domingo, 13 de janeiro de 2013

Novas possibilidades se abririam se Valença assumisse sua identidade “flumineira”

Por Paulo Roberto Figueira Leal, doutor em Ciência Política e professor da UFJF
(publicado originalmente no Jornal Local de 10/01/2013)

Não sei se foi criação do Libório Costa, mas foi dele que ouvi pela primeira vez a expressão “flumineiro”. Não falo da torcida organizada do Fluminense que tem esse nome não – a expressão me interessa noutra acepção, aquela que dá conta do modo como muitos de nós, valencianos, costumamos nos ver: gente da divisa do Estado do Rio com o Estado de Minas, muito mais próximos (em numerosos sentidos, inclusive culturais) de Rio Preto, de Santa Rita de Jacutinga ou de Juiz de Fora do que de municípios, por exemplo, do Norte- Fluminense.

São essas identidades forjadas no nosso encontro com uma parte das Minas Gerais que, do lado de lá, como do lado de cá, produzem hibridizações fascinantes: se os juiz-foranos têm o apelido de “cariocas do brejo”, dada a afinidade com a cidade do Rio, igualmente os valencianos são, em muitos sentidos, “amineirados”.

Isso se evidencia no jeito predominante de falar, na grande presença de famílias com origem mineira, na topografia, nas vocações econômicas, nas histórias compartilhadas com nossos vizinhos do outro lado do Rio Preto. Se Guimarães Rosa dizia que “Minas são muitas” (e são mesmo), o Rio de Janeiro não é diferente: há muitos distintos Rios de Janeiro, e somos um desses Rios possíveis – certamente o mais “flumineiro” de todos.

Essa digressão inicial não tem pretensões históricas ou sociológicas – trata-se apenas de constatar que a dimensão da “flumineiridade”, simplesmente porque existe na vida objetiva e na percepção subjetiva das pessoas daqui, não deveria ser negligenciada ou esquecida como fonte de oportunidades para a cidade. Canso de ouvir que parte dos problemas de viabilização de negócios no município deriva de sua localização geográfica (escondidinha na divisa com Minas, longe das rotas principais).
Visto de outro modo, isso que alguns apresentam como problema pode ser encarado como solução. Sem abrir mão de qualquer um dos laços que temos com nosso Estado do Rio – muito pelo contrário, trata-se de aprofundá-los –, que tal olharmos para as oportunidades que se abrem por sermos os mais “flumineiros” dos fluminenses? E falo de questões concretas, tangíveis, inclusive em termos de políticas públicas.

Vamos a exemplos que me ocorrem (e é preciso dizer claramente: apenas pensei nisso, sem consultar ninguém nem de lá nem daqui sobre a viabilidade dessas ideias). A universidade federal mais próxima de Valença não é a UFRJ, nem a UFF, nem a UFRRJ, nem a UniRio: é a Universidade Federal de Juiz de Fora. A UFJF mantém polos de ensino a distância em 31 cidades (inclusive na fluminense Rio das Ostras), oferecendo 15 cursos de graduação ou pós-graduação a milhares de estudantes.

Se pensarmos como “flumineiros”, não seria interessante que nossa prefeitura estudasse a possibilidade de iniciar conversações com a UFJF no sentido de tentar trazer para cá um polo? Não poderia ser discutida uma oferta de cursos não existentes na FAA, de modo a preservá-la, e ao mesmo tempo aprofundar as chances de acesso à vida universitária em Valença? (Vide informações no site http://www.cead.ufjf.br).

Se pensarmos como “flumineiros”, não haveria a possibilidade de parcerias na área da saúde? Nesses tempos de Hospital Geral ainda diante de indefinições, de crises no acesso a hospitais do Rio de Janeiro, não seria interessante conversar sobre a hipótese de integrar consórcios mineiros, como a Acispes, que reúne 25 municípios – inclusive as cidades fluminenses de Levy Gasparian e Sapucaia? (Vide informações no site http://www.acispes.com.br).

Repito: quando cito esses dois exemplos, faço-o sem ter qualquer conversa prévia sobre viabilidade ou mesmo interesse de parcerias dessas instituições com nosso município e vice-versa. Apenas falo de possibilidades que mereceriam ser pensadas e estudadas, exatamente porque, “flumineiros” que somos, essas são oportunidades mais factíveis para nós do que para cidades de outras regiões.

Nesse momento de início de um novo governo municipal, que tal nosso poder público pensar nessas e em centenas de outras estratégias de associação e de diálogos com Minas, de modo complementar às existentes no Estado do Rio?  Valença e região só terão a ganhar se assumirmos, mais conscientemente e mais proativamente, algo que já povoa, de modo subliminar, nossos corações e nossas mentes: a identidade “flumineira”, que em grande medida nos define e nos dá especificidade. 

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