segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Jogados no mundo



Texto excelente retirado do blog Catatau

Respeitando as variações, funciona mais ou menos assim: em período eleitoral ou próximo, de repente aparecem políticos e solenidades. Às vezes não precisa aparecer mais do que falatório. Prometem a construção de tantas casas populares, diz-se que muito dinheiro foi liberado…

Então chegam as máquinas e começa a obra geral. Mas por algum motivo, a dita “prática” não corresponde às expectativas e planejamentos: a obra não perdura e, de algumas ou muitas casas, fica só o esqueleto, tudo inacabado.

Nenhum burocrata examinou a aberração de uma obra ter começado e não terminado. E se alguma fiscalização chegou a visitar o lugar, o resultado foi o mesmo de tantas outras país afora: nulo.

Então chegam os pequenos bandidos, traficantes e afins. Polícia? Dependendo o lugar, eventualmente se diz que apareceu uma viatura. Mas tudo permanece ali como está, ao Deus dará, como se uma força cósmica obrigasse a cada um aceitar tal condição (“afinal é o Brasil”, “as coisas são assim mesmo”…). O monumento à aberração comum permanece a céu aberto.

Passam-se os anos. Mas então ocorre algo diferente, inesperado: famílias tentam ocupar as plantas abandonadas, construir ali moradias, às vezes articulando – malgrado o descaso público – verdadeiros bairros.

Resultado? Mais ou menos hora, depois de algum jogo burocrático em obscuros corredores, muito rapidamente toda a série de descasos (burocratas, fiscais, poderes públicos etc.) se converte em violência: os moradores devem sair dali, caso contrário a polícia deve desapropriar o terreno, expulsar os moradores, garantir a “legalidade”.

Antes da ocupação, em termos de comunidade humana cada membro das famílias é um semi-animal, pois não tem direitos básicos (o da moradia, por exemplo) garantidos. Está simplesmente jogado no mundo.

Mas depois da ocupação tudo muda: o direito de alguém deve se cumprir, mas certamente não o dos moradores. Como num relampejo, de repente os moradores são recolocados no jogo social, possuindo agora “direitos”, mas como antagonistas: se um processo jurídico se faz entre cidadãos, aí estão os moradores movidos enquanto cidadãos, pois estão sob acusação por outra entidade jurídica que não os quer ali.

Aí chega a polícia e os expulsa. E saindo das casas eles saem de novo do jogo: estão de novo jogados no mundo.

E não é que isso acontece quase todo dia?

Um comentário:

Anônimo disse...

Mulheres foram molestadas pela polícia. Alguém postou isso no facebook. Será mesmo?