quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Redução da Jornada de Trabalho*


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Comecei minha vida de engenharia agora. Conversando com os mais antigos, perguntei como faziam antes do excel, MS Project etc para preparar cálculos, análises, previsões, estimativas etc.

Eles utilizavam o trabalho braçal: folhas de cálculo imensas, calculadoras, lápis, réguas e horas imensas no final do mês para fechar tudo (o famoso fechado para balanço). Conseqüentemente, o trabalho era mais demorado.

Agora, com computadores e programas de alta produtividade, o que essa galera fazia em 3 meses, fazem em menos de um.

Mas é aí que bato de frente com este texto do administrador João Luiz Mauad (publicado no Globo de 30/7/2008 e reproduzido aqui nos comentários deste tópico): apesar de serem mais "produtivos" , os caras estão cada vez mais malucos com a quantidade de coisas que têm que fazer. Sabe por quê? Porque não existe nada mais importante no mundo para as empresas do que o lucro (o que é legítimo até certo ponto). Mas a lógica é apenas a seguinte: já que o cara é eficiente, taca trabalho nele, pra produzir mais, mais, mais, a um custo para o empresário cada vez menor.

O progresso, para muitos, é apenas dinheiro gerado. Esquecem da qualidade de vida, da emancipação humana. Como um cidadão que acorda às 04:30h da manhã em Nova Iguaçu para chegar ao Rio às 07:00h e sair do trabalho às 19h e chegar em casa só às 21:30h, vai poder pensar em estudar mais, curtir a família, cuidar da saúde, freqüentar aparelhos culturais. Querem que tenhamos vida apenas em finais de semana. Eu não concordo com isso.

Marx prova, por a + b, que o lucro não surge do nada, ele surge da força de trabalho (vide a última charge que o Fael mandou - em anexo). Então, não concordo com este texto.

A redução da jornada de trabalho é boa para os trabalhores, ruim para os gananciosos. Se quisermos viver num mundo decente, temos que repensar nossa produção - a quantidade do que é produzido, como é produzido e por quem é produzido. Progresso é muito maior do que aumento de PIB e lucro para as empresas.

* Adaptação do email do engenheiro e carnavalesco valenciano C. A. Fernandes de Oliveira.

2 comentários:

Tyler Durden disse...

ÍNTEGRA DO TEXTO PUBLICADO NO GLOBO DE 30/7/08:

Na contramão do progresso (João Luiz Mauad)

Tramita na Câmara dos Deputados, com apoio amplo das centrais sindicais, o projeto de lei no7.663/06, de autoria do deputado Daniel Almeida (PCdoBBA), que reduz a jornada máxima de trabalho no país, das atuais 44, para 40 horas semanais. De acordo com seus patrocinadores, a nova lei deverá gerar mais empregos, além de aumentar a segurança dos trabalhadores.

Infelizmente, os resultados práticos - a longo prazo - dessa lei tendem a ser bem diferentes do planejado, prejudicando justamente aqueles a quem se pretende beneficiar.


Conta a lenda que um empresário ocidental, em viagem à China comunista, deparou-se com um grupo de centenas de homens que construíam uma barragem de terra, munidos exclusivamente de pás e enxadas. Antevendo uma oportunidade de negócio, ele comentou com o oficial chinês que o acompanhava que apenas um operário, de posse de uma moderna máquina escavadeira, poderia executar toda aquela empreitada num tempo bem mais curto. A resposta do astuto oficial - mal escondendo um sorriso sarcástico no canto dos lábios - foi: "Sim, mas imagine todo o desemprego que isso acarretaria." Sem nada dizer, porque estúpido não era, o empresário pensou: "Se são empregos que desejam, melhor seria que lhes tirassem as pás e dessem colheres." O raciocínio do chinês é o mesmo que infesta a mente de muitos dos nossos socialistas, para quem o trabalho é um fim em si mesmo e não um meio para a obtenção do verdadeiro fim, que é o aumento do bem-estar geral pelo gradativo aumento do poder de consumo de cada indivíduo.


A curto prazo e em âmbito localizado, a introdução de novas máquinas e equipamentos realmente provoca algum desemprego. No entanto, a longo prazo, os benefícios gerados pelo avanço tecnológico são inegáveis.


Durante a Revolução Industrial, a descoberta de novas técnicas e máquinas, tanto na agricultura quanto na indústria, colocou em disponibilidade uma quantidade enorme de pessoas. Num primeiro momento, o desemprego foi tão impressionante que chocou diversos historiadores e economistas de então, alguns deles donos de uma retórica contundente e sofisticada, com o K a r l M a r x , p a r a quem toda a riqueza produzida pelo novo modelo, por ele apelidado de capitalista, davase às custas da miséria da maioria.


A História se encarregou de demonstrar o equívoco daquela análise.


Marx não previu que todo o contingente de desempregados migraria para outras atividades e provocaria uma onda de prosperidade sem precedentes. Não anteviu que o progresso necessita de gente com tempo e força disponíveis para produzir novos bens e serviços, afinal, ninguém é capaz de plantar batatas e pesquisar física quântica ao mesmo tempo.


Na medida que a agricultura e a indústria se tornam mais eficientes e produtivas, a renda per capita aumenta e, com ela, a demanda por serviços, setor que nos países mais desenvolvidos já é responsável pela grande maioria dos empregos. A melhor notícia, no entanto, é que o trabalho braçal vai sendo paulatinamente substituído pelo cerebral.


Além disso, o aumento da produtividade e, conseqüentemente, do tempo disponível possibilita que parcelas sempre crescentes da população tenham acesso à educação, à cultura e ao lazer, antes privilégios de uns poucos.


O raciocínio por trás dos pseudobenefícios da redução compulsória das horas trabalhadas está calcado na mesma idéia estúpida dos comunistas chineses, acima descrita. Ao reduzir em 10% a jornada máxima permitida, pretende-se colocar 11 homens para fazer o trabalho que hoje é feito por 10. Ao enxergar apenas o resultado aparente, seus idealizadores nem imaginam que, a longo prazo, essa política está na contramão do progresso.


Aos parlamentares que decidirão o destino desse projeto retrógrado, fica aqui uma sugestão. Leiam Frédéric Bastiat, economista liberal francês, do século XIV, que ensinava: "Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Entre esses, só o primeiro é imediato. Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível. Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemos nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los. (...) Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: o último se detém no efeito que se vê; o primeiro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever."

João Luiz Mauad é adiministrador de empresas.

Anônimo disse...

Muito interessante esse testemunho do colaborador C. A. Fernandes de Oliveira, muito importante um fórum como esse relatizar e criticar o discurso cada dia mais difundido como senso comum de que a alta produtividade é um bem da sociedade. Muito pelo contrário, já que a sociedade, paulatinamente, só vem perdendo com a alta produtividade, que permanece a enriquecer a minoria historicamente enriquecida e continuamos num estágio de desenvovimento humano nulo.
Muito obrigada pelo excelente relato.