Todos Estão Surdos!

Outro dia, um cabeludo falou:
"Não importam os motivos da guerra
A paz ainda é mais importante que eles."
Esta frase vive nos cabelos encaracolados
Das cucas maravilhosas
Mas se perdeu no labirinto
Dos pensamentos poluídos pela falta de amor.
Muita gente não ouviu porque não quis ouvir
Eles estão surdos!

Ficar falando de si próprio é um assunto muito desagradável, gosto e aprendo muito mais quando falam de mim. Algumas poucas pessoas vêm perguntando porquê eu não escrevo mais pro Jornal Local. Eles perceberam que eu não tenho usado este espaço precioso que o editor gentilmente me cedeu. Ultimamente estou mudo. Mudo e deprimido.

Ser um (nem tão) jovem adulto no Estado do Rio de Janeiro, principalmente na cidade que eu nasci, tem sido muito chato, pra não dizer apavorante. Toda felicidade que minha juventude viveu - nesta terra de gente e clima bacana - está desmoronando como um casarão que pega fogo. Chegar aos 30 e ver que a vida tem mais buracos que a estrada Valença - Barra do Piraí é muito chato mesmo.

Aqui nessa terra ainda tem samba e roquenrol. Mas antigamente era só a professora que tomava porrada quando se rebelava contra o absurdo. Hoje, eles batem também em bombeiro que entra debaixo de avalanche pra salvar criancinha. Ideologicamente, tendo em base aquilo que Karl Marx chamou de superestrutura da sociedade, pra mim as coisas só pioraram.

Estou careca de dar nome aos bois responsáveis pela nossa iniqüidade. Desde a chegada de Cabral na baía que nossos sonhos são interrompidos por uma espécie de pezão que pisa os pescoços. Somos escravizados em fazendas, debaixo do chicote, sendo obrigados a lavar os bagos milionários de touros de leilão. A nossa burguesia “esclarecida” se prende numa escolástica atrasada para esconder seus pecados. Nossos estudantes têm mais horas-aulas de micareta do que Filosofia e Matemática. O povo, deslumbrado e entorpecido, vive esperando o mar pegar fogo pra ver se come um peixe assado. Quem ri disso tudo é o Garotinho.

Não vou terminar estas mau escritas linhas com nenhuma mensagem edificante, como é do meu parvo estilo. Paulo Freire foi comido pelos vermes da meritocracia e da gestão integrada na escola (GIDE). Na verdade, venho terminando como comecei: egoísta. Por isso, peço paciência aos meus leitores (e credores principalmente), pois estou doente e nem trabalhar direito eu tenho conseguido.