
Os comentários muitas vezes deixam de lado uma discussão mais aprofundada do tema, seja por falta de espaço ou por falta de interesse em se discutir as raízes dos problemas que a educação vem encontrando (não apenas em Valença). O Sepe, Sindicato dos Profissionais da Educação, é um que leva a culpa vez ou outra pela má qualidade do ensino. Chega-se a ler comentários do tipo “se acha o salário ruim, arrume um emprego melhor, vá para uma escola particular”, questionando o posicionamento dos profissionais da educação quando lutam por melhores condições de trabalho.
A questão não é essa. A educação pública é um problema nosso, e não apenas dos profissionais que batalham diariamente e ganham um péssimo salário. As políticas públicas de educação dos últimos trinta anos só degeneraram a educação – nas três esferas: municipal, estadual e federal. Com a proposta de se universalizar a educação e alcançar índices que satisfizessem organismos internacionais, ampliou-se o número de alunos, mas não foram ampliadas as estruturas funcionais para receber este novo montante de alunos, desqualificando a educação.
E essa degradação do ensino pode ser verificada, acreditem, pelo menor índice de reprovação. Como o índice ideal de aprovação é estabelecido por organismos internacionais, os professores são pressionados pelos governos – esses nacionais – a aprovar o máximo de alunos possível. Daí encontramos jovens no primeiro ano do Ensino Médio que não sabem ler. É um absurdo.
Um professor do Estado do Rio hoje recebe, por 16 horas/aula, 560 reais líquidos. É um salário baixo para qualquer um, e mais ainda para quem tem a necessidade permanente de estudos. Se falta dinheiro para a comida, comprar um livro nem pensar. Uma solução provisória encontrada pelos professores é aumentar o número de turmas. Se dava aula para 6 turmas de 40 alunos cada, ele passa a dar aulas para 12 turmas, ou seja, passa a ter 480 alunos.
O primeiro passo a ser dado pelo conjunto da sociedade – e não apenas pelos professores, apesar de que o Sindicato pode ser uma figura importante nesse processo – é trabalhar com a ideia de que a educação não é mercadoria. Educação não é um negócio, é criação; não deve qualificar para o mercado, mas para a vida. Precisamos pensar a educação como algo que nos faça superar o individualismo e a competição, de resgatar as suas possibilidades criativas e emancipatórias.
Para atingirmos esse objetivos, para transformarmos essas ideias e princípios em práticas concretas, nossa tarefa exige ações que vão muito além das salas de aula. O acesso à escola é condição necessária mas não suficiente para tirar da miséria milhões de pessoas. Com a chamada “universalização do acesso”, o que temos é um deslocamento do processo de exclusão educacional, que não mais se dá no acesso à escola, mas sim dentro dela, por meio das instituições da educação formal.
Educar não é uma simples transmissão de conhecimentos, não é a perpetuação e reprodução do sistema. Educar é muito mais do que isso. É conscientização das condições sociais. Para que serve o ensino, se não para lutar contra a alienação? Há uma diferença entre explicar e entender. Explicar é reproduzir o discurso hegemônico, da mídia. Entender é diferente, é decifrar, é compreender como se dá a condição de cada um. Quando formos capazes de entender, aí sim teremos uma educação emancipadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário