prédio está desativado há tantos anos, os moradores estavam num lugar inabitável em condições muito precárias: sem água, sem esgoto, sem luz, sem nenhum tipo de infraestrutura. Para ele, é inconcebível que essas pessoas morem num lugar tomado por lixo e ratos. Barcellos avalia que “por mais que não seja a casa delas o abrigo, vai ser muito melhor do que o prédio onde estavam”.
O coordenador da Central de Movimentos Populares, Marcelo Braga, reconheceu as condições precárias da ocupação e criticou as políticas municipais em relação à moradia popular.
“Isso reforça a necessidade de organização enquanto movimento, porque só com ela poderemos resistir a esses ataques que são claramente de transformar a cidade num espaço de investimento financeiro. O grupo que está no poder pensa a cidade não para a maioria da população, por isso ele prefere que esse pessoal saia daqui e vá para longe do que transformar o prédio em moradia e efetivamente tentar mudar a vida das pessoas. Porque para eles enfeia a cidade, numa área que é claramente turística”, criticou Braga.

Ricardo Félix, que participou da ocupação há três anos, lembrou que no início eram feitas assembleias na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e movimentos sociais apoiavam a iniciativa, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e havia mutirões. No entanto, ele pondera que com o tempo o coletivo foi ficando abandonado e faltou organização.
“Apesar de uma ou outra informação menos digna que é falada da ocupação, o que tem aqui são famílias”, ponderou Félix.
As pessoas, em sua maioria mulatas e negras, foram tirando seus pertences com ar de resignadas, deixando televisões, colchões, sofás, etc, espalhados pelas ruas. Muitas crianças, filhas dos desabrigados, circulavam na porta do prédio sem saber o que acontecia. Um dos jovens moradores, que não quis se identificar, está com receio do que vai acontecer com os moradores.
“Querem levar a gente para abrigo, lá em Santa Cruz [zona oeste]. Tem gente que garimpa aqui na rua para arrumar dinheiro, não houve resistência. Respeitamos os órgãos públicos, mas não estão respeitando o nosso direito de cidadão. A maioria das crianças estuda no brizolão [colégio público] e na São Martinho, instituição que atende os jovens da região”, observou.
O INSS informou em nota que a Gerência Executiva Rio de Janeiro (Centro) pretende vender o imóvel. A idéia é vendê-lo para um órgão público e, se não houver interessado, leiloá-lo. O valor do imóvel será avaliado pela Caixa Econômica Federal.
De acordo com o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (Iterj), órgão responsável pela regularização fundiária no Estado, existem 29 ocupações com movimentos pela moradia e pessoas sem alternativas de habitação no centro do Rio. A estimativa do Iterj é de que no existe um déficit habitacional no estado de 478 mil moradias, cerca de 600 mil moradias passíveis de regularização fundiária: calculando 3 por família, dá 1.800.000 pessoas.
Fonte: sítio do Fazendo Media
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